O que? Como ela pode? Abaixei minha cabeça, parecia que pesava uma tonelada. Lagrimas ficaram presos. A decepção era tanta que não havia como explicar a sensação de sem chão que estava. Enquanto a parte dos Rastreadores gritava de felicidade. O das almas bondosas chorava por mim. Nem puderam chegar até mim para confortar ou lamentar, logo os Rastreadores se colocaram ao meu lado não deixando nem ao menos eu me despedir, cada um de lado, para me acompanhar, ou, para me impedir de fugir.

Com tudo isso ao redor, parecia que não estava acontecendo, parecia que meu corpo não queria aceitar a derrota mesmo que já sabia disso, criei esperança e foram destruídas. Naquele momento que os pilares declararam a minha culpa, notei os olhares de tristeza da loira e do homem de cabelos brancos, eles sim, declararam minha inocência pena que não foi suficiente. Eles se colocaram de pé e se viraram pra esquerda todos já com seus capuzes.

Os Rastreadores apertavam meu braço com força, para machucar mesmo, tive que segurar pra não chorar ou gritar. Não ia dar esse prazer para eles que estavam fazendo isso como um tipo de vingança pelo Felipe, quem diria que um dia sentiria uns segundos antes gratidão pela mulher que me condenou. Eles me jogaram numa sala totalmente revestida de branco sem moveis nenhum, nem janela e nada, somente uma lâmpada e uma cadeira e mesa de madeira, onde tinha uma bandeja com uma jarra d’água e um pouco de comida, só tomei água, meu estomago não aguentaria nada mais que isso.

Nem sentei na cadeira, encostei-me à parede, podia ouvir os vários passos do lado de fora, a gritaria, a risada e um barulho estranho. Mas nada disso importa, estou condenada mesmo. Esperei as lágrimas virem, mas não vieram, apenas fui caindo pela parede, até estar sentada no chão, encolhida. Era como se estivesse em choque, mesmo desconhecendo esse corpo, abracei-me, estava começando a gostar dele. Mas não teria tempo de usufruir dele, não mais. A algum tipo de silencio inesperado do lado de fora. E a porta se abre.

Entra o Pilar de cabelos brancos com a aparência cansada. Ele vem até mim e da a mão, ajudando a levantar, sem dizer nada, ele sorriu e me abraçou.

“Sinto muito, minha jovem, que tenha acabado assim, sei que sente grande medo, mas quero reconforta-la um pouco dentro dos meus limites possíveis” ele aponta para porta e lá passa Kate, Leonardo e Thelma, com os olhos cheios de lagrimas, não contive mais, desabei em lagrimas, fui ao encontro deles, nos ajoelhamos no chão, todos chorando e num abraço. Eu já me sentia tão conectados a eles em tão pouco tempo.

“Querida, fizemos de tudo... sinto muito” disse Kate entre os soluços.

“Não cabia a vocês, mas fico feliz que tenham se incomodado comigo” disse a eles.

“Arrependo e muito de ter deixado você entrar naquele tribunal se ao menos...” rimos, Thelma como sempre protetora demais.

“Duvido que conseguisse detê-los Thelma” disse a ela.

“Hey, você não sabe o que essa mulher consegue quando coloca algo em sua cabeça” brincou Leonardo. Rimos baixinho. Levantamos. E o Pilar todo esse tempo estava num canto observando.

“Admirável. Tenho que ir. Vou deixar vocês a sós. E alias, vou assegurar pessoalmente que será a minha guarda a acompanhar a Peregrina não os Rastreadores, vejo pelo seu braço que não foram muito gentis com você” prometeu ele.

“Muito obrigada.” falei pra ele.

Ele se curvou ,um antigo método de comprimento. Curvei também. Depois se foi.

“Vou sentir muita falta de vocês” foi á única coisa que consegui dizer.

Todos chorando não dissemos mais nada. Por longos minutos permanecemos assim. Bateram na porta. Estava na hora.

