Triplex

Freud explica?


Já fazia um mês em que os moradores do triplex viviam na mais pacífica rotina, bom, a palavra rotina não descreve nem representa bem a situação daqueles três jovens, mas considerando todos os acontecimentos, foi um mês sem discussões, sem crises de ciúmes, sem G.O. Enfim, foi um período pacífico porque os três estavam seguindo a sugestão de NichKhun de dividir a semana, Nana ficava com ele geralmente nas segundas, quartas e quintas, que eram os dias em que ela conseguia chegar cedo em casa, e Victoria ficava com os outros dias, por ter uma agenda bem mais flexível. O domingo, tecnicamente era o dia que NichKhun tinha para si mesmo, mas acabava que ele sempre passava o dia com as duas, descansando, vendo filmes ou na piscina.

Mas claro, essa paz toda era estranha, frágil e efêmera.

— Nossa que dia lindo! — Victoria comentou, saindo da piscina e sentando-se à beirada.
— Tem sido assim há vários dias. — Nana comentou, sentando-se ao lado de Victória.
— Eu concordo, mas não pelo céu limpinho, é por vocês terem parado de aprontar... — NichKhun disse rindo.
— Tem certeza de que nós não aprontamos? Sei lá, você já não passa todos os dias da semana com cada uma de nós... — Nana disse chutando água no rosto dele.
— Ah é assim dona Nana? — ele disse fingindo desconfiança.
— Está bem, nós não estamos aprontando, e por mais que eu me esforce para não me iludir, acho que você também não.
— Já deve estar perdendo a graça... — Victoria disse.
— Perdendo a graça? Nunca! Se eu tenho ao alcance dos braços essas duas rainhas...
As duas moças se entreolharam e riram.
— Você fala isso porque gosta de pensar em si mesmo como um rei, não é? — Nana disse rindo.
— Como súdito... — ele respondeu piscando um dos olhos.
— Está mais para bobo da corte. — disse Victoria. — “Babbo NichKhun”.
— Bobo? Vou mostrar vocês o que é bobeira. — ele disse puxando-as pelas pernas de volta para a piscina.

Os três ficaram brincando de tentarem afogar um ao outro, NichKhun tinha larga vantagem sobre as duas, porque Nana era muito esguia, portando não tinha muita força, e Victoria só tinha força mesmo nas pernas. Passaram a tarde inteira naquela brincadeira infantil, no entanto, o verão estava quase no fim, e no final da tarde costumava esfriar bastante. Cada um foi tomar banho num banheiro da casa, NichKhun terminou primeiro, trouxe umas guloseimas da cozinha numa bandeja, encheu a cama de cobertores e travesseiros. Quinze minutos depois as garotas subiram para o quarto, vestindo pijamas fofos de moletom e pularam para debaixo das cobertas junto com NichKhun.

— Acho que a definição de noite solitária e fria já não existe no meu vocabulário... — NichKhun disse sorrindo.
— Acho que ela nunca chegou a existir por muito tempo não é? — disse Victoria.
— Que mente maléfica a sua, eu não tive tantas namoradas assim. Pelo menos nenhuma delas surgiu das profundezas do passado... — ele disse isso rindo, mas obviamente se referia aos ex de Victoria, que mais uma vez deu graças por Minwoo não ter aparecido quando NichKhun estava em casa.
— Ah nem vem! Não tenho tantos ex assim! Quem tem fama de leviano aqui é você! — ela disse rindo.
— Convenhamos, eu sou a única que salva aqui nessa cama... — disse Nana.
— Só que você estiver falando do passado, porque o teu presente te condena. — Victoria disse rindo. — Mas aqui, será que dá para mudar de assunto? Tirar esqueletos do armário só vai complicar as coisas.
— Com medo de fantasmas Vic? — Nana disse.
— Imagina. Só mantendo a paz.
— Que isso meninas? O que mais pode acontecer com a gente? Fora tudo que já aconteceu?
— Você não disse isso! — as duas disseram juntas, em tom de sobressalto.
— Que foi?
— Por que disse isso? Não sabe que toda vez que alguém diz “o que mais pode acontecer?” aí mesmo é que acontecem coisas ruins!
— Não sabia que vocês eram supersticiosas...
— Nesse caso eu sou mesmo. — Nana disse.
— Eu não sou, mas é fato que depois que alguém diz isso tudo começa a parecer um grande problema. — Victoria disse.
— Então, vamos deitar e dormir? Tem gente que trabalha amanhã... — NichKhun disse para cortar o assunto. Ele também tinha ficado preocupado, mesmo sabendo que aquilo soava bastante idiota.
*******

Na noite do dia seguinte, segunda-feira, Nana chegou o mais cedo que pode do trabalho, e encontrou NichKhun à sua espera. Ela nem deu “boa noite” e já pulou em seus braços, estava tensa desde a noite anterior, tão tensa que passou o dia todo descarregando a tensão em atividades que a mantinham distraída, que não por coincidência agora era aproveitar a noite com NichKhun.

