Triplex

Tamanho não é documento? Parte 1


Depois da conversa entre Krystal, Junho, Suzy, Fei, Nichkhun, Nana e Victoria que o falso casal ia manter as aparências por mais uns dias, para que não ficasse obvio que o relacionamento era armação. Todos os casais foram embora bem cedo naquela manhã, deixando o trio de moradores sozinhos novamente.

— Pode deixar que a gente arruma isso Khun. — Victoria avisou quando viu que o rapaz de dirigia com dificuldade até a pia da cozinha lavar os pratos.
— Você arruma, não é, porque eu terei que sair daqui a pouco, tenho um ensaio de fotos e não posso estragar as unhas.
— Eu posso fazer isso meninas, não estou inválido.
— Mas vai ter que ficar em pé por mais tempo do que o recomendado. — Victoria disse.
— Eu posso simplesmente pegar um banco e me sentar em frente a pia. — ele disse meio mal humorado.
— Ok, não precisa ficar rabugento.
— Não estou rabugento, só não gosto de ser tratado feito um bebê, eu sou um homem!
— A gente não esqueceu isso Khun, você faz questão de lembrar todos os dias. — Nana disse animadamente, saindo em direção a porta. — Se bem que já faz uns dias... — Ela acrescentou rindo, fugindo de uma chuva de espuma jogada por Nichkhun.
— Você me aguarde Nana! Vai ver só quando eu estiver bom!

Victoria riu baixinho pra não irritar Nichkhun e ficou observando o rapaz lavar a louça.

— E você? Não tem nada melhor pra fazer, não?
— Melhor não, pelo contrário tenho aula de teatro na agencia...Com o G.O...
— Mas hoje não é sábado?! Você não tem aula aos sábados! – Nichkhun disse, alterando a voz ligeiramente.
— Acontece que o traste precisa de um intensivo e o professor resolveu marcar com todo mundo.
— Isso parece armação, tem certeza de que você vai?
— Isso é uma pergunta ou um aviso? — Victoria perguntou, desconfiada.

Nichkhun deu de ombros, concentrando-se na louça dentro da pia.

— Entenda como quiser.
— Você anda tão nervosinho, nem parece que tem passe livre pra ficar o dia todo com a sua fisioterapeuta bonitona.
— E quem disse que ela é bonitona? Vai ver é uma dessas ajuhmas parrudas e mal humoradas...
— Eu não tenho tanta sorte Khun... — Victoria disse atrapalhando os cabelos do rapaz e dando-lhe um beijo na bochecha, um sorriso leve passou pelo rosto dele. — Mas pra não dizer que eu só vivo reclamando e te controlando a rédeas curtas vou sair rapidinho e não vou nem ligar pra saber noticias.
— Oba! — Nichkhun disse rindo.

Victoria o acertou com uma colher de pau.

— Não dá pra confiar em você hein?
— Vai dizer que você não vai me deixar sozinho só porque eu não vou poder fazer nada com a fisioterapeuta?
— Isso é verdade. Mas eu preciso realmente ir ao ensaio, então não abuse da sorte, posso chegar a qualquer momento. Se quer meu conselho, é melhor se preocupar com a Nana, ela é mais perigosa que eu.
— Verdade. Vai lá então, te vejo mais tarde. — Nichkhun deu-lhe um selinho nos lábios e ela saiu.

******
Nana e Victoria tinham acabado de sair quando a campainha do elevador privativo tocou, Nichkhun achou estranho porque o porteiro não anunciou que havia alguém subindo para o triplex, imaginou que pudesse ser uma das duas voltando pra pegar algo que haviam esquecido. Deixou as muletas na cozinha e foi mancando abrir a porta.

— Que foi que você esque... — alguém trombou com ele antes que ele pudesse completar a frase e por muito pouco não o derrubou no chão.
— Me desculpe. — Uma mulher disse. — Você está bem?

Nichkhun estranhou a voz diferente e levantou o rosto para ver de quem se tratava. Era uma moça a quem ele nunca tinha visto antes, tinha longos cabelos castanhos, pele levemente bronzeada e praticamente da mesma altura de Victoria. Usava roupa branca e uns óculos estilo gatinho também de aro branco, que lhe davam um ar meio nerd que Nichkhun achou não combinar com sua figura física, mas ainda sim a deixava bonita.
— Tudo bem... Você, quem é?
— Park Hyomin, sua fisioterapeuta.
— Ah, é verdade, o pessoal do plano de saúde falou que você viria hoje, mas esqueceram de me falar o seu nome e o horário exato da visita.
— Acontece às vezes, muita gente pra atender, só espero não ter interrompido nada, você parecia estar esperando alguém...
— Não, não. Hoje eu estou livre, até onde as dores me permitirem. — Nichkhun disse meio sem pensar, mas soou como sempre, como uma cantada. “Se Victoria ou Nana me ouvissem dizendo isso, me matariam.” Ele pensou consigo mesmo, e riu.
— Eu disse algo engraçado?
— Não, sou eu que estou ansioso para começarmos, não aguento mais essas dores.
— Ok, pode deitar no sofá.
— Deitar? — Nichkhun disse, estranhando o pedido. — Não íamos começar a sessão?
— Claro, mas antes eu preciso usar seu banheiro, asepsia... Sabe como é, não é? — Hyomin disse inocentemente, sorrindo.
— Ah sim, claro, pode usar o primeiro banheiro à esquerda, naquele corredor.

A moça assentiu e seguiu pelo corredor carregando a maleta branca que tinha em mãos. Nichkhun ficou achando que ela demorava demais para voltar, que pudesse ser alguma armação, pois a garota parecia muito nova para ser fisioterapeuta.

— Está ficando desconfiado como Victoria, Nichkhun. — ele disse consigo mesmo.
— Como é?
— Nada não, Hyomin? É esse mesmo seu nome não é?
— Sim.
— Podemos começar logo?
— Ainda não, você não pode fazer os exercícios usando calça jeans.
— Você quer que eu tire a calça?! — Nichkhun disse nervosamente. — Podia pelo menos me peguntar meu nome antes...

A garota corou imediatamente.

— Eu já sei seu nome senhor Horvejkull.
— Ninguém me chama assim, pode me chamar de Nichkhun. Me desculpe a indelicadeza.
— Tudo bem, eu devia ter me explicado melhor, é que a calça jeans limita seus movimentos.
— Eu já estou bem limitado. — Nichkhun comentou. — Quer que eu suba e vista um short?
— Você tem que subir escadas pra pegar o short? Se tiver, é melhor não... Não tem problema se você estiver de boxers. — Hyomin disse sem receio algum, mas também não pareceu empolgada ou qualquer coisa do tipo, o que assustou um pouco Nichkhun. — Não precisa ter vergonha, se soubesse tudo que eu tenho que ver todos os dias.
— Não é vergonha, é que de qualquer forma eu tenho que ir trocar de roupa... Se é que você me entende.
— Ah sim... Não é bom pra você ficar subindo escadas, muito menos antes da fisioterapia. Não quer que eu pegue algo pra você vestir? Onde é sua área de serviço?