Soltei do abraço deles. Caminhei para porta, um ultimo aceno e sai. Limpei meu rosto. O Pilar não brincou quando disse que mandaria sua própria guarda. Mantos pretos me aguardavam do lado de fora. Nenhum Rastreador a vista. Não contive um pequeno sorriso. Os mantos negros se aproximaram de mim sem nunca tocar, simplesmente ficaram em volta. Eles pararam ao som de uma risadinha e vi que atrás deles vinha uma manto cinza, de cabeça baixa e magro. Ele levantou o capuz e sorriu pra mim. Era o jovem de cabelos castanhos. Aquele que disse que u era culpada, que está do lado dos Rastreadores e principalmente aquele que me acabou com a minha vida.

“Querida Peregrina! Vim acompanha-la e quem sabe te dar um presente” ele riu “Como se lembra, não demos nossa sentença. Será dada agora, mas pelo regulamento você não poderia saber, mas faço questão que veja.” Cada vez mais seu sorriso ampliava.

Ele colocou a mão no meu ombro. Olhei pra sua mão como se fosse um lixo. Senti um nojo dele que podia sentir meu estomago se contorcendo com essa vertigem. Mas preferi deixar a raiva me dominar na frente dele. Fechei meus punhos.

“Por quê?” perguntei com raiva.

“Será um prazer te mostrar isso. Talvez mais pra mim do que pra você” ele tomou a frente do grupo, conduzindo entre as curvas que tinha no prédio, mas podia ver que ele queria algo. Mas o que? De mim? Algo vai acontecer! Problemas! Fiquei quieta, pois era melhor assim e aposto que ele não me diria mesmo. Já os guardas não falaram ou fizeram nada. Nem o som de suas pegadas conseguia ouvir, parecia de seus pés nem tocavam no chão.

Foram essas guardas que tiraram Felipe... O que será que eles fizeram o que com ele? Mandou ele de volta pra outro planeta? Tomara que seja um bem distante do que vão me mandar.

Eles pararam. Duas grandes portas de madeira á frente, toda desenhada, que ia do teto ao chão, no mínimo de dois metros, tive a vontade de passar a mão, mas me segurei. Podia ver feixes de luz passando pelo vão da porta e o barulho atrás dela, parecia vozes mas o som era abafado.

“Como vou te fazer um favor. Faça um por mim: ouça com atenção” disse ele no meu ouvido. Afastei.

“Levem ela pra sala privada. Isso é uma ordem” disse ele pros mantos negros.

Houve um suspiro universal e por fim eles abriram a porta pra ele. Puxaram-me mais pra esquerda, numa porta simples, pouco notável. Abriram. Uns cinco entraram juntamente comigo. Havia uma poltrona marrom apontada para uma parede totalmente de vidro, estava escuro, assim que ligaram a lâmpada, pude ver onde estava, em uma salinha onde podia ver todos da sala lá dentro pelo vidro, mas eles não podiam me ver. Um tipo de espelho dupla face. Lá só havendo os Cinco Pilares. Com certeza, arrumei mais problemas.

Uma sala maior que qualquer outra que tinha visto. Era toda marrom com janelas que iam do chão ate o teto, com uma lareira que iluminava o local todo com seu fogo e uma mesa com castiçais longa, que tinha cerca de dez lugares. Lembrava aqueles quadros do Renascimento ou dos castelos. Mas os Cinco Pilares estavam cada um em um canto, alguns olharam o jovem de cabelos castanhos que me trouxe acabar de chegar. A loira estava em pé, o senhor de cabelos brancos estava sentado, a jovem de cabelos castanhos sentada com o pé cruzados apoiados na mesa, já o senhor de cabelos negros estava encostado na parede sorrindo e o jovem de cabelos castanhos chegando perto dele. Iniciaria a reunião. Reunião pra lá de sombria.

“Desculpem a demora, irmãos, estava meio que ocupado” disse o jovem que me trouxe. Olhou pro de cabelos negros e concordou com a cabeça. Os dois riram.

“Espero que tenha resolvido, irmão” disse a jovem loira. Sentia o sarcasmo em sua voz.

“Sempre resolvo meus problemas, sempre do meu jeito! Irmã.” havia um duplo sentido nisso. Vi o senhor de cabelos brancos tremer e interrompeu.

“Parem os dois, estamos aqui pra decidir o destino da Peregrina. Sente-se Patrick.” parecia que cada palavra doía nele.

