True King

5 - The Power of a King


Os Lordes do Norte foram chegando aos poucos e agora às muralhas de Winterfell já estavam cheias de homens, com suas esposas e filhos.

Jon percebera o quanto o primo — Robb — estava confuso com todo aquilo. Não tinha quem não ficasse. A cada reverência recebida como Lorde de Winterfell, ele se lembrava do pai e quase sentia vontade de chorar. Catelyn o ajudava da melhor forma que podia, porém esta também se lembrava de Ned.

Tendo isso em vista Sansa, que se tornara uma mulher forte, acabara por fazer praticamente tudo. Cuidava dos afazeres políticos, dos alimentos e do bem estar dos Lordes, dava ordens e lançava olhares gelados para aqueles que diziam como sua mãe e irmão eram fracos.

Jon estava encantado com toda aquela força. Ela perdera o pai tanto quanto Robb, mas ainda assim se mantinha firme. Talvez ela só estivesse assim pelo que sofrera em Porto Real, aquilo trazia um frio na espinha de Jon.

─ Está ai? ─ Era Shiera o chamando da porta quarto.

─ Espere, estou me vestindo ─ Era mentira. O Targaryen sequer tinha saído de debaixo das cobertas, estava lá há algum tempo olhando as pedras do teto e pensando em tudo. Pos-se de pé logo que a irmã chamou, Meraxes grunhiu quando Jon saiu da cama, não que fossem muito apegados, porém tinha mania de dormir com o dragão pequeno. Balerion crescia rápido e no um mês desde que chegaram á Winterfell tinha crescido tanto que ficara maior que o próprio Jon, tinha apenas seis meses e não podia ficar mais no quarto.

─ Até que enfim! ─ Shiera nunca fora muito paciente ─ Demora mais do que uma noiva para se vestir.

─ Isso não é jeito de se falar com um rei ─ Brincou Jon a cutucando, ela começou a rir escandalosamente e o outro continuou a fazendo cócegas e rindo junto. Até que Sansa junto de seus lindos cabelos que estavam emaranhados abriu a porta de seu quarto, no fim do corredor.

Irritada, havia ido dormir tarde na noite anterior não esperava ser acordada tão cedo. No entanto quando viu Jon e Shiera no que parecia ser um momento íntimo, sentiu-se envergonhada, chocada e completamente corada, mas não irritada. Afinal, a Stark não sabia que seu primo e a amiga eram tão próximos.

─ Sansa! ─ Jon não sabia o que dizer. Nos últimos dias ele se via pensando muito na prima, não sabia por que, mas todas as vezes que ficava perto dela tinha vontade de sair correndo para debaixo das saias da mãe, porém ele era quase um rei, não poderia fazer aquilo. Ou poderia?

─ Sinto muito pela interrupção. Só não esperava tanto barulho de manhã — Ela comentou secamente, abrindo a porta.

─ Ah, Lady Stark ─ Curvou-se Shiera tirando a tensão do ar ─ Já ia chamá-la, sua família a espera na sala de reuniões, aliás, espera os dois.

─ Eu já vou, apenas devo me trocar ─ E fechou a porta. Depois de todo aquele desconforto tanto ela quanto Jon sentiam-se duas crianças. Sansa acabou por dar-se um tapa na cabeça e Jon revirar os olhos.

Shiera gargalhou alto e saiu em direção a onde estavam os outros. Não demorara muito para que Sansa e Jon também seguirem. Na sala de reunião, todos os lordes estavam lá. O norte em peso parecia atento.
Jon sentiu-se desconfortável. Era hora de ser um líder.

— Gostaria de agradecer pela presença de todos — Começou tentando não parecer hesitante — Entendo que deve ser um desconforto enorme mover-se até aqui, mas temo ser importante. Seu Lorde foi morto e um Usurpador se senta no Trono de Ferro.
Respirou fundo.

