Quando Holly acordou, Artemis estava em posição de lótus, meditando. Ela se sentou, sua cabeça estava latejando de dor. Massageou as têmporas e observou o garoto por um tempo, se perguntando se deveria ou não interromper os seus pensamentos.

Decidiu ir pegar um copo d’água. Ficar ali estava deixando ela nervosa. Ela não gostava de quando Artemis ficava daquele jeito, nada de bom vinha depois disso.

Levantou e cambaleou até fora do porão, onde ficava a cela. Subiu as escadas com dificuldade, até chegar na sala, onde a lareira estava acesa, e portas de vidro imensas levavam até a varanda, que tinha uma vista linda do céu de Los Angeles. Ela achou a cozinha, e abriu os armários em busca de um copo. Viu que não conseguia alcançar o armário de louças, e tentou pular para se pendurar e tentar pegar alguma coisa.

Na terceira tentativa, Holly cambaleou e caiu no chão. Escutou uma risadinha familiar vindo da porta da cozinha.

– Como você me prendeu tantas vezes? Você não consegue nem subir em um armário.

Palha.

– Foi só ser um pouco mais esperta que você. Não que seja difícil, você sabe.

– Isso magoa. – Palha fez um muxoxo – Já estava quase pegando aquele copo pra você

– Eu estava brincando. – Holly se viu derrotada diante da situação – Por favor.

Palha pulou e se agarrou ao armário, fazendo uma acrobacia para pegar o copo, e caindo de pé, depois fazendo uma referência.

– Eu sou uma criatura impressionante, capitã. Você não pode negar isso.

Holly assentiu. Ela realmente não podia.

Depois de matar sua sede, Holly caminhou de novo até a sala, e deslizou uma das portas de vidro, indo até a varanda. Com o vento batendo no seu rosto, ela se sentia bem melhor. Olhou para o céu, estava de noite. Pela posição das estrelas, aproximadamente quatro da madrugada.

– O que houve Holly? Parece que um bando de trolls passou em cima de você.

– Eu e Artemis entramos na corrente do tempo sem querer, e parece que ela consumiu grande parte da minha magia. E também me lembrou de algumas coisas... Desagradáveis.

– Corrente do tempo? Do que você está falando? Você e o garoto andaram viajando no tempo de novo?

– Nós não viajamos, foi uma espécie de flashback. De qualquer modo, Artemis está tramando alguma coisa, e você com certeza vai estar nos planos dele, então ele vai te explicar tudo. – Holly franziu o cenho, demorando a processar o último comentário de Palha. – Como você sabe que eu e Artemis já viajamos no tempo?

– Nossa. Não sabia que a minha presença era tão insignificante. Eu estava lá, não se lembra?

– Claro que lembro Palha. A questão é que você nunca disse nada sobre isso. Mesmo depois de tanto tempo. Pensei que você tivesse perdido a memória, ou alguma coisa assim.

– Eu só sei guardar segredo, capitã. – Disse Palha, dando uma piscadela.

– Vou me lembrar disso. – Holly sorriu. Nunca tinha pensado que um dia dois dos seus melhores amigos seriam Palha e Artemis, aqueles criminosos que ela perseguiu anos atrás. Agora ali estava ela, metida em mais uma confusão com eles. – Vamos entrar, está ficando frio aqui fora.

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Artemis abriu os olhos e saiu da sua posição de meditação. Sua cabeça estava a mil, com as possíveis possibilidades à frente. Minerva não estava agindo de um modo coerente, e até mesmo inteligente. A Minerva antiga nunca se permitiria cair no truque mais velho de todos, o famoso “Boa noite Cinderella”.

Artemis tinha adotado essa hipótese apenas com uma pequena probabilidade de ser real, quando teve um primeiro contato com a Minerva. Depois, quando pôde chegar mais perto, já tinha 85 por cento de certeza: As pupilas de Minerva estavam gastas, resultado de constantes mesmerizações. O que explicaria o comportamento estúpido.

A próxima suposição era mais ousada. Quem estaria por trás disso? Artemis calculou 15 por cento de chance de ser Opala Koboi. Mas ainda não era o suficiente. Qualquer criatura das fadas poderia querer uma máquina do tempo, visto que as viagens no tempo eram ilegais. Mas ele não conseguia encontrar nenhum motivo realmente palpável para que Opala queira viajar para o passado. Na verdade, ela deveria fugir de uma corrente temporal, já que havia três dela no tempo presente. O clone, a Opala presa e uma que estava desaparecida.

A não ser que Opala fizesse Minerva viajar no tempo, para fazer alguma coisa. Mas ele ainda não conseguia supor o que. Teria que investigar.

Subiu e encontrou Palha e Holly sentados na sala.

– Finalmente, o garoto da lama parou de pensar um pouco.

