Two Worlds - Dois Mundos

Uma maçã, um oceano e uma canção


** Pensamentos da Mal **

O que antes era um silêncio de muita tensão e nervosismo, após as câmeras serem desligadas deu lugar a questionamentos, gritos e taças de champanhe atiradas contra o chão e até em pessoas. Dois guardas correram na minha direção e do Ben, nos protegendo com seus próprios corpos enquanto nos escoltavam para uma espécie de coxia.

— O que foi isso? - perguntei quando já estávamos, relativamente, seguros

— A diferença de votos foi pouca, o que quer dizer que ao mesmo tempo que muitas pessoas escolheram pela vida, muitas outras estão revoltadas porque não houve a morte - Ben explicou, antes de se voltar para um dos guardas que nos levou até ali - fale com todos os homens, certifique-se de que todos saiam daqui em ordem e sem se machucar

— Sim, Vossa Majestade - o guarda bateu continência antes de sair as pressas

— E como nós vamos sair? - perguntei apreensiva

— Não se preocupe, um carro nos aguarda nos fundos do salão com guardas e uma viatura de policia - Ben explicou

— Espera, nós seremos escoltados?

— No momento a minha popularidade não tá muito boa, então para nossa segurança, sim

Respirei fundo e fiz positivo com a cabeça. Eu sabia que não seria fácil, não é simples pedir para que um país inteiro aceite alguém que até pouco tempo era usado para assustar crianças e até adultos. É por isso que até momento estou anestesia pelos votos terem sido contra o fuzilamento, mesmo que com uma diferença pequena.

Ben abriu uma pequena frecha na cortina para observar o que se passava do outro lado, a coisa ainda parecia bem feia pelos gritos que eu escutava. Logo Jane apareceu, ela estava vermelha e ofegante. Ben esperou que ela se acalmasse um pouco, mas eu só queria estrangula-la até que dissesse logo o que estava acontecendo.

— O carro... - ela respirava quase que entre cada palavra - já está a espera de vocês... nos fundos

Outro guarda apareceu, abrindo uma porta a minha direita, que só me dei conta de que estava ali quando um homem negro, alto e uniformizado saiu de lá. Ele nos escoltou por uma sucessão de pequenos corredores e lances de escada, até chegarmos em um beco parcialmente escuro e úmido.

Haviam algumas latas de lixo - umas intactas e outras tombadas - e caixas de papelão rasgadas. Haviam três carros, dois pretos e uma viatura. Ben e eu estamos no primeiro junto com dois guardas, deixando o segundo para a Jane, Evie, Jay e outras pessoas. Os policiais entraram na viatura e seguiram na frente, nos escoltando até o castelo do Ben.

Algumas pessoas olhavam para o nosso carro e apontavam, gritando coisas, outras apenas olhavam com espanto ou com raiva. Depois de alguns minutos não encontramos mais ninguém no trajeto até o castelo. O Ben não parou de fazer e receber ligações durante toda a viagem e eu apenas tomei o tempo em olhar pela janela, me perguntando em como seria trazer Malévola para um lugar como aquele.

Quando finalmente chegamos ao castelo, haviam milhares de repórteres nos aguardando no enorme portão de ferro. Eles se multiplicam ou o que? O carro passou com um pouco de dificuldade, mas quando já estávamos dentro, o portão foi fechado rapidamente, deixando todos os que não foram convidados para fora.

Para chegarmos até o castelo propriamente dito, passamos por um jardim gigantesco, com arbustos podados em forma de animais, chafarizes, piscinas - sim, no plural - e até uma quadra de tênis. Depois de quase cinco minutos contornando tudo isso com o carro, finalmente chegamos a entrada. Ben foi o primeiro a descer, em seguida foi minha vez e por último os dois guardas que estavam conosco.

O segundo carro chegou logo em seguida, Evie veio até mim e me deu um abraço apertado, o qual retribuí. Jay e Doug também desceram, mas foi Jane que prendeu minha atenção, ela estava com uma expressão apreensiva e, por mais que ela faça sempre isso, daquela vez parecia ser algo realmente sério.

