Seus pequenos momentos de lucidez pode sentir boiando em algo liquido, sua textura não poderia ser mais grossa que a água, sua pele formigava em contato com aquele liquido morno, sua feridas não doíam, embora soubesse que ainda estavam lá. Seus olhos se abriram de vagar e só conseguiu ver a água vermelha tomando forma humanoide.

— Me falaram que você foi resgatada pela Suprema, do submundo – Falou o ser aquático. – Pelos seus ferimentos, me surpreenda você ter ficado viva a tempo de ser salva.

— Suprema? – Repetiu confusa, quem seria aquele ser, pelo que o Elemental havia dito era sua salvadora.

— A Suprema deusa de Ianova, ela criou tudo, tudo o que você e eu tocamos foi criados por ela. Desde a terra e a grama até as pessoas que você por acaso encontrar neste planeta. Por isso a chamamos de Suprema. – Explicou o Elemental escarlate. – E não á ninguém acima dela.

— Então devo minha vida a ela.

Seus olhos se fecharam e sua consciência foi para o fundo da sua mente. Quando abriu seus olhos novamente estava em outro lugar, um quarto de paredes rústicas. Tentou mexer os dedos e ficou aliviada em senti lós, seu corpo ainda estava formigando, olhou para os seus braços e eles estavam normais, como se nunca tivesse passado por qualquer tortura, era impressionante, até mesmo cicatrizes antigas de batalha havia desaparecido. Como isso era possível?

Alguns passos podiam ser ouvidos vindo do lado de fora do quarto, sua cabeça tentava pensar em algo que poderia usar para se proteger, mas não tinha forças em seus músculos para ficar de pé, muito menos lutar.

Seus olhos se arregalaram ao se deparar com a imagem da sua filha passando pela porta. Ela estava diferente, talvez fosse pelo tempo que havia ficado no inferno, mas só conseguia ver um vaso que estava prestes a se quebrar.

— Olá mamãe. – Disse Megan, ela estava muito mais parecida com uma rainha, quanto tempo será que havia passado para ela? Seus olhos haviam mudado. – Que bom que acordou, deve estar confusa com a troca de ambiente, como a única alma do inferno em mil anos os príncipes brincaram muito com você, você já pagou pelo que me fez, até demais.

— Quase matei minha própria filha, alguém que jurei proteger e deixar longe das influências demoníacas, e como falhei com você o castigo foi mais que merecido. E um ótimo lembrete de que demônios devem ser exterminados.

— Confesso que não esperava por isso, esperava raiva, fúria, desejo de vingança... – Disse Megan confusa, suas mãos estavam cruzadas acima da sua cintura, suas costas estavam retas, seguindo a etiqueta de comportamento de uma monarca.

— Se esperava se alimentar de mim depois do que Belfegor fez seu trabalho creio que não irá tirar muito proveito. – Tanto poder emanando da sua alma, e uma enorme escuridão a possuía, em breve ela seria a nova rainha genocida, igual como foi consigo. Não podia permitir que sua filha quebrasse como deixou consigo mesma.

— Não provo mais do desespero e da angustia, não serei conhecida como a deusa demônio. – Deusa? O poder já tinha subido a cabeça. – Esta confusa, acabou de acordar, é claro que esta confusa, não sabe o porquê não esta mais no inferno e nem o motivo de eu permitir que ainda viva. A resposta é mais simples do que imagina, eu sou a Suprema deste universo, criei cada grão de terra e partícula de vida desse planeta, carrego a divindade em minhas veias.

Disse estendendo os braços, se olhasse com cuidado as veias dos seus braços brilhavam em tom dourado.

Então ela era quem o Elemental se referia!

— Mas eu também carrego sangue demoníaco e herdei seu poder, e agora estou morrendo por causa dele, preciso me livrar de todo o mal dentro de mim e daí que entra você. – Abaixou os braços e me encarou com expectativa.

— Espera que eu sugue sua maldade? – Eu devia isso a ela, depois de tudo que a fiz passar.

— Não. – Ela parecia ultrajada por eu ter sugerido, agora estou confusa. – Preciso de você para criar fadas sangue puro com o cálice mortal das fadas que eu criei. Você é a ultima sangue puro, e somente você pode fazer humanos fracos virarem fadas. Ou seja, em quanto eu me livro da minha sentença de morte você vai retomar sua posição como rainha Unseelie.

— Eu não entendo, porque não descarregar todo o fardo em mim? Eu fiz você chegar a este ponto.

— Que espécie de deus eu seria se não conseguisse lidar com os meus próprios problemas sozinha? Fora que agora que ascendi à divindade eu não tenho tempo para lidar com as fadas, por isso vou devolvê-las a você, creio que depois de um tempo de descanso esteja preparada para governar novamente, e eu sei que dessa vez vai ser diferente, e caso não seja, eu sempre protegerei meu povo. Agora descanse.

