Fiquei alguns segundos encarando o garoto em minha frente, sem acreditar no que eu tinha acabado de escutar.

— Não acredito que fez isso!

— Mas eu não sabia que vocês teriam um encontro. – ele se defendeu e deu uma risada sem humor – Depois que você me convidou porque ele não ia poder, eu descobri. Sinto muito! – Chat parecia realmente estar incomodado com aquilo.

— Eu... Não sei o que pensar. – admiti. Parecia que tinha dado uma tela azul na minha mente e eu realmente não sabia como agir.

— Porque eu mentiria?

— E-Eu não sei. Porque você sumiria? – falei séria e ele me encarou com um olhar triste.

— Já disse que meus pais, a viagem...

— Chat, para por favor! – balancei as mãos no ar – Nós dois sabemos da verdade, ok? Nós dois sabemos que você não viajou, que seus pais sequer existem e que isso tudo aqui não é real!

— Marinette... – o loiro se aproximou mas eu recuei, fazendo que ele me encarasse com certa surpresa.

— Não é justo você fazer isso comigo! Você tem noção do quanto eu gosto de você? E do quanto foi difícil ver você sumir sem poder fazer nada? – senti as lágrimas já saindo pelos meus olhos. – E agora, você volta como se nada tivesse acontecido e eu não paro de pensar que se eu ficar feliz demais, você vai sumir de novo. E vai levar tudo com você.

— Mas eu estou aqui agora. – disse com um olhar triste – Não vou a lugar nenhum. – Chat tentou se aproximar de novo e eu recuei.

— A gente sabe que não é assim que funciona. – olhei para baixo – Logo você vai sumir e... – encarei Chat nos olhos – E não sei se quero que você volte de novo.

— Por que diz isso?

— Porque eu sou a pessoa mais feliz do mundo quando estou com você. Mas o sofrimento que vem quando você some... – desviei o olhar novamente – Não sei se vale a pena passar por isso.

— Eu me lembro. – Chat falou depois de alguns segundos em silêncio, fazendo com que eu olhasse para ele e prestasse atenção no que estava prestes a dizer – Eu me lembro do boliche com o Adrien, seu encontro com ele no parque enquanto eu estava escondido no arbusto, do pedalinho, das nossas saídas, eu na sua casa te ajudando e lendo seu diário. – ele respirou fundo – De quando você disse que me amava. De quando eu disse que te amava. De quando nós nos beijamos e de como você me comparou com uma fada... Ou um bebê. Até hoje eu não peguei a referência! – sorri com a idiotice dele. – E quer saber de uma coisa? Tudo isso foi real!

— Como? Como pode ter sido real, Chat? – balancei os braços frustrada, deixando que mais lágrimas saíssem dos meus olhos.

— Sinceramente? Eu não faço ideia. Mas eu sei que você também sente isso. – Chat segurou a minha mão. – Não sente? – por alguns segundos, apreciei o fato das nossas mãos estarem juntas. Porém, depois afastei a minha e sequei algumas lágrimas.

— Sim, eu sinto. Mas a vida não é um conto de fadas. E eu não vou ficar com o príncipe encantado. – andei até a porta de casa – Obrigada por ter me trazido em casa. Tenha uma boa noite.

Entrei sem esperar a sua resposta, tranquei a porta e corri para o meu quarto. Assim que deitei na minha cama, desabei a chorar.

Talvez eu tivesse sido muito dura. Só que era muito difícil passar momentos bons com Chat e não ficar com medo o tempo todo.

Recebi uma mensagem e fui ver de quem era, dependendo da pessoa, nem visualizaria.

Era Adrien.

Me desculpe por não ter ido hoje e me desculpe por não conseguir avisar, só consegui falar com o Nino antes que meu pai tirasse o meu celular. Eu realmente tive um compromisso inadiável. Bom, pelo menos inadiável para o meu pai! Alya me contou que você convidou o Chat. Eu ficaria um pouco incomodado, mas você disse que vocês são só amigos, então eu acredito em você. Tenho certeza que a parte que a Alya disse que o Chat roubou no boliche é mentira hahaha! Espero que tenham se divertido! Podemos sair amanhã? :)”.

Respirei fundo. Não tinha humor para responder à mensagem, mas não podia simplesmente visualizar e deixar por isso mesmo.

Tenho umas coisas para fazer amanhã, mas qualquer mudança de planos eu te aviso. Obrigada por confiar em mim! E sim, nos divertimos muito! Realmente, não tem como roubar no boliche. Boa noite!”.

Deitei na cama novamente e escutei meu celular vibrar. Mas dessa vez não olhei a mensagem, apenas me concentrei em tentar parar de chorar e dormir de uma vez.

***

Era domingo, dia que os estudantes normalmente descansam depois da semana cansativa de aulas. Mas ao invés disso, eu estava ajudando os meus pais na padaria.

Não que ajuda-los fosse ruim. Eu só não estava em um bom momento.

— Filha, você pode atender ali? – minha mãe perguntou enquanto trabalhava na massa para os cookies.

— Claro. – coloquei a bandeja no forno e fui até o balcão da padaria.

— Bom dia, em que posso ajud... Alya?

— Bom dia amiga. Vim comprar uns pães, mamãe adora os daqui. – sorri.

— Os melhores da cidade!

— Sem dúvidas! – ela riu. – Vou querer doze pãezinhos desse. – apontou na vitrine – E um pedaço da torta de chocolate do seu pai.

— Saindo. – peguei um saco de papel e comecei a embalar as coisas para ela.

— Então, conseguiu falar com o Adrien?

— Ele me mandou mensagem ontem depois que eu cheguei. O pai dele tinha tirado o celular. – suspirei triste, pois fez com que eu lembrasse da minha discussão com Chat.

— Não fica assim, amiga. Vão ter outras oportunidades de encontro e...

— Não é isso. É que ontem eu briguei com o Chat. – abri o jogo com a minha amiga. Sabia que sempre poderia contar qualquer coisa pra ela.

— Ué, mas por quê?

— Ah! É complicado. Começou quando ele me disse que indicou o Adrien para um trabalho como modelo e por isso ele não conseguiu ir no encontro.

— Não brinca?!

— É, mas ele disse que não sabia que teria um encontro. Depois nós discutimos porque ele sumiu e eu... Eu ainda não superei. Essa é a verdade. – suspirei e Alya me encarou com um olhar triste.

— Vocês parecem gostar mesmo um do outro.

— E gostamos. Mas as coisas não parecem dar certo pra nós. – ri sem humor.

— E o Adrien? As coisas estão dando certo com ele?

— Estão. Quer dizer, eu não sei bem. Nos beijamos no último encontro, nos falamos por ligação e mensagem. Mas parece que está estagnado. – entreguei os pães e a torta pra ela. – São quatro euros.

— Só?

— A torta é por conta da casa. – Alya sorriu e me entregou o dinheiro.

— Muito obrigada.

— Não há de quê. – minha amiga se virou para ir embora, mas parou e deu a volta.

— Sinceramente, eu não sei o que dizer sobre você e o Chat. Mas acho que vocês se gostam de mais para acabar assim. E quanto ao Adrien... Bom, ele não fez nada de errado. Ele apenas não fez. Apenas não percebeu que se não amar você logo, outra pessoa pode. E você sabe bem de quem eu falo.