Nichkhun teve que pensar rápido, mesmo sendo fisioterapeuta e tendo que zelar pela privacidade do paciente ela não poderia saber que Victoria e Nana moravam com ele, pois ela faria visitas constantes ao triplex. “Em qual cômodo há mais roupas delas? Não me lembro de elas terem deixado alguma roupa no meu quarto, Victoria faz questão de tirar tudo de lá, até as roupas da Nana... E a área de serviço tem roupa lavada... calcinhas lavadas... Uma coisa é achar roupa intima jogada pelo quarto e outra é achar lavada no varal... Roupa no varal é coisa de residente... Mande ela pro quarto Nichkhun!”

— Se você puder me fazer essa gentileza... Meu quarto é no terceiro andar.
— Terceiro andar?! Você anda subindo três lances de escada sozinho?
— Não, sempre tem alg... Quero dizer, sempre tem o elevador, ele é privativo, esqueceu?
— Ah é... Onde é seu quarto mesmo?
— Terceiro andar, corredor da esquerda, primeiro quarto à direita. Há uma porção de shorts na primeira gaveta, pode pegar o que você achar mais adequado.

Hyomin mais uma vez assentiu e sumiu de vista, ela demorou a voltar e Nichkhun julgou ser por causa do tamanho do apartamento e por ela não conhecer bem o lugar. Ela voltou quase dez minutos depois trazendo um short preto cuidadosamente dobrado nas palmas das mãos, ela parecia um tanto chocada.

— Você mora nesse apartamento enorme sozinho?
— É... Sim, eu moro aqui sozinho, mas sempre vem gente me visitar.

Ela entregou o short para corrida, daqueles que tem um forro por dentro, em mãos, ainda observando ao redor, espantada com o tamanho do apartamento. Nichkhun ficou observando-a até que seus olhos se encontraram novamente.

— Gostou do que viu? — Nichkhun disse sorrindo.
— Lindo... — Hyomin respondeu ainda entretida com a sala de estar.
— Então, antes que você fique impressionada com mais um espetáculo, será que você pode se virar pra eu poder me trocar?
— Ah sim... Ok.
Hyomin ficou vermelha por um instante e se virou, relutante para outro lado.

— Pronto, já estou devidamente vestido, comecemos?
— Sim, deite-se de novo no sofá... Melhor, no tapete, porque aí eu vou ter mais espaço.
— De barriga para cima?

Ela confirmou e se ajoelhou ao lado de Nichkhun, ela pegou-lhe por trás do joelho e levou a perna devagar até em cima.

— Se começar a doer me avisa...
— Pode ter certeza de que vai ficar sabendo... Ai!
— Já?
— Sim, está doendo.
— Mas eu nem te encostei direito!
— Mas está doendo. Aqui, você não é muito nova para ser fisioterapeuta não?
— Me formei há pouco tempo... Não se preocupe, eu sei o que estou fazendo.

Ela continou fazendo o mesmo exercício por mais alguns minutos, em silêncio, por parte dela, porque ele gemia de dor vez ou outra. Ela fez um intervalo no exercício para apalpar um ligamento perto da virilha e Nichkhun estremeceu.

— Dor?
— Mais ou menos.
— Vou continuar pra saber até onde se extende a lesão, ok?
— Espera!
— Que foi? Não dá pra saber isso por um exame? Eu trouxe vários do hospital. — Nichkhun disse nervosamente.
— Claro que dá, mas já faz dias que você fez esse exame, você pode ter tido alguma alteração. — Hyomin insistiu.

Ela desceu a mão novamente para o ligamento da virilha e apertou, Nichkhun gemeu baixo e se desvencilhou para o lado, levando as duas mãos ao quadril.

— Te machuquei?! — Hyomin disse inocentemente, um tanto sobressaltada.
— Não exatamente, eu é que estou muito sensível, essa parte é muito sensível.

Hyomin pareceu ignorar o comentário, e Nichkhun não soube dizer se era proposital ou se era simplesmente porque estava acostumada com os pacientes que atendia.

— Se está sentindo tanta dor assim, melhor ligar pro seu médico e pedir uma dose de analgésico, aí eu volto outro dia.
— Não! Eu realmente quero acabar com isso logo, só me dê uns segundos pra me preparar... Não podemos simplesmente começar com os exercícios?
— Está bem, é só fazer o que eu disser.

******

Nana estava se preparando para a sessão de fotos acompanhada de Minwoo, ela estava mais silenciosa, o que não era muito comum e o levou a pensar que ela estava com algum problema ou algo parecido. Se aproximou para tentar a abordagem discreta de sempre, porque há meses queria descobrir o que ela andava escondendo.

— E aí gatinha, está pronta?
— Quase oppa. — ela disse distraída, mexendo nos botões da roupa, que na verdade já estavam abotoados.
— Algum problema? — ele disse ainda cuidadoso.

Ela se virou para ele sorrindo com os lábios, e as mãosna cintura.

