*Pensamentos da Princesa Isabel*

Se eu estava nervosa? Bem, acho que será necessário inventar outra palavra para descrever como eu me sentia naquele momento, porque era muito além do nervosismo!

Minha mãe sempre se dá bem nesse tipo de situação, se tem uma palavra que definitivamente não está no dicionário dela, essa palavra é "timidez". Mas acho que essa coragem toda acabou pulando uma geração, pois desde que me conheço por gente que sou mais na minha, para ganhar intimidade eu geralmente levo um certo tempo.

Mas aquele lugar, aquele grupo... tinham algo diferente que fazia eu me sentir segura, uma sensação que não consigo explicar em palavras, era como se eles estivessem apenas esperando que eu voltasse... pra casa.

Então não tinha assim tantos motivos para temer - tirando o fato de não ter um poder tão bom como controlar a água ou fazer surgir tempestades de gelo do nada. Os olhos sedentos de curiosidade em minha direção só me deixavam ainda mais nervosa, então resolvi apenas ignorar tudo e fazer minha "apresentação", afinal, não tinha como me safar, todos estavam muito curiosos e ninguém - principalmente o Agui - iria me deixar sair dali.

Fechei os olhos e respirei fundo - já fazia um certo tempo que não usava os poderes, em casa os praticava o tempo todo, mas desde que cheguei em Auradon me senti muito intimidada com qualquer coisa que se relaciona-se a magia -. Só em respirar fundo já comecei a sentir o poder crescendo, saindo do me coração e indo para as extremidades do meu corpo, respirei mais fundo nessa parte, em parte por medo de estragar tudo.

Quando senti que era a hora certa, apenas deixei que a magia fosse para as pontas das minhas mãos e fluíssem para fora, como quando uma gota de chuva cai em seu ombro e vai deslizando lentamente até seus dedos. Em questão de segundos, as pequenas lâmpadas presas as árvores começaram a dar sinais, primeiramente apenas piscando, como aquelas luzinhas de natal fazem, em seguida se estabilizaram e começaram a brilhar bem forte, como se tivessem ganhado uma pequena fração do sol, o que chamou a atenção de todos. só que eu não pude me exaltar muito ou iria acabar queimando todas elas, então logo diminui um pouco a intensidade.

Mas... acender lâmpadas? Grande coisa, naquela hora eu já estava prestes a enfiar minha cabeça dentro da terra para me esconder de todo mundo, mas acabei cruzando com o olhar do Agui, que mesmo sem pronunciar uma única palavra, foi capaz de me dizer: "Vamos, você consegue!".

Era o que eu precisava, concentrei meu poder novamente para as palmas, dessa vez em maior quantidade, meu coração até começou a bater mais rápido, uma sensação maravilhosa que há tempos não sentia. Aquela era hora, tentei me lembrar de todos os treinamentos que tive com minha mãe em casa, sobre ficar calma e sentir a magia não como algo de fora, mas sim como uma parte de mim.

Fechei meus olhos e respirei fundo, depois olhei para o céu e direcionei minhas mãos para o mesmo, fazendo com que todos também olhassem. Em poucos segundos, lindas luzes começaram a explodir lá no alto. Verde, vermelho, violeta, azul... fogos de artifício incríveis tomaram conta do céu, só que diferentes dos comuns, esses surgiram literalmente do nada.

Todo mundo começou a bater palmas e alguns até a assobiar, o que me fez sorrir. Não vou mentir, fiquei feliz em saber que eles gostaram, em saber que não fiz besteira mo final das contas, realmente estava lindo. Mas sabe qual era a melhor parte? Eu ainda não havia terminado minha apresentação.

Olhei para as árvores e senti a presença deles, de cada um deles. Vagarosos e até um pouco desconfiados, foram se mostrando para todos, saindo dentre as folhas, brilhando para que os humanos os vissem.

Lindos vagalumes invadiram nossa estranha reunião, rodeando todo mundo como se dissessem: "eai, tudo bem?". E tenho que admitir, eles fizeram uma apresentação linda, dançando e rodopiando por toda parte, arrancando gritinho cometidos, risadas e o principal... - pelo menos pra mim - sorrisos.

Estendi a mão, formando uma pequena fonte de luz, quase como que uma lanterna como defeito, e consegui atrair alguns deles, que rodopiaram e até pousaram sobre meus dedos. Olhei para Agui naquele momento e vi que ele estava sorrindo de orelha a orelha, maravilhado. Essa é outra coisa a qual não posso negar, eu simplesmente adoro o sorriso dele, é uma das coisas mais linda e preciosas que eu já vi em toda minha vida.