***

Tudo havia mudado, sua mãe estava em seu castelo porque tinha que abandonar as fadas, deixou o titulo de deusa da morte, mas como removeria toda a escuridão que lhe cercava? Talvez devesse procurar auxilio aos nórdicos, talvez pudessem lhe ajudar.

— Talvez eu possa lhe ajudar com isso. – Falou uma voz família.

Ao olhar para trás Megan não pode acreditar no que seus olhos viam.

— Como ousa aparecer para mim novamente, Asten? – Com rapidez e brutalidade jogou o corpo do feiticeiro contra a parede em quanto segurava seu pescoço. – Como conseguiu por os pés no meu reino?

— Calma Megan, vamos esquecer nossos desentendimentos passados por um segundo, sim? – Falou intimidado, não esperava tal reação da sua velha amiga. – E respondendo sua pergunta, por um acaso eu sou amigo da porteira, ou guardiã do castelo como você deve a chamar.

— O que você quer Asten? Eu tenho mais o que fazer.

— Se parar de tentar me enforcar eu conto. – Falou o feiticeiro. Megan estreitou os olhos, mas o soltou. – Obrigado.

— Fala logo! Ou jogo você dentro de um portal pro Limbo. – Ameaçou Megan

— Calma, descobri que fez as passes com a sua mãe e eu andei visitando a Lívia, pensei que talvez você e sua mãe pudessem se aproximar dela novamente, afinal ela nem sabe que é uma fada. – Megan encarou o feiticeiro intrigada, de quem ele estava falando?

— Que Lívia? – Perguntou Megan depois de um silencio estranho e um olhar constrangedor.

— Que Lívia? – Repetiu o feiticeiro incrédulo – Megan, não me diz que você esqueceu.

— Eu não faço ideia do que você esta falando Asten. – Falou Megan encarando o feiticeiro.

— A sua irmã Megan! Lívia Rodrigues Wells. – Os olhos da mulher se arregalaram, deu as constas ao feiticeiro envergonhada. – Eu não acredito que você esqueceu que tinha uma meia irmã Megan.

— Como é que você sabe tanto sobre a minha vida? – Perguntou Megan desviando do assunto.

— Não muda de assunto! Você sabe que eu vejo o futuro, e por um acaso quando eu me foco consigo deslumbrar o passado. – Explicou o feiticeiro ainda incrédulo - Que mulher desnaturada, não acredito que se esqueceu da própria irmã.

— Eu tive tempos difíceis, Asten! Você sabe muito bem disso. – Tentou se explicar.

— Isso não é desculpa! Ela é sua irmã.

— E como ela esta? – Perguntou Megan com um olhar triste. Sua vida no outro mundo parecia algo tão antigo.

— Bem até, considerando que foi abandonada pela mãe, pela irmã, foi morar com o pai, caiu no mundo das drogas, mas depois deu a volta por cima e agora trabalha de modelo na empresa do pai do seu meio irmão Sebastian. – Relatou Asten orgulhoso da trajetória de Lívia. – Que mulher guerreira!

— Ual. – Foi tudo o que Megan conseguiu dizer no momento. – O Wells teve outro filho? – Perguntou Megan sem esperar uma resposta.

— Na verdade esse meio irmão é filho da ex-rainha Regina, ou seja, ele também é o seu meio irmão. – Explicou o feiticeiro jogando a informação como se fosse um detalhe insignificante.

— Meu histórico familiar é pior que roteiro de novela mexicana, minha nossa. – Megan ficou pensativa por um tempo até que voltou a si. – Sinceramente não sei se é uma boa ideia ir atrás deles, eles têm uma boa vida não? Se eu jogar todo o mundo das sombras na cabeça deles não poderei prever como ficará o psicológico deles.

— Porque não deixa isso com a sua mãe? – Sugeriu

— Minha mãe acabou de deixar o inferno, ela não tem condições de lidar com tudo o que a Lívia deve jogar na cara dela. Mas essa não é uma decisão minha. – Refletiu.

— Imaginei que ficaria feliz em saber que tem dois candidatos. – Comentou Asten deixando a Megan intrigada.

— O que quer dizer? – Perguntou.

— Você não quer ser mais rainha, por causa dos deveres de deus e tal, alguém tem que ocupar o lugar, sua mãe não será bem aceita pelo o povo Unseelie, a sua sucessora direta é a Lívia, caso ela obdique o direito ao trono seu irmão Sebastian é o próximo da fila.

— Como eu disse antes, pura novela mexicana. Mas isso é algo que eu possa resolver. – Sorriu Megan, Asten levou aquilo como seus desentendimentos se tornaram águas passadas. – Já que esta tão altruísta hoje preciso achar uma forma de purificar meus poderes, absorvi muita energia caótica, gostaria de me livrar dela.

— Pode deixar comigo Megan!

— Obrigada Asten. – Disse Megan dando as costas para o feiticeiro. – Prefiro a gente como amigos do que inimigos.

— Eu também Megan, eu também.