— Nossa! Calminha mocinha. — NichKhun disse afastando-se do beijo dela meio ofegante e rindo. — Subimos dois andares do apartamento sem nem respirar.
— Está bem, se você prefere conversar, conversemos, mas seja rápido. — ela disse rindo.
— Não, é só que...
— Acabou a conversa, você falou, eu falei...
E Nana voltou a beijá-lo de forma estranha, mas foi novamente interrompida.
— Nana...
— Que foi? — ela respondeu impaciente.
— Você está ...
— Ansiosa? — ela completou.
— Mas não é por “isso” — ele olhou para baixo, apontando para ela, sentada em cima do colo dele. — que você está ansiosa. Vai me dizer qual é o problema, ou não?
— Você quer mesmo falar de problemas agora?
— Não no estado em que você me deixou, mas sim, eu quero falar sobre isso.
— Arsh! Não é nada, só uma cisma, neura...

Nana voltou a beijá-lo, de uma forma quase violenta, NichKhun quase não conseguia acompanhá-la. Ele achava estranha a atitude dela, mas de certa forma parecia desprotegida, atraente. Não gostava de vê-la preocupada, não era normal, mas tudo que podia fazer era fazer as vontades dela, pra ver se acalmava seu espírito de alguma forma.

NIchKhun se virou no colchão e a deitou, Nana esperou por um beijo, mas não foi isso o que recebeu, ele encostou o rosto ao dela e respirou profundamente o perfume de seus cabelos longos e aloirados, só com isso já pode sentir o corpo da garota relaxar em seus braços. Então seus lábios se reencontraram, de forma mais calma e mútua. E foi assim que fizeram amor.

Nana encostou a cabeça no peito de NichKhun e ficou bem quieta, pensativa.

— Vai me dizer o que está acontecendo agora?
— Nada mesmo, já disse que é uma cisma, estou com a sensação de que esqueci algo... Mas não sei o que é.
— Por causa do que eu disse ontem?
Nana fez que sim.
— Mas não aconteceu nada! Isso é bobagem...
— Bobagem não, sexto sentido, intuição feminina. Ainda bem que não aconteceu nada o dia todo...
— Nada mesmo? — NichKhun disse maliciosamente e rindo.
Nana também riu.
— Nada de ruim e tudo de bom.

NichKhun lhe deu um beijo nos lábios, mas interrompeu de repente.

— Que foi?
— Tem algo vibrando nessa cama... — ele disse com uma expressão estranha e engraçada no rosto.
— Não sou eu! — Nana disse rindo.
— Eu sei que não sua boba. Deve ser algum celular...
— Ah! deve ser o meu, eu deixei no silencioso por causa do trabalho... Me ajuda a achar.

Ela se desvencilhou de NichKhun para procurar o aparelho em meio a cobertores, lençóis, edredons e roupas jogadas em cima da cama.

— Ah não! Você não vai atender esse telefone! — NichKhun disse envolvendo a com braços e pernas. — Quem anda te ligando a essa hora da noite?
— Me solta Khun! O telefone não está parando de tocar, preciso ver quem é! — ela disse rindo, meio sem força pelo esforço de tentar se desvencilhar.
— Você vai ter que se soltar sozinha.
— Fácil. — ela respondeu fazendo cócegas nele, que se soltou imediatamente.
Ele se afastou para fugir das cócegas e encostou as costas no aparelho.
— Encontrei!

NichKhun segurava o aparelho no alto ajoelhado na cama, pois por mais alta que Nana fosse, ela não alcançaria. No entanto, ao invés de entrar numa luta contra ele, ela se ajoelhou no colchão e foi se aproximando. Passou as mãos pelo peito dele, puxou-o pela nuca e beijou-o, colando o corpo nu ao dele. NichKhun, claro, se distraiu e desceu os braços para segurá-la pela cintura e Nana se aproveitou para pegar o ceular de volta.

— Peguei! — ela sentou-se de costas a fim de evitar que ele pegasse o aparelho de volta.
— Sua peste! Foi trapaça!
— Deixa–me ver quem é! Pode ser importante!
— E quem pode ser mais importante que eu nesse momento? — NichKhun disse beijando-lhe o pescoço.
— Meu pai! — Nana gritou de repente. — Era meu pai!
— Meu sogrinho?
— Ai! Ele está ligando de novo, eu tenho que atender, fica quieto!
— Alô?
— Oi pai. — Nana respondeu com a voz meio tremula.
— Estava tentando falar com você...
— Eu não estava podendo atender...
— Por que não está em casa a essa hora da noite?
— Trabalho pai... Você ligou pra lá?
— Nem precisei, eu toquei o interfone do seu apartamento...
— O quê? Por quê? Quero dizer, sério?! — Nana parecia preocupada, e com dificuldades para demonstrar entusiasmo. — Você veio pro país?
— Vim fazer uma visita...
— Ah! Sim, eu já vou pra casa, me espere aí que em alguns minutos eu estarei aí.

