Beatriz ia até no meio da mata, treinava. Treinando o controle da mente e da força. Ás vezes, eu a acompanhava, mas não suportava violência antes e não mudou nada. Por mais que esse corpo pudesse isso.

Durante cinco dias era isso.

Ficar no canto e se afastar dos humanos. Eles não gostavam de nós. Um helicóptero pequeno vinha trazendo comida, roupas e noticias. Os mantos negros às vezes sumiam, traziam comida porque paramos de comer com os humanos. Aquilo me doía. Ver Ian e ele não ligar pra mim.

E Beatriz era intimidadora demais. Só Magnus e Caroline que foram bem vindos. Agradecia a roupa, cada vez mais frescas, como nos dormíamos em barracas, já que os humanos não revelaram onde estavam. A raiva que tinha estava se transformando em uma tremenda tristeza. Jamie sempre ao meu lado, tentando me fazer rir, mas quando o chamavam, via que nos seus olhos ele estava cansado de levar bronca. Mas o que era estranho era durante esses dias. Cada Pilar se uniu a alguém em uma conversa. Caroline se deu bem com o Doutor. Magnus e Jeb amavam trocar historias. E até Beatriz viva de cima pra baixo com Jared agora. Acho que finalmente todos se tornaram amigos. Pelo menos esses três. Ian nem olhava pra minha cara. Ao contrario, via algumas mulheres dando em cima dele. Aquilo fervia meu sangue, mas eu não podia fazer nada.

Estávamos no final do quinto dia.

Á noite.

Eu sentada no chão, olhando para o céu. Caroline e Magnus conversando com Jeb. Beatriz e Jared rindo de não sei o que, do outro lado.

“Por que não podemos ir embora?” soltei. Estava cansada disso. Eles não acreditavam em mim. E ter que ver Ian com outra. Realmente prefiro os Rastreadores de bom grado.

“Quer ir embora?” perguntou Jeb.

“Estou farta disso, vocês não acreditam em mim. Mas se unem aos Pilares. Arrisquei minha pele, meu pescoço, protegendo vocês, para no fim ter que ver o homem que amo com outra? Por favor, me levem aos Rastreadores.” gritei pra ele.

“Peregrina tenha fé. Tudo ira se resolver, só ter calma.” disse Caroline.

“Calma? To com nervos a mil. Lutei pela minha família, eles estão bem aqui, ao meu lado, a minha frente. E eu não posso chegar perto. Ian. Meu Ian. Me olha com nojo. As pessoas por quem protegi não ligam pra mim. Passei pelos Rastreadores, trocaram meu corpo, eu não pedi por isso. Estou cansada. Não vou forçar minha presença aqui. Então quero ir de volta a sociedade. Desisto.” Explodi com raiva, as lagrimas escorreram pelo meu rosto.

“É isso mesmo que você quer?” disse Ian, aparecendo do lado de uma arvore.

“Você não me dá outra escolha.” cuspi para ele.

“Os deixem! Acho que enfim posso descansar” disse Beatriz, saindo de perto de Jared.

Interrompi o olhar pra Ian. Olhei pra ela.

“Descansar?” disse. Podia sentir que havia algo ali e ela não estava falando em voltar pra casa dela.

“Peregrina. Não podemos voltar! Você até que pode, mas nós não.” disse Beatriz.

“Como assim?” perguntou Jared.

Os três Pilares olharam entre si e por fim desviaram os olhares.

“Há coisas que são difícil de explicar!” disse devagar Caroline.

“Nem podemos evitar, pra termos certas coisas...outras devem ir” disse Magnus.

“No caso, um cargo teve que ser ocupado.” disse, olhando pro chão, Beatriz.

“O cargo de A Voz do Universo?” perguntei e na hora desejei não ter tido, esqueci que eles não sabiam que eu sabia disso.

“Como... Como você soube disso?” gaguejou Beatriz.

“Vão pra dentro agora!” gritou Brandt, aparecendo pela mata, correndo.

“Estão vindo, vamos, se mexam todos” gritou Lily, logo atrás.

“Quem? O que?” perguntou Jeb.

“Naves. Pratas. Mais deles. Ao leste. Longe. Mas estão vindos.” – disse Brandt pontuando cada palavra, apontando pros mantos pretos.

“Não é possível!” Caroline disse, ela parecia pálida “Vão, vocês precisam ir, AGORA!”

“Vão, se escondam! Guardas em posição.” ordenou Beatriz.

“Precisamos chegar ao subsolo!” disse Ian. Subsolo? Então era assim que eles sumiam. Esse era o novo lar deles.

“Podemos confiar neles?” apontou Max pra mim e os Pilares.

“Agora não. Max não é hora pra isso, se algo acontecer me culpe, mas agora vamos. Eu confio neles!” defendeu Jeb.

“Seu velho tolo, sempre arriscando sua vida por almas!” disse Russel.

“Vão, nos deixem!” comecei a dizer. Será que nunca haveria paz pra mim?

“Pare com isso, vai com eles Peregrina! Não é preciso se sacrificar, eles nos querem então vai e seja feliz, você merece!” ela se virou para os irmãos “Vão com eles. Com Brutos e Patrick, eu me entendo”.

“Não!” disse Caroline e Magnus juntos.

“Caroline você precisa ajudar os humanos, eles precisam de sua bondade, seu auxilio e seu conhecimento será muito útil pra eles. Magnus a humanidade precisa de você com sua liderança nossa ideia se realizara. Então vão!” eles se abraçaram. Chorando os irmãos, Beatriz não. Eles sim são irmãos, do tipo inseparável.

“Beatriz...” – comecei a dizer, mas percebi que soltei o nome dela, tampei minha boca. Ela riu

“Pode me chamar de Beatriz, se eu puder te chamar de Peg, que tal?” ela sorriu.

Corri pros braços dela. E para minha surpresa ela também retribuiu meu abraço,foi como se eu fosse a irmã dela. Realmente nos somos iguais. Defendemos aqueles que amamos, somos teimosas, brigamos com qualquer pessoa que amamos. Mas Beatriz era muito mais forte que eu.

“Peg, você é forte, nunca se esqueça disso!” disse como se ela pudesse ler meus pensamentos.

Jeb começou a me puxar. Todos começaram a ser arrastados. Gritos humanos aumentaram, correria, guardando as coisas, apagando qualquer rastro, sumindo. Magnus teve que praticamente carregar Caroline que gritava ‘não’ olhando pra irmã. Os humanos ficavam em choque, mas logo voltavam a correr, os mantos negros se posicionando olhando pra trás. Como se fossem dar um abraço em Beatriz. Ela olhou pra eles. Parecia uma dona dando adeus a seu pet.

“Amo vocês, mas cumpram minha ultima ordem: defendam os humanos! De qualquer maneira, os humanos são nossa prioridade. Não deixem que nada os aconteça. Nada de perigo pra eles.” disse ela pra eles. Eles se lançaram atrás de nós, se afastando dela. Ela firmou o olhar pra frente e vi seu olhar pela ultima vez. Escorreu uma lagrima do seu olho.