True King

2 - Wolves and dragons


Alguns meses depois...

A chegada ao novo continente não foi tão surpreendente quanto Lyanna pensara. Fazia dezessete anos que não via Westeros, mas podia perceber que quase nada havia mudado. Porto Branco era a maior cidade do Norte, ficava a sul de Winterfell e foi ali que desembarcaram.

As pessoas não os reconheciam, pelo menos era o que Jon pensava. Até alguém chamar pela mãe.

―Minha Senhora Lyanna ― Curvou-se um homem, chamando a atenção de todos no porto. A mãe tirou o capuz da cabeça, e barulhos de exclamação vieram de todos os lados ― Devo dizer-lhe que não esperava vê-la de novo, porém que é de enorme prazer que a recebo nessa cidade ― Era um homem corpulento e careca, lembrando-lhe Varys. Porém, não se vestia com o bom gosto do mesmo.

― Este é Lorde Manderly, minha Senhora ― Cochichou Sor Arthur nos ouvidos da mãe. Jon estava perto o suficiente para ouvi-lo, mas o outro homem não.

― Não esperava encontrá-lo também Lorde Manderly ― Disse com um tom de cortesia. A mãe com certeza sabia ser uma dama quando o queria.

― Oh, onde estou com a cabeça. Vamos, levem as coisas de Lady Lyanna e seus companheiros de viajem para dentro do Castelo. Permita-me servir um jantar no Tritão em sua homenagem.

― É muito gentil, meu Lorde, mas nossa estadia por aqui é curta. Pretendo partir agora mesmo para Winterfell. Meus sobrinhos precisam de apoio ― Deu um falso sorriso triste em direção do homem ― Poderia emprestar-nos uma casa rolante e cavalos? Como vê, tenho bastante bagagem. Juro que devolverei em breve.

― Seria com certeza uma honra. Mandarei homens junto para escolta-los na estrada do rei ― Ele sorriu bajulador. Jon não gostava propriamente dele, mas imaginou que, como qualquer outro Lorde nortenho, precisaria da ajuda daquele velho senhor para conseguir o trono que almejava.

― De onde este senhor me conhece? ― Pediu Lyanna para ninguém em especial, depois que o homem se foi. Não recebeu resposta alguma.

Balerion praguejava escondido numa caixa ainda não descarregada do navio. Meraxes observava por entre as frestas achando a interação divertida. Jon apenas revirou os olhos e sorriu, ignorando os pensamentos conflitantes dos dragões. Às vezes Jon amava os dois seres esquisitos, mas em momentos como aquele ele só queria que os dois se calassem e aproveitassem a viagem.

Bem, suspirou quando ouviu um guincho suave de uma das caixas – claramente Balerion havia mordido o próprio rabo – nem sempre se tem tudo que se quer.

♦♦♦

O encontro desagradável com o Lorde de Porto Branco não foi de grande importância, mas podia-se dizer que agora todo o Norte e boa parte do Sul já sabiam que Lyanna Stark estava de volta em Westeros.

A mãe e os Dragões andavam dentro da casa rolante, enquanto Shiera e Jon iam á cavalo um pouco mais a frente. Fingiam-se de guardas, porém os outros presentes desconfiavam de Shiera com seus cabelos loiros e traços valirianos. Dissera ela, quando perguntaram, que era neta de uma bastarda Celtigar, e que por isso tinha tais traços. Não era uma total mentira, mas também não era verdade. Sor Arthur estava muito bem encapuzado e fingia-se de mercador mais atrás de todos eles, afinal era um homem bastante conhecido.

― Ah, como o ar daqui é bom! ― Exclamou Shiera em algum momento ― Sem cheiro de mar, nem de coisas podres. Além da temperatura ― Asshai podia ser tão frio quanto o Norte, mas era um frio diferente, gordurento e pesado.

― O frio é bom, é o que eu sempre digo.