— Aconteceu alguma coisa, Jane? - perguntei. Ben, que estava conversando com os guardas, se aproximou

— Infelizmente... sim - ela disse - mas é melhor conversarmos lá dentro

Ben e eu nos entreolhamos, será que aquele pesadelo não iria acabar nunca? Jay e Doug ficaram sobre os cuidados dos mordomos, enquanto que eu, Evie, Ben e Jane fomos para a sala de reuniões, apenas uma das três que existem espalhadas por todo o castelo.

Não vou mentir, me sentia esgotada e muito cansada, mas meu dever como futura rainha tinha que vir primeiro. Eu nunca quis ser rainha, mas já que iria me tornar uma, era melhor fazer direito, certo? Nos sentamos ao longo da enorme mesa de madeira escura.

— Pode começar Jane - Ben disse com sua voz séria de rei

— Várias rebeliões aconteceram por todo o país desde a divulgação do resultado das votações, por enquanto elas forma pequenas e a polícia conseguiu controla-las, mas as pessoas estão se organizando para algo grande, talvez os comércios parem e as crianças faltem as escolas, a guria ainda está apurando mais informações - ela disse, quase que soltando uma bomba em cima de nós

— O que? Mas não queriam que respeitássemos a vontade do povo? Foi o que fizemos! - eu disse

— Greves são um direito do povo - Ben disse depois de pensar um pouco - mas diga a guarda que seus homens devem ficar de prontidão para caso vire algo mais e em hipótese alguma as crianças devem faltar as aulas por conta disso

— Também temos que assegurar que nenhum tipo de movimento como esse aconteça dentro ou nos arredores das escolas - Evie disse

— Fale também com o departamento estudantil - Ben disse acatando a ideia

— Certo - Jane anotava tudo em seu tablet

— Mas por que estão fazendo isso? - me virei para Ben - Não fizemos tudo certo? Conforme a lei?

— Nem sempre o que está na leia agrada a todos - meu noivo explicou - mas não se preocupe, o fato de termos feito tudo dentro dela nos dá total segurança, rebeliões como essa ainda irão existir, por esse e por outros motivos, meu papel é certificar de que a justiça seja respeitada

— Continuando... - Jane disse roçando a garganta

— E tem mais?! - exclamei

— Eu recebi a notícia pela manhã, mas estávamos no meio da divulgação de votos e eu não tive como falar com ninguém - Jane começou a ficar visivelmente abalada - eu peço que vossa Majestade analise com calma o que vou lhe dizer e... - uma lágrima escorreu pelo rosto dela, eu podia quase sentir a dor dela. Quase

— O que aconteceu, Jane? - Ben perguntou preocupado

— Há dois dias que o Carlos não dorme em casa - ela disse

— Mas o Jay disse que ele estava com você - comentei

— Sim, ele disse porque acreditava que era isso, já eu pensava que ele estava com o Jay - Jane disse uma voz fanha - mas tudo mudou com as notícias que recebi pela manhã, eu sei que isso não partiu dele e eu... - ela começou a chorar baixinho

— Calma Jane, respira - Evie disse se levantando e pegando um pouco de água no frigobar, entregando para ela logo em seguida

Jane bebeu a água e respirou um pouco, se acalmando. Eu já estava para explodir de ansiedade, mas me controlei. Quando ela finalmente falou, quase não acreditei.

— Uma lanchonete e uma loja de jóias, ambas a uma rua de distância uma da outra, forma assaltadas ontem por volta de dez horas da noite - até ali nenhuma anormalidade - a policia local foi acionado e os policias fizeram o procedimento padrão, mas quando eles assistiram a gravação feita pela câmeras de segurança dos dois estabelecimentos... eles identificaram que o assaltante... era o Carlos

— O que?! - Evie quase pulou da cadeira

— Espera, o nosso Carlos? - perguntei, mas já sabendo a resposta

— Sim - Jane disse tentando controlar o choro - ele não é de fazer nada parecido, já fez na ilha, mas me prometeu que havia deixado essa vida, nós estávamos economizando para comprar uma casa só nossa e agora isso...

