Muitos são os motivos para se fazer uma visita aos parques de diversões. Geralmente, as pessoas buscam ir acompanhadas. Porém, há casos de quem prefere obter entretenimento sozinho. O que irei contar, a partir de agora, foi uma armadilha do destino para dois jovens. Ambos quiseram conhecer o túnel do amor, sendo que nenhum deles esperava a companhia do outro.

O garoto vivia fugindo da realidade. No início da primavera inglesa, ele não deixou de ir um dia sequer ao Spring Wonderland, um parque de diversão temporário no Hyde Park. Faltando apenas um lugar para explorar, desapontou-se com uma condição: teria de arrumar um par.

A menina, em seu grupo de amigos, desejava entender como um simples percurso hídrico conseguia gerar emoções tão fortes nos casais. Ela se propôs a entrar no túnel, mas intrigada com o fato de ter que ir com alguém para se aventurar ao seu lado. Senão, ficaria para trás.

A brisa chocava os galhos entre si e fazia as folhas sussurrarem. Os últimos raios solares flertavam nas brechas das árvores coníferas do Hyde Park. Havia estonteantes rosas, tulipas e violetas nos arbustos, que revigoravam ainda mais o espaço. As crianças corriam descontroladamente, tentando decidir aonde iriam primeiro. Os pais não continham os filhos, pois também se perderam nas tantas opções do Spring Wonderland. Os ruídos do carrossel e do carrinho de bate-bate nunca se tornavam repugnantes. Por serem raros, se transformavam em música clássica para quem realmente apreciava os parques de diversões.

No amontoado de indivíduos gritando, um jovem viu sob a luz de neon uma moça de fios áureos. Ela tinha ingressos para um único brinquedo, assim como ele, que também era vítima da noite. Seu suor gélido era distribuído no pescoço. Embora fosse o primeiro da fila, havia sobrado para a próxima partida. A preocupação aumentava a cada minuto, porque sabia que se a espera fosse grande, acabaria perdendo um compromisso. Isso não podia ocorrer de maneira alguma. O fiscal discutia com a garota. Aquele chamou o rapaz até onde estava. Ela o encarou e franziu o cenho para o idoso:

— Senhor, eu comprei dois ingressos, ou seja, os dois assentos para o passeio são meus. Eu não preciso e não aceito outra pessoa no barquinho. Além do mais, todos os meus amigos têm pares. — a loira de olhos azuis tentava convencer o fiscal na entrada do túnel.

— Que estranho. Eu também comprei dois ingressos com os mesmos motivos, mas eu vim sem companhia. — o rapaz de cabelo volumoso retrucou.

— Neste túnel há uma regra: não se faz a viagem sem um par. Vocês têm que ficar juntos nesse último barquinho. Menina, se não quiser ir com ele, escolha outra pessoa na fila ou deixe-o passar na sua frente. — o velho de bigode disse ríspido, enquanto a multidão atrás resmungava.

— Eu não posso abandonar meus amigos. Eles já estão nos devidos lugares... — choramingou a garota, que foi interrompida.

— São seis e meia. Eu tenho compromisso às sete e hoje é o último dia de exposição do parque. — o moreno cruzou os braços, suspirando. — Se eu não for um incômodo para você, podemos ir de uma vez. Será melhor.

— Está bem. — ela deu-se por vencida.

A moça ficou sem graça. No fundo, tinha medo de estranhos e não gostaria de arriscar sua vida em um túnel. Percebendo que o charmoso adolescente demonstrava aflição, seu lado bom resolveu deixá-lo ir consigo. O rapaz contraiu a febre do bandido de um braço. Ele pôs a mão na alavanca e disse:

— Deixa isso acontecer. Deixa rolar. — provocou a loira, que sentiu as extremidades do corpo se arrepiarem.

...

Foram duros cinco minutos de silêncio. A menina estava maravilhada com a decoração do túnel, esquecendo-se do alguém a esquerda. Corações e cupidos enfeitavam o teto. Nas margens do curso, as personagens, como Afrodite, se mexiam e cantavam suavemente. Ele ficou desconfortável ao ser ignorado. Portanto, decidiu se pronunciar:

— Quanta idiotice. — revirou os olhos e inseriu tédio na voz.

— Por que acha idiota um túnel do amor? Tenho certeza de que quando comprou o bilhete, sabia o conteúdo daqui.

— Como se chama?