— Um Trono que por direito pertence a mim e que foi usurpado, e um lorde a quem deviam lealdade. Convoco vocês agora para a guerra — Sua voz tornou-se cada vez mais alta. Todos os olhares estavam sobre ele — Uma guerra porque o Norte se lembra. Mais importante de tudo: O Norte se vinga.

— E o que um dragão sabe sobre o norte? — Roose Bolton perguntou, desdenhoso. Jon o encarou — Você não é nortenho. Mal é de Westeros.

Os Lordes esperavam uma resposta.

— Eu sou um Stark, Lorde Bolton. Posso ser um Targaryen, mas minha mãe é Lyanna Stark e em minhas veias corre o sangue dos Primeiros Homens — Começou olhando apenas para Bolton, mas em seguida varreu o olhar por toda a sala — E eu tenho de saber se serão leais a Robb Stark e se levantarão em guerra por mim, por Eddard Stark.

Um silêncio constrangedor se seguiu e Jon apenas esperou, em pé na ponta de uma mesa de madeira. Focou seu olhar em Shiera, no canto, que sorriu e balbuciou um “belas palavras”. Catelyn e Robb estavam ali também.

— Os Stark de Winterfell, senhores de Winterfell e protetores do Norte se levantarão por Jon Targaryen. O Norte só reconhece um rei, com sangue Stark e o Sul só merece um rei, de nome Targaryen. Por sorte temos os dois — Robb levantou e pronunciou-se também, imponente, finalmente assumindo a expressão de um verdadeiro Lorde — E apelo para a honra de vocês nesse momento.

De inicio nada aconteceu, mas depois um brado suave encheu o salão.

— Rei no Norte!

♦♦♦

— O que iremos fazer agora? — A pergunta veio de Lorde Karstark.

Pensou por alguns segundos.

— Primeiro precisamos de alianças. Dorne, a Campina — Alistou — Por agora quero que voltem para casa e reúnam homens para um exército. Espero vocês de volta em Winterfell daqui uma volta de lua.

Os Lordes obedeceram-no, mesmo que alguns de certa má vontade. Por fim ficaram na sala apenas ele, Lyanna, Arthur, Catelyn, Sansa, Shiera e Robb.
Virou-se para eles e começou a delegar suas tarefas.

— Minha mãe, Robb, Shiera e eu iremos para Dorne e depois para a Campina. Catelyn deve ir para Correrio e esperar lá por um tempo, para garantir que seu pai e seu irmão façam o que espero deles — Sansa o olhava com curiosidade, esperando com calma sua vez. Ele olhou em seus olhos — Sempre deve haver um Stark em Winterfell. Creio que você é mais que capacitada.

Ela assentiu, mas apertou os lábios com preocupação. Não gostava da ideia de ficar sozinha, nem de ver as pessoas que amava partirem novamente.

— Farei o meu melhor, Vossa Graça — Garantiu.

— Então podem preparar-se para a viagem — Dispensou. Apenas Lyanna permaneceu ali, sentada — Deseja algo, mãe?

— Gostaria de conversar com você alguns detalhes, apenas — Deu de ombros — Levará Balerion e Meraxes para Dorne?

Jon pensou por alguns instantes.

— Acho que levarei Balerion comigo. Enviarei mensageiros a nossa frente, mas espero apenas uma reunião pacifica.

— Jon — Lyanna começou, hesitando levemente — Já faz algum tempo que troco cartas com Doran Martell. Dorne deseja vingança por sua... — Engasgou. Não se achava realmente digna de dizer o nome dela — princesa, Elia Martell.

Jon já supôs erroneamente o que ela lhe dizia.

— Eles não devem condenar-lhe por causa do que meu pai fez!

Lyanna balançou a cabeça.

— E eles não o fazem. Ou pelo menos a maioria não o faz — Garantiu — A vingança é contra Tywin Lannister e Gregor Clegane.

— Aonde você quer chegar? — Jon parecia cansado e sentou-se, apoiando uma das mãos na mesa.