— Calma Jane, Carlos é um grande amigo meu e também acredito que ele não é capaz de fazer uma coisa assim - Ben tentou tranquiliza-la

— Mas eu assisti as fitas, era mesmo ele

— Então teremos que falar pessoalmente, peça a policia para iniciar uma busca

— Já estão fazendo isso - Jane informou

Então aquele havia sido o motivo pelo o qual Carlos havia faltado o julgamento, mas quando morávamos na Ilha, de todos nós o que menos gostava de roubar era ele, então por que diabos ele iria fazer uma coisa dessas aqui? Onde nada lhe falta? Posso até estar errada, mas acredito que isso não tenha partido dele, mas isso acaba gerando outro questionamento: quem terá o influenciado?

Eu o conheço desde que éramos bem pequenos e de todos os crimes que cometíamos, esse era o único que ele relutava em participar. Não é que eu também goste de roubar, mas era isso ou morrer de fome e se não décimos para ele o que conseguimos, com certeza ele teria morrido.

Jane bebeu um pouco mais de água e depois saiu para resolver tudo sobre a possível greve, o trabalho dela é parecido com o do Ben, não para nunca, acho que eu não teria fôlego para resolver tantos problemas ao mesmo tempo e todos os dias, eu gosto de curtir a vida com o mínimo de preocupações possíveis, fazendo exatamente o que me dá na telha.

— Agora você pode falar o que queria Evie - Ben disse

Eu me voltei para ela com o olhar apreensivo, preocupada com mais outro problema que poderia surgir.

— No momento vocês estão com problemas demais, depois eu converso com vocês - ela disse com um sorriso que transmitia confiança, mas eu a conheço, era algo importante

— Tem certeza? - insistiu, mas ela é osso duro de roer

— Absoluta - Evie disse antes de sair da sala

Ben respirou fundo e passou as mãos pelo rosto, apoiando os cotovelos na mesa em seguida. Eu apenas o observei, me dando conta de que tudo aquilo deveria ter ainda mais peso sobre ele, já que tudo em todo lugar depende exclusivamente de sua decisão.

Puxei minha cadeira para mais perto dele e passei a mão por sua costas, apoiando meu queixo em seu ombro. Ele me olhou e me deu um sorriso fraco, seu semblante visivelmente cansado e abatido, eu lhe dei um beijo demorado, tentando amenizar todo aquele peso que caia sobre ele, ou ao menos tentando.

— Não quero te deixar ainda mais estressado - disse

— Você não me estressa, pelo contrário - ele disse com um sorriso, segurando minha mão e brincando com meus dedos - o que foi?

— Preciso saber o que vai acontecer agora, quer dizer, com Malévola

— O crimes cometidos por ela foram usar magia negra para amaldiçoar Aurora e traição no dia da coroação, mas por mais terrível que seja, ela já pagou passando todos esses anos na Ilha e como um lagarto... - ele deu um meio sorriso - Malévola já deve estar em um carro a caminho daqui, Mal

— Sério?! - quase pulei da cadeira, meu coração batendo depressa, mas depois raciocinei o que realmente aquilo significava - Espera, tem certeza? Pro castelo?

— A princípio sim, mas como todo aluno da Ilha, você também tem um apartamento em seu nome e... como mora qui comigo, talvez ela gostaria de usa-lo

— Você tá querendo me dizer que ela não vai voltar para Ilha?

— Por que voltaria? Ela não vai receber o cajado de volta porque a magia ainda é um assunto complicado aqui na capital, muito mais a magia negra, que é proibida em todo o país

— Eu te amo

Puxei o rosto de Ben para perto e lhe dei um beijo, passando minhas unhas por seu cabelo macio, sentindo seu cheiro. Eu não podia estar mais feliz.

— Não me agradeça, foi o povo que decidiu assim, você realmente os emocionou com o seu discurso - Ben disse - aliás, como conseguiu?