— Você anda exageradamente preocupado comigo, eu é que pergunto. Algum problema?
— Nenhum, só achei que você está muito calada hoje. Você não é assim quieta.
— Tem razão, e você também não é enxerido sempre, só nos últimos meses. — Nana respondeu ainda sorrindo, mas Minwoo se assustou um pouco. — Brincadeira!
— Você está de TPM? Quer conversar? Ou quer que eu vá embora?
— Não, você sabe que eu não tenho essas coisas, na verdade eu queria te perguntar uma coisa.
— Tenho que me preocupar?
— Não, é só uma pergunta mesmo. Como você faz para evitar que eu me meta em algum escândalo com a imprensa?
— Ok, tenho que me preocupar. Por que está me perguntando isso, você fez algo de errado?
— Algo de errado eu sempre faço. — Nana disse rindo, mas Minwoo não entendeu o motivo. — Só perguntei porque já faz meses que não sai nada de estranho a meu respeito nas revistas, isso quer dizer que você está fazendo um ótimo trabalho.
— Você está fazendo elogios, que é que você quer que eu conserte?
— Nossa que desconfiança, até parece que eu escondo coisas de você. — Nana disse forçando inocência.
— Até parece que eu acredito nesse seu drama Nana, joga a bomba de uma vez.
— Não tem bomba alguma, só me bateu uma curiosidade de saber como é que você evita os escândalos, talvez seja útil para algum amigo meu.
— Amigo homem? — Minwoo pescou a dica no meio das palavras de Nana, surpreendendo-a.
— Talvez, vai me dizer ou não?
— Só se me disser que o escândalo que você quer evitar não tem nada a ver com você.
— Isso eu não posso garantir, só posso dizer que não é diretamente ligado a mim, só estou tentando ajudar.
— Nada convincente. — Nana fez uma cara de impaciência pra ele. — Ok, tudo que eu faço é prever o tipo de historia que uma foto ou um comentário seu podem render e envio comentários à uma repórter antes que qualquer coisa seja publicada.
— Reporter mulher? — Nana disse rindo, reproduzindo a mesma fala de Minwoo, que riu imediatamente.
— Sim, repórter mulher.
— Desculpa oppa, mas acho que você convence a imprensa de outra maneira.
— Nem é assim, eu realmente mando as notas antes, só que essa minha amiga me ajuda, é uma questão de ser bem relacionado com a mídia.
— Você tem sorte de não ser famoso, porque teria muito mais escândalos do que eu já tive.
— Não sei do que está falando.
— Sei dos seus segredos de alcova rapaz... Strip tease de toalhinha, lembra?
— A Victoria te contou isso?!
— Sim, e me contou outras coisas também.

Minwoo arregalou os olhos em pânico.
— Que foi que ela te disse?
— Ah isso eu não vou dizer agora, vou guardar pra usar contra você depois.
— Você está blefando, vocês nem são tão amigas assim, são?
— Somos, amigas até demais, dividimos coisas que você nem imagina.
— O que, por exemplo? — Minwoo disse maliciosamente.
— O que está insinuando?
— É que eu sei que a Vic está namorando, e como eu não sei que é o sujeito e sempre que a vejo está com você...
— Ai não seu pervertido! Não é nada disso. — Nana deu-lhe uns tapas.
— Vai saber... — ele disse rindo.
— O que? Você foi tão ruim assim que fez a Vic virar a casaca?
— Não, mas se duvida eu posso provar.
— Que isso oppa? Está dando em cima de mim? — Nana disse rindo.
— A necessidade faz coisas. — Minwoo riu junto.
— Falando em necessidade, voltemos ao problema.
— Então há um problema, e é a necessidade de...

Nana revirou os olhos fingindo impaciência.

— A necessidade de colocar em circulação uma versão de uma historia antes que a verdadeira historia tenha chance de aparecer.
— E você não vai me dizer por conta própria o que você tem a ver com isso...
— Exatamente. — Nana disse travessamente.
— E como vou confiar em você?
— Não confia, só obedece. Eu assumo a responsabilidade se algo der errado... Se bem que eu realmente não estou envolvida na historia, só com a historia.
— Você sabe que eu não entendo metade do que você diz não é?
— Assim é que eu gosto.
— Então o que quer de mim é apenas o contato?
— Desde que não seja contato sexual... — Nana disse rindo.
— Eu estava falando da repórter... Você só pensa nisso ultimamente. — Minwoo disse, um tanto inquieto e desconfiado.

******

Victoria apareceu para a aula quase uma hora antes de começar, não havia muitos alunos no pequeno teatro da agencia, então ela se sentou no canto mais reservado com um livro pra se distrair. Não conseguiu ler nem um parágrafo sequer porque foi interrompida por um beijo na bochecha, que ela rejeitou imediatamente, já sabendo de quem se tratava.

— Ai ByungHee! Não seja abusado.
Ele se sentou na cadeira ao lado, rindo, e pos os pés apoiados na cadeira da frente.

— Isso foi só um cumprimento carinhoso, de amigos, não é isso que nós somos agora?
— Ainda não decidi sobre isso, e enquanto isso não acontece, nada de beijos na bochecha. — Victoria disse voltando a concentrar-se no livro.
— Em outros lugares pode? — ele disse aproximando o rosto do pescoço dela.

Victoria se afastou empurrando o rosto do rapaz com a mão, sem olhar pra ele.

— Isso é um não, suponho.
— Claro que é um não, porque não vai estragar o dia de outra pessoa?
—Porque não tem muita graça, essas garotas não me despertam nenhum interesse.
— Está fazendo voto de castidade?
— Talvez, e se estiver?
— Vai estar fazendo um grande favor à humanidade, e vai garantir seu lugar no céu.
— Você chupou limão hoje de manhã?

Victoria voltou o rosto para G.O sem entender a pergunta.

— Você está azeda hoje. Seu namorado não está te dando assistência? Ele está machucado não é?
— Veio aqui só pra me importunar hoje?
— Calma, só estava preocupado com o seu namorado.
— Ele não gosta de homens ByungHee, desiste.
— Se você está assim só por causa do beijinho que eu te dei, então não devia nem ter vindo a essa aula. Eu particularmente adorei que você veio, hoje eu vou ser um estudante exemplar.
— Do que está falando?
— Você vai ver daqui uns quarenta minutos quando a aula começar. Vou deixar você ler seu livro... À propósito, o que você está lendo?
— Madame Bovary.
—Nunca li...
— Já era de se esperar, mas eu também vou continuar sem ler se você não me deixar.
— Eu sei que é um clássico francês. — ele disse, ignorando a resposta de Victoria.

Victoria olhou meio surpresa para G.O, mas dominou a expressão.

— É a historia de uma mulher abandonada por seu amante... Familiar, não? — ela disse.
— Nem um pouco. — G.O comentou ironicamente. — Que eu saiba era ela casada...
— Isto é verdade.
— Então não vejo familiaridade em nada, não conheço ninguém que tenha tido um caso extraconjugal e tenha sido abandonada pelo amante.
— Enfim, eu não esperava mesmo que você visse a similaridade.
— Eu entendi a insinuação Victoria, não sou burro, só um pouco idiota.
— Ah você admite então?
— Sim. Mas você também não fica atrás.
— Está me chamando de idiota? — Victoria finalmente fechou o livro.
— Sim, porque não sabe a diferença entre amante e namorada.
— Bom, eu sei sim...
— Sabe mesmo? Porque pra mim, amante é aquela pessoa a quem você esconde dos outros, e namorada a gente conta pra todo mundo.

Victoria estreitou os olhos tentando decidir a quê exatamente G.O se refiria, se ao relacionamento deles ou se ao dela com Nichkhun.

— Esse é o seu conceito, não o meu. — Victoria concluiu o raciocínio, tentando não pensar na segunda possibilidade.
— Falando em conceitos, o professor chegou pra nos ensinar mais alguns.

