Transcendentes

A princesa e o lobo ( Especial de Halloween )


A Floresta Negra… Todo mundo já ouviu falar de uma antiga lenda sobre uma princesa elemental e um lobo que vivia numa floresta farta de mistérios e magias, não estou me referindo aos contos clássicos, isso é para outra história.

Os transcendentes, aquelas almas que não conseguiram completar sua missão na vida passada e vagam pelos séculos em busca de sua alma gêmea ainda existem nos tempos atuais e dizem que o espírito da princesa e do lobo estão vivos por aí em algum lugar do mundo tentando se reencontrar, e quanto aquele de falsa intenção, está à espreita em busca de vingança. Mas isso é só uma lenda… Era o que acreditavam…

Pov. Ochaco

— Halloween!! Adoro essa época do ano! — Eri diz animada enquanto alisava seu vestido de fada na cintura.

— Também adoro, Eri-chan! — digo ao ver a criança empolgada por estar recebendo os doces na cidade.

Todo ano, no dia trinta e um de outubro, Musutafu segue a tradição do Halloween, onde o pessoal se fantasia, fazem festas para aproveitar o feriado e nós ganhamos doces das pessoas. Aizawa-sensei havia me pedido para levar a Eri na cidade junto a Nejire Hadou que usava uma fantasia de bruxa enquanto ele trabalhava, então é claro que aceitei! Adoro essa época do ano e ver a Eri tão feliz é algo maravilhoso!

— Olha quanta gente fantasiada, até as casas estão coloridas! — ela fala empolgada.

— Verdade, esse ano muita gente investiu na decoração — digo ao olhar uma casa coberta de teias falsas, esqueletos e abóboras no jardim com alguns gnomos e bruxas de enfeite perto da entrada da casa.

— Falta muito para chegar na pizzaria? Estou curiosa para ver esses Animatronics! Eles pareciam tão fofos no cartaz!

— Estamos quase chegando, logo você verá eles, Eri-chan! Fica a poucos minutos daqui.

Existe outra lenda além dos transcendentes, dizem que nos anos oitenta, na Freddy Fazbear's Pizzeria, algumas crianças desapareceram… as notícias contam que houve um assassinato dentro da pizzaria e os corpos das crianças nunca foram encontrados. Depois daquele evento, a pizzaria ficou interditada. Mas, após alguns anos, decidiram reabrir o local. Eu e o Dekusquad fomos na reinauguração alguns meses atrás e nos deparamos com os amigos do Bakugou, que tiveram a mesma ideia. E o que mais me surpreendeu, foi ver o Katsuki feliz naquele dia.

O céu escuro e sombrio daquela noite parecia carregar um ar denso enquanto o vento arrancava as folhas das árvores. As únicas luzes presentes eram da lua cheia e da lanterna do meu celular, por incrível que pareça, as dos postes de energia não funcionavam e a neblina dificultava a visão.

Seguindo a pé no meio da estrada, visto que não havia circulação de carros a essa hora da noite, me distraí olhando a paisagem, o som do silêncio pode ser angustiante quando quer que seja, pois a minha respiração estava começando a se acelerar a cada passo. Viro meu rosto para a Eri que continuava segurando a cesta de doces e dou um suspiro. Estou pensando demais… Volto meu olhar para a frente e logo meu nariz se aperta ao sentir um cheiro forte de algo metálico e pútrido… Não, não era metal, era cheiro de sangue…

Faltando pouco para se aproximar da pizzaria, desligo o celular ao ver uma das luzes dos postes acesas. Mesmo com a neblina noturna, não era mais necessário usar a lanterna. Sinto a Eri se encolher agarrando minhas pernas e pergunto:

— Está tudo bem, Eri?

— Acho que ouvi uma voz, mas não era dos nossos amigos... — ela sussurra.

Um tilintar metálico como se alguma coisa estivesse se arrastando na rua se faz presente, tento olhar em volta, mas não encontro nada anormal e dou outro suspiro fechando os olhos, volto a levantar as pálpebras para o horizonte quando um vislumbre de um urso surge na minha mente e dou um pulo para trás, cujo foi percebido pela garotinha. Esfrego os olhos com as mãos para ter certeza de que estava delirando.