— Me casarei com Doran e garantirei o apoio dornês para você — Ela não estava pedindo o que ele achava, apenas o avisando.

Ele suspirou.

— Não quero que se sinta na obrigação de se casar com ele apenas por causa da guerra. Não suportaria se a visse infeliz.

— Doran é um bom homem e somos bons amigos — Falou apenas para amansar o peso daquela declaração — E ele já tem um herdeiro, então não há pressão alguma sobre nós. Deixe-me fazer isso para ajudar você.

Jon olhou para ela como se a enxergasse pela primeira vez. Ainda conservava jovialidade, mas tinha um rosto cortês e solene. Seus olhos tinham muito mais sabedoria do que ele se lembrava.

Madura demais, ele concluiu. Inteligente demais, corajosa demais para o próprio bem. Ele a amou mais que nunca.

— E eu achando que era minha vez de ajudar você — Suspirou novamente — Dorne então está garantida. Mas e o que farei para que a Campina me apoie? Se eu tiver seu apoio esta guerra estará vencida e o Trono de Ferro será meu.

Lyanna o olhou com súbito pesar.

— Acho que sabe o que deve fazer. Mace Tyrell tem uma jovem filha, Margaery, dizem que é a flor mais bela da Campina. Peça sua mão em casamento, ofereça uma aliança — Ele fez uma careta e ela apenas sorriu — Eu sei que pensa no que houve quando seu pai casou por aliança com Elia Martell. Você não é seu pai, Jon. Você é corajoso, honrado e gentil. Qualquer dama terá sorte em casar com você.

Jon assentiu. Era apenas um pequeno sacrifício a se fazer em prol de um objetivo.

— Algum dia o amou? — A pergunta surgiu paralelamente em seus lábios e o sorriso de Lyanna desapareceu.

— Nem todas as coisas se tratam de amor — Ela acariciou seu rosto e então se foi silenciosa e taciturna, pensando no príncipe por quem largara tudo.
Ele teria sido um bom rei, ela pensou, e Elia Martell teria sido uma boa rainha.

— Nem todas as coisas se tratam de amor — Repetiu novamente para ninguém em especial.

♦♦♦

Um banquete em sua honra, que piada. Em Asshai, Jon mal sabia da existência de banquetes e agora já comera tanto que podia rolar para seu quarto.

Era a primeira vez que os lordes viam Balerion e Meraxes, e estes corriam seus olhos atentos pelo salão. Jon os alimentara e agora se deitavam, enrolados, porém com os olhos bem abertos. Ele podia ouvir os pensamentos deles, sobre como o salão estava cheio e barulhento.

E não podia julgá-los, afinal também sentia falta do silêncio. Mas, como os Lordes divertiam-se e aquela seria uma das últimas vezes que estariam todos juntos, Jon relevou.

Ao seu lado sentava-se Sansa e ela conversava com a jovem Lyanna Mormont, uma pequena criança ferrenha. Pareciam dar-se bem e Jon preferia a conversa delas à de Lorde Umber, já mais bêbado que qualquer outra pessoa no salão.

A dama de companhia de Sansa também estava ali, um pouquinho mais atrás, ouvindo curiosamente o que sua senhora estava dizendo.

— Então marcharemos para a morte por um rei Targaryen — A voz de Roose Bolton soou desdenhosa e ácida.

Jon estava cheio daquele homem. Porém, antes que dissesse qualquer coisa, Sansa se manifestou.

— Devo lembrar-lhe seu juramento como vassalo de meu pai e da casa Stark, Lorde Bolton? — Perguntou arqueando as sobrancelhas — Jon é um Stark e só isso simboliza que você deve segui-lo como seguiria Robb. Agora, se isto lhe é difícil peço que volte para Forte do Pavor e assista tudo em silêncio.

