Two Of Us

O carro e a moto


É claro que Remus sabia, mas a verdade é que tinha uma pequena, quase ingênua esperança.

Desde criança ser um lobisomem era um peso, mas ele não costumava reclamar, ao menos não para os outros.

-Eu sinto muito Remus.

O homem sorriu triste, balançando a cabeça para evitar que a secretária voltasse a se lamentar.

-Eu também vou sentir sua falta Marlene.

E dando uma última olhada ao prédio que fez parte de sua rotina nos últimos quatro anos, Remus Lupin carregou seus objetos pessoais dentro de uma caixa para fora.

Ele precisava de outro emprego, e agora se arrependia de ter saído do velho apartamento de sua mãe e ter comprado a casa nova.

Não era tão cara, mas ele precisava de um salário para pagar sua dívida, e ele devia ter desconfiado de todos aquele empresários visitando a clínica tantas vezes nos últimos meses.

Não era qualquer patrão que iria permitir um lobisomem trabalhando com tanta responsabilidades em sua clínica.

Mas agora não adiantava ficar se lamentando pelos cantos, ele precisava fazer o que já estava atrás do prejuízo.

O melhor de ter um carro trouxa era a possibilidade de sair por aí em alta velocidade e esvaziar a cabeça.

Lupin estava dirigindo de uma maneira que ele próprio condenaria em dias normais, mas ele havia acabado de perder o emprego e estava com problemas o bastante para não se preocupar, mas isso só até ouvir uma búzina e brecar assustado, notando uma moto quase grudada no capô de seu carro.

-Tá cego? Imbecil.

-Me desculpe, você tá bem?

Um homem alto, usando uma jaqueta de couro, balançou a cabeça como um cachorro, fazendo um barulho engraçado, logo depois passando a mão no próprio corpo, como se esperasse encontrar, ou não encontrar, alguma coisa.

-Estaria melhor se não tivesse quase sido atropelado por um idiota.

Lupin tirou o cinto que o protegia e saiu do carro, pronto para se identificar como médico e oferecer alguma ajuda para o homem, quando este se virou, e o reconhecimento o fez abrir a boca em surpresa.

-Black?

-Lupin? Ora, vejam só, o cdf ficou rebelde e resolveu sair por aí dirigindo como um louco.

-Bem, talvez eu só tenha percebido que era você e feito de propósito.

Sirius riu alto, dando tapas animados nas costas do outro.

-Ah, e quem diria, também tem senso de humor. Hey, vamos beber alguma coisa, por sua conta.

Lupin sorriu e voltou para o seu carro, esperando Sirius montar em sua moto, e seguindo-o para um bar trouxa não muito longe dalí.

Lupin se sentou meio sem jeito. Sirius parecia tão dono de si, mas isso era até normal, alguém como ele tinha todos os motivos para ser tão confiante.

A situação também era estranha porque, afinal, eles se conheciam desde sempre, haviam estudado juntos em Hogwarts, e ficado na mesma casa, e algum tempo depois também tinham se encontrado na faculdade de medicina.

Não dava pra negar que tinha sido uma surpresa, Sirius era o tipo do cara que Remus imaginava que fosse se tornar auror e correr por aí atrás de bruxos das trevas.

-Lupin? Tá no mundo da lua?

Remus balançou a cabeça sorrindo, espantando os pensamentos.

-Só estava pensando, como te conheço há tantos anos e nunca paramos pra conversar.

-Bom, você sempre foi responsável e estudioso, e eu...bem, tanto em Hogwarts quanto na faculdade gostava mais de farra do que estudar. -Respondeu sorrindo, pegando a bebida que já havia pedido e que Remus nem tinha percebido.

-Ah, mas você sempre teve boas notas.

Os dois pararam pensativos, sorrindo como se pudessem ver novamente as salas de aula que já dividiram.

-Bom, ter boas notas não tem me ajudado muito.- Remus disse, pensando alto.

O outro olhou parecendo preocupado, e Lupin arqueou a sobrancelha estranhando, já que eles nunca haviam trocado mais que algumas palavras, e essa era provavelmente a primeira conversa de verdade que tinham.

-O que quer dizer? Não está trabalhando?

-Bem, eu tenho especialização em doenças mágicas, e isso limita um pouco o campo de trabalho.

-Mas você é um bom profissional, todas as clínicas mágicas devem querer te contratar.

-Bem, dificulta o fato de uma vez por mês eu ficar ausente. - Comentou rindo sem nenhum humor.

-Então é verdade?

Remus se sentiu desconfortável, se movendo na cadeira inquieto e dando mais um gole na sua bebida.

-Eu sempre soube que você sabia Black, você e Potter eram mais espertos do que as pessoas percebiam.

Sirius sorriu verdadeiro lisongeado, e Remus apenas sorriu.

-Bom, eu tive uma idéia. Eu montei uma clínica particular na casa que era da minha mãe, e trabalho por conta. Você poderia atender lá, até achar alguma coisa melhor.

-Black..

-Se você vai trabalhar na minha casa pode começar a me chamar de Sirius.

-Sirius, você entende o que faltar uma vez por mês significa, né?

Sirius apenas riu animado, dando uma palmadinha nas costas do novo colega de trabalho, e fazendo sinal para que este o seguisse, jogou algumas notas no balcão para pagar o que haviam consumido.

-Bla...Sirius. Você não precisa fazer isso.

-Não seja orgulhoso, vamos, pegue seu carro e me segue até seu novo local de trabalho, vamos combinar tudo.

Continua...