Os fundos do templo levaram Kazumi para um jardim florido. Um ótimo lugar para apreciar os sons e aromas da natureza. Mas não era o belo jardim que prendia a sua atenção. Sentada no degrau de madeira, com os pés encostados na grama verde, ela mantinha o olhar distante e fixo em Hiei. Ele observava Genkai interrogá-la e Kazumi, por sua vez, o observava de volta. De alguma forma já não sentia mais medo, mas sim raiva. Ela o fulminava, como se lamentasse não ter força suficiente para pular em seu pescoço e enforcá-lo.

Genkai fazia perguntas triviais sobre a sua vida: onde morava, o que fazia, para onde estava indo de manhã e outras coisas que Kazumi julgava sem importância. Já Yukina, havia encontrado curativos e esparadrapos e aproveitava para tratar os ferimentos que Kazumi tinha adquirido naquele dia.

Ela sentiu a ferida arder quando a koorime passou suavemente um algodão com antisséptico no corte em seu queixo.

— Então, me conte exatamente o que foi que você viu de estranho hoje — Genkai pediu a ela, segurando-a pelo pulso que continha a marca de uma mordida — Como conseguiu esse ferimento?

— Eu estava andando quando caí em um barranco e fui parar numa espécie de floresta macabra. Um vampiro me atacou.

— Vampiro?

— Eu não sei o nome daquela coisa. O chamei assim, porque sugou o meu sangue.

Genkai a analisava com cuidado, mas Kazumi não se importava. Sabia que cada uma de suas expressões estava sendo estudada, assim como os seus movimentos, hesitações e tom de voz. Teve a impressão de que Genkai agia como se estivesse usando um detector de mentiras. Pela sua postura, Kazumi sabia que aquela senhora definitivamente estava fazendo algo, mas não tinha ideia do quê e, naquele momento, também não queria mais explicações. Somente queria acabar logo com aquilo e ir embora dali o quanto antes.

— Quer dizer que você acredita em monstros? Vampiros e lobisomens? — a voz de Genkai soou debochada e Kazumi se deu ao direito de não responder a provocação. Ela suspirou de tédio e revirou os olhos, deixando que Genkai continuasse — Pelo visto você ganhou muitos machucados nessa brincadeira, não é? Mas e isso aqui? Não parece o tipo de marca que surge após uma queda.

Genkai analisava o seu braço, no local exato onde haviam hematomas arroxeados que vagamente lembravam o formato de dois dedos. Pela forma como a olhava, Kazumi teve a estranha impressão de que Genkai já sabia do que aquilo se tratava, mas, por impulso, se livrou de seu toque e desviou do questionamento, evitando encará-la diretamente.

— Têm mais alguma pergunta ou já posso ir embora?

Genkai sorriu de canto. A atitude esquiva de Kazumi só confirmava as suas suspeitas.

— Ainda não. Quero saber se já esteve naquela floresta antes ou se foi a primeira vez que isso aconteceu.

— Foi a primeira vez.

— O que mais você viu enquanto esteve lá?

— Um grupo de pessoas. Ouvi um barulho metálico e o vampiro caiu morto ao meu lado.

— E depois?

— Não me lembro de mais nada. Quando acordei já tinha sido sequestrada por esse aí — Kazumi indicou Hiei com a cabeça; a voz contida num misto de mágoa e ódio.

Genkai riu, deixando-a ainda mais irritada.

— Toda essa sua raiva não vai servir pra nada, menina tola. Ele só está cumprindo com a sua obrigação.

— Obrigação? A não ser que ele seja da Yakuza, duvido muito que a obrigação de alguém inclua sequestrar pessoas!

Hiei não esboçou nenhuma reação, continuava apenas imóvel, sem dar importância àquela acusação.

— Não precisa ser tão dramática. Ninguém está te sequestrando coisa nenhuma. E não pense que a queríamos aqui. Só estamos fazendo o que precisamos fazer.

— Que saco! Se não me querem aqui, me deixem ir embora de uma vez!

