True Colors

Capítulo 6


True Colors

Capítulo 6

E eu verei suas cores reais

Brilhando por dentro

Eu vejo suas cores reais

E é por isso que eu te amo

Então não tenha medo de deixá-las aparecerem,

Suas cores reais, cores reais

Cores reais estão brilhando através de você

Eu verei suas cores reais

— Eu não acredito que você rejeitou essa mulher. — James Wilson, melhor amigo de Gregory House, comentou realmente indignado. Não que fosse raro ter mulheres apaixonados pelo amigo, mas a questão era que House havia se interessado e preferiu romper os laços antes de estes se firmarem.

— É falta de ética se envolver com seus pacientes. — House rebateu cansado, tomando um longo gole do seu café. Estavam ao ar livre, desfrutando de algumas horas de recesso dos serviços agitados do Princeton-Plainsboro.

— Desde quando você liga para isso, House? — Wilson riu, pela primeira vez achando uma das atitudes do amigo estranha. Que ele tinha hábitos e trejeitos diferentes era notável, mas o homem a sua frente conseguiu fazê-lo se sentir na presença de outra pessoa.— Esse código nunca te impediu de nada, embora eu desconfie de algumas coisas.

— Podemos mudar de assunto?

— Se te incomoda é porque Sandra teve algum significado para você. — O sorriso do oncologista se alargou. — Sabe onde ela mora, vá visitá-la com qualquer pretexto.

— Não, Wilson! — House ralhou, irritado. — Esqueça, já fiz tudo o que tinha para fazer a respeito de Sandra. Ela está bem, tomando antipsicóticos por um tempo, mas bem. Não há nenhum sentido para eu aparecer na vida dela nem ela na minha.

Wilson agitou a cabeça em negação. House poderia ser um dos médicos mais brilhantes do país, embora às vezes lidar com sentimentos o deixava extremamente vulnerável. Evidente que ele não percebia o quão teimoso estava sendo em admitir um fato simples, preferindo o descaso a tomar uma atitude. E pensar que se achava um pouco mais esperto nessa questão.

— Vou te dar um conselho, mesmo sabendo que não vai ouvir, afinal você nunca ouve o que eu digo, mas se você sente algo por ela não deixe que outro a roube de você. Nenhuma mulher está disposta a te aceitar como é, salvo algumas exceções que já deve saber.

— Você consegue ser mais chato do que a minha mãe.

(...)

Após a cirurgia a que se submetera, Sandra Working conseguiu a estabilidade de sua vida, como se aqueles episódios de alucinações nunca tivessem acontecido. Ela se sentia feliz, embora trataria a psicose com antipsicóticos por algum tempo. Já não era tão cética, acreditava que diversas coisas inexplicáveis poderiam ocorrer a qualquer momento, bastava segurar a mão certa e afastar a escuridão do medo.

Sim, quando desconfiou das palavras de House ela temia suas condições, apavorando-se por completo. E agarrar-se a House, mesmo que inconscientemente, fora sua salvação. Fora sincera quando disse a ele que havia gostado de conhecê-lo e também gostaria de ter falado que seria interessante se encontrarem de novo, em uma situação mais causal e saudável.

Contudo, ela achou beleza na forma como Gregory House incorporou-se em sua vida. Poderiam ter passado pouquíssimo tempo juntos, menos de um mês, e arriscava-se a dizer que nenhum homem fora capaz de seduzi-la tão rapidamente. Sandra era seletiva e romântica, fantasiou por muito tempo como conheceria seu príncipe encantando e ohavia encontrado de uma forma pouco convencional. Até cômico, por assim dizer. Entretanto, ela jamais condenaria a primeira vez que o viu, a primeira vez que se beijaram, os desejos primitivos que House lhe despertara. Em vinte e nove anos esta também era a primeira vez que Sandra se apaixonara por alguém.

Ambos possuíam personalidades distintas, mas nada os atrapalharia de ser um casal, certo? Errado! Um dia antes de sua cirurgia, o médico havia lhe dito que esperava que ela o esquecesse, apenas não entendeu o porquê. Agora, mais lúcida e menos inebriada com a presença de House, ela foi capaz de compreender e era muito simples: House não gostaria de vê-la novamente. O aperto que sentiu ao escutar tais palavras ainda estava instalado em seu peito, como uma marca que nunca sumiria, porém Sandra tentou observar pelo ângulo dele e entendeu-o parcialmente. Seria antiético que médico e paciente se envolvessem, contudo, agora a situação havia mudado: Já não eram mais médico e paciente, apenas Gregory House e Sandra Working, um homem e uma mulher que negaram os desejos de outrora e fingiam que eles não existiam mais.

Contudo, o desejo era como uma doença. Sandra sabia que a atração não era apenas física, todo o ser de House a atraía, fazendo-lhe querer proclamar por ele. E em seu íntimo imaginou se House também se sentia daquela forma em relação a ela.

Batidas na porta obrigaram-na a se desfazer de seus pensamentos e, assim que autorizou a entrada, o senhor Mtek — um homem de cabelos grisalhos, alto e jovial, de olhos castanhos arteiros e maliciosos — adentrou. O andar era elegante e alguma coisa, que Sandra não pôde explicar, fê-la reviver a imagem de House nele. Sorrindo amigável, Sandra não precisou que Mtek lhe falasse o que viera ter com ela, apenas levantou-se e andou até o pequeno depósito em sua sala, logo voltando com a placa devidamente montada e pronta para despache.