— Fionna.

— Prazer, sou Marshall Lee.

— Não sei se já passou por sua cabeça que eu entendi o que você quer Marshall.

— Ahn? Não é porque estamos num clima romântico que quero te beijar.

— Você conseguiu superar o túnel. — Fionna riu. — Eu não estou te dando atenção e você tenta puxar assunto. Afinal, por que veio neste brinquedo?

— És boa em adivinhações. Eu vim porque sou um fanático em parques de diversões e prometi que iria a todas as atrações. E você deve parar de fazer perguntas desse gênero. Está superando a Chapeuzinho Vermelho e a Alice.

A loira gritou ao assustar-se com um fantasma. Imediatamente, agarrou-se em Marshall, fazendo o barquinho gangorrear nas águas.

— Qual a necessidade de pendurar um pano macabro no teto? — ele fitou Fionna maliciosamente. — Hm... Você já pode me soltar.

— Perdão. — afastou-se. — Tenho minhas hipóteses. Eu acho que era para nos abraçarmos. — ela corou.

— Que loucura. — arregalou os olhos, numa expressão confusa.

— O túnel é uma metáfora. O fantasma prova que no amor, um sempre estará ao lado do outro nos momentos mais “assustadores”. Ou mais difíceis.

— Não acredito no amor. As pessoas agem sem pensar nas consequências dos próprios atos. Em seguida, esse sentimento torna-se enjoativo. Criamos expectativas demais. O início de um relacionamento é interessante, mas o que sobra dele no final? Antes de questionar qualquer coisa, você já sabe que vim aqui por uma promessa, não por curiosidade.

— Marshall, a graça de um relacionamento está aí: qualquer um pode obtê-lo. A questão é quem conseguirá mantê-lo. Como tentar amar a cada dia mais uma pessoa pode ser enjoativo? Para mim é um desafio. — Fionna aproximou-se do moreno.

— Mas... — ele tinha uma flecha atravessando seu coração e a alma quase inexistente. Escutar a respiração ofegante da garota era uma sensação inexplicável. As palavras saíam falhas, pois a mente procurava montá-las em argumentos válidos. — Se você diz que o amor é essa coisa toda, por que está sozinha e tem medo de estranhos?

— Eu ainda não encontrei quem eu quero. — a felicidade, em forma de brilho nos olhos da loira, desapareceu. Ela virou-se.

— Você acha que todos são capazes de amar?

— Todos são. Bastam querer. — murmurou, avistando a luz no fim do túnel.

...

Fionna se perdeu dos amigos no aglomerado. Nem tão cedo iria reencontrá-los. Portanto, caminhou na companhia de Marshall, dando suas últimas palavras do dia:

— Que compromisso você tem às sete?

— Por enquanto, eu não sei aonde irei hoje à noite. Mas, talvez, te direi onde estarei.

— Então não é um compromisso! Por que mentiu? — ela parou de andar.

— Eu não menti. Às sete horas, uma pessoa irá me ligar para dizer onde terei de ir. — foi em direção à loira.

— Compreendo. — Fionna tirou seu cordão. Com um simples deslize, efetuado pelos graciosos dedos, removeu o pingente de prata. — Lembre-se de mim por isso. — ela colocou-o no bolso do garoto e distanciou-se, cerrando os cílios. — Você é o estranho perfeito... Vamos deixar como está.

Instantaneamente, Marshall pôs a mão no bolso da calça e deduziu que ganhou uma recordação. Ao tocar no objeto, a ardência tomou conta do tato. No barulho de peças metálicas em atrito, ele parou seu mundo para assistir a moça o deixando. De modo fácil, o moreno teria ido com Fionna, mas algo o fez ficar. Deveria, no futuro, procurá-la por aqueles carrosséis e barracas de carnaval? E quanto ao Steeplechase, Palisades e onde as promessas eram feitas? E desde a montanha-russa à Baía de Whitley? Estaria disposto a realizar tal caça? Isso eram questionamentos de seu desvairado subconsciente. Porém, ele sabia que suas condições não o permitiam amar.

Ele pegou durante anos um trem fantasma, no qual os carros gritavam e batiam. A roda gigante continuava girando. O neon queimava acima e abaixo. O jovem estava apenas no topo do mundo, pensando no que a garota, tão bela para ele, diria se este suplicasse: “Venha e dê uma volta comigo no túnel do amor.”