E tinha chegado mesmo, o professor Mun de interpretação chegou segurando uma pilha de papeis e uma lista que ele colocou em cima de um bloco comprido de madeira, previamente posicionado no centro. O professor era um homem alto e muito bonito, tinha pouco mais de trinta anos de idade, pele levemente bronzeada. Era muito bem humorado e brincalhão, por isso os alunos mais velhos podiam chamá-lo de Eric, mas as alunas mais novas insistiam em chamá-lo de professor Mun. Como professor era bem exigente, raramente mudava de ideia sobre alguma cena ou se desconcentrava da aula com a risadinhas e gritinhos das alunas mais novas, que tinham uma queda por ele.

— Atenção classe! Vamos fazer uma maratona hoje, a aula vai ser bem intensa porque eu selecionei cenas de um clássico: Romeu e Julieta.

Ouviu-se gritinhos de excitação das garotas mais novas, olhares impacientes por parte dos rapazes, palmas por parte de G.O, e silencio por parte da Victoria. O professor Eric Mun esperou o silencio voltar para continuar.

— Eu tenho aqui uma lista designando cenas e papeis para cada um, lembrando que isso é só um exercício então não fiquem chateados por receberem papeis de menos destaque, entretanto, quero total dedicação de vocês, quero cenas dignas de espetáculo. — os alunos assentiram silenciosamente. — Então vou anunciar as cenas e os papeis.

O professor começou a anunciar nomes e cenas, já tinha anunciado uns dois Romeus e umas duas Julietas, para alunos mais jovens, para as cenas em que os dois não estavam juntos. Victoria já esperava o papel de Senhora Capuleto ou de Ama, quando o professor fez uma pausa dramática.

— E para a cena final, Victoria Song e Jung ByungHee.

G.O sorriu sem olhar para Victoria, que o estava observando.

— Ele armou, eu devia ter imaginado. — Victoria falou baixinho consigo mesma. — Mas professor Mun, Julieta tinha quinze anos, eu sou dez anos mais velha que a personagem, não vai ficar muito estranho?
— Como eu disse, é só um exercício, uma adaptação...
— Ok... — Victoria disse resignada, não havia muito o que fazer e a cena também não abria oportunidade para G.O fazer qualquer gracinha, por causa do peso dramático.
— Vou dar uma hora para vocês lerem o texto e se familiarizarem com o contexto da cena, depois começaremos os exercícios.

Victoria pegou o texto das mãos do professor e voltou para o canto onde estava sentada antes, seguida por G.O.

— Você armou isso não é?
— Não, foi pura sorte.
— Pra você... Pra mim não.
— Que foi, não tem capacidade de fazer a cena? Muito difícil?
— Não, não acho difícil e eu tenho plena capacidade de fazê-la.
— Então vamos lá, para o trecho em que você morre por mim.
— Não se esqueça de que Romeu morre primeiro...
— Eu sei, mas o que tem isso?
— Eu posso ver você morrer e sair viva da cena.
— Ei! Você não pode fazer isso!
— Posso sim, como o professor disse, é uma adaptação. — Victoria disse rindo e G.O fez cara feia, apesar de ter se divertido com o comentário.
— Ok, eu faço a cena direito e você faz a cena direito e ninguém sai insatisfeito.
— Você só diz isso porque sabe que tem um beijo na cena...
— Nem é por isso, consigo ser profissional, sou um artista lembra?

Victoria olhou pra ele, séria, avaliando se podia dar-lhe ou não credibilidade, acabou não respondendo nada.

— Além do mais é só um beijinho, já fomos muito além disso, não é? O quero é o seu corpo nu mesmo.
— Seu idiota! — Victoria disse batendo em seus ombros com o livro.

*******

— Alô?
— Oi Krys, sou eu, Nana.
— Aconteceu alguma coisa? Tem só algumas horas que eu saí da sua casa...
— Só avisando que já consegui uma repórter de confiança pra fazer a matéria.
— Já?! Mas não ficamos de esperar mais um pouco?
— Sim, mas eu me adiantei, falei com o Minwoo oppa.
— Ele sabe de tudo?! Como assim? — Krystal disse sobressaltada.
— Não, ele não sabe, só perguntei pelo contato. Ele vai ficar no meu pé, mas eu dou um jeito.
— Você é quem sabe, precisamos falar com o Khun e com a Suzy então...
— Eu falo com o Khun quando estiver em casa. Ele está fazendo fisioterapia agora.
— Com fisioterapeuta mulher? — Krystal disse rindo.
— Sim... Aqui, ao invés de ficar insinuando bobagens, porque não liga pra Suzy e marca de almoçarmos juntas?
— Vai chamar a Vic também?
— Ela não pode, está no curso de teatro, intensivão.
— Com o G.O o dia todo? Coitada. Ou não né? Vai saber de vocês... — Krystal disse rindo.
— Você não presta. — Nana disse rindo. — Então, te encontro daqui umas três horas.

Nana terminou de fazer a sessão de fotos duas horas depois, como previsto, e foi se encontrar com as garotas num restaurante reservado e completamente vazio, com excessão dos funcionários. Suzy foi a ultima a chegar porque vinha de outro compromisso.

— Sério, já cansei de ver a cara de vocês duas. — Suzy disse rindo. — Eu gosto de mulheres, mas já tenho uma.
— Vai ficar sem sorvete hoje, que criança abusada. — Nana disse rindo.
— Eu não sou criança, sou uma mulher.

Krystal e Nana arregalaram os olhos fingindo surpresa.

— Quer dizer que vocês já... — Krystal disse.
— Não, mas vocês me entederam. O que querem conversar?
— É sobre a farsa do término.
— Falamos disso hoje cedo, nem consegui pensar em qual vai ser meu comentário a respeito.
— Eu já imaginei várias formas de dizer, se quiser uma ideia emprestada. — Nana disse brincando.
— Não vamos precisar disso agora, te chamamos aqui pra falar do plano. Nana já falou com o manager dela e já arrumamos uma jornalista aliada.
— E já contaram a farsa toda pra ela?! — Suzy se sobressaltou.
— Claro que não, a ideia é ela saber só o que vocês disserem mesmo. Vai ser assim, ainda essa semana vamos lançar rumores do término, só pra ninguém mais ter chance de se adiantar na história, aí, bom, é com você e o Khun, mas vocês vão ter tempo pra pensar.
— Já falaram com o Nichkhun sobre isso?
— Ainda não, vou dizer assim que for pra casa.
— Só isso? — Suzy disse um tanto cética.
— Acho que sim. — Nana disse. — E nem faça essa cara que eu sei que você veio só por causa do sorvete.
— Isso é verdade.

