Um Amor Como o Seu

Capítulo 16 - Uma novidade ruim


Naquela noite o jantar foi como sua mãe planejara. Huxley veio sozinho, a conversa com o visconde já acontecera, ele estava certo de que Mia o aceitaria, como de fato aceitou. O mais novo casal pouco interagiu, seu noivo passou a maior parte do tempo conversando com o sogro no escritório enquanto as mulheres falavam sobre a programação do noivado.

— Que tal se fizermos após o noivado de Candence? - Amélie sugeriu sorridente enquanto se acomodava no sofá para tomar seu chá.

— Creio que será um período adequado, já estaremos próximos do outono. É uma época agradável. - Mia respondeu sem observar o rosto materno.

— Precisamos procurar a senhorita Matilda, ela nos ajudará a realizar a festa mais linda da região.

— Será que ela já não está ocupada? - Mia perguntou ajeitando o vestido – Ouvi dizer que está programando o casamento de Lorde Hutton com a senhorita Graves.

— Duvido que programar o noivado da filha de um visconde com um futuro conde não seja prioridade na agenda da senhorita Matilda. - a mãe retrucou com empáfia no olhar.

Mia não respondeu. O que acendeu um sinal na alerta na mente materna.

— Você tem visto o senhor Forster?

Assim que ouviu o nome de Liam Mia ergueu o olhar.

— Não! - respondeu tentando dar ênfase a negativa.

— Ele não voltou a procurá-la?

Um pequeno e quase imperceptível suspiro escapou pelos lábios rubros.

— Não... acredito que ele desistiu.

Parecendo sinceramente satisfeita com a resposta Amélie acrescentou:

— Assim espero. Agora que está tudo acertado entre você e o senhor Huxley, não quero aquele homem a perturbar nossas vidas.

— Acredito que ele tenha entendido o recado mamãe.

Ela anunciou lembrando da conversa daquela tarde.

A viscondessa se ergueu, caminhou lentamente pela peça, foi até a porta, constatou que ninguém a ouvia e só então retornou para a filha.

— Aquele homem é perigoso. Ele sabe como agir, sabe como levar moças como você a ceder. Se aproveitar e depois acabar com sua reputação.

Ah! Se sua mãe soubesse quantas chances Liam tivera de acabar com sua reputação. Se soubesse que ela poderia ter se entregado a ele por mais de uma vez se o rapaz não tivesse lhe dado tempo de pensar. Apesar de sua insistência pelo amor dela, ele jamais a induzira a algo que Mia não desejasse.

— Está tudo certo agora. Ele não voltará a insistir depois que o noivado for anunciado.

— Sairá no periódico de amanhã... - a mãe informou satisfeita.

— Como? Se o pedido foi feito hoje, há poucos minutos? - não queria acreditar que sua mãe fora capaz de informar o editor do periódico sobre um acontecimento sem que este tivesse se concretizado formalmente.

— Seu pai e eu já sabíamos que sir Huxley a pediria, tínhamos plena certeza de que você aceitaria, então, eu tomei a liberdade de informar, assim, discretamente ao senhor Pullman sobre a visitas de Lorde Huxley a esta casa e o seu encantamento por ele.

— Meu encantando por ele! - Mia repetiu em tom irritado - A senhora não poderia tomar uma decisão assim sem me consultar!

— Mia... você sempre disse que no dia em que ficasse noiva gostaria que toda a sociedade soubesse.

— Mas, isso seria quando o noivado já estivesse certo. Quando a senhora enviou a noticia, ainda não era definitivo. E seu eu tivesse recusado?

Amélie tocou o rosto da filha com carinho.

— Como lhe disse há alguns dias. Eu a conheço. Sei que você, assim como eu, faz o que deve ser feito e jamais se arrepende disso.

Mia encarou o rosto da mulher tão parecida com ela antes de questionar:

— A senhora ama o papai?

Os olhos azuis da mais velha mostraram que a mulher estranhou aquela pergunta.

— É claro que amo!

— É apaixonada por ele? O que a senhora sente por ele?

— Eu o amo! Que pergunta mais estúpida é essa?

— A senhora o amava quando se casaram?

Amélie se afastou da filha rapidamente.

— Você sabe que eu o conheci poucos dias antes do noivado. Já o admirava, mas, aprendi a amá-lo com a convivência.

— Seu coração alguma vez disparou quando estava perto dele?

— Que tipo de perguntas são essas Mia?

— Ele rouba seu ar e faz suas pernas fraquejarem como se fosse cair a qualquer momento? A senhora conhece o rosto dele? Gosta dos beijos dele?

— Mia! Não vou falar nesse tipo de assunto com você.

— Mamãe! Nós sempre fomos amigas, a senhora sempre soube de todos os meus planos. De todos os meus anseios pelo futuro. Por favor me diga...

— Eu amo seu pai. Ele é meu porto seguro, ele me ofereceu seu nome, sua atenção e carinho. Serei eternamente... feliz por isso.

Não era exatamente isso o que Mia queria ouvir.

