Two Of Us

Almofadinhas


Quatro meses trabalhando com Sirius Black e Remus Lupin poderia descrever sem dificuldade toda a rotina do outro.

Não que ele fosse tão previsível, mas Remus era muito observador, e eles agora eram como amigos de infância, como se essa amizade tivesse realmente começado em Hogwarts.

As horas, naquela tarde em particular, estavam se arrastando.

Dois pacientes tinham desmarcado, e estava muito calor, logo Sirius e Lupin estavam sentados sem ânimo para conversar, apenas aproveitando o ar gelado e artificial do ventilador.

-Me deixa fazer um feitiço para acabar com esse calor Remus.

-Já disse, minha próxima paciente é trouxa, não faz sentido com esse calor que o consultório esteja gelado.

-Mas os trouxas também não tem aquele arcodicionado?

-Ar-condicionado.

E Black apenas riu, sem se importar por ser corrigido pelo outro.

Convivendo todos os dias, por tantas horas com uma pessoa ou você se acostuma e gosta ou passa a odiar.

Remus agora só conseguia rir de todas as maluquices de Sirius.

Desde sua desorganização, até sua preguiça, seu senso de humor peculiar e sua dedicação ao atrapalhado Almofadinhas.

Um barulho alto assustou os dois homens que estavam perdidos em seus pensamentos, e como se pulasse da mente de Remus, Almofadinhas entrou correndo e chorando na sala.

Sirius correu até o cachorro como se esperasse que ele lhe dissesse o que estava errado, e então o cachorro caiu deitado, não conseguindo sustentar as próprias patas.

-ALMOFADINHAS!

-Sirius, vem, vamos examiná-lo.

-Remus, ele é um cachorro, precisamos de alguém que entenda de animais...precisamos ir em Hogwarts, Hagrid pode nos ajudar, vamos, rápido, fecha a clínica.

Lupin tentava acompanhar o pensamento rápido de Sirius percebendo seu desespero, mas então lhe ocorreu que não seria possível aparatar com o cachorro ferido.

-Eu conheço um veterinário, vamos no meu carro.

-Somos bruxos, podemos aparatar!

-Veterinários são trouxas, não podemos, vem!

E juntos levaram o grande cachorro negro até o banco traseiro do carro, e Remus dirigia rápido, passando por faróis vermelhos sem se importar, vez ou outra olhando para atrás.

Sirius não deixou o gesto passar desapercebido, e sorriu com a dedicação do outro, que até onde ele tinha percebido não gostava de cachorros.

-Eu gosto do Almofadinhas.

E Sirius podia jurar que Remus tinha lido seu pensamento.

Juntos levaram o cachorro a emergência veterinária e esperaram, ansiosos na sala, em silêncio.

Lupin podia ver o quanto o amigo estava preocupado, como ele enxugava algumas lágrimas escondido, achando que ninguém estava vendo.

Alguns minutos depois o médico chamou os dois, e deu a notícia que Almofadinhas havia sido envenenado, mas que ficaria bem.

Sirius deixou escapar que faria mil feitiços de proteção nele, e o homem que atendera o cão apenas riu, achando engraçado o jeito que o moreno falava.

De volta ao carro, os dois iam em silêncio, e Remus sabia que era porque Sirius estava absurdamente desolado de deixar o \"filho\" internado.

-Ele vai ficar bem.

-Obrigado Remus.

Lupin se sentiu de novo com 14 anos, quando se divertia das piadas de Sirius e James, mas não tinha coragem de rir em voz alta.

Ele sempre se sentiu intimidado por Sirius, e por mais infantil que pudesse parecer, estava muito feliz por finalmente fazer parte da vida do outro.

-Quer jantar? Eu conheço um lugar ótimo por aqui.

Sirius sorriu abertamente, colocando a mão na coxa do motorista.

-Quem convida é quem paga.

Não era possível saber se era a música, o álcool, ou a conversa, mas Remus estava vermelho, a mão apertando com força um guardanapo, enquanto Sirius servia mais uma dose de vinho para ambos.

-Você jura mesmo que nunca fez isso?

-Claro que não Sirius, eu levo meu trabalho muito a sério.

-Eu também, mas tem gente que acha que consultório médico pode ser fetichista.

No seu estado normal Remus teria repreendido o outro, mas ele apenas caiu na gargalhada.

-Você tem alguma namorada que eu não conheço Sirius?

O outro pareceu medir as palavras de uma forma teatralmente exagerada.

-Namorada eu acho que não tenho desde Hogwarts.-Respondeu colocando a mão na coxa de Lupin, numa cópia exata do que havia feito horas antes.

Remus quis pensar que o outro estava querendo dizer que desde então só queria saber de curtir, e não de namorar, mas a bebida sempre o fazia pensar demais, e ele imaginou que talvez o outro estivesse querendo dizer outra coisa.

-Você era mesmo popular em Hogwarts, bem diferente de mim.

-Talvez por isso nós devíamos ter sido amigos naquela época, seria como um equilíbrio, né?

-Quem sabe. -Respondeu sorrindo, e se levantando para pagar a conta, antes que mais uma garrafa de vinho surgisse na mesa.

E quando Remus se levantou e se afastou não ouviu as últimas palavras que Sirius disse antes de respirar fundo e tentar parecer sóbreo.

-Eu sempre disse pro James que você era mais especial do que gostava de mostrar...

Continua