As garotas almoçaram e ficaram de conversa por mais de uma hora até decidirem ir embora antes que o restaurante ficasse cheio e a pessoas notassem a presença de Nana e Suzy ali. Krystal voltou para a agencia para treinar com a desculpa de que o manager dela já estava no pé por ela ter dormido fora do dormitório na noite anterior. Nana estava de carro e Suzy concordou em ircom ela para o triplex para conversar com Nichkhun sobre o que haviam combinado.

— Nichkhun está em casa esse horário? — Suzy disse, entrando no elevador provativo do triplex.
— Está, ele disse que a fisioterapeuta ia atendê-lo lá mesmo.
— E você confia nele sozinho com a moça lá no triplex?
— Confio na contusão dele, essa sim impede que ele faça safadezas. Melhor que eu e Vic juntas. — Nana respondeu, rindo. — E também não acho que a sessão tenha durado muito, Khun estava mesmo sentindo muita dor à noite. Já faz umas cinco horas desde o horário que a fisioterapeuta marcou.

O elevador parou e a porta se abriu para dar visão a uma cena muito estranha, Nichkhun só de short, suando e grunindo feito um porco e a fisioterapeuta ajoelhada ao seu lado, puxando sua perna para cima com a outra mão no quadril do rapaz. Suzy desviou o olhar para Nana e viu que ela tinha uma expressão nada boa no rosto, que parecia prestes a avançar em um dos dois. Ela teve que pensar rápido, empurrou Nana para o lado e saiu na frente.

— Oi querido. — Suzy disse de forma nada amigável, cruzando os braços, numa perfeita interpretação.
— Oi... querida. — Nichkhun disse em meio a um espasmo de dor. — Fazendo o que aqui a essa hora?
— Interrompi? — Suzy continuava com a farsa, para o choque total de Nana.
— Imagina. — Nichkhun disse erguendo-se do tapete com os braços, afastando-se de Hyomin. — Já estávamos terminando, não é?
— Estávamos? — Hyomin disse desconcertada. — Ah, sim, estávamos. Bom, eu já vou indo...
— Ei você, espere aí. — Suzy disse num tom frio.
— Sim? — Hyomin respondeu sem virar-se para trás.
— Como é que ele está?
— B...bem, ainda sente dores porque está com inflamação, mas já pedi ao ortopedista para lhe receitar um analgésico.
— Me referia aos exercícios...
— Ah sim, evoluímos bem hoje, assim que tratar a inflamação ele vai estar quase bom.
— Ok, obrigada, pode ir.

E a jovem fisioterapeuta saiu quase que correndo do apartamento.

— “Evoluímos bem hoje” — Nana disse numa péssima imitação da voz de Hyomin. — E vocês lá são Sapucaí pra evoluir?

Suzy riu baixinho do comentário.

— Calma Nana, a moça só estava fazendo o trabalho dela. — NIchkhun disse, secandoo suor com a camiseta que estava jogada no chão. — E você Bae Suji, que medo, que foi que deu em você?
— Não deu nada em mim, só estava evitando um desastre.
— Você foi bem convincente, me assustou, e assutou a garota também.
— Sou uma atriz esqueceu?
— Falando em garota, eu quero saber uma coisa, essa...
— Hyomin. — Nichkhun completou.
— Você já está a tratando pelo primeiro nome? — Nana disse com certo desprezo. — Não é muito nova pra ser fisioterapeuta?
— Foi indicação do plano de saúde. E ela fez o serviço direito, quase nem falou o dia todo.
— Vai ver ela estava com a boca ocupada.

Suzy ficou vermelha e baixou a cabeça, e Nichkhun se levantou quase num salto, com a perna boa, claro.

— Nana! Você está exagerando!
— Ok, eu sei. Mas usar camisa não tem utilidade nessa casa não?
— Tirei agora a pouco porque estava suando muito, por causa da dor.
— Mas você podia ter colocado um short maior, esses aí de corrida não cobrem quase nada.
— Isso aí é culpa da genética, não minha. — Nichkhun disse rindo, se aproximando pra tocar os cabelos de Nana, que se desviou um pouco.
— Nem vem, que nem cueca você está usando, desistiu dessa peça de roupa também?
— Eu volto mais tarde. — Suzy disse constrangida.
— Espera, tem sorvete na geladeira, eu te chamo quando acabarmos de conversar.
— Não pode me comprar com sorvete duas vezes no mesmo dia! — Suzy respondeu rindo e Nana olhou feio pra ela.
— Ok, já vou.

Os dois esperaram a garota sair para continuar a conversa.
— Você está exagerando... — Nichkhun disse segurando-a pela cintura, dessa vez ela não tentou desviar.
— Você não usa cueca desde ontem, como recebe alguém, uma mulher, nessa casa usando só isso?!
— Na verdade ela escolheu o short, eu estava de calça jeans e...
— Como assim ela escolheu o short?
— Calma, me deixa explicar. — Nichkhun disse pacientemente, já acostumado com esse tipo de surto. — Eu estava de jeans e ela disse que eu teria que trocar, mas não me deixou andar até o quarto, então eu falei que haviam shorts na gaveta do armário do meu quarto e ela me trouxe.
— E ela foi ao seu quarto sozinha?
— Melhor que comigo junto não é? — ele disse beijando-lhe o pescoço. — Vamos lá pra cima um pouquinho, hein?
— Não, não resolvo problemas na cama, isso é coisa da Vic, não minha.
— E o que você faz na cama afinal? — Nichkhun disse franzindo as sobrancelhas.
— Eu celebro, e eu não tenho motivos pra celebrar hoje. E você, não prometa o que não pode cumprir.
— Quem disse que eu não posso?
— Ué, você já testou? Porque até ontem à noite você não estava bem. — Nana disse, cerrando os olhos perigosamente.
— Cansei disso. — Nichkhun disse soltando os braços da garota. — Você não era assim antes.
— Eu sei disso, acha que eu tenho controle das minhas mudanças de humor? Ok, eu admito que estou exagerando, mas você não colabora.
— Acredite, não fiz nada de mais, estava me esforçando ao máximo pra ficar bom logo.
— Me desculpe.

Nichkhun voltou pra perto dela e a beijou.

— Melhor agora? — ele disse sorrindo.
— Sim. Mas que fique claro que você teve sorte, porque se fosse a Vic que tivesse chegado aqui de repente ia dar em caso de polícia.
— Eu tenho uma mínima ideia. Aposto que se eu mesmo for lá de repente ver o que ela anda fazendo, não vou ficar nada satisfeito. Onde tem G.O, tem coisa errada.