— A senhora chegou a gostar de outra pessoa?

— Que outra pessoa Mia? Finley foi o único homem que conheci. O único que amei e amo. Jamais haveria a possibilidade de ser diferente.

O som dos passos masculinos a se aproximarem da sala silenciou mãe e filha, Mia fixou o olhar nas mãos, e mal trocou meia duzia de palavras com o futuro noivo que parecia bem mais interessado no assunto que o sogro travava com ele.

Quando caiu na cama o sono não a acompanhou, ficar girando sob os lençóis não a ajudava em nada. Ela pulou das cobertas, sentou-se na penteadeira e soltou o cabelo trançado. Os fios brilhantes se espalharam pelo ombro semi nu. As ondas desciam lentamente até a cintura. Ela cruzou os dedos pelos fios, eram grossos, mas ao mesmo tempo suaves e em grande quantidade. Totalmente diferentes dos de Liam, que eram finos e em menor quantidade. Ela suspirou tentando encher os pulmões de ar. Só de lembrar dele todo o seu corpo aquecia e uma sensação gostosa se instava entre as pernas. Com a mão livre ela desenhou o contorno dos seios, os lábios de Liam surgiram diante dela e por pouco ela quase sentiu o gosto deles. Seus mamilos enrijeceram e a sensação angustiante preencheu seu peito, desceu pelo abdômen e se uniu a outra que ela já experimentava. As mãos grandes pareciam não ter liberado sua cintura, e pressionavam lentamente subindo em direção ao pescoço, aqueles lábios quentes e úmidos desciam e subiam pela pele do pescoço.

Ela gemeu, abriu os olhos e encarou sua própria imagem solitária no espelho. Parecia outra pessoa. O rosto ardia, rosado, os lábios entreabertos puxavam o ar com dificuldade, os seios empinados pareciam maiores sob o tecido translucido da camisola fina. Ela se contorceu sobre o tecido macio e estofado da banqueta voltando a imaginar que Liam estava ali, sentado junto dela.

* * * *

A manhã surgiu bonita e ensolarada como a anterior. Ele pulou cedo da cama como sempre fazia. Tomou um banho, se arrumou e saiu do hotel após um breve momento no restaurante. Estava decidido a oferecer alguns dias para Mia, apenas para que ela percebesse que não conseguiria lutar contras seus sentimentos por muito tempo.

Mesmo que a garota tentasse manter a racionalidade em tudo o que fazia, ele sabia que quando se tratava deles, Mia jamais conseguiria. Ele mesmo desistira de lutar contra e se rendera ao inevitável. Era só uma questão de tempo.

Seus passos o conduziram ao passeio público, talvez a visse por lá, Candence costumava ir muito com as amigas. Mas, não a encontrou, apenas Charlott Behn e a esnobe da senhorita Mary Montagu e um ou dois amigos de Brooks que logo se aproximaram para conversar. Mas, Liam não conseguiu manter uma conversa longa. Ele logo cansava daquela conversa monótona sobre como era a vida de um cavalheiro sem absolutamente nada para fazer de produtivo.

Estava prestes a se despedir quando o grupo aumentou. Era Rupert, que com ar sério cumprimentou os amigos e encarou Liam de frente como se o examinasse.

— Nosso amigo parece que não teve uma boa noite. - um dos rapazes comentou em tom de deboche encarando o ruivo.

— Andou visitando a casa da senhorita Smith e Candence descobriu? - outro sugeriu.

— Achei que a senhorita Smith já estava morta. - Rupert comentou passando as mãos para as costas, incomodado com os comentários idiotas, estava sem paciência naquela manhã.

A risadinha foi praticamente geral e ele aproveitou o momento para analisar o ambiente, considerando-o tranquilo, certamente que Liam ainda não soubera da novidade. Ao menos essa era a sua esperança. Esperava poder contar ao amigo antes que outro fizesse isso já que Liam não tinha o hábito de ler o períodico da região.

— Ah! Há uma nova senhorita Smith agora. - o primeiro cavalheiro voltou a informar sem perceber que Rupert estava desinteressado da informação – Uma bela descendente de franceses de seios grandes e boca carnuda.

— Já teve a oportunidade de conhecê-la senhor Forster? - o rapaz se voltou para o amigo do filho do barão.

— Não. - foi tudo o que Liam disse.

A crítica logo atingiu Brooks.

— Você não levou seu amigo para conhecer a senhorita Smith? Que amigo você é!?

— Meus caros. Se eu estivesse em busca de alguma diversão desse tipo, a encontraria sozinho... - Liam comentou espirituoso.

A risada descontraída foi geral. Até Rupert riu. E nesse momento o grupo aumentou. Era ele, em pessoa, o futuro conde Huxley.

— Ah! Aí está o noivo sortudo! - o mais agitado dos rapazes comentou estendendo a mão para o recém chegado - Você realmente conseguiu o que ninguém mais por aqui parecia ter habilidade para conseguir? Ela disse sim?