Kazumi se levantou abruptamente, afastando-se de Yukina e Genkai. Genkai bufou, demonstrando pela primeira vez naquele dia os sinais de exaustão compatíveis com a sua idade. Em seguida, virou as costas para Kazumi, indo de encontro a Hiei.

— E então? Ela diz a verdade? — ele perguntou.

— Sim. É só uma humana comum. Não há com que se preocupar. Não tem conhecimento da existência do Makai ou de youkais. E também não tem nenhum sinal de reiki oculto. Ela não está te enganando.

— Por que o Jagan não funciona nela?

— É algo bem raro de acontecer, mas acontece. Algumas pessoas nascem com uma espécie de dom, uma força intrínseca na mente. É como se estivesse inacessível, protegida por uma redoma. Não é só o Jagan que não funciona. Há pouco eu tentei estabelecer uma conexão mental com ela, mas também não consegui. É inacessível.

— E então, como faço pra ela esquecer o Makai?

— Não acho que seja possível. A mente dela é imune a qualquer interferência externa.

Hiei pareceu perturbado por uma fração de segundos, como se não acreditasse naquilo.

— Se não tem o que fazer, não vou mais perder tempo com ela. Vou deixá-la ir.

Kazumi quase sorriu, esperançosa.

— Bem, na verdade, há mais uma coisa que você pode fazer — Genkai ponderou — Fale com Koenma. Se algum humano tem conhecimento do Makai, ele precisa ficar sabendo. Além disso, tenho certeza que ele ficará muito interessado em saber que você achou um bloqueador.

~*~*~

Me chamou de quê? — Kazumi perguntou a Genkai.

— Bloqueadora. Significa que sua habilidade é bem valiosa, acredite você ou não.

— E pra que Koenma precisaria dela? — Hiei questionou, curioso.

— Isso é ele que vai te explicar. Agora, tenho outras coisas para fazer. Se me derem licença…

— Koenma não estará disponível agora — Hiei a interrompeu — E essa humana não pode ficar sem vigilância. Você pode...

— Ora, mas nem pensar! — Genkai retrucou ríspida, impedindo-o de concluir a pergunta — Será que uma velha não pode nem passar os últimos meses da sua vida em paz? Esse é um problema seu, Hiei. Você a encontrou, então ela é sua responsabilidade. Não vou tomar conta dela pra você. O máximo que posso fazer é mandar um recado para o Koenma dizendo que é um assunto urgente.

Genkai virou as costas, voltando para dentro da casa. Yukina deu um sorriso tímido, como se lamentasse o desfecho da situação. Em seguida se despediu brevemente. “Se cuidem”, ela disse antes de deixá-los também. Sozinhos, Hiei e Kazumi se entreolharam num clima tenso e desconfortável, mas foi ela quem tomou a iniciativa de falar primeiro.

— Escuta aqui, eu não sei quem é Koenma ou quem são vocês e não sei nada sobre essa babaquice de bloqueador, mas eu não vou com você pra mais nenhum lugar, entendeu?

— Essa não é uma escolha sua — ele respondeu com simplicidade.

Kazumi ficou furiosa. Pensou no emprego que não podia se dar ao luxo de perder e sentiu o desespero tomar conta. Precisava ir embora dali o quanto antes.

— Eu preciso voltar e preciso que me deixe em paz. Prometo que não vou contar sobre você pra ninguém, nem sobre aquele lugar esquisito e super secreto. Só me deixa em paz!

— E o que pretende responder quando alguém te perguntar onde conseguiu isso? — ele apontou para a atadura em seu pulso, que agora cobria a marca deixada pela arcada dentária do youkai que a havia mordido — Vai ficar com uma cicatriz pelo resto da sua vida.

Kazumi pensou por alguns instantes.

— Eu posso esconder. E mesmo se perguntassem, o que eu ganharia falando pra alguém que um monstro-vampiro me mordeu? Ninguém acreditaria em mim! No mínimo, achariam que enlouqueci. E afinal, o que tem de mais em saber da existência daquele lugar? Por que você se importa tanto com isso?

