Eu já sabia tudo o que tinha que fazer.

Era apenas me preparar para agir na hora e no momento certo. Combinei de ir a uma dessas casas noturnas com Louise. A novidade? Bem, nem Jack e nem meu pai iriam me acompanhar. E melhor ainda: eu ia dirigir a picape amarela pela primeira vez depois em que tirei a carteira. Um fato verdadeiramente emocionante para mim. Eu sempre me imaginei fugindo de casa, dirigindo um carro qualquer, totalmente sem rumo. Como naquele filme “Na Natureza Selvagem” em que Kristen Stewart dá uma de cantora.

Arrumei-me de modo diferente e extremamente arrasador. Confesso que eu não estava com um visual provocante só por estar, mas eu estava usando meu micro-vestido, tubinho, tomara-que-caia, uma negra sandália de tiras com um salto de treze centímetros e um esmalte vermelho-sangue de propósito. Para chamar atenção. Eu não parecia uma simples garota de dezessete anos, mas sim uma mulher de vinte e oito anos, bem sucedida que vive em um triplex.

— Quer me deixar louco, Senhorita Keaton? — Enxerguei Jimmy através do espelho, enquanto eu colocava meu brinco.

— Quero. — Tentei fazer minha voz transmitir um som sexy.

O sorriso malicioso e cheio de segundas intenções aflorou de seus lábios e meio segundo depois eu estava indo em sua direção e o empurrando vagarosamente na cama, de forma que ficasse estirado.

— Bells? — Interrogou.

Não importei nem um pouco em estragar minha maquiagem vulgar ou meu cabelo. Coloquei meu corpo sobre o de Jimmy e dei meu melhor sorriso para ele, de forma que me correspondeu, sorrindo ainda mais. Rapidamente, ele se esquivou para me beijar. Desta vez, tentei assumir o controle, mantendo o beijo mais selvagem e deslizando minhas mãos por sua nuca, seu peitoral e suas costas.

Quando afastei meus lábios dos dele para adquirir oxigênio, Jim perguntou:

— Aonde você vai desse jeito?

— Hm...vou sair com Louise. — Respondi, num tom dócil.

— Em que lugar vocês vão? — Percebi uma pontinha de ciúmes do modo de como se queixava.

Ele soltou um risinho abafado e fez questão de cravar seus dedos nas minhas fartas coxas, causando uma grande explosão de fogos de artifício dentro de mim — como no ano novo — que mal pude tolerar o calor incandescente dentro de mim.

— Eu tenho que ir. — Separei-me de seus lábios e me coloquei de pé, ajeitando meu vestido no meu corpo novamente.

Peguei minha bolsa e dirigi a picape amarela até a casa de Louise. Nova York em pleno sábado à noite não é exatamente um lugar deserto. O transito estava bem tenso e o clima estava fresco — nem muito frio e nem muito quente — de forma que pude abrir o vidro e apreciar e inalar todo o ar puto do ambiente.

— Você está muito diferente. — Louise abaixou o som enquanto eu estacionava o carro.

— Sou eu mesma! — Murmurei, com bastante empolgação. — Por quê?

— Você parece uma dessas mulheres que costumam dançar nos videoclipes do Akon. Um verdadeiro arraso! — Gargalhou, fazendo um biquinho.

— Obrigada. — Agradeci, gargalhando junto com ela.

A danceteria que Louise recomendou era bem famosa, onde só pessoas com mais de vinte e cinco anos frequentavam. E o detalhe? Bem, era proibida a entrada de menores de vinte anos.

— Nome e idade, por favor. — Pediu o segurança gordo, com os olhos negros fixos em mim.

— Eu sou Suze Walker e esta é Becky Adams. — Apontei para Louise, com um sorriso de satisfação. — Temos vinte e um anos e fazemos faculdade de direito. — Transformei meu sorriso de modo que pudesse ficar sensual e empinei o peito, para mostrar o volume que o soutien causava nos meus seios.

E assim, ele nos deixou entrar.

Era uma danceteria enorme, com balas de menta no banheiro. Havia pessoas em todo canto, como num formigueiro, mas eu mal podia enxergá-las porque estava tudo escuro, com apenas luzes coloridas rodeando a pista de dança. Um DJ ficava numa plataforma alta, onde tocava as músicas mais badaladas da atualidade.

Louise e eu caminhamos até o bar e pedimos uma bebida que um cara ao nosso lado pediu. Mal sabíamos o nome dela. Primeiro, tomamos uma dose. Depois duas, três, quatro, cinco, seis... Até perdermos a conta. Era viciante, depois do primeiro gole, não queríamos mais parar. Nossas cabeças giravam como um carrossel e assim cambaleamos até a pista de dança. Numa plataforma pouco abaixo da plataforma do DJ, havia um dançarino, que logo chamou Louise para dançar. Sem vacilar, ela dançou umas vinte músicas com ele e me largou na pista.