— Eu só disse a verdade, o que tava cravado no meu peito

Ben sorriu e me deu outro beijo, nós passamos algum tempo junto naquela sala, literalmente aproveitando nossa pequena tranquilidade em meio a um oceano de rebeliões. Só fomos acordados quando Evie bateu na porta, informando que Malévola havia chegado, meu coração quase parou.

** Pensamentos da Princesa Isabel **

A aula de história com a senhora Peggy estava mais entediante do que o previsto, para que precisamos estudar sobre reinos que nem sequer existem mais? Acho isso uma completa perda de tempo, então eu passei quase que a aula toda rabiscando coisas aleatórias no caderno.

Nos minutos finais daquele insuportável tortura, senti meu celular vibrar no meu bolço, o peguei discretamente e chequei a mensagem que havia chegado, era do Agui. Levantei a cabeça e o procurei com o olhar, ele sorriu para mim do outro lado da sala, em seguida apontou para o celular dele, indicando para que eu lesse a mensagem que ele havia enviado.

"Bernice quer que você vá no esconderijo hoje para fazer a sua inscrição de verdade, mas eu não vou poder ir com você porque tenho educação física depois da aula, acha que consegue ir sozinha?"

Olhei com o canto do olho para a senhora Peggy e ela estava ocupada escrevendo alguma coisa na lousa, foi minha chance de responder Agui.

"Claro, eu consigo sim"— enviei

A aula terminou e Agui saiu correndo, quase atropelando a senhora Peggy e acenando para mim, o que obviamente me fez rir. Ele estava muito animado, já que iria fazer o teste para entrar no time da seleção da escola, eu realmente espero que ele consiga, ele se esforçou bastante.

Juntei minhas coisas e guardei tudo na mochila, passei no meu armário apenas para jogar tudo lá dentro. Noah estava guardando algumas coisas também, ele me viu e me mandou um beijo com a mão - o que me fez corar, obviamente - e depois saiu com os amigos para o jogo. É bom saber que alguém tão legal vai fazer o teste de admissão do Agui.

Em quanto eu estava distraída, observando Noah deixar o corredor junto com os amigos, uma menina de pele escura, usando uma floria, apareceu do meu lado de surpresa, quase me matando de susto.

— Você tá caidinha por ele, né? - Nina disse

— Que? - franzi a testa - Não, é claro que não. De onde tirou essa idéia?

— Tudo bem, quase todas as meninas são loucas pelo filho da Branca de Neve

— Espera, a Branca de Neve? Ele é filho dela? - perguntei supresa

— Você pode até ser nova, mas não saber disso já é pecado - Nina disse rindo

— É que desde que cheguei eu tenho ficado mais na minha sabe? Eu ando só com o Agui

— É eu percebi, vocês dois tem andado bastante juntos

Só quando ela disse aquilo que eu fui me tocar da besteira que tinha dito, como que alguém fala para outra pessoa que só anda com o namorada dela?! Meu Deus eu sou muito burra!

— Olha... a gente é só amigo, tá? - gaguejei tentando me explicar - No momento eu tô super focada nos estudos, não tô procurando ninguém pra mim e...

— Espera, você não acha que eu namoro o Agui, né?

— Não?

— Claro que não sua boba! - Nina exclamou empurrando meu ombro de leve - Nós somos amigos, isso é verdade, mas nada mais, na verdade eu tô meio que tendo um lance com o Josh

— O cara do fogo? - perguntei

— Cara do fogo? - ela riu - Se ele te pega o chamando assim... você não conhece quase nada mesmo, né?

Não respondi, apenas balancei a cabeça negativamente.

— Tá, espera - ela disse animada - isso vai ser legal. De quem você acha que eu sou filha?

— Não faço a menor idéia - disse tentando cortar o assunto, já estava ficando tarde e, pelo o pouco que sei, Bernice não gosta nada de esperar

— Da Moana hora bolas! Você é realmente um caso perdido

— Da Moana? Que legal, você consegue mexer a água? - perguntei curiosa

— Consigo fazer muito mais do que só mexer, mas depois eu te mostro, agora tenho que ir encontrar alguns amigos. Depois a gente se fala

Quando Nina já estava longe o suficiente, dei meia volta e saí rumo ao gramado leste, tive que despistar um inspetor no meio do caminho, mas nada que atrapalhasse, já que passar despercebida é um dos meus dons.