— Calma Ochaco, é só uma noite de Halloween, seus amigos estão te esperando… — O que foi aquilo agora a pouco? Penso.

Se aproximando da pizzaria, escuto o som de música que vinha de dentro e adentrando o local, sigo a procura das garotas. Ashido, que conversava com a Momo e a Tsuyu, se ergue e para na frente do palco onde os Animatronics costumavam tocar as músicas temáticas. Ela pega um microfone, pausa o som do notebook que conectava com os sons da festa e diz:

— Boa noite galera! Quem está curtindo o Halloween? — Kaminari grita ao fundo e Mina continua. — Também entendo sua empolgação amigo, nesse Halloween, escolhemos a Freddy Fazbear's devido as suas histórias. Dizem que nesse lugar houve uma série de desaparecimentos. — Ashido nota a Eri do meu lado e acena para nós. — Eri-chan! Finalmente chegaram! Nossa Ochaco, arrasou na fantasia!

— Ah, essa coisa velha? Obrigada! — digo segurando a ponta da capa vermelha. Como não tive tempo de planejar a fantasia por causa das atividades escolares, acabei tendo sorte de achar essa fantasia que lembra a chapéuzinho pela cor da capa, mas duvido que fosse uma fantasia daquela personagem. Revirei os baús do sótão da casa, onde meus pais costumam guardar as roupas e coisas antigas para doar e quando provei o vestido azul de mangas curtas com babadinhos na saia, soube que teria que ser esse look. Usei uma meia longa e listrada de cor azul com faixas pretas nos pés para completar com as minhas botas e após fazer a maquiagem, Aizawa me ligou para buscar a Eri. — A sua fantasia de cupido também está incrível!

— Não tão incrível quanto a roupa da Eri, posso tirar uma selfie com vocês depois?

— Claro! — Sinto um puxão no vestido e me abaixo para ouvir a pequena.

— Ochaco-chan, vou me sentar com o Midoriya.

— Tudo bem, Eri-chan! Até depois!

O tempo passou, as meninas haviam me puxado para o palco onde cantamos algumas músicas para se divertir. Após a última terminar de tocar, pego meu copo de refrigerante e olho o ambiente. Eri estava perto de um animatronic amarelo, acho que era a Chica, ela dançava e rodopiava do lado do robô que estendeu um prato com outro robô em forma de bolo e Eri riu, mas uma sensação estranha se apossou de mim assim que Chica virou seu rosto lentamente para mim e depois voltou a atenção para a pequena. Volto a observar o local, até notar que Bakugou estava sozinho numa das mesas e de cara fechada. Curiosa, sigo até ele e o cumprimento.

— Boa noite, Bakugou! Hum… por que não se fantasiou para o Halloween?

— Tsc! Nem queria estar aqui pra começo de conversa, o Kirishima e o pikachu ambulante me arrastaram para a pizzaria, queria estar dormindo… — ele fala com voz de sono, então me lembro que o Bakugou sempre foi o primeiro a ir aos dormitórios no colégio, ele deve estar bem cansado.

— Você poderia ter… — As luzes da pizzaria se apagam de repente e estreito os olhos para tentar enxergar o garoto no escuro. — Um apagão justo agora?! — Logo, o pessoal tenta ligar os celulares para usar as lanternas, mas…

— Tsc! Que porra é essa! Não está funcionando!

— Deve ter acabado a bateria, deixa eu ligar o meu. — respondo e tento ligar o meu celular. — Que estranho, tenho certeza que estava com oitenta por cento antes de chegar aqui, não deveria acabar tão rápido.

— Cara redonda, todos os aparelhos parecem que não estão funcionando… — ele diz ao notar os amigos tentando ligar os celulares.

— O que a gente faz? Esperamos a luz voltar? Não é normal que todos os celulares tenham se desligado ao mesmo tempo! Bem, vou ver como a Eri está. Deve haver uma caixa de energia por aqui, vê com os meninos se conseguem achar.