E desligou.

— Eu estou muito encrencada...
— Por quê? Quer que eu vá lá com você?
— Ai não, está maluco?! Meu pai te mata e me mata!
— E me mata por que se é você quem apronta? — NichKhun disse rindo.
— Eu estava apontando com você! Eu não estava em casa a essa hora, numa segunda feira, imagina se eu apareço com você lá, o que ele vai pensar? Melhor do que ele vai ter certeza!
— Está com vergonha de me apresentar pro seu pai? — NichKhun disse brincando.
— Claro que não, é que meu pai é muito... Superprotetor.
— Ciumento você quer dizer.
— Isso mesmo. — ela disse procurando peças de roupa.
— Você não está exagerando?
— Você não entende, meu pai mora fora do país, só me deixou morar sozinha porque eu garanti que não ia arrumar um namorado enquanto ele estivesse fora. E eu tinha que cumprir com o acordo senão...
— Senão o quê?
— Senão ele ia me mandar morar com uma tia chata... Ou ia me aposentar temporariamente.
— Uh... É sério então...
— Seriíssimo... Acho que tem um mês que eu não entro naquele apartamento, deve estar com um metro de poeira... Então, eu já vou antes que ele venha me procurar. — ela disse, vestindo uma saia jeans que estava no chão e correndo para a porta.
— Só uma coisa! Seu pai não vai te descobrir se perceber que você está sem calcinha? — NichKhun disse rindo, girando a peça no dedo indicador.
Nana voltou correndo da metade do corredor.
— Dá isso aqui seu pervertido! — ela pegou a peça, deu um beijo rápido em NichKhun e saiu correndo.
*******

Nana foi correndo de carro para seu apartamento, que ficava a uns quinze minutos do Triplex. Quando chegou, seu pai, um homem ainda jovem, forte, alto e muito bonito, estava à espera, sentado na escada do edifício. Ela correu até ele assim que saiu do carro.

— Appa! — ela disse pulando no colo do pai, que a carregou como se fosse uma pluma. — Por que não me avisou que viria?
— Por que? Estava fazendo algo errado e não teve tempo de esconder?
— Arsh, você está sempre desconfiando de mim.
— Eu sempre achei que tivesse motivos, desde que você nasceu eu olhei pra esses olhinhos estrábicos e pensei “Essa aí vai me dar muito trabalho um dia”.
— Hum seu chato, eu nunca te dei trabalho!
— Acho que já chegou hora. Ainda não entendi o porquê de você ter ficado surpresa com a minha vinda, eu sempre volto nessa época do ano...
— Verdade! O aniversário da mamãe...
— Ih! Você está muito suspeita, onde estava até esta hora? É segunda feira, nem modelos trabalham até tão tarde...
— Ai pai, você ficou tão possessivo depois que a mamãe morreu...
— Isso por que eu tive que criar essa criatura divina quase que sozinho. — ele disse apontando pra ela, que estava mesmo muito bonita, mesmo simplesmente vestida, com uma saia jeans, camiseta, jaqueta e tênis.
Nana riu.
— Eu já disse que estava trabalhando, eu não costumo trabalhar até esse horário, mas hoje sim.
— Primeiro sinal de coisa errada: situações atípicas em relação à rotina. — ele disse rindo.
— Arsh, esse é o pai ou o oficial do exercito falando? — Nana se referia ao fato do pai ser militar.
— Um pouco dos dois. Vamos entrar?
— Não quer jantar em algum lugar antes? Não tem comida em casa... E eu estou com fome, você deve estar também, depois da viagem...
— Segundo sinal de coisa errada: você falando demais.
— E então vai querer jantar ou não? — Nana disse um pouco brava, ela estremeceu de frio de repente.
— Na verdade eu estou a fim de pedir uma pizza...
— Pizza pai? — ela estremeceu de frio de novo.
— Algum problema? Você adora pizza... Além disso, você tem que ir vestir uma roupa decente, porque está muito frio pra você andar assim. A quem queria impressionar?
— Dá pra ser mais pai amigo e menos pai coruja? Vamos subir logo então.

