Tudo O Que Sabemos

O Que Tiver Que Ser, Será


Tinham acabado de fazer amor. Estavam deitados na cama, nus - Scully com a cabeça apoiada no peito dele, sentindo o vibrar constante do coração abaixo de seu rosto, enquanto ele deslizava os dedos ao longo das costas dela. O olhar dos dois estava perdido no quarto, ambos imaginando a mesma coisa. E agora? O que viria a seguir?

O mesmo receio que compartilhavam, no entanto, guardava razões distintas. Scully sentia-se estranhamente unida ao homem com quem acabara de fazer amor, abalada por essa estranha ligação que, ao mesmo tempo, fazia tanto sentido. E ainda havia a estranha sensação de que tudo o que ele lhe relatara fazia sentido. Mesmo agora que seu corpo estava voltando ao ritmo normal e sua mente não estava mais nublada pelo torpor do sexo e ela se perguntava como lidaria com tudo o que havia sido despejado em suas mãos. E em seu coração.

Mulder, por seu turno, temia as consequências que seu ato poderia causar no futuro. Permitir que ela se aproximasse demais foi um erro… ao mesmo tempo, tão certo. Mas ele sabia que fatalmente terem feito amor naquela altura de suas vidas mudaria o curso de tudo o que viria pela frente… e ele tinha medo de que as coisas ficassem ainda piores do que já seriam sem a sua intervenção.

E a dúvida se repetia na mente de ambos… e agora? O receio dos dois em dar voz à pergunta, no entanto, os fez ficar em silêncio por longos minutos. Até Mulder rompê-lo. Primeiro, com um suspiro, fazendo o peito subir e descer juntamente com o rosto dela. Em seguida, com palavras.

“Sinto muito.”

Scully ergueu o rosto do peito dele apenas o bastante para encará-lo.

“Não tem porquê. Eu também quis o que acabou de acontecer.”

“Mas eu devia ter evitado. Tudo que eu estava tentando fazer era evitar que nos aproximássemos mais. Agora, quem sabe como o que acabamos de fazer pode alterar o curso dos eventos futuros.”

“Você tem medo de quê?”

“De que tudo seja ainda pior. Pra você.”

“Eu não vejo como.”

Mulder suspirou, desviando o olhar para o teto, sem conseguir encará-la.

Scully passou a mão carinhosamente sobre o peito dele antes de se erguer, ficando sentada na cama. Puxando uma parte do lençol branco para cobrir os seios, ela também suspirou.

“Eu sei que soa maluco e irracional. Mas eu senti… enquanto fazíamos amor… que tenho uma conexão muito forte com você.”

Os olhos de Mulder pousaram sobre ela. Ele não tinha como nem por que negar. “É verdade.”

Ela abaixou os olhos para o colchão, apertando o lençol que segurava entre os dedos.

“Eu não sei se acredito em tudo que disse, mas sei que sinto alguma coisa que não posso explicar. Emoções que sei que são minhas, como se as tivesse vivido antes. Como a perda de um filho…”

Mulder se levantou, ficando sentado também e esticou o braço para envolvê-la, acariciando as costas dela.

“É por isso que eu queria fazer diferente. Que você pedisse transferência, que voltasse para Quantico ou solicitasse uma remoção para outra Seção. Quanto mais longe de mim, melhor seria para você.”

“Não” ela ergueu os olhos para ele, que os viu cheio de lágrimas e uma certeza inabalável. “Entre as coisas que senti há pouco, sei que a nossa conexão não pode ser rompida. Seria o mesmo que romper a um de nós dois. Ou a ambos.”

“Scully…” Mulder olhou para ela, surpreso com aquelas palavras e sem saber como respondê-las. Era como ouvir a outra Scully, a sua Scully do futuro falar. Por um instante a voz ficou presa em sua garganta.

“A prova maior de que nunca conseguiríamos nos afastar um do outro acabou de acontecer aqui, Mulder. Nesta cama.”

Ele sabia o que ela queria dizer. Era muito além do sexo ou da satisfação carnal. E começava a perceber que ela tinha razão no que estava dizendo. Mesmo tentando desesperadamente afastá-la contando toda a verdade dos acontecimentos futuros, isto, em vez de afastá-los, fez justamente o contrário: os uniu mais.

Fosse como fosse, Mulder estava ciente de que não havia saída. Mesmo que Scully tivesse concordado em deixá-lo horas atrás, quem poderia garantir que sua simples presença de volta ao passado já não havia afetado o futuro? Mulder não fazia ideia de como havia parado ali, vinte anos atrás, e fazia ainda menos ideia de como reverter isso.

Suspirando, ele a puxou para si, trazendo-a para junto de seu corpo.

“Eu não sei o que pode acontecer agora. E isso me assusta, Scully.”

“Tem medo de que todas as coisas que me disse se repitam?”

“Ou de que elas mudem de uma maneira que não posso prever.”

Ela sentia a tensão no corpo dele. Então passou os braços em torno dele, abraçando-o.

“Vamos ter fé. Talvez haja esperança” ela sussurrou.

Ao ouvi-la usar as mesmas palavras que usaria anos a frente, Mulder sentiu o coração bater mais forte. Beijando os cabelos dela suavemente, puxou-a consigo para os travesseiros, ambos deitando abraçados, embalados pela presença um do outro.