******

A cena que iriam representar era obviamente mais curta e suscinta que a original e também faltavam-lhe personagens. Victoria ficou lendo o texto durante quase uma hora, em silêncio, ignorando completamente a presença de G.O enquanto ele mesmo lia, de forma um pouco mais agitada que ela. Quando finalmente notou a expressão tensa no rosto da moça ele voltou-se para ela.

— Como vamos encenar se você não pratica comigo?
— Estou decorando o texto, me deixa.
— Não, você não está decorando o texto, está tentando fotografá-lo com os olhos, que foi, não consegue memorizá-lo? — G.O disse num tom de provocação.
— É mais fácil pra você que fala coreano desde que se entende por gente, se é que um dia você foi gente.
— Desculpas, e mais desculpas, é só isso que você faz.
— Para o seu governo eu já tenho o texto decorado e o como eu pretendo fazer pra cena ficar o mais realística possível.
— Ah é? E o que pretende fazer?
— Pensar no Nichkhun. — Victoria disse baixinho. — E você devia fazer o mesmo, pensar em alguém que realmente se importa com você.
— Sabe, eu tenho um ditado próprio, ele diz que se você incomoda alguém realmente se importa.

Victoria riu alto e acabou chamando a atenção das outras pessoas, inclusive o professor Mun, que se aproximou rápidamente.

— Vocês dois não me parecem que vão cometer suicídio em alguns minutos. — Ele comentou de forma bem humorada, mas sem alterar a voz.
— Em alguns minutos?! — Victoria disse surpresa.
— Sim, vocês serão os primeiros, algum problema?
— É que essa é a cena final, deveríamos ser os últimos...
— Eu não tenho nada contra. — G.O disse céticamente, certamente por causa da interrupção.
— Essa é a ideia do exercício, achar o tom da cena mesmo estando fora de contexto ou de ordem cronológica. — o professor Mun virou-se e saiu para chamar a turma. — Pessoal, todos pra fora do palco agora, só Victoria Song e Jung ByungHee.

Victoria soltou um suspiro de frustração e raiva e seguiu na frente de G.O para o centro do palco, onde o bloco de madeira estava localizado. Ela deitou-se de olhos fechados a espera da autorização do professor, G.O tirou o casaco, desabotoou a camisa até a metade e se sentou ao lado do bloco, com o rosto próximo ao de Victoria.

— Vamos lá Julieta? — ele lhe disse baixinho ao pé do ouvido, e ela não respondeu, manteve-se imóvel feito morta, como a cena pedia.
— Atenção... Comecem. — disse o professor.

G.O respirou pesado e choramingou antes de dizer a fala.

— Quantas vezes, no ponto de morrer, ledos se mostram os homens? Ó meu amor! querida esposa! A morte que sugou todo o mel de teu doce hálito poder não teve em tua formosura. — Assim que ele começou a falar, apesar de se perder no sentidos das palavras, Victoria se surpreendeu, mas não moveu um só músculo. — Não; conquistada ainda não foste; a insígnia da beleza em teus lábios e nas faces ainda está carmesim, não tendo feito progresso o pálido pendão da morte. Ah! querida esposa, por que ainda és tão formosa? Pensar devo que a morte insubstancial se apaixonasse de ti e que esse monstro magro e horrível para amante nas trevas te conserve? Com medo disso, ficarei contigo, sem nunca mais deixar os aposentos da tenebrosa noite; aqui desejo permanecer, com os vermes, teus serventes. Aqui, sim, aqui mesmo fixar quero meu eterno repouso, e desta carne lassa do mundo sacudir o jugo das estrelas funestas. Olhos, vede mais uma vez; é a última. Um abraço permiti-vos também, ó braços! Lábios, que sois a porta do hálito, com um beijo legítimo selai este contrato sempiterno com a morte exorbitante. Vem, condutor amargo! Vem, meu guia de gosto repugnante! Eis para meu amor. — ele fingiu beber de um frasco imaginário. — Ó boticário veraz e honesto! Tua droga é rápida. Deste modo, com um beijo, deixo a vida. — e caiu sobre o ventre de Victoria.

Era a deixa para Victoria continuar a cena, e não demorou a despertar como Julieta, totalmente concentrada no que tinha que fazer.

— Que vejo aqui? Um copo bem fechado na mão de meu amor? Certo: veneno foi seu fim prematuro. Oh! Que sovina! Bebeste tudo, sem que me deixasses uma só gota amiga, para alivio. Vou beijar esses lábios; é possível que algum veneno ainda se ache neles, para me dar alento e dar a morte. — e ela aproximou o rosto para dar o beijo, mas assim que seus lábios se tocaram G.O estremeceu com certa violência.
— Jung ByungHee, a cena estava ótima, você não podia ter se mexido! — o Professor Mun gritou da plateia, visivelmente chateado com o resultado da cena. — Os próximos, no palco agora, por favor. E vocês dois, desçam e venham ensaiar mais. Victoria ensine pra ele que o que está morto tem que continuar morto!
— Seria um prazer se isso não desse cadeia. — ela disse baixo, o suficiente pra só G.O ouvir.
— Desculpe-me professor Mun, mas eu realmente preciso ir embora. — G.O disse de repente.
— Você é quem sabe. — o professor disse com indiferença.

G.O pegou o casaco e saiu apressadamente pela porta, Victoria foi logo atrás, curiosa para saber o que tinha dado no rapaz. Não demorou até que ela o alcançasse no estacionamento do prédio.

