Acordei por volta das 7:30 da manhã com o despertador do celular gritando no criado-mudo, estiquei meu braço e o desliguei, mas antes disso pude ler a mensagem que ele mostrava:

"Temos um encontro com o povo hoje, te espero as oito para lancharmos.

Beijos, Ben."

Sorri com aquelas palavras, mas na verdade eu não queria sair da cama de jeito nenhum. A noite passada havia sido incrível, depois de passar um tempo com o Ben, nós dois voltamos para ficar com o restante de nossos amigos, que continuavam nos grandes gramados. Dançamos, conversamos e relembrando coisas do passado até de madrugada.

"- Ok - Jay disse, fazendo todos olharem para ele - Teve uma vez, nós devíamos ter uns seis anos, que a Mal cismou que queria subir na pedra orgulhosa...

— Que pedra é essa? - Ben interrompeu, Lonnie também pareceu interessada

— Ela fica na parte sul da Ilha, é bem grande e cheia de espinhos bem pequenos - Jay explicou - bem, ela tava tão focada que não ouviu quando nós avisamos, várias vezes, que era perigoso

— Mal sempre foi meio cabeça dura - Carlos completou - quando bota uma coisa na cabeça, ninguém, além dela mesma, consegue fazê-la mudar de idéia

— Ela subiu uns três lances de espinho com bravura, mas no quarto acabou deslizando e batendo de bunda no chão! - Jay concluiu e todos começaram a rir - Você lembra Mal?

— É claro que eu lembro - respondi - eu quebrei o braço naquele dia, só de falar já lembro da dor - delineei a pequena cicatriz no braço direito com os dedos

— Não te deram analgésicos? - Ben perguntou preocupado, olhando para minha quase imperceptível cicatriz

— Não existe hospital na Ilha Ben - Evie respondeu - a mãe da Mal teve que colocar o osso no lugar em casa, imobilizar com materiais improvisados

— Você tava lá, né? - perguntei

— Sim, ainda lembro dos seus gritos. Por mais que a tia Malévola quisesse usar magia pra tirar sua dor, a barreira mágica não permitia...

O clima ficou um pouco tenso, Ben ficou sério e pensativo de repente, todos perceberam, então eu tratei de mudar de assunto:

— Mas eu sobrevivi pra contar a história! - disse, fazendo Carlos e Jay rirem, ganhando a atenção do Ben novamente, o qual deu um sorriso triste

— Vocês lembram da vez que... - Evie me ajudou e colocou outra conversa no foco"

Relembrar a noite anterior me fez tocar minha cicatriz novamente e lembrar da minha mãe, por mais que todos em Auradon a considerem uma pessoa terrível, só eu a conheci de verdade porque, por muito tempo, só éramos nós duas. Olhei para o a pequena caixa vidro em cima de um dos meus armários, me livrei das cobertas e fui até lá, um pequeno lagarto me encarava pelo vidro, como se soubesse o que eu sentia.

— Bom dia mamãe - eu disse, antes de entrar para o banheiro e tomar banho

ALGUMAS HORAS DEPOIS

Ben se apressou e abriu a porta da enorme limusine antes que o motorista o fizesse, esticou o braço em minha direção e disse:

— Primeiro as damas

Eu entrei no carro rindo, ele veio logo depois, me dando um selinho e ordenando que o motorista iniciasse a viagem.

— Ben, a Jane falou um milhão de coisas antes me deixar vir aqui, mas sinceramente? Eu não lembro de mais nada - dei um sorriso torto

— Vai ser tranquilo, quando casarmos vai fazer muito disso - desviei o olhar, o casamento está tão próximo - Nós vamos nos bairros mais populares, cumprimentaremos o povo, visitaremos alguns comércios e perguntaremos o que estão precisando. Não se preocupe se não conseguir gravar todos os pedidos, teremos alguém encarregado de anotar tudo. Acho que o mais complicado será as soluções

— Soluções? - perguntei apreensiva

— Quando um habitante disser que algo errado ou que já não funciona mais, temos apresentar uma solução de imediato, mesmo que depois ocorram algumas mudanças, o povo precisa saber que nos importamos

— Mas isso é o com você, né? Afinal, você é o rei

— A opinião da futura rainha é muito importante para que o povo possa conhece-la melhor Mal, e não se engane, quando me casar com você, levarei sua opinião em conta em todas decisões que eu tomar. Afinal, você será minha rainha - ele terminou depositando um beijo em minha mão

Eu sorri com o carinho e passei a mão por seu rosto, que sorriu de volta. Finalmente chegamos ao primeiro bairro, algumas pessoas formaram uma espécie de corredor ao longo da calçada, eles balançavam bandeiras com o emblema de Auradon e batiam palmas.

A limusine parou em frente a um centro comercial, o motorista deu a volta e abriu a porta para Ben, que foi o primeiro a descer e acenar para o povo, com seu sorriso enorme e cativante. Em seguida ele estendeu a mão para dentro do carro, em um doce convite. Alguma pessoas já se empurravam para tentar me ver, então eu respirei fundo, segurei a mão do meu noive e desci do carro.

Uma salva de palmas e gritos contidos pode ser ouvida, eu não pude evitar de sorrir com toda aquela atenção. Passei a mão pelo vestido, garantindo que tudo estava no lugar, Ben segurou minha mão e nós acenamos.

Começamos a andar lentamente por entre as pessoas, que sorriam e diziam coisas carinhosas. O primeiro lugar que entramos foi em uma pequena e elegante padaria, o cheiro me fez sorrir automaticamente, não conseguia pensar em um cheiro melhor que aquele, além do do meu noivo, é claro.

