Macária p.d.v

O castelo possuia um silêncio sepulcral. Não havia ninguém nele, o que me deixou bastante feliz. Papai não estava em casa, o que é quase um milagre desde que minha mãe fugiu. Ele andou suspeitando de mim e tem estado no meu pé ultimamente querendo saber se eu sabia de alguma coisa. Eu neguei tudo, é claro. Eu não gosto de fazer isso com ele, afinal ele é meu pai, mas há muito tempo ele deixou de me amar. Como um pai pode deixar de amar sua filha? O que eu fiz de errado? Não resta mais nada para mim aqui. Eu tenho que ir embora e eu irei hoje. Terminei de pegar o dinheiro no cofre do meu pai e fui em direção ao portão do castelo. Não sei como meu pai não percebeu que algumas notas haviam sumido. Ele deve estar ocupado perseguindo minha mãe por isso não notou. Passei pelo portão e levantei vôo até o portão de bronze, aonde cérberos guardava a saída de Tártaro. Passei por ele sem o menor problema, afinal, a morte pode sair e voltar quantas vezes ela quiser do inferno, não é mesmo?

É noite de lua cheia. O céu noturno está ofuscado pelo brilho intenso da lua e das estrelas. Eu inspirei fundo e meus pulmões agradeceram o ar puro da noite isento de enxofre. Parei por um minuto e mentalisei o rosto de minha mãe. Não demorou muito para a minha intuição indicar aonde ela estava. Ela estava para o norte, e é para lá que eu iria.

Hades p.d.v

Garota tola! Pensa que pode sair do meu reino sem que eu perceba. É tão burra que achou que eu não a estaria vigiando. É questão de tempo agora. Ah, Perséfone! Quando eu te encontrar a nossa conversa será diferente dessa vez. Se você não aceitar minha proposta então será o seu fim. Como fui tolo em não perceber desde cedo. Macária nunca foi minha filha e nunca será. Nix serviu pelo menos para isso, para me revelar a verdade.

Perséfone p.d.v

- Não Artêmis. Você não vai ficar deformada, suas asas vão crescer de novo, não se preocupe.

- Você tem certeza? Isso está tão esquisito! Parecem dois tocos de árvore podre na minhas costas!

- Não parece não. Larga de drama!

- Mas é verdade!

- Até parece que você já não passou por isso.

- Elas já foram cortadas antes? Quando?

- Há algum tempo atrás você disse para o nosso pai que você não queria ser mais a “Virgem das Matas”, você queria encontrar alguém para se casar e falou que não iria seguir mais a vontade dele. Zeus ficou puto da vida e cortou as suas asas pra você pensar duas vezes antes de fazer qualquer coisa. Você desistiu na hora da idéia.

- Virgem das Matas?? EU SOU VIRGEM?!?

- E como é.

Eu ouvi alguém tendo uma crise de tosse do meu lado e vi que era Seth que havia engasgado com a Coca que ele estava tomando. Aposta quanto que foi por causa da notícia?

- Que absuuuuurdo! Eu tenho não sei quantos mil anos e sou virgem?!? Sacanagem!

- Hahaha. Sabe o que é mais engraçado? É que nas histórias eles contam que foi sua escolha isso. E no entanto olha você surtando ai.

- Cara eu nuuuuunca que ia desejar isso. Eu num desejo isso nem pro meu pior inimigo. Você disse que foi meu pai e Zeus que quiseram isso?

- Não, olha, eu disse nosso pai. E Zeus é o nosso pai.

- Eu sou filha de Zeus? Perai! Você é minha irmã?

- Só por parte de pai, e sim você é filha dele.

- Que dez! Eu tenho uma irmã e meu pai é Zeus! Que dez nada! Ele quer que eu fique virgem pra sempre, sacanagem! Que espécie de pai é esse?

- Na verdade nós temos um monte de irmãs e irmãos até...

- Olha Artêmis, não o culpe por isso. Se eu não tivesse um coração mole eu faria a mesma coisa com a Nessie.

- Pai!

- E a filha dos outros pode né?

- Como assim?

- A Bella tem um pai sabia?

- Entendi. Ah, bem, isso é diferente.

- Não é não.

- Não vem ao caso.

- Eu fiz sanduíches, alguém quer?

Eu, Jacob, Seth, Renesmee e Artêmis levantamos num pulo e fomos correndo para a cozinha. Esme colocou na frente de cada um de nós um prato com um belo sanguíche de frango e outro de carne. Haja espaço no estômago pra tudo isso!

- Perséfone?

- Oi?

- A gente... poderia conversar enquanto você come?

- Claro, senta aí Ian.

- Eu quero dizer... lá fora.

- Ah! Saquei.

Eu peguei meu sanduíche de carne e um gurdanapo e fui para o lado de fora enquanto eu acompanhava o Ian, aparentemente para um volta.

- Você se importa se eu comer andando? Eu estou morta de fome.

- Não, tudo bem.

- Obrigada... então o que você queria saber?

- Eu sou a encarnação do tal de Mekah?

- Sim.

- Então eu sou ele?

- Sim e Não.

- Como assim?

- Você tem a alma dele, mas nem por isso você é ele.

- Ainda não entendi.

- É muito complexo isso. Olha, uma pessoa reencarna quando ela tem uma missão a ser cumprida...

- Que missão?

- Pode ser várias coisas. Fazer as pases com o seu pior inimigo, aprender a ser caridoso, trazer a alegria a alguém ou até mesmo aprender a ser alegre, a viver.