Sigo tateando no escuro até o local que ela estava com a Chica mais cedo e não a encontro, nem a Eri, nem o robô… parando pra pensar agora, todos os animatronics haviam sumido. Bem, dizem que eles podem andar livremente pelo local sem precisar de controle remoto, então devem estar por aí, mas…

Um chiado ecoa nos auto-falantes do som do palco e a melodia de abertura da pizzaria toca repentinamente assustando geral, deve ser uma falha de energia.

— Eri! Eri, onde você está! Ouço a voz de Izuku que se aproximava de nós. — Ochaco, é você? A Eri sumiu, ela havia ficado comigo até ver um dos robôs e me pediu para brincar com eles, depois de um tempo perdi ela de vista…

— A última vez que a vi, ela estava com a Chica, aquele animatronic amarelo — respondo.

— Ela vai prender a alma da Eri! — Mina fala atrás de Izuku, que leva um susto pela sua aparição repentina.

— Aaah! M-Mina… Que susto! Como assim, prender a alma dela?

— Que foi? Nunca ouviu aquelas teorias dos animatronics? — ele continua sem entender e Mina suspira. — Deixa pra lá… Vamos ver se encontramos ela, deve ter algumas lanternas que eram usadas pelos seguranças na câmara de vigia, existe uma sala com monitores por aqui. A Momo encontrou mais cedo, me sigam!

Seguindo pelos corredores escuros, nos deparamos por uma bifurcação e cada uma de nós decidimos seguir para um corredor à procura da sala, pois Mina não se lembrava qual era exatamente o lado que a Momo apontou. Quanto mais avançava, mais poderia sentir o mesmo cheiro podre de antes.

— Bakugou! Eri! Onde vocês estão?! — gritei para ver se eles escutavam, mas ninguém respondeu.

Estava começando a ficar mais preocupada com Eri, se o Aizawa souber que ela desapareceu… respiro fundo e continuo a andar. Pelas janelas, vejo um relâmpago se formar no céu noturno, a lua cheia curiosamente parecia mais avermelhada. Sons de passos surgem a frente e viro-me em busca do que fez o barulho.

— Eri? — Logo encontro a porta que Mina havia dito e dou um suspiro de alívio, outro relâmpago se formou e o reflexo da luz surge numa das paredes onde uma silhueta estranha, mas familiar se forma e some junto a luz do raio. — Essa noite fica cada vez mais estranha…

Me aproximo da porta e estendo as mãos suadas da adrenalina para abrir, quando o vislumbre de Golden Freddy aparece na minha frente, me fazendo soltar a maçaneta. Logo, os sons de algo correndo se faz presente e assim que me viro para olhar o corredor, Foxy me encara com os olhos vermelhos. Sabia que tinha algo de errado com os animatronics! Forço a maçaneta para tentar abrir o mais rápido possível e ouço o som de um clique, antes que o robô me alcançasse com suas garras, sinto uma mão me puxar para dentro da sala e trancar o escritório.

— Aaaaaah!!

— Calma, sou eu!

— B-Bakugou?! Você está vivo! O que faz aqui?

— Que? É claro que estou! Foi você que pediu pra achar o gerador de energia, esqueceu? Tsc! Encontrei essa sala, mas como pode ver, tivemos uma visita.

— Foxy… Esses robôs não estão como na primeira vez que o vi, e se a lenda for real? Os animatronics podem estar vivos! Mas como?!

— Fantasmas.

— O quê?

— Isso mesmo, são fantasmas. Antes que me pergunte, encontrei relatos dos incidentes das crianças aqui e só juntei os pontos. Não queria acreditar, mas é a única explicação que me veio à mente. — Katsuki vira-se para mim e pergunta. — Você não sentiu um cheiro forte vindo dos robôs? Como se algo podre estivesse em voltava sempre que nos aproximamos deles?

— Sim, também estranhei esse fato.

— Então, e se os corpos que nunca foram encontrados, na verdade foram escondidos dentro dos robôs nos anos oitenta? E se de alguma forma as almas daquelas crianças ficaram presas nos animatronics? Acredito que alguém possa estar manipulando as crianças.