— Na verdade, não me importo — ele deu um meio sorriso cínico — Não com isso.

— Se importa com o que então? Por que não me deixa ir?

Hiei não respondeu. Não quis admitir que o fato daquela humana fraca simplesmente ser imune ao Jagan o incomodou e intrigou. Aquilo nunca tinha acontecido e inevitavelmente feriu o seu ego mais do que gostaria. Precisava levá-la até Koenma para provar que tinha sido um engano, que não passava de um truque e que Genkai estava errada. Aquela garota comum não podia ter nenhuma habilidade rara ou valiosa.

Ele ameaçou andar em sua direção e Kazumi reagiu afastando-se mais.

— O que vai fazer? — ela perguntou.

— Levá-la para onde mora. Ou quer procurar o caminho de volta sozinha?

O seu tom irônico não passou despercebido. Kazumi quis xingá-lo, mas ao olhar o seu entorno percebeu que não tinha a mínima chance de voltar para a casa sem ajuda. Não tinha ideia de onde estava e a montanha parecia bem afastada da metrópole. Levaria o dia inteiro viajando a pé.

— Eu estava indo pra cidade — resignada, ela respondeu — Se for pra me deixar em algum lugar, que seja lá, então. Nas imediações do centro, próximo ao…

Ele não deixou que ela terminasse de falar. Prontamente a segurou nos braços, como havia feito anteriormente e, numa velocidade sobre-humana, se jogou da montanha.

Hiei não fez o mínimo esforço pra tornar a viagem minimamente tranquila para Kazumi. Em segredo, se divertiu ao vê-la estremecer e gritar enquanto ele saltava em queda livre e percorria longas distâncias até o solo. Como se quisesse se vingar por não ter conseguido acessar as suas memórias, aproveitava para aterroriza-la um pouco com os movimentos mais bruscos que conseguisse fazer.

A estratégia funcionou. Quando chegaram ao destino, Kazumi parecia verde. Suas pernas estavam fracas e ela precisou se apoiar no primeiro muro que encontrou antes que caísse no chão. Seu estômago estava revirado e seus olhos não conseguiam focar em um único ponto. Foi preciso um tempo para que recuperasse as forças e se sentisse minimamente melhor.

— Como…como você faz isso? Não é normal…não pode ser…

— Também vai ser capaz de guardar silêncio sobre isso?

Ela ignorou a provocação, desviando o olhar. Em seguida, saiu apressada pela calçada, guiando-se pelo caminho que conhecia de cor até chegar ao Kaffeine Klub, a cafeteria mais famosa do bairro. Estava prestes a entrar, quando Hiei interceptou o seu caminho, bloqueando a porta com o braço para fazê-la parar.

— Nenhuma palavra sobre o que viu, não se esqueça. Vou estar vigiando — ele ameaçou, liberando a passagem em seguida.

Kazumi bufou, deixando-o sem resposta ao entrar no estabelecimento. Andou aos tropeços até o balcão onde Sonya preparava um macchiato. Ao se virar, a sua supervisora lhe lançou um olhar duro que, para Kazumi, já dizia tudo.

— Sonya, por favor, me deixa explicar…

— Não — ela respondeu, enquanto adicionava guardanapos à bandeja do cliente — Não dessa vez, Kazumi.

— Por favor! Você não tem ideia do que me aconteceu hoje. Eu juro que tem uma explicação pra eu não ter vindo trabalhar.

— É tarde. Você já estava avisada. Sabe que não posso fazer mais nada.

— Sonya, olha pra mim! — ela elevou o tom, obrigando Sonya a tirar os olhos da pilha de comandas descartadas e encará-la diretamente.

Foi então que Sonya percebeu que Kazumi estava machucada e visivelmente abalada.

— O que aconteceu com o seu braço?!

— Eu me machuquei…— Kazumi engoliu em seco, pensando se Hiei a estaria ouvindo do lado de fora. Não sabia se ele conseguia escutar àquela distância, mas não podia arriscar dizer a verdade — Sofri um assalto. É o que estou tentando te dizer! Não pude vir hoje porque tive que passar a manhã na polícia.