“Por mim, ela receberia só uma transferência de planetas” disse ele.

“E que punição da traição da nossa espécie fica onde? Por mim, ela devia ser... executada” disse com um sorriso no rosto o senhor de cabelos negros.

“Executada? Essa é a sua solução pra tudo Brutos?” gritou a loira “Não tratamos as coisas assim!”

O senhor de cabelos negros, Brutos, sorriu e olhou pra garota de cabelos castanhos. Ela estava sentada com o pé na mesa e olhando para o fogo. E foi ela a responder.

“Errada irmã. Já houve a condenação de execução.” ela olhou pra loira, seu rosto refletia as chamas. “Não se lembra?” Por um momento a loira ficou pálida e baixou a cabeça.

“Desculpa irmã. Beatriz, não quis dizer....” a loira estava quase chorando de arrependimento. Mas a de cabelos castanhos, Beatriz, gesticulou para ela se calar.

“Quero ir pra casa. Por mim nem votava. Vim depois de milhões de anos nesse planeta porque fui obrigada” disse Beatriz olhando diretamente pra Brutos.

Como os Pilares, pelo menos alguns residiam mais na Terra, logo se acostumaram com os nomes humanos e ganharam esses, porém poucas almas sabiam. Todos eram obrigados a chama-los somente de Pilares.

“Não é magnífico como as historias se aparecem?” murmurou Patrick pegando uma taça e bebendo. Todos se mexeram. O de cabelos brancos arregalou os olhos e se levantou. A loira se aproximou rapidamente da Beatriz. O homem de cabelos negros se aproximou do jovem de cabelos castanhos. Cada grupo numa ponta.

“Até parece que estou... como os humanos falam, já sei, tendo um deja vu.” disse Brutos.

“Parem. Antes que seja tarde” gritou o senhor de cabelos brancos.

Mesmo com um vidro separando, podia sentir o clima que estava, o jovem de cabelos castanho parecia que ia explodir. Já os outros dois provocavam para que ela exploda. ‘historia parecida’, eu com ela? Em que? Ela é um Pilar e eu uma simples alma! Boba e apaixonada.

“Você quer brigar não é? Os dois estão” a loira tomou partido da irmã.

“Que isso, Caroline, longe de nós, só queremos o bem para raça humana” disse Patrick, levantando as mãos como se fosse inocente.

“Caroline, você deve saber melhor do que eu como as historias são exatamente iguais, quem sabe até o final, pode ser o mesmo?” Brutos. Do jeito que ele dizia parecia uma cobra enfeitiçando uma vitima.

Beatriz ignorou os dois do lado, se levantou e foi para o lado da janela.

“Oh como me dói, pensar nisso. Sabe Beatriz, aquele humano até que era bonito para um miserável como a espécie dele! Pena que morreu tão jovem” disse Patrick.

Foi á gota d’água. A Beatriz se virou. Seu rosto era o fogo e seus olhos eram as chamas. Os dois, Caroline e o de cabelos brancos, só tiveram tempo de sair da frente, ela foi ao encontro de Patrick, apertou a garganta dele.

“Lave sua boca pra falar dele” gritou ela.

“Opa! Acho que achamos pouco do seu coração. Sabia que você não conseguiria guardar isso irmã! A famosa ‘coração de gelo’ morreu faz tempo” Brutos veio pelo lado, tirando e segurando os braços da Beatriz.

“Tenho pena de você”– sussurrou ele. Ela apenas soltou um risinho.

“Sabe, tenho uma teoria para vocês dois serem assim, sabe o que irmãos?” disse Beatriz olhando com nojo pros dois. “Porque nunca foram amados. Porque a final, eu amei e fui amada e vocês? Há lembrei! Não! Nunca vão sentir o que eu senti, sempre serão secos, ocos e vazios por dentro, porque em nenhum planeta alguém amaria vocês. Afinal a única coisa que ambos querem é ser A Voz do universo, querem meu cargo. Nunca serão.”

A Voz do universo. Não pode ser.

