Tu mirada - Lm

☆ Capítulo dezoito ☆


— Eu já pedi para avisá-lo. - falou com calma. - Mamãe, a senhora precisa saber que foi eu quem suspendeu sua medicação... - era tão difícil revelar o que pensava.

— Por quê? - queria entender e ao mesmo queria agradecer pelo que tinha feito.

— Porque eu estava cansado de te ver naquela cama como um vegetal e eu tirei... - nem conseguiu terminar.

— Pra que eu morresse?! - completou.

Ele abaixou os olhos por um momento e apenas assentiu envergonhado, ela levou a mão ao rosto dele o fazendo olhá-la nos olhos.

— Me perdoe... - ele falou com os olhos cheios de lágrimas como um menino acuado.

— Você não podia saber o que aconteceria. - negou com a cabeça. - A culpa é do seu pai!!!

Ele ia falar, mas a porta se abriu e Estevão os olhou tinha o coração acelerado e nem pensou duas vezes apenas foi a sua mãe quase que correndo e a abraçou forte sentindo que a parte mais importante de seu coração se juntava novamente... Estevão não conseguia nem acreditar no que seus olhos estavam vendo, era tão maravilhoso ver sua mãe novamente e acordada que ele deixou suas lágrimas caírem assim como ela. Cornélio se afastou dando espaço aos dois, mas sentia em seu coração a fagulha do ressentimento contra o irmão.

— Meu amor, meu filho... - ela falou toda emocionada deixando que mais lágrimas rolassem por seu rosto.

— Isso é um milagre!!! - ele a soltou e tocou seu rosto. - Como aconteceu?

— O seu irmão me salvou!!! - olhou para o filho que estava longe. - Vem aqui meu amor. - estendeu a mão para ele.

Cornélio não gostava muito de estar junto ao irmão porque sentia a diferença no amor que os pais demonstravam sempre quando eles estavam juntos, ele tinha crescido ouvindo o quanto Estevão era melhor em tudo, o quanto Estevão era o orgulho deles e isso somente o fez crescer odiando o irmão e quando conseguiu por fim atenção foi quando ele se foi no momento em que sua mãe também tinha sofrido aquele acidente.

Estevão nunca quis competir com o irmão, pelo contrario sempre o ajudava em tudo que podia, mas ele já estava envenenado demais para ver o quanto Estevão o queria bem. Daniela segurou a mão de seus dois meninos e sorriu feliz por estar ali tendo a chance de estar de novo com eles, agradecia seu menino por ter tomado a iniciativa ou não saberia até quando poderia ficar naquela maldita casa.

— Eu preciso que me contem tudo que aconteceu nesse tempo em que estive desacordada!!! - sentia que tudo a seu redor estava errado. - Eu perdi tanto de vocês dois... - olhava os dois. - Olha como estão mudados... - tinha tanta tristeza no coração.

— Vamos ir com calma!!! - Estevão falou sorrindo. - Estou tão feliz de te ver assim, mãe!!! - beijou a mão dela. - O que aconteceu naquele dia do acidente?

Daniela respirou fundo sabendo que os filhos iriam ficar doidos com o pai quando ela contasse o que tinha acontecido, mas era o único modo de se proteger e não ter que voltar mais aquela maldita casa.

— Eu pedi o divorcio para seu pai e ele ficou furioso e tentou me agredir, mas eu não permiti e o acertei primeiro e fugi... - abaixou o olhar. - Mas ele conseguiu me seguir e eu acabei batendo o carro e fui parar no hospital, eu me lembro perfeitamente de estar acordada enquanto os médicos me examinavam, mas de repente tudo ficou preto até hoje... - deixou algumas lágrimas escaparem.

Cornélio assim como Estevão no mesmo momento ficou de pé sentindo que podiam matar o pai por aquela desgraça te os tinha feito passar por quatro longos anos, uma tormenta para um que seguia debaixo do mesmo teto vendo a mãe vegetar e o outro sem conseguir chegar perto de sua mãe por suas escolhas. Estevão quando decidiu renunciar a sua família teve também que deixar sua mãe para trás e Evandro sendo o homem que era jogou com o emocional do filho para que ele ficasse, mas ele não ficou e deixou sua mãe para trás.

