Devoramos duas pizzas de calabresa em menos de uma hora.

A noite, por mais estranho que pareça, foi muito agradável. A melhor parte de tudo foi que John e Lou Lou não discutiram, porque mantinham suas bocas ocupadas enquanto mastigavam os pedaços de pizza.

Chegamos em casa muito cedo, porque Ana ainda estava acordada, perturbando Bridget e Jack.

— Tudo bem, vamos para a cama, Ana. — Eu disse a ela, erguendo meus braços para pegá-la no colo.

Ela fez bico e cruzou seus bracinhos.

— Eu quero ficar aqui com Brid e Jack. — Choramingou.

— Amanhã iremos brincar com você. — Bridget mentiu, com um sorriso bobo esboçado em seus lábios.

— Nããão. — O timbre da sua voz era fanhoso.

— Ana. — Jack disse sério. — Se você não for dormir, vou esconder o Ken, namoradinho da sua Barbie.

— Jack! — Gritou em tom de protesto, se soltando dos meus braços e indo na direção de seu quarto.

Eu ri.

— Você é mal, Jack.

— É apenas prática. Ana sempre cai nas minhas chantagens. — Sorriu satisfeito.

— Isso é jogo sujo. — John murmurou, jogando-se no sofá.

—Ah, cale a boca, Johnnie, você não sabe nada sobre crianças. — Retrucou Louise.

— Certo. Eu não sei nada sobre você, Lou Lou. — Rebateu John.

— Certo. Vocês dois, parem. Agora. — Bridget disse. — Boa noite pessoal, eu tenho que ir. — Ela deu um tchauzinho.

— Boa noite. Avise seu pai que vou para a casa da Brid, Belatriz. — Jack bocejou, acompanhando-a pela porta.

John foi para seu quarto, assim como eu e Louise.

A noite estava quente e eu não encontrava formas de me refrescar. Meu sono havia sumido e eu já havia aberto as portas das duas sacadas e as janelas, para que o ar entrasse em todo meu quarto.

Levantei-me e fui até a sacada lateral do meu quarto. O ar abafado veio até mim e fez o suor descer mais rápido pelo meu rosto. Havia um carro familiar bem em frente ao prédio. O carro vermelho, que eu conhecia muito bem. Apertei os olhos para ver quem estava dentro dele. Vi apenas um borrão na escuridão, mas eu reconheci a criatura.

— Bennie. — Sussurrei para mim. — O que diabos ele está fazendo aqui?

Peguei meu celular e disquei seu número.

— O que faz aqui? — Perguntei, quando ouvi a voz dele do outro lado da linha.

— Está quente... — Sua voz era sedutora, como sempre. — Pensei que você quisesse dar uma volta.

É claro que eu não ia recusar.

— Já estou descendo. — Grunhi, desligando o celular.

Encontrei uma saia de cintura alta em um tom de canela escuro, uma camiseta e sapatilhas que davam um toque romântico ao meu look e passei a escova pelo meu cabelo. Não me importei em deixar a bolsa e o celular no meu criado mudo. Eu não ia demorar. Como de costume, dei uma volta pela casa inteira e varri cada parede para verificar se Jimmy estava ali. Não havia sinal dele. Ninguém estava acordado além de mim, então foi muito fácil sair de casa.

Eu não fazia ideia de quais eram as intenções de Bennie, mas eu estava me arriscando impetuosamente para saber se Jimmy apareceria, caso alguma coisa importante acontecesse.

— Olá, futura advogada. — Bennie sorriu para mim, abrindo a porta do carro.

—Olá. — Respondi, ofegante. — Onde vamos?

— Você vai conhecer minha nova casa. — Suas sobrancelhas se arqueram.

— Ótimo. — Sorri.

Saímos de NY. A casa dele ficava em um condomínio de luxo, onde só existiam casas monstruosas, que eram três vezes maior que meu prédio de dezessete andares. Ok, é exagero, mas elas eram gigantescas.

A casa de Bennie era uma das últimas de uma extensa rua. Exibia um grande muro branco, cercado por plantas trepadeiras e uma bela iluminação, que dava um ar sofisticado a casa.

O portão se abriu e dei de cara com uma porta branca, que tinha uma maçaneta prateada que exibia ligeiros desenhos ao redor do buraco da chave.

— Essa casa deve ter custado uma nota. — Eu disse, olhando para as flores tropicais que era iluminadas.

— Nada se compara a um bom conforto. — Levantou as sobrancelhas, com uma tentativa frustrada de me seduzir.

Fiquei calada.

O lustre branco e brilhante parecia ser formado por cristais e exibia oito lâmpadas acessas, que iluminavam toda a sala de estar. Era um ambiente moderno, requintando, com objetos curiosos e cheios de formatos diferentes. Sentei-me no sofá de couro preto e cruzei as pernas timidamente. Ficar sozinha em uma casa no meio da noite com um desconhecido não era muito normal para mim.