Era até onde sabia: Um ser vivo designado a defender a causa de universo todo. Podia ser qualquer ser vivo, de qualquer planeta ou lugar, contanto que fosse votado pela maioria e todos concordassem com isso. Não era revelado a todos. Somente “os Pilares” sabiam, ou qualquer que eles quisessem saberia. Mas muitos insinuavam ser uma lenda. Afinal, quem em todo nosso sistema planetário seria votado e ganharia isso? Pra ser realmente a voz do Universo todo. Nunca vi um na minha frente. E aqui está uma. Bem na minha frente.

“Você já me machucou uma vez Brutos, mas acredite, não sou a mesma! Se quer meu cargo... Só por cima do meu cadáver” ameaçou Beatriz.

O que Beatriz não sabia e não viu foi o olhar que Patrick deu e ali percebi, eles iriam matar ela se fosse preciso.

“Nunca serão! Quer saber do que mais? Concordo com a Beatriz!” disse Caroline.

“Como se atreve?” Brutos cuspiu alterado, o senhor de cabelos brancos se colocou entre ele e Beatriz.

“Para trás” ameaçou ele. Ele podia ter cabelos brancos, mas seu porte era de uma pessoa muito forte.

“Magnus saia da minha frente!” gritou.

“Calma, irmão. Afinal, mesmo que sejamos corações de pedra, pelo menos não carregamos culpa em nossa alma.” disse Patrick.

Vi o corpo da Beatriz se curvar. Foi como se tivesse levado um soco.

“Já chega, reunião encerrada!” disse Caroline.

“Quem sabe Patrick não podemos fazer o mesmo como o outro com a Peregrina?” disse Brutos. Fazer o que comigo? Igual a quem? Matarem-me?

“O destino de Peregrina será...” começou Patrick, mas Beatriz gritou o interrompendo.

“Meu!” gritou Beatriz, sua voz era gelo puro “Não era isso que queriam irmãos? Então! Serei eu a decidir, agora chega disso.”

“Faremos uma pausa. Preciso ver alguns ‘probleminhas’! E vejo que a nossa irmãzinha aqui precisa de ar!” disse Brutos rindo e já saindo.

“Saiam daqui” gritou Caroline.

“Com todo prazer, irmãzinha, afinal o que é uma historia sem dor?” disse Patrick já saindo.

Assim que ele e Brutos saiu Beatriz desmoronou a fachada. Seu rosto todo escureceu e começou a chorar. Ela caiu de joelhos no chão, chorando, os outros tentaram chegar perto, mas ela empurrou eles e por fim gritou.

“Foi por isso que não pisei nesse planeta. Maldita hora que te ouvi irmã. Era isso que vocês queriam? Saiam de perto de mim.”

Sua mão estava fechada em volta de um anel pelo que vi. Naquele momento não importava o que ela decidiria de mim, a única coisa que sentia de ruim dela, morreu. A dor dela parecia ser horrível, o grito dela me fez arrepiar, seu olhar era uns dos mais tristes. A sala toda se escureceu, a lua apareceu pela janela, mas até mesmo o céu parecia triste, todos ali estavam escuros. Foi quando suspiros em volta me fizeram ver. Os mantos negros também sofriam com ela, como se a dor dela fosse a deles, até vi alguns com lágrimas. Toquei meu rosto e descobri varias lagrimas. Como aquela menina sofreu! Vendo ela ali no chão chorando, não era mais um Pilar pra mim e sim uma jovem com o coração partido. Queria saber: O que aconteceu com o seu humano? O que significa o anel? Por que dos outros Pilares serem tão contra ela? Tudo pelo cargo de ser A Voz do Universo? Julgaram os humanos como sendo os mais ambiciosos, mas acabo de ver as duas almas mais ambiciosas, Brutos e Patrick. Eles poderiam chegar ao ponto de mata lá? ‘Fazer igual ao outro’ que outro? Por que queriam que ela que fosse decidir meu destino? Por que me fizeram ver isso? Patrick e Brutos tinham algum plano, mas qual? A guarda não podia se meter nisso? Quem protegeria Beatriz? Magnus? Ou Caroline? Eles poderiam, não é? E quem a fez sofrer? Mas eles não iriam me contar. E alias porque ela não me ajudou então? Historias iguais? Aquilo batia na minha cabeça. Beatriz não era minha inimiga. Ou era?