Conheci um cara no meio de uma música do Edward Maya. Dei meu número de celular a ele, mas não me lembro se seu nome era Bennie ou Brad. Era recém formado em medicina e tinha vinte e oito anos. Foi o melhor dançarino com quem dancei em toda minha vida. Nossos corpos ficaram tão colados que eu sentia o suor descendo de seu pescoço e encharcando sua camisa meio aberta. Ele me puxou pela mão e me levou até o bar, onde me deu mais algumas doses daquela mesma bebida que eu tinha tomado antes com Louise.

— Quer conhecer meu apartamento? — Propôs, arqueando suas sobrancelhas.

Eu não conseguia ver sua face de maneira nenhuma. Não conseguia descrever como era seus sorrisos ou nem mesmo a cor de seus olhos. As luzes estereoscópicas eram como flashes, e me deixavam cega e mais embriagada a cada passo que eu dava.

— Não...não...não dá! — Gritei, devido ao barulho alto.

Ele riu e perguntou outra vez.

— Quer ir?

— Eu tenho que ir. Foi bom te conhecer, Bennie ou Brad...sei lá. — Respondi a ele, sumindo na multidão e gritando pelo nome de Louise. Já eram quase três da manhã, e eu sentia que a qualquer momento ia desabar no chão, de tão bêbada que eu estava.

As luzes brilhantes e coloridas me embriagavam e me deixavam ainda mais tonta, como se fosse desabar no chão a qualquer momento.

— Louise! — Berrei, tentando fazer com que ela parasse de dançar com o dançarino quase nu que estava na plataforma.

— Viu, Belatriz? — O cara chamado Bennie ou Brad mantinha uma voz satisfatória. — Ela não está afim de ir embora. Vamos, fique mais um pouco! — Deu um sorriso sedutor e me puxou novamente para o bar.

— Não! — Resmunguei, tomando mais uma dose daquela bebida. — Não, não, não, não. Louise! — Berrei outra vez, soltando-me do cara.

Perambulei pela pista de dança e fui até o segundo andar. Equilibrei-me no corrimão que ficava a poucos centímetros da plataforma de onde Louise estava e tornei a gritar.

— Louise!

Ela olhou para mim e parou de dançar.

— O quê? — Gritou de volta, com os olhos avermelhados. Ela não era muito acostumada com bebidas alcoólicas.

Nem mesmo eu.

— Vamos embora! Agora!

— Zac, o dançarino, está me ensinando a dançar. Vamos ficar mais. — Murmurou para mim, transbordando de empolgação.

— Não! — Dei uma longa gargalhada débil. — Se você não descer dessa droga de plataforma, vou mandar para o celular do seu pai o vídeo que eu filmei de você com o Zac! — Menti.

— Não! — Seu apelo foi mais alto que a música da Kesha.

— Te espero no carro. — Cambaleei até a saída da casa noturna. Eu não estava suportando mais aquele barulho todo.

A rua estava deserta e não havia sinal de nenhum guarda ou coisa do tipo. Seria até mais tranquilo para mim, pensei. Não correria nenhum risco de ser multada.

— Lou Lou!Lou Lou! Ande logo! — Eu ria e a apressava. — Vamos!

— Estou indo! — Seu grito ecoou na rua, enquanto se despediu de Zac com um beijo.

Eu acelerei tanto a picape que pensei que fossemos voar. Não conseguia impor meus limites e me controlar. Era impossível. Avancei o sinal vermelho sem me importar com nada. Senti-me entorpecida e cansada e ao mesmo tempo. Eu parecia ser a garota mais frenética e descontrolada do planeta Terra.

Bastou um par de faróis bater em meus olhos e uma buzina me fazer pular quase um metro de altura para perceber o meu erro e que poderia sofrer um “belo” acidente. Um carro estava vindo na direção da picape amarela.

Coloquei minhas mãos sobre o rosto e me preparei pelo pior. Eu não tinha nem uma sã consciência de pensar em como parar o carro. Minhas preces foram milagrosamente atendidas e subitamente o carro freou e deu algumas piruetas na pista.

Gritei de tanto susto.

— O quê? — Louise acordou desesperada.

— Belatriz! — Jimmy rosnou para mim, com os olhos cheios de fúria. — Que diabos pensa que está fazendo?

Jimmy parou o carro.

Ótimo. Maravilhoso. Esplêndido.

Buzinei algumas vezes de tanto nervosismo e sai do carro.

— O que é isso, Belatriz? Que droga é essa? — Eu nunca tinha visto Jimmy tão furioso.

— Droga. — Resmunguei, vendo alguns arranhões no carro. — Quer parar de falar na minha cabeça? Isso seria pedir demais? — Gritei.

Incrédula, Louise olhou para mim com horror e me apressou para que logo fôssemos embora, antes que a policia desse as caras por lá.

— Belatriz!

— O que é, Jimmy? — Perguntei a ele, abrindo a porta do carro.

— Se você quer continuar viva, saia desse carro e deixe que a policia te leve em casa. Mas se quiser morrer e ficar infeliz como eu, vá em frente!

Balancei a cabeça negativamente e acelerei o carro a toda velocidade.