— É… até que faz sentido, mas porque fariam isso?

— Por vingança obviamente!

— Espera, se for verdade, então estamos correndo perigo. Os nossos amigos ainda estão na festa e os outros animatronics sumiram! — Me aproximo das telas das câmeras e ligo o monitor onde era possível ver o ambiente. — A câmera um está vazia, a segunda… Ótimo, o Freddy está no palco… Onde está o Bonnie? Ele deveria estar no palco também!

— Ochaco, mude para a camêra quatro.

Vejo as sombras dos meus amigos se movendo de um lado para outro, provavelmente ainda procurando pelo interruptor e pela Eri. Mas, no fundo da porta de entrada vejo os olhos vermelhos se aproximarem da câmera a qual observava-os. Bonnie move o rosto em direção a câmera até que a tela se apaga.

— Eles sabem sobre a gente… — logo, os gritos de pavor ecoam pela pizzaria onde dava para ouvir os pedidos de ajuda e num impulso, tento abrir as portas do escritório, mas ambas estavam trancadas. — Estamos presos! Não! Izuku, Mina!! — sinto as lágrimas descerem do rosto e Katsuki me envolver pelos braços para me acalmar.

— É tarde… eles se foram. Sinto muito, Ochaco.

— Não pode ser! Era para ser apenas uma festa a fantasia… Por quê?

Uma das telas do monitor se acende revelando um dos robôs em forma de coelho, algumas partes humanas eram visíveis no tórax, mas logo o reconheço através do jogo.

— Springtrap?

— Gostaram do show? Você nunca se livrará de mim, princesa! Eu sempre voltarei, não importa o tempo!

— Princesa? — Sinto uma dor na cabeça e flashes de eu usando um vestido parecido com esse, igualmente com a capa numa floresta. Logo, uma frase me veio à mente. — Aquele de falsa intenção, onde foi que ouvi isso antes? O feiticeiro! A lenda da princesa e do lobo, é claro, foi desse conto que ouvi. Então você…

— Não me reconhece mais, moranguinho? Há, há, há, há! Estou tão diferente após esses séculos?! Bem, estavam procurando sua amiga, não estavam? — ele gira a câmera para um robô desmontado e noto a Eri enrolada pelos cabos de um animatronic.

— Eri!! — Katsuki e eu gritamos ao mesmo tempo. Os fios começaram a se mover e Eri acorda assustada ao perceber a situação.

— Digam olá para a nova atração da pizzaria, Circus Baby!

As portas se abrem finalmente e ambos seguimos correndo até a área oeste onde fica os bastidores. Chegando lá, passamos sem olhar para o que já imaginava ter ocorrido. Tento segurar as lágrimas e vejo Bakugou chutar a porta de entrada desesperado.

— Ela é só uma criança! Solta ela, seu merda!! — Katsuki grita.

— E o que você acha que os outros animatronics eram? Eles querem uma nova amiga.

Quando notamos, era tarde demais… Só pudemos escutar os sons de desespero e dos gritos. Logo, uma das câmeras mostra os robôs vindo até nós. Demos meia-volta e corremos para a entrada até ver que Mina e Izuku se moveram. Eles ainda estão vivos!

Com cuidado, pegamos eles no colo e saímos da pizzaria em disparada. A primeira coisa que farei assim que estivermos longe o suficiente, será encontrar um telefone para informar o Aizawa e a polícia. Como ele havia dito, o feiticeiro sempre volta.

Na pizzaria, os animatronics se aproximam do palco onde o novo robô estava e Springtrap fala:

— Seja bem vinda a sua nova família, Circus Baby. — os olhos verdes dela se abrem e encaram os seres a sua frente com um sorriso.

"— Aizawa? É… sobre a festa… ela foi cancelada. A Eri? Infelizmente não voltará com a gente pra casa, ninguém da turma, na verdade… Conseguimos salvar o Midoriya e a Ashido, mas o restante, estão todos mortos."

Fim

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.