Jayden estava cheio de orgulho ao falar:

— Certamente! Não foi tão difícil assim. Ela se entregou sem que eu precisasse fazer muito esforço. - o tom de orgulho era claro na voz do futuro conde.

Ouvindo o grupo falar Liam logo compreendeu de quem tratavam. O sangue gelou nas veias.

— Posso lhe dizer o quanto nosso amigo é sortudo senhor Forster?

Quase sem conseguir falar ele fuzilou seu oponente.

— Noivou? - Liam perguntou sério. - Com quem?

— Com a filha do visconde. - um dos rapazes respondeu animado – Mia Wentworth! A mais arredia, metida e mimada garota da região. Quiçá do país todo! - a conclusão veio com um tapa no ombro do novo noivo.

Rupert olhava fixamente para Forster. Como ele suspeitava, Liam nada sabia a respeito do assunto.

— Quando se deu o feliz acontecimento? - ele ainda teve algum controle para perguntar.

— Ontem... pedi a mão dela para o pai, depois fui à casa dele a noite, num jantar informal para fazer o pedido diretamente a ela.

Mia já sabia. Liam disse a si mesmo. Quando eles se encontraram na tarde anterior. Por isso ela estava tão segura do que deveria fazer. Por isso ela fora tão firme e decidida quanto ao modo como se recusara a aceitar os argumentos dele.

— E ela aceitou! - um dos rapazes comentou. - Você é mesmo sortudo!

Aquilo nada tinha a ver com sorte. Pensou Liam, tinha a ver com nome, linhagem e posição social.

— Todos aqui, de alguma forma tentaram, mas ninguém conseguiu a proeza de chegar ao coração da senhorita Wentworth.

Os comentários se seguiam sem que Foster prestasse a atenção a eles. Já Rupert, a custo escondeu o pensamento sobre o assunto num acesso de tosse. Se aqueles arrogantes descobrissem que estavam enaltecendo a pessoa errada? Se eles soubessem que Liam era o responsável pelo queda da maior barreira feminina da região? O que diriam? Como reagiriam?

Provavelmente não acreditariam.

Liam pediu licença, se retirou rapidamente em direção ao hotel, seguido de perto pelo amigo. Tudo o que Brooks queria era ajudar, mas ainda não sabia exatamente como. Se reforçando a decepção ou tentando conduzir ao conformismo. Dado o temperamento de Liam, ele optou pela segunda opção.

— Eu disse a você. - Rupert começou assim que o alcançou do lado de fora do prédio – Ela não cederia tão facilmente como você imaginou que seria. O melhor a fazer é deixar a situação como está.

Liam permanecia calado, sério, caminhando firme.

— É preferível você esquecer essa história com a Mia agora que ela está noiva do que continuar investindo em uma relação sem futuro.

Sem resposta. Apenas o som dos passos rápidos pela rua pouco movimentada.

— Liam!

Rupert chamou alto e firme.

— Pare de caminhar. Fale comigo!

O rapaz alto parou de supetão. Encarou o amigo com olhar gelado e furioso.

— Conheço esse seu olhar. Acho que você deve se acalmar antes de tomar qualquer atitude da qual possa se arrepender.

— Não tenho tempo para me acalmar. Preciso resolver essa situação agora!

— Como você vai resolver isso? Não há como Mia ou a família dela voltar atrás.

— Eu sei como.

Rupert viu o sorriso se estender nos lábios do amigo. Liam decididamente perdera a razão.

— O que você vai fazer?

— Amanhã você ficará sabendo. E garanto que essa história de noivado não passa desta noite.

— Liam... você não vai usar aqueles papéis... - era um pedido e não uma pergunta.

— Eu queria que ela se decidisse. Que ela tivesse coragem de fazer o que deseja. Mas não vai ser assim. Ela está me desafiando, me obrigando a agir como eu não queria... mas uma coisa é certa Rupert! Mia não se casa com o tal conde... só por cima de mim que isso acontecerá.

Os passos voltaram a estalar na calçada. Rupert precisou correr para acompanhar o amigo.

— Liam! Não faça besteira! Ela nunca vai perdoá-lo...

Mais silêncio.

— Vou com você, não importa o que pretenda fazer.

Nova parada, desta vez para fazer um alerta:

— Não! Quero você e Candence fora dessa história. Jamais colocaria a amizade de vocês com Mia em risco.

A cada nova informação mais certo o filho do barão ficava de que o amigo faria besteira. O que Liam estava planejando fazer com certeza não era algo de que faria Rupert sentir-se orgulhoso.

— Me deixe ajudar! - evitar uma catástrofe, essa era a intenção.

— Fique fora dessa história! - Liam ainda disse sem se voltar acelerando os passos.

Rupert estacou no meio da calçada sendo observado pelas pessoas que cruzavam. Estava desnorteado. Quem sabe Candence pudesse de alguma forma ajudá-lo a colocar um pouco de juízo na mente perturbada de Liam? E o rumo dos passos se alterou, mas não desacelerou.