— Mas está tudo bem?

Sonya parecia realmente preocupada e aflita. Apesar de tudo, ela sempre teve empatia por Kazumi, tentando ajudá-la ao máximo a sair da situação lamentável de vida em que ela se encontrava.

— Sim. Estou bem agora. Mas você entende que não fiz de propósito?

Sonya suspirou.

— Eu sei que não fez, sua tonta. Sei que nenhuma das treze vezes foram de propósito, mas não tem nada que eu possa fazer agora. Você deu azar, Nakamura veio aqui hoje.

Nakamura era o gerente do estabelecimento. Na maior parte do tempo ele não ficava na cafeteria supervisionando os funcionários, como deveria ser, o que forçava Sonya a fazer trabalho dobrado, uma vez que tinha que cuidar de suas próprias funções e agir como gerente quando precisasse. Certos dias, porém, Nakamura gostava de fazer uma vistoria surpresa no local, apenas para amedrontar a todos com o seu autoritarismo e garantir que os funcionários se lembrassem de que ele é quem estava no comando. Não era incomum que em meio a essas vistorias um dos garçons acabasse sendo demitido por qualquer motivo trivial. Ao olhar bem nos olhos de Sonya, Kazumi logo compreendeu que, dessa vez, ela é quem foi demitida.

— O que ele disse?

— O que você acha? Ficou possesso com a sua ausência. Pegou o seu histórico e quando viu o número de atrasos nele, te demitiu na mesma hora. Te chamou de irresponsável e…

— E…? O que mais?

— Deixa pra lá, não vale a pena repetir aquela palavra. Eu tentei argumentar, tentei deixar ele calmo e então ele se virou contra mim.

— Não brinca! Quis te demitir também?

— Quase isso. Disse que se eu quisesse ficar do seu lado, então que eu fosse pra rua com você.

— Que filho da mãe! Sinto muito por isso, não queria te causar problemas.

— Tá tudo bem, mas você precisa entender que agora não tem mais volta. Não importa qual boa explicação você tenha pra dar. Dessa vez, está realmente demitida. Precisa assinar os papéis.

Sonya lhe entregou um envelope com a carta de demissão e o salário que lhe restava receber. Kazumi se sentou para abri-lo, deixando que sua ex-supervisora levasse o pedido que preparava até o cliente. Os seus olhos arderam cheios de lágrimas, enquanto contava cada moeda para saber se não estava faltando nada. O salário cortado pela metade era pouco, mas ela não podia se dar ao luxo de perder um centavo sequer.

— Vai ficar tudo bem, Kazumi — Sonya disse ao voltar para o balcão.

— Não. Eu não posso ficar sem emprego. Tenho que cuidar da Noembi.

— Eu sei, eu sei. Vou tentar te ajudar a encontrar outra coisa. Acho que minha prima estava precisando de uma babá pra cuidar das crianças enquanto ela trabalha. Vou ver com ela e te aviso. Mas você precisa se acalmar, tá bom?

Kazumi assentiu em silêncio, engolindo o choro. Sonya então colocou um cappuccino na sua frente.

— É por conta da casa — ela disse, lhe dando uma piscadela e deixando-a sozinha.

Kazumi observou a cafeteria. Estava movimentada. Os clientes não paravam de chegar e a equipe dava o sangue para mantê-la em perfeita ordem. Ainda que o dono e o gerente não dessem a mínima atenção para o local, ele funcionava muito bem. Mérito de Sonya, é claro. Ela era a alma do negócio.

Kazumi sabia que sentiria falta daquilo. Gostava do aroma do café pelas manhãs, de atender os clientes com um sorriso no rosto, de preparar os chás gelados e de colocar o chantilly com cuidado em cima dos chocolates quentes. Foi o melhor emprego que já teve e duvidava muito que conseguiria um melhor.

Ela tomou todo o cappuccino e saiu dali apressada, sem olhar pra trás. Se pensasse demais, acabaria chorando no meio da rua, o que seria ridículo. Precisava chegar em casa o quanto antes. Em seu quarto poderia desabar sem que ninguém a perturbasse.