O senhor de idade, usando óculos, se aproximou de nós e fez uma reverência lenta, Ben repetiu o gesto e eu o acompanhei, erguendo um pouco os lados do vestido e abaixando a cabeça.

— Como andam as vendas senhor Lopez? - Ben perguntou carinhosamente

— Não andam nada bem Vossa Majestade - o senhor disse com uma voz triste - já até baixei os preços, mas as pessoas não compram mais como antes. O que posso fazer?

Olhei para o Ben, curiosa com o que ele diria a seguir que salvaria o pobre idoso de falir a antiga padaria. Mas meu noivo olhou para mim e eu gelei na hora, não acreditando que ele iria fazer aquilo comigo.

— O que minha noiva acha que deve ser feito? - ele perguntou

Eu paralisei, na minah mente fuzilar e cortar o Ben em mil pedacinhos diferentes, queria bater nele até implorar para que eu parasse, jogar um feitiço para que virasse um sapo horrendo por dia inteiro! Mas o que ele tinha que me meter naquilo? Mas foi quando eu olhei para o semblante preocupado do senhor Lopez, que vi que na verdade, eu também me importava, não só pelo fato ser a futura rainha, mas pelo fato de que sempre acreditei que quem dispusesse do poder, deveria usar o mesmo para ajudar os outros, e agora eu dispunha de uma parte desse poder.

— Eu acho que... - dei uma pausa para pensar no que dizer - o que o senhor vende além dos pães? - perguntei

— Além dos pães? Nada majestade

— Acho que este é o problema, o senhor deve investir em novas opções, como doces, bolos e até salgados

— E morangos? - Ben perguntou com um sorriso

— Sim! O senhor pode usar os morangos nos doces e nos bolos, fazer sucos... - expliquei animada - Garanto que assim as vendas aumentaram, eu mesma serei uma de suas novas clientes

— A futura rainha como minha cliente? Não sei se mereço isso. Muito obrigado Vossa Majestade - ele agradeceu

— Não há de que

Ben e eu deixamos a padaria e caminhamos para outras lojas, a medida que parávamos para autografar e tirar fotos com algumas pessoas que nos acompanhavam desde a chegada. Ben não parava de me abraçar e me encher de beijos, mais do que o normal.

— Olha, não é que eu não goste, mas o que foi que eu fiz pra merecer tudo isso? - perguntei

— Tudo, estou muito orgulhoso de você - ele respondeu com um sorriso - Se saiu muito bem com o senhor Lopez

Eu sorri de volta, um pouco envergonhada, mas com a certeza de que havia feito o meu papel. Nós continuamos o passei por outros bairros e sempre éramos gentis e tentávamos atender á todos que vinham até nós. Em uma de nossas caminhadas, uma pequena menina, de mais ou menos uns cinco anos, com belos cachos ruivos, veio até mim e estendeu uma rosa. Eu abaixei até ficar de sua altura.

— Uma flor para a rainha - ela disse com um sorriso

— Muito obrigada pequena - agradeci, tomando a flor em minhas mãos - qual o seu nome?

— Meu nome é Amélia e meu sonho é um dia ser princesa

— Posso te contar um segredo? - perguntei

Os olhinhos da pequena brilharam e ela fez que "sim" com a cabeça, animada.

— Certa vez, uma pessoa que é muito importante pra mim, disse que não precisamos ser uma princesa para sermos pessoas incríveis e bem sucedidas - disse segurando sua pequena mãozinha - mas se ainda assim esse é o seu sonho, terá de lutar e acreditar com todas as suas forças para conseguir concretiza-lo, mesmo que deslize e caia, nunca deixe de se levar, ok?

— Ok - ela respondeu, a voz doce com a de uma fada

— Agradeça á rainha - uma mulher próxima, que deveria ser sua mãe, disse

— Obrigada Majestade - Amélia agradeceu com um sorriso

— De nada, princesa Amélia

Levantei e fiz uma pequena reverência, arrancando uma gargalhada gostosa da pequena, antes de me retirar e continuar com o passeio pelas ruas de Auradon ao lado do meu noivo, que não parava de sorrir para mim nem por um segundo.

Ao final do passei, retornamos para a escola exaustos, mas, além de cansada, eu estava me sentindo muito confiante, uma sensação de dever cumprido que aquecia meu coração. Ben e eu fomos direto para os nossos quartos, trocamos de roupa e combinamos de nos encontros no gramado leste para um piquenique, onde ficamos algumas horas.

Sobre a toalha quadriculada de vermelho e branco, haviam pães, morangos, doces e suco. Nós nos empanturramos e depois deitamos na grama, observando as nuvens do imenso céu azul. Ben ergueu parte do corpo, ficando com o rosto em meu campo de visão, e disse:

— Estou muito orgulhoso de você, foi incrível hoje - ele disse com um sorriso

— Você também foi - o beijei

Conversamos e rimos por mais alguns minutos, mas aquele momento foi interrompido por Evie, que veio até nós correndo, a preocupação visível em seu rosto. Ben e eu levantamos em um pulo, apreensivos com o que poderia ter acontecido.

— Calma Evie - Ben segurou em seu cotovelo - aconteceu alguma coisa?

Evie respirou fundo, retomando o ar aos pulmões cansados, depois dirigiu o olhar a mim, o que não poderia significar boa coisa, e disse:

— É... é a sua mãe Mal - disse por fim

— O que tem minha mãe? - perguntei, confusa

— Ela voltou a forma humana

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