- Entendo. Então eu tenho uma missão?

- Sim, mas não me pergunte qual por que isso não é permitido a ninguém saber.

- - Por quê?

- Porque se não a pessoa não realiza o ato de coração. Ela tem que ter o livre arbítrio também. Se ela souber sua missão, ela vai se sentir na obrigação de realizá-la. Sendo assim ela não terá o livre arbítrio e muito menos fará suas escolhas de coração. Entende?

- Acho que sim.

- Mas, como eu ia dizendo, você possui a alma dele mas nem por isso você é ele. Você tem sua própria vida, suas próprias escolhas. A única coisa que vocês tem em comum é a aparência e a alma.

- Mas por causa disso, por causa da alma, eu não teria que ser igual a ele em todos os aspectos?

- Não. A sua alma tem características de várias outras encarnações, não só a dele. Cada uma é diferente. Por isso fica tranguilo.

- Eu não estava preocupado com isso, eu só queria saber.

Um silêncio se abateu sobre nós. Era tão estranho estar conversando sobre isso com ele.

- Você sente falta dele?

- De quem? Do Mekah?

- Não era dele que eu falava, mas pode ser.

- Sim, e muito. Ele era meu melhor amigo, eu quase morri com ele, mas eu estava grávida da Macária e tinha mais duas filhas que ainda precisavam de uma mãe. Eu não podia abandoná-las.

- Entendo... epera! Você disse na história que você tinha acabado de casar com o Hades...

- Ah, bem... Diaras e Celestas foram concebida antes do casamento, bem antes. Elas foram um dos motivos para fazer com que eu e Hades nos casássemos.

- Hmm.

- E eu não sinto saudades dele.

- Como?

- Do Hades. Era sobre ele que você estava perguntando não é?

- Bem... é.

- Pois então.

- Você ainda o ama?

- Se eu não sinto saudades, quem dirá amar.

Um sorriso de alívio surgiu no rosto de Ian. A semelhança era incrível. Ele agia como Mekah, falava como Mekah, pensava como ele. Na maioria das vezes quando uma pessoa reencarna os traços de sua outra vida são perdidos, pelo menos a maioria deles. Com o Ian não. Ele era exatamente igual ao Mekah em todos os aspéctos.

- Vamos voltar.

- Acabou o questionário?

Ian riu de uma forma que fez meu coração parar por alguns segundos. Merda! Estávamos na metade do caminho quando ele decidiu perguntar de novo.

- Na verdade não, tem mais uma coisa

- O que?

- Por que o seu coração bate e o meu não?

- Por que eu estou viva e o seu criador, eu quando digo criador eu digo Natsir, ele está morto. Quando ele voltou do mundo dos mortos ele estava morto, e seu poder vem daí. Logo, os seus filhos seriam como ele. Mortos com poderes.

- Entendo... e por que eu não tenho vontade de te matar?

- Você quer dizer de beber meu sangue, não é?

Ian pareceu estar desconfortável com algo, mas assentiu.

- Por que eu não sou humana.

- Ainda bem então.

Eu sorri meia sem jeito por estar com a boca cheia. Voltamos para a cozinha e não encontramos uma recepção agradável. Maldita pirralha!

- Aonde vocês estavam?

- Fomos dar uma volta.

- Pra fazer o que posso saber?

- Não.

- O que??? Como não Ian?

- Isso não é da sua conta garota.

Eu ri da cara que a Renesmee fez. Essa pirralha esta apaixonada por ele? Só pode ser brincadeira. Bem feito, levou uma má resposta e o mais curioso é que nem foi eu que dei.

- Eu só estava preocupada!

- Acho que ele já é bem grandinho Renesmee, não precisa se preocupar à toa não.

- Eu não estava falando com você!

- Olha como fala com ela! Eu não adimito que você fale assim com ela!

- E eu não adimito que você fale assim com a minha filha!

- Controle sua filha então Bella, ou você quer que ela continue se iludindo?

- Eu não estou me iludindo Ian! Eu falava sério quando disse que te amava!

- Renesmee você não me ama! Isso é só uma paixonite e nada mais! Tenha dó!

- Não é não! Eu te amo!

- Mas eu não te amo garota!

Ian deu as costas para ela e saiu da cozinha enquanto Renesmee estava aos prantos nos braços da mãe e do pai que acabava de entrar na cozinha.

- Filha, ele tem razão...

- Não, pai! Para! Eu não quero ouvir!

Renesmee saiu correndo e Bella foi atrás dela. Eu fui até a Artêmis que conversava bem animada com Seth.

- Hey, Art, sabe o que aconteceu aqui?

- Ontem a noite a Nessie falou para o Ian que amava ele. E, bem, as coisas não aconteceram do modo que ela queria.

- Hmm. Bem feito!

- Art é meu apelido?

- Aham. Mas você não curte muito ele.

- Ah... é legalzinho.

Eu continuei conversando com ela por mais duas horas. Artêmis teve alguns flash backs durante a nossa conversa o que me deixou bem animada. Ela estava começando a se lembrar.

Ian p.d.v

Aquela garota estava começando a me irritar! Até parece que eu devo stisfação à ela. O pior de tudo é que eu fiquei tão sem graça que nem tive coragem de me despedir da Perséfone. Por que será que eu ficava nervoso perto dela? Por que ela me fazia sentir tão bem? Eu quero dizer algo à ela, mas não sei o que e nem porque! Por que será que eu estou aqui para tentar novamente? Tantas perguntas, e nenhuma resposta.