True King

12 - Sand's Wolf


Jon estranhara quando, logo na manhã do casamento da mãe, Doran Martell convidara-lhe para um passeio. Dessa vez sem a companhia de sua mãe, que estava se preparando para a cerimônia.

Caminharam juntos pelo grande castelo de Lançassolar, onde aconteceria o casamento. Jon ainda se admirava com a inteligência dos primeiros dorneses, que construíram seus castelos de modo que o dia quente não os afetasse e ainda os protegessem das noites frias. O problema para Jon, é claro, como um bom nortenho, era o excesso de amarelo, laranja e vermelho em toda parte.

— Imagino que esteja se perguntando porque estamos andando juntos agora — Doran disse com um sorriso. Jon bufou, andar era a última coisa que Doran Martell estava fazendo. O rapaz empurrava a cadeira de rodas do Príncipe de Dorne com cautela — Em breve seremos uma só família.

— É um prazer saber que essa aliança acontecerá — Jon garantiu, mesmo que por dentro se corroesse de ciúme. Deixar a mãe em Dorne era sufocante.

Doran riu como se Jon tivesse contado uma piada engraçada.

— Me senti da mesma forma que você alguns anos atrás, Jon. Bem antes de você nascer. O príncipe Rhaegar veio a Dorne e escolheu casar-se com minha irmã, Elia — Contou Doran, falando de modo distante — Elia era uma das mulheres mais belas e gentis de Dorne. Nós aqui a chamávamos de nosso Sol, porque não tinha quem não daria a vida por ela. Era uma flor, andando em meio a víboras. Nenhuma a mordeu.

Jon escutou com atenção, mas estava tenso. Elia Martell era um tabu em sua cabeça, sinal de desgraça e ruína.

— Mas então o príncipe prateado a levou para sua fortaleza vermelha, longe do povo que a amava. Ela quase morreu lhe dando filhos, porém na primeira oportunidade que teve, trocou-a por outra mulher. Elia morreu e morreu sozinha.

— Sinto muito — Jon realmente sentia. Sua mãe Lyanna falara coisas bonitas sobre seu pai, mas Jon entendia a verdade.

— Estou falando isso não para torturá-lo sobre uma coisa da qual não tem culpa — Parou a cadeira de rodas e olhou nos olhos de Jon — Quero que saiba que Dorne ainda deseja vingança contra Elia e seus filhos, mas não é contra os Targaryen. Tywin Lannister mandou sua montanha matá-la, mas ele a estuprou e obrigou-a a assistir o assassinato de seus filhos antes de cortá-la ao meio. Já fazem anos que planejo como fazer isso. Agora, nesse casamento e em você, vejo essa oportunidade.

— Nenhum dos assassinos de Elia sairá impune — Prometeu Jon — Serão julgados e culpados, eu mesmo os matarei.

— Eu estava pensando em outros meios... — Começou o homem, mas Jon o cortou.

— O homem que dita a sentença deve brandir a espada, Príncipe. Dorne terá sua vingança muito em breve.

Jon pensou que Doran iria ficar irritado, mas o soberano de Dorne apenas sorriu.

— Parece muito com sua mãe. Eu gosto dela e acho que poderemos ser felizes juntos — Doran voltou e Jon e ele voltaram a andar — Assim que meu irmão Oberyn chegar realizaremos a cerimônia, pois imagino que tenha mais alianças a formar.

Jon anuiu com a cabeça.

— Quantos homens estarão comigo?

— Dorne pode levantar mais de 30 mil espadas, entre homens e mulheres, mas cederei a você um bom contingente.

Jon assentiu. Uma corneta soou ao longe e um criado veio correndo avisar que Oberyn Martell estava em casa finalmente.

Não achou Oberyn muito surpreendente, na verdade. Porém ao olhar nos olhos da víbora vermelha, Jon Targaryen soube o quanto aquele homem de sorriso divertido poderia ser perigoso.

Doran se retirou, indo se arrumar para seu casamento, deixando Oberyn, Ellaria Sand e três das serpentes de areia junto com Jon. Das garotas, apenas a jovem Dorea era filha de Ellaria.

Obara parecia ser uma lutadora impressionante, mas foi Nymeria que lhe chamou atenção. Não por causa apenas de sua beleza exótica, mas por causa do modo como ela o olhava – como se pudesse lê-lo. Tinha os mesmos olhos questionadores de Shiera Lassea e isso, para Jon, levando em conta que convivera anos sob aquele olhar, era uma proeza.

— É um prazer conhecer um Targaryen sem cabelos prateados — Oberyn observou astutamente. Estava de mãos dadas com sua amante, Ellaria.

— Nasci com os traços da minha mãe — Jon justificou. Oberyn lhe deu um sorriso cheio de significados e então partiu.

Se Oberyn Martell lutasse com ele, Jon tinha a sensação que ninguém poderia detê-lo e, se suas filhas tinham mesmo a habilidade que os Sete Reinos anunciavam, teriam toda a chance de vitória.

Bem, ele poderia pensar em guerra depois. Em algumas horas, a mãe estaria casando novamente. Ele oraria aos deuses antigos pra que, depois de tudo que passara, Lyanna Stark fosse feliz.

♦♦♦

A mãe estava esplendida, vestia um vestido de mangas longas numa cor esbranquiçada. Um penteado pouco elaborado deixava as ondas de seus cabelos caindo pelos ombros, e por fim o manto cinza com o lobo bordado tornava tudo ainda mais agridoce para Jon.

― Está linda ― Disse quando a futura senhora de Dorne se virou.

― Obrigada. Você também está muito bem ― Jon vestia uma túnica escura adornada com as três cabeças do dragão e de resto era apenas uma roupa normal. Engatou-se a braço do único filho ― Vamos? ― Jon assentiu com a face levemente resignada.

Caminharam em silêncio até o pavilhão no qual a cerimônia aconteceria. Lyanna tinha um olhar complacente e alegre. Ela entendia perfeitamente as circunstâncias de seu segundo casamento – não que o primeiro tivesse sido excepcionalmente diferente -, ainda assim estava feliz.

O homem acompanhou Lyanna até bem próximo de Doran que sorria como se estivesse realmente muito apaixonado. Depois foi para trás ficando em meio a Robb que tinha Arianne ao seu lado e Theon.

― Meus senhores, minhas senhoras, estamos aqui diante dos olhos dos deuses e dos homens para testemunhar a união de homem e esposa. Uma carne, um coração, uma alma, agora e sempre ― Declarou em alto e bom som o Septão ― Sob o olhar dos Sete, tenho a honra de unir essas duas almas, tornando-as uma pela eternidade ― Lyanna abaixou-se um pouco e juntou sua mão com a de Doran. O Septão amarrou um nó com uma fita em torno de suas mãos unidas, simbolizando sua união ― Olhem um para o outro e digam as palavras.

― Pai. Ferreiro. Guerreiro. Mãe. Donzela. Velha. Estranha. Eu sou dele/dela e ele/ela é meu, a partir desse dia, até o último de meus dias ― Disseram em uníssono.

― Declaro que, Doran da Casa Martell e Lyanna da Casa Stark são um coração, uma carne, uma alma. Maldito seja quem se interpuser entre eles ― O Septão desfez o nó, e, Jon pensou, Lyanna e Doran estava unidos pelos restos de suas vidas.

― Com este beijo, prometo meu amor ― Doran falou e beijou Lyanna levemente nos lábios. Por fim a mãe tirou seu próprio manto e ajoelhou-se de forma graciosa, para que Doran colocasse o manto dourado com a lança e o sol sobre seus ombros. Agora ela era Lyanna Martell.