— Que foi que deu em você?
— Não deu nada em mim, só preciso ir embora. — ele disse, tentando abrir a porta do carro com a mão que segurava o casaco, sem sucesso.
— Não era você que estava ansioso pra fazer a cena?
— Agora estou ansioso por outra coisa, parabéns você brilhou, tchau. — ele disse, finalmente abrindo a porta, mas Victoria bateu a porta antes que ele conseguisse entrar.
— Está com medo de mim ByungHee?
— Não, se você não me deixar vou acabar fazendo bobagem. — ele se virou para ela, mas não a olhou, estava suando, apesar de o tempo estar ameno.
— Você está sempre fazendo bobagens.
— Não a bobagem que eu estou com vontade de fazer. — G.O levantou os olhos, tirando o suor do rosto com uma das mangas da camiseta branca que estava usando.
Victoria riu alto.
— Não dá pra te levar a sério não é? Você disse que tentaria ficar na boa, ser meu amigo...
— Por isso mesmo, é o que eu estou tentando.
— Não parece...
— Eu nem encostei em você!
— Espera aí, você disse que não está fazendo bobagens... Há quanto tempo você não namora ninguém? Desde a Suzy? Se bem que essa não conta né? — ela disse rindo.
— Não é da sua conta.
— Somos amigos, não? Quer dinheiro emprestado pra você arrumar uma das suas namoradas? — Victoria disse com sarcasmo a ultima palavra.
— Quem te disse que preciso de dinheiro?
— Eu deduzi, já que você não está trabalhando e vive num hotel de luxo...
— Eu não disse isso! Você sabe que eu não preciso de dinheiro, nem pra viver nem para aquilo... Posso muito bem me virar se eu quiser.
— Acontece que está obcecado em me importunar, por que não arranja uma namorada? Uma que não esteja só nos seus sonhos ou no seu passado.
— Não consigo... Você sabe, nada se compara.
— Ai não, sem cantada barata. Aposto que você nem tentou, sério, a primeira moça bonita que aparecer pela frente eu te apresento.
— É isso que eu mereço, uma qualquer que passar pela frente?
— Claro, ou você acha que eu te apresentaria a qualquer das minhas amigas solteiras? — Victoria riu e G.O esboçou um sorriso. — Isso quer dizer que você vai tentar?
— Tentar o que?
— Parar de me importunar e arrumar uma namorada?
— Posso tentar, mas e se não der certo? Você me consola? — G.O disse maliciosamente.
— Claro que não, o que consola o Romeu é o veneno, não?

******

Victoria voltou para o triplex e encontrou Nichkhun sentado no sofá assistindo Nana zanzar pela casa com um vestido de seda preto aparentenmente caríssimo, que tinha fendas dos dois lados das pernas. Ela tinha um compromisso de trabalho e já estava terminando de se arrumar, saiu de um dos corredores colocando brincos de cristais Swarovsky.

— Vai mesmo sair com esse vestido? — Nichkhun perguntou, sério.
— Não vou responder Nichkhun, já é a quinta vez que você me pergunta isso!
— É que não é nada comportado...
— Temos uma conduta de vestimenta nessa casa? — Victoria interrompeu sentando-se ao lado de Nichkhun e dando-lhe o selinho nos lábios.
— Não, e é isso que eu estou tentando dizer ao Khun a mais de uma hora.
— Por que isso agora Khun?
— Você viu o que ela está usando? Devia se chamar “despido” e não vestido, não cobre nada!
— Pelo menos eu estou de calcinha sabe... — Nana disse calçando sandálias de salto alto.
— O que já é um milagre. — Victoria comentou, rindo, mas recebeu um olhar feio de Nana. — Desculpa. Espera um instante, o que ela quis dizer com “pelo menos eu estou de calcinha”?
— Pergunta seu namorado aí.
— Ué, agora o namorado é só meu?
— Não se empolga Victoria, foi só maneira de dizer.
— Você tinha que falar disso Nana?
— Disso o que Nichkhun? — Victoria disse séria.
— Nana está brava comigo porque eu recebi a fisioterapeuta com esse short.
— Não é bem por isso, é porque você não está usando nada por baixo.
— Me diz uma coisa, o que há debaixo desse vestido?
— Lingerie, por quê?
— E o que há debaixo da lingerie?
— Eu? — Nana disse insegura, sem entender o objetivo das perguntas.
— Pois então, se debaixo da roupa toda estamos pelados mesmo que diferença faz o número de roupas que estamos usando?

Victoria deu-lhe uns tapas nos ombros.

— Como assim não faz diferença? Há um minuto você disse o contrário pra Nana!
— Mas meu short cobre tudo, o vestido dela, não!
— Que modéstia a sua dizer isso Nichkhun. — Nana disse ironicamente.
— Não entendi Nana.
— Você explica Vic, você é melhor com os fatos e argumentos Vic, e quando eu digo argumentos, isso inclui tapas, pau de vassoura, rolo de macarrão, o que tiver em casa que possa ajudar. — Nana disse. — Saindo.
E ela deixou o apartamento em seguida quase correndo com os saltos altos.
— Quer explicar essa historia? — Victoria disse calmamente.
— Querer eu não quero não, mas foi uma pergunta retórica né? De quelquer jeito eu vou ter que explicar. A fisioterapeuta chegou logo depois que vocês saíram...
— Que conveniente...
— Enfim, eu atendi a porta sem usar muleta levei uma bronca da moça...
— Moça? — Victoria disse estreitando os olhos. — Era bonita?
— Sim era uma moça... Faz diferença se era bonita?
— Claro! Se ela fosse baranga a Nana não estaria irritada... E você não teria feito a graça de fazer a sessão sem roupa debaixo...
— Mas não foi culpa minha! Ela me deu uma bronca por atender a porta sem muletas e não me deixou andar até o quarto, eu falei pra ela que eu podia ir de elevador, mas nem assim. Então falei pra ela pegar um short no meu quarto... Eu não ia pedir pra ela pegar uma cueca pra mim não é?
Victoria analisou mentalmente o que Nichkhun tinha dito, parecendo pesar os argumentos, e não reagiu como o habitual.
— Não está irritada? Desvairada, louca da vida?
Victoria rangeu de leve os dentes e esboçou um sorriso.
— Não, eu falei que eu ia mudar em alguns aspectos, comecei por isso, os ciúmes.
— Conta outra, que foi que você fez de errado?
— Ok, não estou em posição de te xingar hoje.
— Está em posição de quê? — Nichkhun disse maliciosamente, e recebeu um olhar de censura de Victoria. — Você disse hoje... Aconteceu algo no teatro que eu deva saber?
— Tenho uma noticia boa e outra ruim a respeito...
— A ruim primeiro.
— Eu beijei o G.O... no teatro, mas, entretando , contudo — Victoria se apressou em dizer quando viu a expressão de Nichkkhun mudar — Eu propus algo pra fazê-lo sair do meu pé.
— Não entendi nada! Que negócio é esse de beijo e proposta?!
— Precisamos arrumar uma namorada pra ele...
— E quem vai querer aquele traste? Eu conheço várias garotas, mas não apresentaria nenhuma pra ele.
— Apresente a sua fisioterapeuta bonita e resolveremos dois problemas de uma só vez.
— Nem sei se a garota tem namorado, continuo achando maldade apresentar G.O pra qualquer mulher que seja, mas se é pra tirá-lo do nosso pé...
— Ele está no seu pé também? Surpreendente. — Victoria disse rindo.
— Engraçadinha... E que historia é essa de beijo?
— Foi técnico, o professor que pediu pra que fizéssemos uma cena... A morte de Romeu e Julieta.
— Ah sim... — Nichkhun disse pensativo, não podia dizer nada, afinal, ele também atuava. — E ele se aproveitou da situação?
— Não, ele fugiu...