“Ai que droga, ele vai notar a poeira no meu apartamento, vai notar..". Os dois subiram para o apartamento, e por sorte o Sr. Im passou direto pela sala, disse que ia tomar um banho e que ela ficaria encarregada de pedir a pizza. Nana fez o pedido o mais rápido que pode e correu para dar uma geral na casa, principalmente em seu quarto que era onde ele ia ficar, já que era o mais confortável. Foi um esforço muito grande pra deixar as coisas apresentáveis em apenas quinze minutos. O Sr. Im saiu do banho e encontrou a filha terminando de trocar a roupa de cama.

— Você está suada, o que estava fazendo?
— Trocando a roupa de cama, é que as coisas estavam no maleiro e é difícil de alcançar... Pode usar essa parte do guarda-roupa para colocar suas roupas pai, está vazio.
— Seu guarda-roupa... Vazio? Eu nunca vi isso antes...
“Mancada! Deixei trocentas roupas no triplex” pensou ela.
— É que... Eu andei doando umas peças... pra caridade.
“Droga, eu vou ter que acertar as contas num purgatório”
— Que legal filha!
— É que você sabe... Imagem pública... É bom dar o exemplo.
“Não, não, eu vou direto pro inferno, eu tenho certeza.”
— Já chegou?
— O que? — Nana disse quase que sobressaltada.
— A pizza...
— Ah! Bom... — a campainha coincidentemente tocou naquele momento. — Chegou agora. Troca de roupa e vá pra cozinha pra gente comer.

Nana saiu para atender a porta e foi para a cozinha com a pizza, minutos depois seu pai apareceu, vestindo uma calça de moletom cinza e uma camiseta branca, como os soldados se vestem para dormir. Definitivamente aparentar a idade que tem não está nos genes da família Im, o homem conseguia ser duas vezes mais forte que NichKhun, tendo bem mais idade.

— Paizinho, como consegue? Você parece bem mais forte que da ultima vez que eu te vi.
— Está me bajulando?
Nana revirou os olhos, impaciente.
— Não, é só que você esta visivelmente mais forte, mais que o... Deixa pra lá... Não pode simplesmente agradecer? Foi um elogio.
— Está bem, obrigada. Você também parece mais saudável. — ele disse com um sorriso bem simpático e sincero no rosto.
— O que quer dizer com “saudável”? Que eu engordei?
— Olha quem está desconfiando das minhas boas intenções agora.
— Eu tenho a quem puxar. — Nana disse rindo.
— Só quis dizer que você está diferente, crescida...
— Pai, eu sou do mesmo tamanho desde os quinze anos. E você me viu tem menos de um ano...
— Sei lá, tem coisa estranha aí...
— Mente perversa a sua, não há nada de errado comigo.
— Terceiro sinal de coisa errada: você pondo palavras na minha boca. Eu nunca disse que tinha algo errado. — o Sr. Im disse rindo.
— Mereço... Bom, agora que já comemos, acho que podemos ir dormir não é, você deve estar cansado da viagem.
— Verdade, amanhã teremos muito tempo para conversar. — ele disse dando um beijo na testa da filha.
“Conversar... Conversar o quê? Sobre o que? Ok, eu estou paranóica, ele não tem como saber de nada a menos que eu diga. Mas ele tem como descobrir se quiser... Droga! Preciso falar com a Victoria, ela vai saber o que dizer...”. Estava tarde, então Nana não ligou para Victoria, deixou para fazê-lo assim que seu pai a deixasse sozinha tempo suficiente. Também teria que buscar roupas no tríplex, antes que o Sr. Im percebesse que realmente faltavam roupas naquela casa.
******

Na manhã seguinte, para alívio de Nana, o Sr. Im teve que comparecer ao quartel para acertar umas burocracias sobre a estadia dele como civil na cidade durante os próximos dias. Ele havia acabado de sair, quando o telefone tocou.

