Prólogo

Robert Baratheon revirara toda Westeros e até Essos atrás de Lyanna Stark, sem nunca encontrar um vestígio de que ela existira. Por isso fora até Ned, buscar alguma forma de consolo. Talvez seu velho amigo soubesse onde ela estava, para onde tinha fugido e onde estava escondida.

Robert ainda a amava.

― Eu não sei onde Lyanna está ― Ned declarou e Robert simplesmente acreditou, sem nem desconfiar que aquelas palavras fossem tão mentirosas.

― Eu não entendo porque ela iria embora ― O agora Rei olhou para frente, onde escudeiros arrumavam os cavalos para a viagem dele de volta para Porto Real ― Depois de tudo que aconteceu eu lhe daria tudo. Uma coroa, meu amor, filhos... O que ela desejasse.

As palavras que Eddard Stark já dissera ao amigo tantas vezes ficaram desta vez entaladas em sua garganta. Você viu sua beleza, mas não viu o aço de que era feita.

Sua irmã não desejava uma coroa ou o amor de Robert.

― Desista. Se Lyanna quisesse ficar, ela estaria aqui ― Na verdade ela desejara ficar em Winterfell com sua família, mas tinha naquele momento outras prioridades, porém Ned não diria nada.

O olhar de Robert tornou-se melancólico.

― Jon acha que devo casar com Cersei Lannister para agradar Tywin.

Eddard não gostava daquela ideia e não confiava nos Lannister. Aquilo só traria problemas. Todavia, confiava no discernimento de Jon.

― Então deve fazê-lo.

Baratheon bufou de modo irritado, mas se acalmou, alternando o peso entre uma perna e outra.

― Ainda espero que ela volte. Todo dia espero que você me mande um corvo dizendo que Lyanna está em casa ―Desabafa. Ned permanece em silencio, olhando para qualquer direção que não para o rosto de Robert.

Entendendo aquele silencio como um adeus, Robert montou num dos cavalos preparados e se foi. O Senhor de Winterfell pensou se tinha feito o certo mentindo para alguém que era quase um irmão.

Mas então pensou no rosto assustado de Lyanna Stark quando esta fugira, pegando um navio para algum lugar que Ned ainda não tinha exclusiva certeza e esperava nunca ter, levando consigo um pequeno embrulho nos braços.

♦♦♦

Rhaegar estava morto, junto de suas promessas. Lyanna lamentou sua própria sorte. Havia ido embora com ele em busca de liberdade, da vida que nunca teria com Robert. Ela imaginava que talvez Elia Martell também tivesse buscado liberdade, talvez apenas diferente da que ela própria buscava.

Acharam o mesmo tipo de prisão nos olhos de dragão de Rhaegar. Chorou baixo e copiosamente, observando a escuridão da noite. Fazia poucos dias que se instalara além do mar estreito, em Asshai. Asshai era uma cidade mística, mas inimaginável. Perfeita para suas novas condições. Tinha um pouco de dinheiro, que seria o suficiente para uma vida confortável e ela podia aprender a ser feliz ali.

Um choro de criança cortou o silêncio. Lyanna secou as lágrimas e pegou seu pequeno filho no colo. Jon Targaryen não parecia com o pai de forma alguma. Tinha os mesmos cabelos escuros e olhos cinzentos dela, porém Lyanna sentia. Sentia o calor emanando dele, mesmo com o frio enjoativo que dominava o ar. Podia quase vê-lo sentado no trono de ferro, um jovem rapaz.

Jon seria um rei. Lyanna o criaria para isso, mesmo sufocando a garota que era e tornando-se mais resistente, como ferro. Era irônico que depois de tudo Lyanna nunca fora rainha de Rhaegar, mas agora criava um filhote de dragão, que algum dia seria coroado.

― Deseja que eu o segure minha senhora? Já deve estar muito cansada ― Arthur Dayne apareceu dentre as sombras.

Arthur havia ficado vivo e vindo com ela, para protegê-la. Eram bons amigos e ele era gentil. Seus olhos escuros a fitaram questionadores.

― Não sou uma senhora aqui. Não mais.

― Pra mim sempre será, senhora ― Ele zombou. Lyanna lançou-lhe um sorriso tímido ― A oferta ainda está de pé.

Lyanna entregou Jon a ele e Arthur o ninou. Aquele homem a sua frente já fora o elo comum de amizade entre ela e Rhaegar. Agora era sua única esperança e seu melhor amigo, sua total proteção contra os perigos de ter sido segunda esposa de um dragão.

Observou-o alguns minutos em total silêncio. Quis contar-lhe sobre seus mais profundos devaneios, sobre toda a loucura que estava vivendo. Porém não o faria, afinal a própria Espada da Manhã ainda lidava com a carta recém-chegada, anunciando o suicidio da irmã. Não gostaria de aumentar a carga que ele carregava.

― Robert virá atrás de você, Lyanna.

A Loba achou as palavras sombrias muito engraçadas.

― Ele o fará. Mas nunca me encontrará ― Sorriu para seu velho cavaleiro ― Ele procura Lyanna Stark, não Lya Dayne.

Ela e Arthur tinham chegado juntos à conclusão de que se fingissem serem irmãos em busca de uma vida melhor, poderiam viver de forma mais sossegada e discreta. Robert não iria atrás de Arthur, no final das contas, porque ele era leal demais aos Targaryen para dobrar os joelhos.

― Temo pelo futuro de Jon, minha senhora ― Os olhos de Arthur estavam carregados de preocupação, alternando-se entre ela e o bebê.

Lyanna olhou-o no fundo dos olhos. Amaldiçoou o presságio em suas palavras.

― Eu também ― Um clima sombrio se instalava entre eles ― Eu também.