― Fale por você, que tem fogo nas veias ― Disse em tom falso de desdém. Era verdade, enquanto a garota usava um casaco grosso e uma capa de pele, Jon estava apenas com uma túnica de lã ― Porém, o que diz é verdade, sinto-me melhor aqui ― Sorriu. Jon sabia que a viajem de barco não fora legal para a amiga, mas em terra firme tudo mudava.

Há oito anos Jon tinha visitado Westeros a primeira vez (e única), tendo apenas Arthur Dayne como companhia. As coisas deviam ter mudado bastante, queria muito rever Robb e Arya, os dois foram os que mais se deram bem com Jon. Apesar de Arya ser apenas um bebê na época, o tio garantia, em cartas, que ela lembrava-se do primo sempre.

Não demorou para que Jon avistasse as ameias geladas de Winterfell. Suspirou. Sentia falta daquele lugar, do frio e da honra que corria em seu sangue.

Sua chegada não foi comemorada. Foram recepcionados por uma incrédula Catelyn Stark – que não mudara nada ao longo dos anos, ostentando os mesmos cabelos ruivos Tully e olhos azuis. Todavia parecia exausta e enlutada.

Ela dobrou os joelhos quando Jon, Lyanna, Arthur e Shiera pararam em sua frente, fixando seu olhar em Jon.

― Vossa Graça, Winterfell é sua ― Ofereceu respeitosamente. Jon sorriu e também prestou uma reverencia.

― É um prazer revê-la, Lady Catelyn. Meus pêsames por Ned ― A agora enviuvada Stark lhe lançou um sorriso triste.

Em seguida levou-os até o agora Lorde de Winterfell, Robb. Ele tinha se tornado um homem. Era apenas um ano mais novo que Jon, mas já se via na obrigação de comandar o Norte. Por esse motivo se viu aliviado com a chegada de Jon

Abraçaram-se no meio do salão, como os velhos amigos e primos que eram. Robb também abraçou sua tia, fez uma reverencia exagerada a Arthur e trocou um cumprimento distante com Shiera. Ela estava tímida e desconfortável ali, então Jon procurou estar ao seu lado. Conversaram um pouco e riram, esquecendo-se dos problemas que tinham por alguns momentos.

De repente, um menininho ruivo com não mais que quatro anos apareceu correndo por ali.

― Rickon! ― Exclamou Robb ― Jon este é meu irmão mais novo.

― Ele se parece com você ― Era pequeno com os cabelos cacheados e a pele bem branca, como Robb.

― Ah, este é o dragão de quem Bran falou, eu o conheço ― Disse o menininho animado ― Eu vi você em meus sonhos e Bran também, senhor. Posso ver os dragões? ― Jon já sabia, por meio de cartas que os dois mais novos Starks tinham essas capacidades.

― É claro ― Jon sorriu ― Venham comigo, e chame seu outro irmão. Vou mostrar Balerion e Meraxes.

Arthur e Shiera já tinha arrumado tudo enquanto Jon e Lyanna estiveram conversando. Os dois não eram muito de conversa, por isso se davam tão bem desde sempre.

O quarto em que Jon ficaria era no final de um longo corredor, chegando mais perto ele começou a escutar Meraxes pensando nas diferenças daquele lugar, para com o antigo quarto de Jon em Asshai.

Jon buscou passar tranquilidade a eles. Temia que a longa viagem e a nova atmosfera deixassem ambos irritados ou desconfortáveis, mas não foi isso que viu quando abriu a porta de seu quarto.

Balerion estava deitado, dormia como sempre. Lyanna costumava dizer que nunca tinha visto um animal que dormisse tanto. Meraxes estava agitado, mas se pudesse sorrir Jon teria certeza que estava sorrindo.

― Balerion é o maior, aquele que esta dormindo, e este é Meraxes ― Jon disse para Rickon, que de imediato fez carinho na cabeça do dragão menor.

― Eles são bonitos ― Disse uma voz conhecida para Jon, era Bran ― São tão bonitos quanto nos sonhos, primo ― Disse o mais novo, no colo do cavalariço Hodor.

