Camilly P.O.V

E a aula foi normal. Por incrível que pareça, foi normal. Parece que não, parece que estou mentindo, pois as pessoas dessa escola não têm muita sanidade mental, mas é verdade. A aula foi tranqüila.

No intervalo o meu irmão ficou na minha cola. Mas tudo bem, ele me acompanha para ser vela. Sim, porque todos os dias eu fico com a Mely no intervalo, independente se ela está namorando ou não.

A aula acabou e eu fui para minha casa. Minha mãe me disse o porquê Pablo se mudou para a minha escola.

“- Porque depois do vaso quebrado na cabeça da sua irmã, eu já fico imaginando o que você faz com as pessoas da sua escola.”

Incrível como minha vida não é normal.

Então eu passei o dia todo enfurnada dentro de casa, sem poder sair, sem querer sair.

Eu não estava muito animada. Muito? Nem um pouco animada.

Parece até que eu estava doente. Passei o dia todo dentro do meu quarto, ouvindo musica e mexendo no computador. E às vezes eu desenhava. É, eu não sou das melhores, mas eu faço uns rabiscos aí.

Até a chata da minha mãe foi ver o que estava acontecendo comigo. Ela abriu a porta bem devagar e perguntou com a maior calma:

“- Você está bem filha? Quer que eu te faça alguma coisa?

Ah, mas eu não ia deixar essa passar, não é? Claro e obviamente que eu ia me aproveitar disso:

“- Não... Só estava afim de pão de queijo, só isso mesmo...

E eu respondi com tanto tranqüilidade que ela caiu certinho.

Depois de meia hora eu estava me empanturrando de pão de queijo.

Isso realmente não chega a ser normal, uma garota elétrica como eu ficar no quarto o dia todo. Mas enfim, foi minha programação de hoje.

E agora, anoiteceu. Eu não sei se eu limpo a bagunça do meu quarto ou se eu jogo tudo debaixo da cama e durmo.

É melhor eu limpar.

Peguei todas as folhas amassadas que forravam a escrivaninha do meu quarto e só deixei as folhas que estavam limpas e salvas.

Joguei tudo no lixo, e voltei ao quarto com uma vassoura e uma pá, para limpar as migalhas do santo-pão-de-queijo que minha mãe comprara para mim.

Limpei tudo.

Percebi que só havia dois desenhos limpinhos em cima da minha escrivaninha, e fui ver o que era.

O primeiro era um desenho que Mely fizera, que mostrara eu e ela quando crianças. Realmente o desenho estava ótimo, resolvi guardar na minha pasta colorida de desenhos.

E o segundo, era um desenho que eu mesma fiz, hoje. Não está muito bom não, mas eu supero. Desenhei-me como me sinto: isolada em um campo de flores, com meu coelho de pelúcia.

Não é de se entender mesmo, mas é assim que eu me sinto. Como uma criança, que não pode e não quer fazer nada para sair da solidão.

Mas enfim, guardei esse também. Arrumei minha cama e me deitei.

Amanhã será um novo dia.

Eu estaria dormindo bem até agora se Pablo não estivesse assistindo TV.

Levantei da cama com uma preguiça enorme e fui até a sala.

- Desliga essa TV palhaço, eu quero dormir. – Eu disse dando um tapa na nuca do meu irmão.

Fui até a cozinha beber água, e minha mãe estava acordada.

- Mãe, o que você está fazendo de pé a essas horas? – Eu pedi.

- Essas horas? Não são nem 21h00min ainda! – Ela respondeu.

Pô, nem nove da noite ainda... Mas enfim. Eu bebi água e voltei para cama.

A noite foi normal, dormi bem.

***

E assim como todos os dias eu acordei cedo, tomei banho, me troquei, comi, escovei os dentes e fui para a escola.

E são assim todos os dias.

Sem nenhuma novidade, nem nada que agite minha vida.

O Bruno, aquele retardado, não fala nem um “piu” para mim, depois que eu soquei o olho do amigo dele. Ah, e nem o Taylor fala nada da Mely, que eu saiba.

Bom, claro que deve estar falando, mas por trás.

E sem esquecer que todos os dias o Taylor-cara-de-esquilo olha feio para ela e Luck.

E era assim. Eu ia para escola, voltava para casa e ficava a tarde inteira sem fazer nada. Teve um dia, que eu fui ao shopping, mas o filme que eu assisti com Mely nem era tão bom assim.

E se passavam os dias.

Semanas.

Meses.

E então, estamos em Junho. Mês no qual eu faço aniversário, mês no qual eu espero que as coisas melhorem, mês em que eu não quero e nem posso ficar trancada no meu quarto sozinha.

Mês em que tudo vai mudar.