Claro que eu já beijei um anjo, já fui parar numa floresta abandonada com Harry e já caí do quinto andar, mas ficar sozinha com Bennie, bem... Era um pouco estranho. Um drink de alguma coisa foi parar em minhas mãos em pouco tempo.

Dei uma golada no drink e senti o líquido rascante descer pela minha garganta, dando a impressão de que iria queimar minhas cordas vocais e me deixar muda.

— Você fica nessa casa sozinho?

— Por enquanto sim. — Piscou, levando sua taça até a boca e dando um gole da bebida.

O que ele quis dizer com “Por enquanto sim?” Será que ele iria me pedir em casamento? Será que a mãe dele iria morar com ele? Ou será que ele tinha uma namorada, ela iria morar com ele e eu estava sendo a amante dele?

Pensamentos absurdos me dominam quando estou nervosa. Estremeci. Porque se ele soubesse minha verdadeira identidade, iria me mandar para uma prisão na Turquia, e eu pegaria prisão perpétua, assim como Billy Hayes, de Expresso da Meia-Noite.

Apertei meus olhos.

— Interessante. — Foi apenas o que eu consegui dizer, rodeada de tantos pensamentos que não preciso nem comentar aqui.

— Quer conhecer o resto da casa?

Bennie já estava começando a ficar atirado. Bom, eu tenho um questionário mental das coisas que homens fazem para ganhar algo mais das mulheres.

A: Embebedam as mulheres, para conseguir ao menos um beijo, mas não conseguem;

B: Pedem telefone e ficam ligando no meio da noite, para perturbar;

C: Convidam para sair e então atacam com um beijo;

D: Ficam de guarda na frente da casa ou prédio no meio da noite;

E: Fazem uma simples proposta, que muitas mulheres caem nessa venenosa rede: ”então...quer conhecer minha casa?”.

Logo depois disso, você já deve saber o que acontece.

— Não. Estou bem assim. — Cortei-o.

Ele desabotoou um botão de sua camisa e mordeu seus finos lábios.

— Venha conhecer meu outro sofá. — Apontou para um sofá branco, com almofadas pretas por cima. — Ele é macio.

Ok, eu iria surtar. Não de medo, mas ele parecia um tremendo babaca falando aquelas coisas. Nem parecia um cara formado em medicina. Ou ele era muito bobo, ou esse era seu jeito fajuto de seduzir mulheres, pensei. Dei um passo em sua direção. Pensei na minha meta que envolve Jimmy e então dei mais uns cinco passos, até chegar ao sofá.

Os lábios dele atacaram os meus definitivamente. Como se quisesse engolir minha cabeça. Assumi o controle e nosso beijo foi se tornando vagaroso e sem afobação. Afinal, não estávamos com pressa. As coisas funcionavam pra mim daquele jeito. Mas quando ele tentou abrir o zíper da minha saia e apalpar meu corpo como se fosse um canibal, eu explodi. Sai de cima dele e não falei nada. Eu tremia, eu suava frio.

Sai correndo da casa dele. Abri a porta, abri o portão e me vi diante do meio da rua, correndo como uma maluca quando foge do hospício. Não olhei para trás, mas ouvi ele gritar meu nome várias vezes. Que estudante de direito, no auge dos vinte e um anos iria fugir de um cara sedutor como Bennie no meio da noite?

Eu havia feito uma coisa muito idiota. Eu já tive esse tipo de intimidade antes, claro. Mas era com Jimmy. Não sei porque me senti patética e imbecil ao mesmo tempo, e tenho a ligeira impressão de que Bennie não era dono do meu corpo e de nenhum patrimônio meu. E sim Jimmy, porque eu pertencia a ele. Certo, é uma coisa brega de se dizer, que deve deixar qualquer um com náusea e enjoo, mas eu não posso mentir sobre uma coisa dessa.

Meus pés descalços se arrastavam pelo asfalto. Ótimo. Eu parecia uma sem-teto no meio da noite, sem dinheiro, sem celular, e ainda por cima perdida.

Saí do condomínio — que a propósito, o vigia me olhou de um jeito meio estranho — e andei pelo acostamento da rodovia, tentando localizar minha casa. Eu morava em NY há um bom tempo e não sabia nem chegar em casa, não dá vontade de rir de uma coisa dessas?

Eu andava como uma lesma quando enxerguei um borrão fantasmagórico na minha frente. Fiz uma careta do tipo “oh, meu Deus! Jimmy voltou” e tentei parecer séria. Mas minha tentativa não deu muito certo quando seus olhos me fitaram profundamente, a procura de respostas. Eu sabia, ele devia estar se perguntando porque eu estava daquele estado lamentável.