Andei bastante, tanto que já estava ficando apreensiva de ter errado o caminho e estar perdida, mas meu coração se tranquilizou quando eu vi a enorme árvore na minha frente, abri um sorriso enorme, caminhei até ela e a toquei, sentindo a casca fria em minha mão. Respirei fundo e iniciei a velha canção.

"Brilha linda flor...

Teu poder venceu

Faz já aqui

O que preciso de ti

Preciso de ti..."

Fiz uma pausa, retomando o ar e fechando os olhos.

"Pega o que é meu

Junta com o que é teu

Faz já aqui

O que preciso de ti

Preciso de ti...."

Ao longo dá música pude sentir o poder irradiando pelo meu braço e, quando abri os olhos ao fim da canção, as raízes da enorme árvore já começaram a sair da terra, rasgando a grama. Eu me afastei depressa, para não me machucar. Não pude evitar de sorrir, a magia sempre me deixa feliz.

— Meu Deus... que irado - uma voz soou atrás de mim

Eu quase desmaiei com o susto, dei um pulo e procurei de onde aquilo tinha vindo. Encontrei Noah de boca aberta olhando para a construção que aos poucos saia de baixo da terra.

— O que você tá fazendo aqui?! - exclamei

— Eu sei me esconder quando quero - ele disse com um sorriso, ainda admirado com o que tinha visto - então era por isso que a galera disse que você era encrenca...

— Como?

— Olha pra isso - ele apontou a porta do esconderijo com ambas as mãos - você cantou uma musiquinha brega e "pá", essa coisa surgiu

— Você não devia tá aqui, por favor, me promete que não vai contar pra ninguém - implorei

— Tá, eu prometo. Mas com uma condição, que me leve lá dentro

** Pensamentos da Audrey **

— Eu não acredito nisso! Não acredito! - Harry gritou furioso, batendo em uma mesa ela, arrancando um pedaço da mesma com o golpe - Como podem não tê-la matado?! Como podem ser tão burros?!

— Mas tá tudo bem, isso não vai nos impedir de conseguir o que queremos - tentei acalma-lo

Harry segurou meu braço com força, deixando a pele em volta vermelha, e fez meu rosto ficar bem próximo ao dele, me impossibilitando de olhar para qualquer outro lugar se não seus lindos olhos azuis. Me assustei um pouco na hora, mas eu sei que ele me ama.

— Não entendi que Malévola pode nos transformar em pó se tentarmos chegar perto da Mal ou daquele rei idiota? - ele disse com uma voz ríspida

— Mas eles apreenderam o cajado, a magia dela fica limitada sem ele

Harry aos poucos foi deixando sua mão mais frouxa em meu braço, mas não chegou a solta-lo e também não deixou que eu me afastasse muito.

— Tem certeza disso? - ele perguntou

— Absoluta

Harry ficou olhando para o nada, por cima do meu ombro, durante alguns segundos, como se pensasse em alguma coisa. Depois ele me soltou e seguiu para a saída, quando perguntei para onde ele ia, o capitão apenas respondeu sem olhar para trás:

— Eu vou para o mar, preciso falar com a Uma

— E o plano? Continua o mesmo? - indaguei

— Se ela disser que sim...

E simplesmente saiu, fechando a porta e me deixando naquele lugar horrível sozinha. Como assim: "Se ela disser"?! E a minha opinião?! Não conta?! Eu gosto de acreditar que estou por dentro de tudo tanto quando Harry ou Uma, mas a verdade é que ás vezes me sinto tão por fora quanto o Chad.

Mas na realidade não importa muito, com tanto que eu consiga ser rainha no final, o trajeto pouco me interessa.