— Alô?
— Oi linda!
— NichKhun? Você enlouqueceu? Meu pai podia ter atendido o telefone...
— Se tem uma coisa que eu não confundo é voz de homem com voz de mulher...
— Seu bobo. — Nana disse rindo.
— Tudo bem? Seu pai está em casa?
— Não...
— Oba! Então posso dar uma passadinha aí... — NichKhun estava brincando, Nana sabia que ele não poderia ir, porque tinha ensaio.
— Você ligou nesse telefone de propósito não foi?
— Não vejo problema.
— Ah não vê? Eu explico então, eu sou filha única, criada praticamente só pelo pai, que por um acaso vem a ser militar, duas vezes maior que você e muito ciumento.
— Ainda acho exagero seu, mas você pode me apresentar a ele como seu amigo, depois eu o convenço de que sou um homem decente...
— Vai mentir pro meu pai? — Nana disse rindo.
— E você sempre diz a verdade não é? — ele respondeu ironicamente. — O que disse a ele ontem?
— Está bem, eu menti, mas com meu pai funciona melhor se eu só omitir. Você está muito curioso...
— Estou mesmo, e o que eu quero saber agora é quando eu vou poder te ver?
— Essa semana, acho difícil, com meu pai aqui eu não vou poder bobear, quem dirá dormir fora de casa.
— Fala sério! Vou morrer de saudades...
— Eu também, mas é o jeito.
— Está bem então, quando der me liga pelo menos. Beijo.
— Beijo. — e desligou. — Desistiu fácil demais, você não me engana NichKhun. Vou precisar da Victoria.
Nana discou para o celular de Victoria, ela demorou para atender porque devia estar na agencia, no meio de um ensaio.
— Oi Nana. Aconteceu alguma coisa?
— Preciso conversar...
— Aconteceu alguma coisa? — Victoria repetiu a pergunta porque sabia que era anormal ouvir a voz de Nana preocupada.
— Preciso de uns conselhos... E preciso da sua ajuda com NichKhun. Eu vou trabalhar agora, podemos almoçar juntas mais tarde?
— Tudo bem.

As duas se encontraram quatro horas mais tarde no restaurante de sempre, numa rua discreta de Seul. Nana chegou primeiro e ficou esperando por pouco tempo, Victoria nunca se atrasava.

— Olá! Não te vi hoje em casa, saiu cedo?
— Eu não dormi em casa...
— Fez coisa errada? — Victoria disse rindo.
— Há há. Não, dormi no meu apartamento.
— Você disse que precisava de conselhos, e da minha ajuda com o Khun, vocês brigaram?
— Ai não! Porque disse isso? Nós não brigamos... — Nana disse rindo. — Você sempre pensando o pior...
— Não, não, eu sempre penso o melhor... pra mim. — Victoria disse brincando, porque agora elas podiam fazer esse tipo de piada sem sair briga. — O que foi que aconteceu?
— Meu pai está na cidade...
— E o que tem isso? Você devia estar feliz não? Você quase não o vê...
— Eu estou feliz, mas ele não pode saber da minha atual situação amorosa.
— Ah sim, entendi, eu também não diria aos meus pais, não tudo pelo menos.
— Meu pai não pode saber de nada, ele só me deixou morar sozinha porque eu garanti que não ia arrumar namorado. Ele queria estar por perto quando isso acontecesse, imagina se ele descobre que eu estou até morando com um homem... E uma mulher?
— Ele não tem como saber disso, a menos que ele te veja com o NichKhun...
— Você não tem idéia de como meu pai é. Imagina uma versão masculina minha pra descobrir as coisas, só que ainda melhor.
— Sério? Você sabe que eu sempre me assustei com a sua capacidade para descobrir as coisas sozinha.
— Aprendi com ele, meu pai é militar.
— Um militar com uma filha doida dessas?!
— Pois é, ele não sabe que eu sou assim, porque quase não me vê mais. Mas assim que passar mais um tempo comigo vai começar a fazer certas perguntas... Ele já estava desconfiado ontem quando não me achou em casa no meu apartamento, até notou que faltam roupas no meu guarda-roupa.
— Uau! Seu pai devia me ensinar umas coisinhas também. Mas então, em que você precisa de ajuda?
— Bom, eu queria sua opinião... O que eu digo se ele me perguntar se eu estou... bom, você sabe...? Eu não quero ter que mentir pra ele, seria pior.
Victoria ergueu as sobrancelhas, surpresa, já tinha se desligado de que a Nana ainda tinha esse lado imaturo de ser.
— Eu nem sei o que dizer, não imagino meu pai me perguntando sobre isso. Falando nisso e sua mãe?
— Ela morreu quando eu era bem nova, acho que por isso meu pai é tão superprotetor, me criou praticamente sozinho... Mas então?
— Bom, não acho que ele vá fazer um escândalo se você disser que sim.
— Por outro lado ele pode ir atrás do NichKhun para matá-lo. — Nana disse ironicamente.
— Pensando bem, é melhor você dizer que não está dormindo nem nunca dormiu com ninguém. — Victoria disse rindo.
— Já disse que não quero mentir. — Nana disse meio brava, impaciente por Victoria não estar levando o assunto tão a sério quanto ela.
— Está bem. — Victoria respondeu notando a impaciência da garota. — Mas você só tem duas alternativas então, ou diz a verdade e impede que ele cometa uma besteira e me deixe viúva antes da hora, ou você o deixa concluir sozinho.
— Concluir sozinho?
— É, você o deixa entender como quiser, de preferência de uma forma que te favoreça.
— Não entendi.
— Você tem uns apagões de vez em quando...
— Está me achando com cara de eletricidade? — Nana disse com impaciência.
— NichKhun diz que você foi ligada numa tomada de duzentos e dez voltz...
— Victoria, foco!
— Está bem, você chupou limão hoje não é? Está azeda.— Victoria disse rindo. — O que eu quis dizer é que se ele perguntar “Filha, você está dando?” — Nana fez uma expressão de desaprovo. — você diz “ Pai, pra você ter me perguntado isso quer dizer que você já chegou a uma conclusão sozinho, se eu disser que sim só de teimosia, você me mata, se eu disser que não você vai ficar com medo de acreditar em mim. Pense o que quiser.”
— Boa idéia, acho que funcionaria. Você já fez isso antes não é?
— Já, meu pai luta kung-fu. — Victoria respondeu, rindo.
— E sua mãe?
— Ela sabe de tudo, dela eu não escondo nada... Nem conseguiria, essa sim tem poderes psíquicos. — Victoria disse rindo.
— Já falou pra ela do NichKhun?
— Não. — Victoria respondeu rindo — Quando ela perguntar, eu respondo.
— Mas ela não tem como saber, sua mãe mora em Qingdao, não é?
— É essa a idéia...