Seu tom de voz mordaz chamou a atenção de todos no salão que pararam de falar e rir. Até a música festiva parou temporariamente

— E o que você sabe? É sua culpa que seu pai está morto — Riu cruelmente. Os olhos dela se encheram de lágrimas.

— Lorde Bolton — Jon chamou calmamente — Creio que nosso encontro acaba agora, visto que estou farto de sua insolência.

Jon planejava não arrumar mais problemas, nem para si nem para ninguém. Todavia, Roose não perderia aquela discussão em frente a tantos outros lordes, principalmente com seu bastardo sentado algumas mesas à frente.

— Insolente é você, que chamam de rei do norte, mas não é nortenho.

Tirou a espada da bainha e ninguém se mexeu por alguns instantes, até que todos os lordes que estavam armados também tiraram suas armas. Iriam defendê-lo, é claro, mas Jon tinha outros planos. Se deixasse daquela vez que um simples lorde como Roose falasse assim com ele, seria um rei fraco e reis fracos não reinam por muito tempo.

— Eu poderia perdoar essa ofensa — Levantou-se apoiando ambas as mãos na mesa — Mas não vou.

Apontou para Balerion e este se levantou, rugindo animado por finalmente ter alguma diversão e bateu as asas tão forte que a mesa chacoalhou. Voou então em direção ao lorde de Forte do Pavor que tentou correr, mas não foi rápido o suficiente para fugir da rajada de fogo que o atingiu. Então Balerion se sentou sobre o corpo ainda agonizando, as presas a mostra.

Jon levantou-se e ajuntou a espada do homem e foi até seu bastardo.

— Você é o único herdeiro? — Perguntou. O bastardo ainda olhava atordoado para o fogo, mas assentiu — Os Bolton só respeitam a força e nada mais — Ofereceu-lhe a espada — Agora para mim você é Ramsay Bolton e o será para os outros lordes que agora aqui estão, mas quero que escute com atenção — Virou-se para os outros lordes também — Eu sou justo e se vocês me servirem com lealdade, viverão bem e eu me lembrarei de vocês quando o inverno chegar.

Um murmurinho encheu o salão. Jon continuou.

— Mas se forem desrespeitosos, traidores ou porcos violentos vocês perecerão. Porque não importa se o inverno está chegando, vocês irão cair por fogo e sangue.

Jon tornou a se sentar. Robb e Catelyn olhavam fixo para Balerion, ainda sob o corpo do antigo Lorde de Forte do Pavor.

Ele não se orgulhara de matar alguém, mas entendi agora o certo a se fazer. Lorde Roose não tinha amigos nem apoiadores, mas isso não queria dizer que não poderia influenciar outros a se rebelarem contra seu suserano.

Olhou para Sansa. Ela não chorava, mas o rosto estava vermelho e ela apenas olhava para seu prato ainda cheio. Jon sentia muita afeição por ela.

— Sinto muito que tenha visto isso — Desculpou-se com ela. Sansa apenas balançou a cabeça, dando um sorriso suave e afetado.

— Tudo bem — Afirmou, os olhos úmidos novamente — Não era mentira o que ele disse sobre mim, no final das contas. Eu implorei para que meu pai fosse para o Sul e me levasse com ele. Eu queria ser rainha como nas canções, porém o arrastei para sua cova.

Jon pegou a mão dela na sua, ato que não passou despercebido por Robb e tampouco por Lyanna.

— Você não tem culpa de nada, Sansa. Mesmo que você não quisesse ir seu pai acharia uma forma de colocar a honra acima de tudo e ir mesmo assim. Você não sabia o que iria acontecer.

— Jon Targaryen — Ela falou lentamente, um sorriso brotando em seus lábios. As sombras da morte de Ned Stark continuavam em seus olhos — Você é o único rei que eu seguiria.

Naquela noite, em que os lobos uivaram e os dragões sobrevoaram o Norte, enquanto pensava na guerra e curiosamente em Sansa Stark, Jon não conseguiu dormir.