— É um maldito desgraçado!!! - Estevão rosno e olhou para o irmão. - E você como não percebeu que era armação tudo isso se esta sempre lambendo o chão que ele pisa?

— Você fugiu como um covarde e quer vir me cobrar alguma coisa? - rebateu no mesmo tom que ele. - Acha mesmo que é melhor que eu por ter fugido? Você a abandonou e nesses anos todos a viu quantas vezes? - jogou na cara dele.

— Não briguem!!! - ela falou assustada. - Vocês são irmãos e tem que ficar unidos independente de qualquer coisa!!

— Esse ai nunca foi um irmão pra mim mesmo eu querendo ajudá-lo sempre!!! - Estevão retrucou sentido com tudo que já tinham vivido.

Cornélio sorriu em completo deboche e disse:

— O preferido do papai que sempre se achou o melhor e somente me ajudava por pena!!! - era quase que um acerto de contas.

— Depois de velho ficou burro!!! - Estevão perdeu a paciência. - Por mais que eu fosse o preferido como você sempre diz, eu levava a culpa por você e pra que você pudesse se sentir confiante, mas eu errei em querer um irmão quando na verdade eu tinha e tenho um rival. - falou com decepção.

Daniela os olhava e não podia acreditar no que via e seu coração disparou em tristeza completa a fazendo chorar.

— O que aquele maldito fez de vocês? - falou com desespero. - Vocês viraram inimigos... - soluçou seu choro.

— Você também contribuiu para isso mamãe!!! - Cornélio a encarou. - Eu sempre vi como você e papai era com esse idiota ai!!!! - cuspia as verdades dele. - Sempre me deixavam de lado, sempre eram as melhores coisas para ele. Até um carrinho quando eu gostava não tinha mais se ele queria ali estava na mão, mas mesmo assim eu fiquei eu fiquei por você!!! - queria chorar mais não o faria ali.

— Ficou porque queria a aprovação de papai!!! - Estevão jogou na cara dele.

Daniela chorava copiosamente e eles pareciam não entender que o estado dela era grave e que toda aquela emoção não faria bem a ela depois de tanto tempo em coma. Cornélio perdendo seus cinco minutos de calma avançou em Estevão e o segurou pela camisa e rosnou seu ódio por ele.

— Eu vou acabar com você e com tudo que ama!!! - era o modo de se vingar e ele o faria sem pena. - Teu castelo vai ruir e você vai voltar a merda de vida que você tinha!!! Eu nunca escondi quem eu era já você... Chama a atenção até quando não quer e tira das pessoas e esconde o que elas mais amam. - falava em relação a Maria e Estevão já estava vermelho de raiva.

— Não toque na minha família!!! - rosnou do mesmo modo.

— Essa família nunca foi sua!!! - o empurrou contra a parede o soltando. - Você não tem nada teu!!!

— Parem, por favor!!! - Daniela gritou chamando a atenção dos dois e Cornélio a encarou com ódio nos olhos.

— Não se preocupe mamãe que eu já estou de saída!!!! - olhou novamente para Estevão que se segurava para não acabar com ele ali na frente de sua mãe. - Curta seu castelo enquanto pode!!! - fez um gesto com a mão como se tudo fosse desmoronar a qualquer momento e sem resposta saiu do quarto.

Os aparelhos conectados em Daniela mostravam o quanto ela estava nervosa e tossia com a falta de ar trazendo assim Estevão da escuridão que estava e ele correu e chamou pelo médico que entrou e o mandou sair dali, tinha perdido o juízo mesmo sabendo que não deveria cair na pilha de Cornélio, saiu do quarto preocupado com sua mãe e agora também com Maria que nem sabia o que fazer. Ele não sabia se ia atrás de sua mulher ou se ficava ali com sua mãe, estava entre a cruz e a espada e depois de um suspiro achou melhor ficar ali até ter noticias de sua mãe.

Cornélio saiu de dentro do hospital vermelho e tão furioso que o primeiro que fez foi pegar seu telefone e discar um numero que guardava a muito tempo e ali de cabeça quente ele não pensou no que poderia destruir apenas o fez quando ouviu a voz do outro lado da linha.

— Quanto vale a localização de sua amada esposa Maria?! - era a hora de sua vingança.