Bran e Jon tinham algum tipo de conexão esquisita, sonhavam um com o outro e às vezes sentiam o que o outro sentia. Aquilo tinha começado na primeira vez que Jon tinha sonhado com o Trono de Ferro. Quando Bran foi empurrado da torre, Jon ficou mal por dias e quando o garoto acordara Jon havia melhorado.

― Bran ― Jon foi em direção do primo e o pegou no seu próprio colo. Ele era pequeno e leve, além de ser o mais próximo a ele ― Como está?

― Ah, bem, você sabe. Disse-lhe ontem ― Falou entre risinhos infantis. Os outros no aposento também riram.

― Meraxes. Ele é tão vermelho quanto os cabelos de Sansa ― Pronunciou-se pela primeira vez, Robb.

Sansa, era isso, agora ele se lembrava perfeitamente da menina tímida que era sua prima. Era dela que Meraxes lhe lembrava, claro.

― Onde estão Sansa e Arya? ― Pediu Jon ao lembrar-se das primas. A expressão de Robb ficou tensa.

― Sansa está com a maldita Rainha e Arya ninguém sabe ― Quem respondeu foi Catelyn.

― Oras, temos de encontrá-las logo ― Disse Jon com uma súbita fúria.

Não sabia do que se tratava, mas não se sentiu bem sabendo que as primas não estavam seguras. Principalmente que uma delas era refém de Cersei e de seu sádico filho. Porto Real não era ambiente por uma dama.

― Eu sei Jon. Mas ninguém viu Arya e Sansa está dentro dos muros do castelo do Rei e não sei em que situação ela está ― O agora jovem Senhor do Norte soltou um suspiro.

Jon colocou a mão em seu ombro, em sinal de conforto.

― Vamos trazê-las de volta para casa, eu prometo.

Robb lançou-lhe um sorriso triste. Bran cutucou suas costelas.

― Então você será um rei ― O pequeno garoto sorriu ― E reis têm de ter coroas bonitas. Eu tenho algumas ideias que você vai adorar...

Jon riu, entregando Bran de volta para Hodor.

― Vai ser muito interessante ouvi-las, mas creio que eu e Robb tenhamos alguns assuntos políticos para tratar.

Depois de alguns minutos, apenas Jon e Robb se encontravam na sala. Sentaram e compartilharam algumas canecas de vinho.

Jon contou sobre seus planos. Tinha os discutido com sua mãe, Arthur e Shiera na noite anterior, mas precisava ter certeza do apoio nortenho.

― É claro que o faremos, Jon. Os Lannister mataram meu pai e mantém minha irmã prisioneira. Iremos para a guerra ― Ele afirmou com seriedade, depois sorriu ― E não é sempre que se diz não para alguém que tem dragões.

― E os demais Lordes, levantarão diante de sua chamada?

― Provavelmente. Acho de total apropriado que também lhes apresente sua causa ― Robb respondeu sombriamente ― Porque há aqueles que lutam por lealdade e aqueles que traem por poder. Temos que ter certeza que o tipo certo virá em nossa ajuda.

― Correrrio está do nosso lado? E o Vale?

― Meu avô já declarou apoio a sua causa, mas o Vale que está em poder de minha tia Lysa ainda não se manifestou.

Jon pensou por alguns instantes, preocupado. Precisava de mais alianças e agora planejava um modo de fazê-las. Todavia, espantou aqueles assuntos por um momento, afinal fazia anos que não revia aquela parte de sua família.

― Envie corvos para os lordes. Daqui a uma volta de lua deve haver um banquete ― Decidiu ― Mas, por agora, tenho uma tarefa mais importante para você.

Robb aprumou-se, animado.

― Qual? ― Perguntou.

― Creio que devamos ir juntos ouvir algumas ótimas ideias de Bran para as muitas coisas que ele tem imaginado ― Riu da cara de desapontado de Robb.

O Norte lhe parecia mais com casa, enfim.