** Pensamentos da Mal **

A cada minuto que se passava eu ficava mais ansiosa, o meu coração batia mais rápido e eu roía mais unhas. Lumière percebeu o meu nervosismo e seu aproximou com o sorriso acolhedor de sempre, colocando a mão em meu ombro e me olhando com ternura.

— O que te perturba minha querida? - ele perguntou

— Malévola... ela deve chegar a qualquer momento

— É eu fiquei sabendo, a rainha Bella ordenou que os cozinheiros fizessem um verdadeiro banquete

— O que? - franzi a testa - Achei que ela nem sequer tivesse gostado da ideia do Ben de trazer minha mãe pra cá

— A rainha Bella é uma mulher muito boa e sábia, o seu discurso naquele teimou toucou não só ela, como todos no palácio

— Isso é verdade, Lumière?

— E eu mentiria para você? Todos estão empenhados para receber sua mãe

Não pude evitar de sorrir com aquilo, finalmente as pessoas estavam começando a ver minha mãe como ela verdadeiramente é, e não como um mostro horrendo e sem emoções como o qual ela é descrita por alguns.

— Obrigada Lumière - eu disse com sinceridade

— Pelo o que minha querida? - ele perguntou franzindo a testa

— Por tudo - respondi por fim, lhe dando um beijo estalado na bochecha

Cerca de meia hora depois e muitas xícaras de chá de camomila, um dos mordomos veio me chamar, avisar que o carro havia chegada e estava estacionando na entrada. Joguei a xícara vazia nas mãos e saí correndo, quase derrubando uma empregada que passava com toalhas nas mãos.

Quando finalmente abri a porta da entrada, me deparei com Malévola descendo do carro, o semblante dela era incerto, mas com certeza completamente diferente de qualquer outro que eu já tenha visto em toda minha vida, ela parecia... tranquila.

Ela segurava uma pequena mala e me olhou por alguns segundos, eu sabia que por dentro ela estava dizendo algo como: "estava com saudades", e por dentro eu também respondi: "não mais que eu". Desci dois degraus, me aproximando mais dela, antes de dizer:

— Mãe?

** Pensamentos da Princesa Isabel **

Entrei no esconderijo a passos lentos, mantendo Noah atrás de mim para que ele não saísse correndo e anunciando que havíamos chegado. O local estava estranhamente vazio, muito diferente do dia da reunião, mas eu sabia que Bernice me aguardava em algum lugar, muito provavelmente em sua sala.

— Como aqui dentro pode ser tão grande? - Noah perguntou - Lá de fora parecia tão pequeno...

— Isso se chama magia - expliquei - e fale baixo, não quero que saibam que você está aqui

— Se minha mãe soubesse que estava junto de uma menina que faz magia, eu já estaria morto a essa altura

— Por que vocês são assim, ein? - me virei para ele, indignada com aquele comentário - Por que vocês tem tanto medo de magia? O que vocês acham que nós vamos fazer? Transforma-las em sapos? Ou explodir a cabeça de cada um?!

— Ei calma ai baixinha - Noah disse levantando as mãos, se rendendo - a magia fez coisas ruins com os nossos pais, como a mãe, que foi enganada e acabou caindo em um sono da morte

— Esse é grande erro, não foi a magia que fez isso - disse com firmeza - foram pessoas ruins

Noah não respondeu, apenas ficou olhando no fundo dos meus olhos, acho que ele estava analisando se eu falava a verdade, se foi isso acabou chegando a conclusão de que sim, pois nunca falei tão sério em toda a minha vida.

— Isabel? - uma voz soou atrás de mim

Fechei os olhos e me virei devagar, já reconhecendo a quem pertencia aquela voz. Bernice nos olhava com os braços cruzados e a sobrancelha arqueada, minha vida estava em jogo e eu claramente estava perdendo.

— Bernice... é que... eu... - gaguejei e no final não disse nada. Minhas mãos gelaram e meu coração disparou

— Eu peço pra você fazer uma coisa bem simples, sair depois da aula para vir até fazer a sua inscrição e você me traz isso? - ela disse com uma voz firme, referindo-se ao Noah

— Isso? Eu tenho nome! Sou o príncipe Noah! - ele disse com o peito estufado

Naquele momento eu claramente só queria uma cova para entrar e enterrar a mim mesma.