Ela não viu Hiei quando deixou o Kaffeine Klub e assumiu que ele enfim a havia deixado em paz. Agradecendo ao universo pelo livramento, ela caminhou até o ponto de ônibus mais próximo e partiu em direção à estrada. Desceu na parada mais próxima de onde morava e finalizou o caminho a pé. Sentiu uma onda de alívio ao avistar a sua casa, já que não aguentava mais andar com todos aqueles ferimentos.

No entanto, o alívio se esvaiu quando avistou Hiei, bem em frente à porta de entrada. Seu coração martelou forte e ela apertou o passo em sua direção.

— O que pensa que tá fazendo aqui? Como sabia onde eu morava?! Você me seguiu?!

— Óbvio que segui.

— Vai embora! Você não pode ficar na minha casa.

Kazumi o empurrou pelas costas, tentando afastá-lo do terreno, mas Hiei não moveu um centímetro. Parado no mesmo lugar, ele se desvencilhou dela.

— Já disse que vou ficar de olho em você.

— E eu já entendi, mas na minha casa você não pode entrar! Eu nem te conheço!

— E quem disse que eu quero entrar? Só vou ficar à espreita.

Kazumi bufou, esfregando o rosto.

— Tá, faz como quiser, mas vê se some daqui! — ela sussurrava, checando se não havia nenhum movimento dentro da residência — Não quero te ver por perto!

— Por quê não? — dessa vez, foi Hiei que olhou desconfiado para a casa — Do que tem medo?

Kazumi arregalou os olhos. Precisava despista-lo. Não queria que ele soubesse a verdade, em parte por vergonha, mas também por temer as consequências. Kazumi era estreitamente proibida de levar qualquer pessoa para casa, ainda mais se fosse um homem. O tabefe que tinha recebido no rosto quando Sonya foi visitá-la de surpresa para entregar o casaco que tinha esquecido no trabalho deixou uma marca terrível, não só física, mas também psicológica. Na maior parte das vezes, Kazumi apanhava sem nem ao menos saber o motivo. Se Ichiro a visse conversando com Hiei, ele com certeza a esfolaria viva.

Kazumi pensou ter escutado um barulho vindo de dentro da casa e se desesperou ainda mais.

— Só vê se desaparece! — ela respondeu e, com pressa, o deixou ali fora sozinho.

Com cuidado, ela tirou os sapatos ao entrar e fechou a porta da frente sem fazer barulho. Escutou a TV ligada na sala de estar e foi de encontro ao pai, sem vontade de encarar os comentários que ele faria a respeito de sua demissão. Para a sua felicidade, porém, aquele momento seria adiado. Ichiro estava deitado no sofá, dormindo profundamente e, pela quantidade de garrafas de cervejas vazias aos pés do móvel, com certeza não acordaria tão cedo.

Kazumi relaxou. Subiu as escadas de madeira com uma cautela absoluta e se trancou em seu quarto. Só sairia de lá na manhã seguinte. Naquele momento ela só queria deitar e fingir que aquele dia não tinha acontecido, que tudo aquilo não tinha passado de um pesadelo.

Cansada, ela apagou as luzes e foi até a janela aberta, a única fonte de claridade que ainda lhe restava. Fechava as cortinas quando levou um susto ao olhar para fora. Hiei repousava na ramificação do tronco de uma das árvores que ficavam de frente para a casa. Despreocupado, ele demorou para notar que ela o estava observando. Quando os olhares se cruzaram, Kazumi rapidamente terminou de fechar a persiana, encerrando aquele contato visual, completamente indignada com a situação.

Achava um exagero toda aquela vigilância. Absurda, na verdade. Mas pelo menos Ichiro não o encontraria ali no alto. Decidida a dar um fim ao problema com o seu sequestrador no dia seguinte, Kazumi foi pra cama. Ela se deitou e fechou os olhos com força, desejando simplesmente adormecer e esquecer de tudo. Até de sua própria existência.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.