As duas moças riram.

— Isso me faz falta, sabe? Essa coisa de mãe... amiga...
— Ih garota, já vi tudo, está me achando com cara de mãe...
— Mais ou menos, Vic omma... — Nana parecia estar pensando no apelido.
— Mas e então, você também disse que precisava de ajuda com o Khun?
— Verdade... É que ele sabe que meu pai está aqui, e você sabe o quanto ele se acha o “senhor simpatia”, ele ligou pro meu apartamento hoje cedo, em tempo do meu pai atender, e me deu a entender que ele vai se fazer conhecer pelo meu pai.
— Entendi, mas o que você quer eu faça?
— Quero que você o mantenha distraído... Por essa semana.
— Pode deixar. — Victoria disse sorrindo maliciosamente.
— Me devolve inteiro pelo menos... — Nana respondeu meio rindo, meio enciumada.
— Ahá! Pimenta nos olhos dos outros é bobagem, não é?
— Você tem uma mente bem perversa, tanto quanto a minha, você sabia?
As duas riram.
******

Os dias seguintes foram razoavelmente tranqüilos, Nana e o pai visitaram o tumulo da mãe para prestar homenagens, NichKhun parou de ligar para o apartamento, e não tentou encontrar com Nana e com o pai. De duas uma, ou ele nem tinha pensado em insistir ou Victoria estava aproveitando muito, Nana não acreditava na primeira hipótese e não queria pensar na segunda. O Sr. Im foi agradável o tempo todo, e nem um pouco intrusivo, embora Nana sentisse que estava sendo observada e avaliada. Na quinta-feira, a jovem modelo chegou cedo do trabalho, o manager estava cumprindo a promessa de aliviar a agenda da garota, bem aos poucos, mas estava. Nana encontrou o pai preparando o jantar.

— Hum que cheiro ótimo paizinho!
— Já está pronto. Vem comer.
Nana sentou-se à mesa, já meio desconfiada, a semana toda eles tinham comido todo o tipo de comida que se podia pedir por telefone, e do nada ela chega em casa e lá está seu pai se avental, e o jantar à mesa. A garota comeu quieta, sob os olhos observadores do pai, lá vinha interrogatório.
— Você está muito mudada...
— Como é? — Nana fez-se de desentendida, porque estava mesmo.
— Mudada... Há pouco tempo você tinha péssimos hábitos à mesa. — ele disse rindo.
— Ai pai que cisma. Eu sou uma pessoa pública, não posso sair comendo de qualquer jeito por aí, só me acostumei a agir da mesma forma em casa. — Nana respondeu desanimada.
— Tudo bem, foi um elogio.
— Elogio...
— Tudo bem, você desconfia dos meus elogios...
— E você desconfia de mim, estamos quites.
— Não estamos quites, eu sei por que você desconfia dos meus elogios mesmo sabendo que são espontâneos, mas eu não sei do que eu desconfio em você.
— Me perdi. — Nana disse rindo.
— Vamos ver. Eu cheguei de volta à cidade praticamente de madrugada e você não estava em casa. Disse que tinha acabado de sair do trabalho, mas não estava usando maquiagem de quem estava em ensaio, alías, estava até manchada. — o Sr. Im falava isso com calma, e até de bom humor, mas Nana ia se encolhendo na cadeira. — Nós entramos e tinha tanta poeira no chão que eu diria que não morava ninguém aqui no ultimo mês...
— Ah, mas nem sou eu quem arruma o apartamento, não tenho tempo.
— Pra isso servem as faxineiras diaristas.
— Pai eu não tive tempo nem de pedir esse serviço por telefone esse mês. — o que tecnicamente era verdade, porque mesmo não dormindo no lugar, Nana o mantinha limpo na maior parte do tempo.
— Tudo bem. Mas quase não há roupas no armário, nem produtos de beleza...

