Tomorrow Heroes — The Heirs of Avengers
Chapter XV-James Rogers
Eu ainda estava surpreso sobre como Asgard não era congelante.
Bom, pelo menos não tanto quanto imaginei.
Quer dizer, acho que deveria ser. Porque, no imaginário nórdico, era como a terra em que eles viviam: fria. Muito fria. Mas, de alguma forma, a Asgard de verdade arranjava um jeito de manter uma temperatura confortável-mesmo dentro do palácio de ouro puro.
E também não havia entendido como as camas praticamente medievais podiam ser tão boas. Pareciam feitas de penas.
Depois do jantar- que, por sinal, estava ótimo -eu fui direto para a cama. Meio que todos nós fomos, afinal 'crianças não podem ficar acordadas para o fim das festanças', dissera a marionete de Balder(Aryeh, claro. Algo nele ainda me deixava com a pulga atrás da orelha). Não que eu ou Ben ou Howl estivéssemos a fim de obedecer, mas fora um dia grande. Grande e cansativo. Minha pálpebras começavam a pesar.
***
Quando dei por mim, estava em um gramado enorme e cheiroso. Pedaços de dente-de-leão saíam de toda a parte, e o sol brilhava aconchegante. Eu estava em minhas roupas normais, uma bermuda jeans com camisa vermelha e tênis all-star. Consegui ouvir os gêmeos Stark e Parker rindo e conversando, enquanto Kate cantarolava algo e Josh ajudava Gabi e um menino-que-reconheci-como-Aryeh com alguma coisa. Logan estava deitado perto da Barton, tirando uma soneca, e Lizzie penteava os cachos negros de Kate. Ouvi uma respiração profunda ao meu lado, e, por cima do cheiro doce da grama, pude sentir o cheiro de perfume-brasileiro-que-copiava-o-nosso-ensino-médio de Alyss.
Se eu sabia qual era porque havia espirrado um pouco em meu cachecol só para sentir o cheiro? É claro que não. Isso seria tão idiota.
Enfim.
Parecia um dia tranquilo de verão. Um daqueles que eu não tinha fazia muito tempo, mas andava precisando. E todos os meus amigos estavam ali, o que era estranho. Até Aryeh, e acho que, se fosse pra sonhar com ele, seria um pesadelo.
Não devia ter pensado isso.
O céu começou a escurecer. Eu segurei firme a mãozinha sedosa de Ally, ao meu lado, por puro instinto. O ar começou a rodopiar, e parecia que eu estava em um filme de terror. Os olhos dos meus amigos estavam negros e fundos, e todos haviam parado o que faziam e me encaravam. Olhei para Alyss, para checá-la, e vi que sua face havia envelhecido. Ela estava ficando acinzentada.
–Nos salve, James- ela disse, e me lembrei do outro sonho. -Nos salve.
Eles começaram a falar coisas do tipo muito rápido, desordenadamente. Eu não entendia, e estava aterrorizado. A mão de Alyss apertava a minha agora, e doía. Por cima do coro bagunçado, a voz do garoto e da garota, com as mesmas charadas e frases incompletas de sempre.
O filho... O prepotente... Thor... Ele virá... Salve-nos..., era o que eu ouvia.
Mas como?, eu pensava. Então, como um quebra-cabeça que começa a se encaixar, eu vi que já tinha uma informação.
O filho de Thor. É Erik.
***
E que grande peça, hm?, pensei, segundos antes de acordar. E, bom, não fiquei surpreso ao ver que estava me debatendo e gritando. Muito menos quando vi Ben, Howl e Owen sentados no pé da minha cama. Bom, a bem da verdade, Owen estava em pé ao lado de Aryeh- o que raios ele estava fazendo no meu quarto?
–Cara.- Howl disse, o semblante preocupado. -Você tem que ver um médico.
Grunhi.
–Ah, Howard.- devolvi, me recostando. -Se sairmos dessa vivos, eu vou em quantos médicos minha mãe quiser.
Ben riu.
–Duvido.
–Duvide, então. Que seja.
Vai perder.- eu estava com sono ainda. -Eu nunca pensei que fosse dizer isso, mas eu quero minha mãe.
–E eu a minha.- Howl e Owen disseram juntos.
–Estaria satisfeito só com minha casa, por hora.- Ben suspirou. -Mas ter a mamãe aqui não faria mal.
Nos entreolhamos. A pele muito branca de Owen, e Howard, e Ben- bem, de todos os meus amigos menos eu -estava ainda pior. Eles estavam muito pálidos, beirando o fantasmagórico. As olheiras já profundas de Ben se destacavam, e as mãos de Howard pareciam mais nervosas que o normal. Owen, por sua vez, parecia prestes a entrar em parafuso o tempo todo.
Alguma coisa estava muito errada no nosso time. Aliás, será que ainda éramos um?
Aryeh, que estava quase sumindo nas sombras, limpou a garganta.
–E-eu... Eu sinto muito por vocês. Não consigo imaginar como é estar na sua situação.- ele olhou na direção que eu supus ser a do quarto de sua mãe, e eu me esquentei por dentro. Pelo menos ele era sincero, e isso já lhe dava uns pontos à mais. -Se houver qualquer coisa que eu possa fazer para tornar a estadia confortável, não sintam receio em dizer. Não quero que levem má impressão de Asgard. Nos dias normais, é uma cidade muito boa.
–Nos perdoe, Aryeh, mas acho que até mesmo Alyss vai levar más impressões- Owen constatou -É uma cidade linda, e parece ótima, mas estamos presos à sabe-se lá qual é a distância de nossos pais. Não há como tirarmos uma boa impressão.