Nichkhun riu alto.
— Fugiu?! Começando a concordar com a Nana, esse cara deve ser gay.
— O problema foi justamente o contrário... — Victoria disse baixinho.
— Como?
— Nada, eu não disse nada.
— E em que pé estamos? — Nichkhun disse referindo-se a discussão que achava que iam ter por conta do short.
— Você está em pé de sorte por eu não poder te xingar hoje, mas não quero que isso se repita, da próxima vez sei lá, use uma calça ao invés de um short pelo menos.
— Já disse que não fui eu que escolhi a roupa.
— Tanto faz.
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Nana encontrou com Minwoo no hall de um hotel onde a festa a que haviam sido convidados estava acontecendo.
— Tem gente mal interncionada hoje...
— Do que está falando?
— Desse vestido incrível Nana! — Minwoo comentou, realmente admirado. — Muito lindo mesmo.
— Alguém reconhece pelo menos... — Nana disse de forma seca, nada habitual.
— Alguém disse o contrário? — ele disse, curioso.

Nana estreitou os olhos ligeiramente.
— Ninguém...
— É um vestido bastante ousado, no entanto...
— Depende do ponto de vista...
— Do ponto de onde estou olhando a vista é ótima. — Minwoo disse, rindo.
— Oppa! Você anda muito estranho comigo!
— É brincadeira, mas vai ter que se acostumar com esse tipo de comentário, você sabe que não é mais uma garotinha...
— É, isso eu sei muito bem. — Nana disse, com um sorriso que pela primeira vez aparecia naquela noite.
— É, agora eu tenho certeza de que estou perdendo alguma coisa.
— Hum? Perdendo a mim?
— Não, deixei passar alguma coisa te dando mais liberdade, que é seu namorado?
— Ok, não vou negar que tem alguém, você obviamente já suspeita, mas prefiro não dizer quem é.
— Desde que você não arrange problemas, tudo bem.
— Sério?! Espera aí, você não vai ficar me espionando não né?
— Preciso espiar? Você tem fotógrafos por todos os lados.

Nana riu quase alto demais, chamando certa atenção dos outros convidados.

— E eu estou começando a duvidar da competência de todos eles.
— Preciso me preocupar?
— De maneira alguma, eu tenho me saído tão bem sem você que você não pode nem imaginar.
— Está me dispensando?
— Jamais, você é meu teste, se você que é meu manager e está o tempo todo comigo não descobriu antes, ninguém mais descobre.
— Me sinto idiota da forma como você fala, eu não estaria tão confiante.
— Não diga isso, vai atrair desastres!

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Passaram-se três dias desde o encontro com Krystal, Suzy, tinha ido encontrar com Fei na casa dela para saírem pra compromissos públicos da produção do drama, continuariam a promover as joias criadas por ela especialmente para o dorama e lançar uma nova linha de peças baseadas na história.

— Oi Fei! Está pronta? — Suzy disse cumprimentando-a com um abraço.
— Ainda não, acordei atrasada... — Fei disse. — Aliás, acabei de acordar. Senta aí no sofá que já já eu venho prontinha. Tem umas revistas na mesinha, chegaram hoje cedo, a faxineira deve ter deixado aí enquanto eu dormia...
— Não sabia que você assinava tudo isso. — Suzy falou alto para que ela pudesse escutar do quarto.
— Eu não assino, recebo todas as revistas em que minhas peças aparecem.
— Suas joias saíram em todas essas revistas?!
— Por que a surpresa?
— Você é rica! Acho que vou me aposentar mais cedo. — Suzy disse rindo.
— Isso foi um pedido de casamento?
— Ai não! Sou muito nova pra isso.
—Então está comigo por causa do meu dinheiro?
— Claro! Dinheiro, a vantagem de ter joias à disposição e você ainda me realiza um sonho: Quando eu era pequena meu sonho era ser pirata.

Fei riu alto de dentro do quarto.

— Vai ter que me roubar pra se considerar uma pirata...
— Se bem que a ideia de ser herdeira já me consola.
— Está planejando me matar? — Fei entrou novamente na sala já vestida, mas sem maquiagem. — Que acha desse vestido?

Suzy a olhou, estupefata.

— Eu posso esperar você ficar velha e acabada, porque seria um despedício matá-la agora, você está muito linda.
— Obrigada, você me espera só mais uns minutinhos? Vou me maquiar.
— Ok.

Suzy ficou folheando revistas em silêncio enquanto Fei terminava a maquiagem, contando quantas joias conseguia reconhecer do portifólio da designer.

— Que isso?! — Ela gritou de repente.
— Que foi? — Fei veio correndo do banheiro.
— Isso aqui! O que é isso? — ela disse sacudindo e apontanto pra uma revista de fofocas.
— Dá aqui. — ela tomou a revita das mãos da garota e começou a ler em voz alta. — Casal do momento em crise? Fontes confiáveis e próximas do ator, cantor e modelo Nichkhun Horvejkull afirmam que o relacionamento com a atriz Bae Suzy vai de mal a pior e que uma mulher ainda misteriosa pode ser pivô da separação. Teria sido legitimo ou só mais um golpe de marketing para mascarar a verdade?
— Você viu isso?!
— Vi e não entendi o motivo do pânico, é só mais uma fofoca de umas dessas colunistas estagiárias, nem assina o nome todo, aqui diz “P.H.M”, aliás, não chega a ser nem um parágrafo de notícia, quem vai dar credibilidade a isso?
— Não viu motivo pra pânico? Não tem nem três dias que eu conversei sobre isso com a Nana, on Khun, a Vic e a Krystal, e eles ainda não tinham decidido quando começaríamos a dar declarações a respeito. Alguém pode estar nos espionando...
— Pra mim parece mais invenção, um chute certeiro da colunista... Você está dando mais importancia que o necessário, e mesmo que soubessem de alguma coisa, te pouparam do trabalho de falar qualquer coisa com a imprensa, não?
— Você não prestou atenção no que eu prestei, aqui diz “uma mulher misteriosa pode ser o pivô”, não duas, não três, mas uma mulher! — Suzy disse quase esganiçando a voz. — E se essa mulher for você e não Vic ou Nana?
— Ah, isso... — Fei disse já assustada. — Se for isso então temos problemas, problemas sérios.
— Eu não disse?
— Calma, se a matéria diz que a mulher é misteriosa, então nem a colunista sabe, porque ninguém ia perder a oportunidade de publicar uma fofoca dessas na íntegra. Liga pra Krystal e pra Nana pra perguntar sobre a colunista.