“Não há como ganhar dele, nunca...” Nana pensou.

— E? — Nana já respondeu derrotada, esperando a conclusão.
— E bom, eu tenho umas perguntas.
— Pode fazer.
— Quem é NichKhun?
“Ok, isso é além do normal esperado, como ele sabe?” ela pensou, nem conseguiu rir porque o pai tinha pronunciado o nome completamente errado.
— Vi na memória do seu celular... — o homem disse inocentemente.
— Você mexeu no meu celular?! — Nana ficou branca feito papel.
— Não pra te espionar, mas acidentalmente vi centenas de ligações dessa pessoa.
— Ah pai, é um amigo. Mas você não devia me espionar assim. — Nana não gostava do que estava fazendo, disse que não queria mentir, mas era exatamente o que estava fazendo.
— Amigo homem?
— É pai, amigo homem! Ou não existe amizade entre homem e mulher?
— Você só tem tempo para ter amigos do seu circulo profissional, e no seu meio não tem muitos... Homens-homens. Só achei estranho. E você se incluindo na categoria “mulher”... — ele disse rindo.
— Ok, isso já é paranóia, aonde quer chegar com isso pai?
— Acho que você já sabe, mas vou perguntar para evitar maus entendidos. Você está dormindo com alguém não é?
Nana engasgou-se. Ela sabia que a pergunta viria, mas ainda sim foi um susto. Ela usou o engasgo como desculpa para adiar a resposta o máximo que pode, controlou a expressão e ficou impassível.
— Pra você estar me perguntando isso é porque já tirou suas próprias conclusões.
— Pode ser que sim, mas quero saber de você.
Nana esperou para responder, pra lembrar-se do que Victoria tinha dito.
— Se eu disser que sim, só de teimosia, você me mata, se eu disser que não você vai ficar com medo de acreditar em mim. No final você vai acreditar mesmo só no que você pensa...

O Sr. Im pensou no assunto, e não conseguiu argumentar contra. “Victoria, teu passado é muito negro. Não acredito que ele se satisfez com esse argumento. Não acredito que pela primeira vez eu consegui passar ilesa!” Nana pensou, quase em estado de euforia, mas se segurando para não exagerar na reação.

— Tudo bem você venceu. Isso só prova que você agora é mesmo adulta, vou parar de pegar no seu pé... Um pouco. — ele acrescentou quando viu o rosto de Nana se render à euforia.
— Finalmente! Só a título de curiosidade, porque me perguntou justo sobre NichKhun, no meu celular tem milhares de outras ligações.
— Não é nada, é que amanhã eu tenho que ir a um evento organizado pelo governo, uma entrega de medalhas, e ele vai estar lá, vai participar do evento como atração principal.
— Sério? — Nana estava mais preocupada que abismada com a coincidência, ela teria que ir ver o pai, e NichKhun ia estar lá, era óbvio que ele ia dar um de simpático.
— Você não sabia?
— E por que eu deveria saber?
— Por nada...
*******

O dia chegou e Nana chegaria em cima da hora por causa do trabalho, incapaz de impedir qualquer complicação. O evento já tinha começado quando Nana trombou com Victoria no meio da multidão.

— Ai! Está fazendo o quê aqui, está maluca?
— Eu vim te ajudar e é assim que você me recebe? — Victoria disse sorrindo.
— Me ajudar com o que?
— Ué, com o “Senhor Simpatia”, você me pediu para mantê-lo entretido essa semana.
— Ah e como é que vai fazer isso aqui nesse lugar cheio de gente, tem tanto segurando perto do Khun... Fora que a imprensa está toda aí, vai que ele vêem vocês...
— Pra isso existem sempre corredores vazios e escuros, e nós estamos num quartel, soldados dormem aqui, lugar é que não falta... — Victoria disse rindo.
— Arsh, são detalhes demais pra um só dia... Você não era assim.
— Não era mesmo, é que essa semana eu estou cumprindo o papel de duas. Você é um modelo a seguir sabia?
— Está bem, depois eu até escrevo um manual, livro, que seja. Já que está aqui, me ajuda a impedir um desastre.
— Acho que você está exagerando...
— Meu pai me perguntou do NichKhun...
— Como é?! — Victoria estava muito surpresa. — Como ele soube?
— É, eu sei, meu pai é anormal. Mas eu o despistei, por enquanto.
— Falando nele, já o viu por aqui?
— Já o vi de longe, é aquele ali na primeira fila de soldados.
— Seu pai é bonitão!
— Que bom que você gostou, fica com ele, é todo seu. — Nana disse meio séria, mas segurando pra não rir.
— Você está levando aquele papo de “mãe” muito a sério.
— Vai começar a cerimônia, vamos nos separar, antes que os fotógrafos comecem a tirar fotos.