– Eu nunca paro de pensar, Palha. Imagino como você tenha escapado do atirador. Fico feliz em te ver, vou precisar de você.

– Eu disse que ele tinha um plano – Disse Holly.

– Você está melhor Holly?

– Sim, Artemis. Mas estou completamente vazia. Preciso fazer o ritual o quanto antes.

– Tudo bem, vamos precisar de magia. Mas primeiro vocês dois vão me ajudar a procurar algumas coisas.

– Qual é o plano?

– Por enquanto, temos que descobrir quem está por trás da Minerva. Ela não está fazendo isso sozinha, e mais: andou sendo mesmerizada.

A expressão de Holly mudou instantaneamente. – Porque isso me soa familiar?

– Porque foi o que aconteceu, há cinco anos. Quando Opala mesmerizou um humano para que ele contrabandeasse pilhas humanas para ela.

– Desculpe interromper, mas, algum de vocês dois pode me explicar o que está acontecendo aqui? – Perguntou Palha

– Minerva construiu uma máquina do tempo, e vai colocar ela pra funcionar com ajuda das reservas de magia que contém nas armas roubadas. Como você disse, a maioria das armas que desapareceram eram de modelo antigo, precisam de um pouco de mágica para estar sempre carregadas. E Minerva construiu um acelerador que vai aumentar o potencial das armas, criando uma força tão grande que pode abrir um buraco no tempo. O suficiente para uma só viagem de ida e volta.

– E você desconfia daquela duende doida?

– Sim e não. Não sei porque Opala ia querer viajar no tempo, por isso preciso que vocês me ajudem a procurar algumas coisas aqui. Qualquer coisa que emita algum eco de magia, vamos procurar por 45 minutos, e nos encontramos aqui. Eu vou começar nesse andar. Palha pode ir para o subsolo e Holly pode verificar os quartos e os outros andares. Tudo bem para vocês?

– Espero que você esteja errado Artemis. Não quero nem pensar na hipótese de Opala estar por trás dessa história.

– As chances são pequenas, mas não posso ignorar nada, Holly. Agora vamos, quanto mais rápido isso se resolver melhor.

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Artemis estava fazendo a sua busca no andar de baixo, sem muito êxito. Haviam se passado vinte minutos, quando ele escutou Holly gritando do quarto de Minerva:

– Artemis!

Artemis subiu a escada pulando os degraus, Palha também escutou e apareceu na porta do quarto. Lá dentro, Holly segurava o controle da televisão e um pergaminho nas mãos.

Artemis entrou e viu: O controle não era apenas um controle de televisão; ele também abria uma passagem secreta bem estreita, de uns 30 centímetros na parede, como um armário. Dentro dele estava um comunicador do povo, uma caixa cheia de armas roubadas das casas de Porto e vários pergaminhos de projetos.

Pegou o comunicador e o jogou para Palha:

– Peça para Potrus para rastrear o código de área desse comunicador e descobrir a origem das ultimas ligações. Se você desparafusar a tela dá pra ver o número de série.

Artemis abriu o pergaminho e estudou, eram do projeto da máquina do tempo. Agora tudo ficara bem mais fácil, já sabia como operar a máquina. Ela era realmente incrível, tinha um timer correto, detalhes friamente acertados, e o mais importante: um controle capaz de ativar uma espécie de “farol” eletrônico. Sem precisar de nenhum ser mágico para ficar segurando a corrente, como quando Artemis e Holly viajaram.

Apenas a mente brilhante de Minerva não era capaz de desenvolver aquilo. Era necessário um conhecimento em engenharia mágica. As chances de Opala subiram para 25 por cento.

Notou que Holly estava calada, olhando para um papel em suas mãos. Artemis se aproximou, e depois de um instante de hesitação, Holly mostrou o conteúdo do pergaminho.

Foi como se o coração de Artemis parasse de bater por um segundo.

Ali no pergaminho estava a planta da mansão Fowl.

Não apenas isso. Depois do sequestro de Holly, por causa da série de imprevistos como Trolls e enxaguadoras azuis, a propriedade teve que ser toda reformada. Aquela no pergaminho era a construção antiga, antes do cerco á mansão.

Agora as coisas estavam ficando claras na mente de Artemis. A hipótese parecia terrível. 57 por cento de chance de ser Opala.

– Artemis – Palha estava sério – Talvez você não vá gostar disso.

– O que, Palha?

– Falei com Potrus. Ele rastreou as ultimas chamadas do comunicador. – Palha hesitou – Elas vieram da prisão deAtlântida.

Artemis sentiu como se tivesse levado um soco. Ele estava certo, claro. Ele sempre estava. Mas infelizmente, a verdade não era tão agradável nesse caso.

– 95 por cento. Opala queria fazer Minerva voltar no tempo e me matar.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.