Quando ele sorri... é como se o mundo parasse de girar pra mim, como se fosse só ele que me mante-se em pé, nada mais importa. O Agui me deu forças quando todo mundo só me colocou pra baixo, ele me ensinou e me incentivou a fazer coisas que jamais me imaginei fazendo, como estar ali naquele momento, praticando magia na frente de todas aquelas pessoas, em um esconderijo dentro da terra!

Nunca pensei muito bem sobre como é estar apaixonada, mas tenho quase certeza que é como eu me sinto agora, se não for essa sensação maravilhosa que sinto em meu peito então me desculpe, desconheço o que seja a paixão.

Enquanto estava ali, observando aquele sorriso maravilhoso e vagando no vale mais profundo dos meus pensamentos, o olhar de Agui se cruzou com o meu, me passando confiança novamente. Aos poucos fiz com que os vagalumes se retirassem, com que voltassem para as árvores.

Olhei para Bernice e decidi que iria fazer, tinha que deixar todo o medo para trás e aquele era o momento. Fiz positivo com a cabeça e aquilo foi o bastante para que ela entendesse o recado. Bernice pegou algumas garrafas de refrigerante secas, dessas de refrigerante.

Obviamente que todos ficaram curiosos, "o que será mais que ela irá fazer?", imagino que pensaram, mas apenas prossegui com o que eu havia treinando. Bernice me olhou e fez positivo com a cabeça, sinalizando que iria começar. Ela jogou a primeira garrafa para o alto, cerca de dois metros acima de nossas cabeças, e eu a atingi com um raio de luz, minha magia em sua forma mais pura e natural, quebrando a mesma em vários pedacinhos, como se tivesse sido atingida por um tiro.

Todos mundo bateu palmas, o que me fez sorrir e me sentir encorajada a fazer o resto. E foi o que eu fiz, com as outras três garrafas que Bernice jogou, em altura e direções diferentes.

— Obrigada Isabel - Bernice disse depois que eu quebrei a última garrafa - sei que foi difícil pra você vir aqui na frente e...

— Ainda não terminei - a interrompi - tem mais uma coisa que quero mostrar

Virei para Agui e apenas com o olhar ele entendeu que eu precisava dele. Agui veio até o centro e parou bem na minha frente, por mais confiante que parecesse, percebi incerteza e dúvida em seu olhar, então disse em um tom que apenas ele escutasse:

— Você confia em mim?

Ele franziu a testa no início, estranhando aquela pergunta repentina, mas logo em seguida respondeu:

— Claro

Segurei na mão dele e deixei a palma da mesma para cima, depois me abaixei e peguei um pedaço de vidro de uma das garrafas que eu havia quebrado. Me levantei novamente e olhei no fundo dos olhos azuis de Agui, naquele momento estávamos completamente e inteiramente conectados, eu sentia sua respiração e ele sentia a minha, o meu coração batia no mesmo ritmo que o dele.

Girei o vidro entre os dedos e em seguida aproximei o mesmo da mão de Agui, cortando a palma dele bem no meio. Ele não tirou os olhos de mim nem por um segundo, não demonstrou medo ou estranheza, o que me encorajou a continuar.

Naquele momento eu tinha certeza que todos a nossa volta estavam com os olhos grudados em nos dois, mas eu não me incomodei, pois pra mim era como se só estivéssemos nós dois, só eu e o Agui, sem mais ninguém.

Direcionei meu poder para minha mão, fazendo-a brilhar em poucos segundos.

Eu podia sentir a luz ali, dentro da minha palma, atravessando a minha pele aos pucos. Mas não se engane ao pensar que eu sinto dor, muito pelo contrário, é uma sensação tão maravilhosa que não consigo sequer descrever em palavras.

Aproximei minha mão do corte de Agui aos poucos, encostei meus dedos no sangue, depois aos poucos demos as mãos. Todos nos olhavam com curiosidade, mas ele só tinha olhos para mim. Depois de alguns segundos soltei sua mão e, apesar do sangue ainda presente, o corte já havia cicatrizado completamente.

Agui olhou para a mão surpreso, virando-a de um lado para o outro, não acreditando no que via. Depois olhou para mim e deu um sorriso, o que acabou me fazendo sorrir também. Uma chuva de palmas pode ser ouvida ao nosso redor.

** Pensamentos da Mal **

Deixei todos no jardim e acompanhei Bernice até o escritório dela, que ficava no final de um corredor a esquerda, ela queria conversar a sós comigo. Ao chegarmos lá, ela foi para o outro lado da mesa e apoiou as mãos na mesma.

— E então? O que achou dos meninos?