As duas se separaram, Nana sentou-se numa área reservada para familiares, e Victoria sumiu do mapa. A cerimônia começou com a performance de vários artistas, NichKhun foi o ultimo deles, e parecia ganhar a simpatia de todos os soldados.

— NichKhun definitivamente não tem inimigos, não é possível. — Nana pensou alto, rindo.

Mas o sorriso sumiu rápido quando viu que NichKhun participaria da entrega das medalhas, claro que não ia acontecer nada demais porque era uma cerimônia solene, e seu pai era um oficial de alta patente, mas ainda sim Nana não deixava de sentir receio.

“Por sorte, NichKhun não sabe qual desses soldados é o meu pai...” Nana pensou. No entanto, para sua surpresa quando o Sr. Im recebeu a medalha e foi cumprimentar as pessoas, deu um aperto de mão forte em NichKhun e um abraço, diferente do que tinha feito com os outros.

— O que foi isso? Achei que seu pai ia quebrar o Khun ao meio com aquele abraço, com aqueles braços enormes! — Victoria disse à Nana quando as duas se reencontraram em meio à multidão que ia cumprimentar os soldados depois da cerimônia.
— Também não entendi, mas ele também não ia poder fazer nada, olha esse tanto de gente.
— Acho que você sempre esteve exagerando.
— É um trauma, uma vez ele pendurou um garoto na árvore do jardim da minha casa só porque ele veio me trazer um caderno que eu tinha esquecido na escola...
— Aposto que você tinha alguma coisa com o garoto. — Victoria disse rindo.
— Eu tinha dez anos sua louca! Embora, o garoto pensasse que era meu namorado, o que eu podia fazer se sempre fui linda? Desiludir o menino? — Nana respondeu rindo.
— Convencida. Bom, acho que você não vai precisar que eu tire NichKhun de lá não é? — Victoria apontava para o Sr. Im e NichKhun batendo o maior papo.

Nana e Victoria desceram juntas até onde eles estavam porque era perto de uma tenda dos bastidores e lá não era permitido fotógrafos, para ouvir o que os dois conversavam, tentando não serem notadas pelos dois.

— Por que eu estou aqui mesmo? — disse Victoria.
— Qualquer coisa você diz que é amiga, sei lá, mas me salva das perguntas dele!
— Nana minha filha vem aqui! — o Sr. Im gritou de repente.
“Como é que ele sabe que eu estava escondida aqui” Nana pensou, saindo de trás da lona da tenda.
— Filha? — NichKhun disse surpreso e com um sorriso travesso no rosto, claro que ele já sabia.
— Você a conhece não é?
— Sim senhor.
— Quando é que vocês viraram amigos? — Nana disse sorrindo quase que forçadamente.
— Amigos? Não, companheiros de farda, esse rapaz aqui serviu ao exercito tailandês...
— É mesmo? — Nana disse completamente pasma, NichKhun notou que ela achou que ele estava mentindo para o pai dela.
— Verdade, mas foi por pouco tempo, como trainnee quando eu ainda era menor de idade. — NichKhun soou muito sincero, a verdade é que ele não tinha o costume de mentir.
“Há alguma coisa que NichKhun não tenha feito na vida? Inacreditável...” Nana pensou.
— Seu pai deve ter ficado orgulhoso de você rapaz...
— Obrigada senhor.
— Eu que agradeço...
— Por que senhor?
— Por tomar conta da minha filha, alguém que já usou uma farda é digno de confiança.

“Poots ele sabe! Claro que ele sabe! Espera, eu ouvi o que eu ouvi?” pensou Nana.

— Ah tudo bem senhor. — NichKhun disse sorrindo tranqüilo e dando um aperto de mão no Sr. Im.
— Então filha, eu vou sair pra beber com uns amigos que eu não vejo há muito tempo e não devo voltar hoje...
— Sério?
— Juízo vocês dois!
— Quem é você e o que fez com meu pai? — Nana disse assustada, mas rindo.

O Sr. Im saiu com os amigos deixando Nana, NichKhun e Victoria na tenda.

— O que você fez com meu pai? Sério?
— Ofusquei com minha simpática e encanto.
— Pensei que isso só funcionasse com mulheres... — Victoria disse rindo.
— Há há. Coisa de homem, vocês não iam entender.
— Depois nós mulheres é que somos impossíveis de compreender... — Nana disse, muito confusa.
— Quem explica? — Victoria disse.
Os três riram, e foram embora para casa.