— É, eu sei bem quem você é - Bernice disse fazendo pouco caso - o que não entendi o que está fazendo aqui

— A Fada Madrinha sabe que esse lugar existe? - Noah perguntou, mas eu o ignorei

— Minha desculpa Bernice, mas ele me seguiu até aqui e acabou vendo quando eu liberei a porta - me expliquei da melhor forma possível - ele disse que só não contaria para ninguém se eu trouxesse aqui em baixo

— Em baixo? Espera, a gente tá em baixo da terra?! - Noah perguntou um pouco desesperado

— Devia ter tomado mais cuidado... - ela disse em um tom baixo

— Nenhuma de vocês está me respondendo aqui, eu perguntei se...

Antes que Noah completasse a frase, Bernice tirou uma pequena faca da parte de trás de sua calça e avançou para cima dele, o encurralando contra a parede e empunhando a parte afiada da arma a centímetros do pescoço dele.

— Bernice! - exclamei

— Você não vai contar nada sobre o que viu hoje e sabe por que? - ela disse com uma voz autoritária - Por que se contar para eu alguém, se ao menos pensar nesse lugar, eu vou saber e vou atrás de você aonde quer que esteja. E sabe o que vai acontecer?

Noah estava vermelho, ele forçava a cabeça o máximo para trás, tentando se distanciar da faca, mas a parede o impedia, estava encurralado. As veias do pescoço dele até dilataram, eu queria ajudar, mas não sabia como.

— Eu vou matar você de tal maneira, que nem a sua mãe será capaz de reconhece-lo

Escutei Noah engolir em seco. Eu andava de um lado para o outro, minha vontade era de impedir aquilo, mas ao mesmo tempo tinha medo que aquela faca atingisse minha cabeça em cheio. Mas por mais que ele tivesse me seguido, eu havia trago ele ali, então ele era minha responsabilidade.

Me aproximei devagar e coloquei minha mão no ombro de Bernice, ela olhou para com fogo nos olhos, eu quase recuei ali mesmo, mas engoli o medo e tentei ser o máximo corajosa possível.

— Ele não vai contar - disse com uma voz fraca, porém firme - não é Noah?

Noah olhou para mim com os olhos arregalados e fez positivo com a cabeça, repetidas vezes. Aos poucos Bernice foi cedendo, até guardou a faca novamente. Ela fez com que ele ficasse sentado olhando para a parede enquanto eu preenchia minha inscrição, coisas como nome completo, reino natal, nome dos pais e poderes.

Quando terminei, eu e Noah saímos de lá quase que correndo. No caminho de volta eu briguei com ele de novo e o fiz prometer umas cinco vezes que não contaria nada a ninguém. Como se precisasse, só a intimidação de Bernice foi mais do que suficiente.

Quando chegamos perto do campo, Noah se despediu de mim e disse que atrás dos amigos, eu concordei e segui meu caminho rumo aos dormitórios femininos, pois estava precisando de um banho. Enquanto caminhava por um dos corredor, acabei passando pela enfermaria, que tem uma enorme janela de vidro, permitindo que quem passe por ali consiga ver tudo lá dentro.

O que eu não esperava era ver Agui sentado na cama com um olho roxo enorme e a boca cortada, com sangue seco ainda. Eu entrei as pressas dentro da pequena sala, nem sequer bati, a enfermeira reclamou, mas logo recuou quando percebeu que nós éramos amigos.

— O que aconteceu Agui?! - perguntei apreensiva

— Foi o pessoal do time - ele disse em um tom baixo, como se estivesse com vergonha

— Eles fizeram isso com você? - perguntei franzindo a testa, quase sentindo a dor dele

— Parece que eu não faço o estilo do time - Agui disse com um sorriso fraco, completamente diferente de qualquer outro sorriso dele que eu já tenha visto. Ele estava profundamente magoado.

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Príncipe Noah

Nina