— Você é a melhor que eu tenho. — Ele disse, na voz um duplo sentido explícito. O que ele tinha de bonito também tinha de ganancioso, em todos os requisitos da palavra. Embora nunca houvesse flertado abertamente com Sandra, sua vontade expiava os olhos inteligentes. — Estava pensando em promovê-la a chefe do Departamento de Projetos, o que me diz?

Sem dúvidas era a melhor oferta que Sandra recebera durante os cinco anos que trabalhava na Mtek Gênesis, a promoção que muitos matariam para receber e bastava que ela dissesse sim! No entanto, Sandra não alimentava essa ganância. Ela gostava de montar projetos e estudara para isso, era sua paixão, e não conseguia se ver longe da atividade. Ser chefe não lhe condizia.

— Obrigada, senhor Mtek, mas irei recusar. — Ela escolhia as palavras com cuidado, pois o semblante do chefe endurecera. — Eu amo desenhar projetos e montá-los, não me vejo fazendo outra coisa. Espero que o senhor entenda.

— Soa-me com um pouco de comodismo, mas o que eu posso fazer se prefere continuar com o seu salário? Saiba que não lhe farei essa oferta novamente.

— Eu sei e não estou arrependida. — Sandra reafirmou convicta, o semblante sério e firme em sua decisão. Observou que Mtek saiu de sua sala irritado e decepcionado, porém aquilo não a afetou. Chantagens ou demonstrações de desagrado não tirariam seu bom humor.

A tarde caíra rápida e tranquila agraciando os cidadãos de New Jersey com um crepúsculo magnífico. Apesar de ser inverno e o sol ser ameno, a simplicidade manteve o seu lugar. Naquele dia ela não ficaria até mais tarde na empresa, aliás, depois de seu pequeno incidente ela jamais cumprirahora extra. Respeitava os limites de seu corpo, tendo além de um descanso maior a felicidade de poupar Daniel de chamá-la de viciada.

Falando nele, Sandra estipulara uma distância considerável entre os dois devido à breve discussão que tiveram logo após ela voltar para casa. Daniel usara de todo o seu charme para fazê-la se sentir culpada por tê-lo privado de suas condições e ter confiado em um estranho, além, claro, de suspeitar de sua paixão platônica pelo médico mal educado. Soltara inúmeras declarações — tanto pessoais e sentimentais quanto amorosas e recriminativas —, obtendo no final o rosto acalorado pela tapa de mão aberta que recebera de Sandra.

Ela odiava que as pessoas se metessem em sua vida privada, ainda mais se a desagradável pessoa fosse o colega chato de trabalho. Chato e insistente! Talvez ohouvesse ofendido em algum momento da discussão, contudo conseguira de volta seu espaço, seu livre arbítrio, seu direito de ir e vir sem dever nada a ninguém.

E era por ruas tingidas de branco que Sandra caminhava. Sabia que não deveria se expor ao frio, ela sempre fora fraca para a estação, porém aquele dia ela pretendia ter um hábito diferente: Visitaria o bar elegante que abrira a menos de dois quilômetros da empresa, mesmo que o caminho a distanciasse ainda mais de casa. Não fazia mal, pois todos os dias Sandra fazia o percurso casa-trabalho trabalho-casa a pé. Acostumara-se.

A placa de madeira, sustentada por duas correntes relativamente grosas, ornamentada com as palavras “Drink’s Cherry” agitou-se com o vento cortante e assim que adentrou ao estabelecimento foi recepcionada pela rajada de ar quente e abafada do local. As mesas já estavam covardemente ocupadas, sobrando assim às banquetas do bar. Acomodou-se ali e retirou o sobretudo pesado e o cachecol colorido, pendurando-os juntamente com a bolsa no gancho que havia embaixo do balcão de pedra escura.

— Uísque cowboy, por favor. — Ela pediu ao atendente, que segundos depois lhe serviu educadamente. Sorriu em agradecimento e apreciou a bebida.

— Algum acompanhamento? Temos diversos tipos de petiscos... — O atendente disse solícito, mas Sandra negou a gentileza.

O som da sineta anunciando mais um cliente pareceu irrelevante enquanto degustava a bebida, contudo bastou que o perfume característico e familiar se impregnasse no ar para que Sandra tivesse um lapso de memória: Era o mesmo perfume de Gregory House, cujo ele usara quando se despediu dela há quase um mês naquele quarto de hospital. Quanta nostalgia, quanta embriaguez ele ainda lhe trazia.

Todavia, Sandra nunca foi uma pessoa de acreditar em coincidências, porém naquele momento seus instintos a incitaram a olhar para trás. E foi o que ela fez.

Caminhando em sua direção, não especificamente, vinha House peculiarmente acompanhado de um homem um pouco mais baixo que ele, cabelos bem cortados e semblante saudoso. Não se lembrava de tê-lo visto e seu coração apenas se ligava ao fato de que não importasse quanto tempo ficasse afastada de House, ele sempre causaria impacto em suas emoções.

E quando os olhos dele se fixaram nos seus, ela soube que House também não a havia esquecido. Fora apenas um pretexto para um dia, talvez, encontrá-la de novo. E isso foi o bastante para fazê-la sorrir.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.