— Incrível - disse - quer dizer, todos eles são incríveis! Achava que eu sabia o que era magia, mas nada que eu já tenha visto na ilha é sequer comparável a isso

— Você é mais forte do que pensa Mal - Bernice disse se sentando na cadeira - talvez a mais forte daqui

— Como poderia? - ela só podia estar brincando - Você viu o que eles fizeram? Que pergunta, é lógico que você viu... o que eu faço não é nada

— Você conseguiu fazer magia em uma ilha que foi criada pelas criaturas mais poderosas que se tem conhecimento, para que ninguém no mundo fosse capaz disso... e ainda acha que não é poderosa?

— Mas não era grande coisa, sério mesmo, minha mãe fazia o tempo todo, ela que me ensinou - expliquei

— E quem é sua mãe?

— Malévola... - tinha entendido onde ela queria chegar, Bernice era realmente boa com as palavras

— A filha da criatura mais poderosa que se tem notícia ainda acha que não sabe o que é magia? Você é a própria magia Mal e... nós precisamos de você

— Como assim? - perguntei franzindo a testa

Bernice abriu uma gaveta a esquerda e fez um gesto indicando que eu sentasse, de lá ela tirou uma carta escrita à mão, a qual me entregou para que eu lesse. Todo aquele mistério só estava me deixando mais confusa.

— Quando você chegou eu disse que tínhamos um amigo em comum que me avisara que você estava vindo - ela disse unido ambas as mãos - foi esse mesmo amigo que me deixou essa carta - Bernice apontou para o pedaço de papel em minhas mãos

Pulei as palavras - virando a folha - e olhei logo a despedida, afim de descobrir quem era esse amigo tão misterioso.

— Diaval? - eu disse surpresa - Mas é claro... como eu não tinha desconfiado antes? É óbvio que ele tem alguma coisa haver com tudo isso

— Muito mais do que alguma coisa - Bernice disse - Diaval foi o fundador de toda a OPAM, foi ele que escolheu cada um dos chefes de cada uma das sedes, ele é o pilar de tudo, quer dizer, ele era..

— Como assim ele era?— indaguei

Bernice não me respondeu, ao contrário, ela apenas apontou para a carta novamente, indicando que daquela vez eu deveria ler todo o conteúdo e, foi o que eu fiz. Quando cheguei ao final, estava completamente sem palavras. Como pode existir uma pessoa tão maravilhosa e inteligente assim? Eu não tinha a resposta, mas sabia que essa pessoa era Diaval.

— Ele já sabia? Quer dizer, desde o começo?

— Diaval sempre nos alertou sobre uma guerra - Bernice me explicou - ele sempre falou sobre o perigo constante que corríamos desde o momento que resolvemos entrar para a OPAM. Mas ele sempre acreditou que o confronto viria por parte da coroa, quando a mesma acabasse descobrindo a organização, mas depois que ele me deixouessa carta eu acabei percebendo que a guerra, na verdade, vai vir do outro lado do oceano, do desconhecido...

— Não tão desconhecido assim - a interrompi, mais um pensamento alto do que outra coisa

— E acho que foi exatamente por isso que ele te mandou aqui

— Não foi exatamente ele... - me lembrei do que Carlos dissera - mas também não posso dizer quem foi

— Não importa quem foi, o que importa é que está aqui agora - Bernice disse com intonação na voz - você é a nossa única esperança Mal

Eu tinha plena consciência do que estava acontecendo, mas ao mesmo tempo era como se não fosse verdade, como se tudo não passasse de um sonho. Uma guerra estava prestes a começar e se não fizéssemos nada muitas vidas inocentes seriam perdidas, não só membros da OPAM como pessoas comuns.

— Temos que fazer alguma coisa - eu disse depois de pensar por alguns segundos - eles não vão demorar a chegar, Uma montou um exército, sequestrou pessoas...

— Espera - Bernice me interrompe - Uma?

Mesmo que Carlos tenha me pedido para não contar a ninguém, cheguei a conclusão de que naquele momento era mais do que necessário. Contei a Bernice sobre a visita dele, sobre o exército de Uma e Harry, e sobre o sequestro de Audrey. Ela ouviu tudo com bastante atenção, digerindo as informações rapidamente, talvez até já bolando uma estratégia.

— Foi tudo o que ele me disse - falei ao terminar - depois simplesmente foi embora. Eu peguei minha moto e pilotei até, conheci vocês e... bem, aqui estamos

— Isso não faz o menor sentido... - ela disse com uma mão no queixo - por que diabos eles sequestrariam a princesa Audrey? A não ser que...

Bernice levantou da cadeira e foi até uma estante que ficava encostada na parede de trás. Ela passou os dedos por alguns livros até encontrar um e tira-lo de lá, o trazendo para a mesa e se sentando novamente. Foi quando ela abriu o livro e começou a folhear as páginas do mesmo que consegui ver qual título ela havia escolhido.

— A Bela Adormecida? - indaguei

— Isso é muito mais do que um livro para doutrinar crianças inocentes a serem doentiamente fiéis a um tipo de governo - ok, ali ela me ganhou - os livros daqui não são assim - Bernice explicou enquanto ainda folheava as páginas amareladas - eles contam a verdade

E foi com aquela frase que Bernice deixou de passar as páginas para parar em uma em específico. Ela rolou os olhos pela mesma de forma rápida e eu até queria saber o que ela havia encontrado, mas não dava para ler palavras tão pequenas aquela distância, ainda mais de cabeça para baixo.

— Eu sabia - ela disse por fim e pude notar um leve sorriso de satisfação em seus lábios - por isso eles a sequestraram

Aquele frase me deixou ainda mais curiosa, pois até o momento nem eu sabia porque eles tinham feito isso. Bernice virou o livro para mim e apontou um trecho em específico, para que eu lê-se. E foi o que eu fiz.

E então com apenas um toque, a princesa Aurora foi tomada pela maldição da poderosa Malévola, levada a um sono profundo até que o seu amor verdadeiro... a beijasse — li em voz alta - Olha, eu fui criada a minha vida inteira ouvindo essa história - expliquei - tirando o fato de que minha mãe se gabava todas as vezes que a contava pra mim, e sei cada palavra de tudo isso

— Se a ouviu tantas vezes porque ainda pensa tão pequeno? - Bernice indagou

— O que quer dizer com isso?

— Uma maldição Mal - ela disse - Malévola lançou uma maldição em Aurora. E tirando o fato que Philip a acordou com um beijo de amor, a magia pode ter ficado

— Espera - estava começando a entender o que Bernice me dizia - está querendo dizer que esse resquício de magia que pode ou não ter passado para Aurora, também está presente na Audrey? E que por isso eles a sequestraram? - indaguei

— Não é impossível, aliás, faz até muito sentido pra mim. A maldição de Malévola foi uma das coisas mais poderosas que já se viu no mundo da magia, Aurora deve ter ficado com um pouco mais do que só um resquício

— Mas se fosse assim, por que a Audrey? Por que não a própria Aurora?

— Harry jamais conseguiria chegar perto da rainha de Goldland, agora da filha... bem mais fácil não?

Naquele momento minha cabeça estava borbulhando, tentando processar todas aquelas ideias que ao mesmo tempo me pareciam absurdas, mas também igualmente cheias de algum sentido. Carlos havia me dito que Uma não agiu sozinha, que ela estava junto de Harry.

— Então Harry está aqui em Auradon? Mas como ele poderia? A guarda triplicou desde que Uma invadiu o pedido de noivado do Ben

— Mas os guardas estavam atrás de Uma, não de Harry, por que ele nem sequer estava lá naquele dia

— Não tem como ele ter atravessado aquela barreira, o conheço desde que éramos crianças, ele não tem um pingo de magia - disse

— Mas Uma tem e eles estão juntos, você mesma me disse

— Mas não o suficiente para quebrar a barreira, se tivesse já teria feito isso a muito tempo!

— Mas ela nunca esteve do lado de fora antes ou esteve? - Bernice indagou, o que me fez ficar pensativa - Pensa comigo Mal, a gente sabe que ela conseguiu sair quando você estava voltando da Ilha com o Ben e seus amigos, quem garante que ela voltou depois daquilo?

— Ok, se Uma ficou escondida no oceano esse tempo todo e conseguiu tirar o Harry da Ilha, por que ela sequestrou a Audrey? Se tem uma magia tão poderosa assim?

— Estando desse lado da barreira não é tão difícil tirar alguém, mas tirar um exército inteiro? Isso requer muita magia, por isso a Audrey. Alguém tão inteligente como a Uma vai saber extrair a magia dela

Para todas as minhas perguntas Bernice tinha uma explicação, a teoria dela estava certa e só eu que estava demorando a aceitar. Uma guerra estava para acontecer e, independentemente de como, ela iria acontecer e se eu não fizesse nada, o meu povo seria massacrado.

Eu disse "meu povo"? Olha só as coisas mudando. Mas é o que vou me tornar um dia certo? Um dia serei rainha e minha responsabilidade começa agora.

— Nós temos que nos preparar - eu disse depois de um certo tempo pensando - não se preocupe com a coroa, nós vamos lutar ao seu lado, ao lado da OPAM. Traga quantos membros puder, mais da metade dos habitantes daquela Ilha são praticantes de magia negra, se Uma trouxer todos, temo que apenas alguns não será suficiente. Nós precisamos de todos.