–Eu levaria vocês para o que temos de melhor aqui, mas vocês não estão no melhor estado de espírito pra isso.- o moreno constatou, ao passo que Ben deu uma risada leve, antes de um silêncio meio constrangedor encher o ambiente.
–Por que vocês vieram aqui?- perguntei, numa tentativa de quebrar aquela situação embaraçosa.
–Alyss te ouviu gritar e me acordou.- Aryeh disse. -Ela parecia preocupada.
–Com razão.- Ben acrescentou. -Cara, daquela vez você teve espasmos e agora esses gritos. Pode ser sério. Pânico do sono ou algo assim.
Refleti um pouco. Minha mãe me contou que sempre tive sonhos que, de alguma forma, previam o que estava por vir. Ela não tem religião, mas diz que, para o espiritismo, pessoas assim são chamadas de médiuns; e sonhos assim são sonhos mediúnicos.
Se esse fosse um deles, estávamos ferrados.
–Pânico do sono acarreta apneia, Ben.- Howard devolveu. -Saberíamos se o James tivesse apneia.
E meus amigos mergulharam em uma conversa sobre eu ter ou não pânico do sono, os três geniozinhos e suas teorias. Aryeh se apoiava em meu criado mudo, olhando para eles com a mesma cara que eu.
–Consegue entender alguma coisa?- ele perguntou.
–Não.- admiti.
–São sempre assim?
–25 horas por dia.
–Uau. Minhas condolências.
–Valeu.
E, por menos que eu goste de Aryeh, começo a pensar que somos parecidos. Talvez até demais.
–Ok, pessoal, hora da cama.- eu digo, expulsando os quatro. -Amanhã será um longo dia e todos nós precisamos de dormir.
Ben, que estava dormindo no mesmo quarto que eu, fecha a porta quando os Stark e o nórdico cruzam o batente; e então se deita na cama do outro lado do quarto.
–James?- ele pergunta.
–Oi, Ben.- respondo.
–O que tu sonhou no primeiro dia de treinamento?
A memória do sonho me vem à mente de supetão, e eu me assusto. Meus amigos arranhados, um labirinto de espelho, duas vozes falando coisas aleatórias- ou nem tanto -de uma forma sombria. Medo. Impotência.
–Coisas ruins.- eu devolvo. -Juro que conto amanhã, não é exatamente uma história de ninar.
–É com isso que ainda anda sonhando?- ele insiste.
–É melhor pararmos, Ben, ou você também vai ter pesadelos.- eu o paro bruscamente. O lugar onde Benjamin está tentando chegar é frio e escuro. -Bons sonhos.
–Bons sonhos, James.
***
Na manhã seguinte, Ben me acordou à uma altura que, para meu cérebro exausto, pareceu cedo. Não deveria ser menos de nove e meia, na verdade, mas eu poderia dormir por uns três dias seguidos.
Disse que eu deveria colocar uma roupa quente, porque havia nevado a noite inteira. Vi, assim que saí de debaixo dos cobertores, que ele estava certo; e abracei meu próprio tronco numa tentativa de me proteger do frio. Coloquei uma roupa parecida com a do dia anterior, e, assim que calcei minhas botas, alguém bateu na porta.
–O café está na mesa!- a voz de May disse, do outro lado da porta.
–Andem logo!- Howard adicionou. -Tô morto de fome!
–Quem me dera.- resmunguei e Ben riu, antes de sairmos para o palácio dourado.
Meus olhos costumavam a se acostumar com o brilho, mas eu nunca me acostumaria com a ideia de que o palácio era literalmente feito de ouro. Em casa, aquilo custaria muito. Até para o tio Tony seria muito. O chão, ao menos, não era dourado: de um marfim branco e impecavelmente limpo, acho que era até pior. Quantos elefantes teriam morrido para aquilo?
–Minha madrinha não quer que tenhamos de nos sentar à mesa principal hoje.- Alyss anunciou.
–Então vamos para uma pequena sala de lado, tomar café com minha irmã e prima.- Aryeh terminou. -E, só para que vocês não se assustem, elas podem ser meio imprevisíveis. A minha irmã mais nova é um bocado esquentada e minha prima tem, bem, um talento um tanto quanto anormal.
–Talento?- eu perguntei, e ele engoliu em seco.
–Dito isso, a porta é essa.- ele abriu uma pequena(para os padrões do palácio) porta também(adivinhem) dourada.
Dentro da sala à qual essa levava, podíamos ver duas garotas sentadas em um sofá que servia uma mesa. Uma delas, a morena, ria até chorar em seu lugar, enquanto a outra fazia um gesto com a mão e olhava para um pequeno duende no chão perto da porta. O pobrezinho se pulava como uma macaco e fazia uma dancinha estranha, e só pude concluir que a loura estava manipulando sua mente. Não pude segurar um sorrisinho ao ver a brincadeira.
–Lena! Helmi!- Aryeh bradou, ao passo em que a morena se sentou direito e tentou parar de rir e a loura fingiu que estava somente tomando seu chá. -Mamãe e papai já falaram com todos nós sobre isso!
–Ah, Ary, larga de ser tão careta.- a morena disse. -Estávamos só brincando um pouquinho.
–A Helmi pediu.- a loura que concluí ser Lena jogou, visivelmente acanhada. -E ela me fez cosquinhas até que eu fizesse.
–Lena, você tem poderes sobre a realidade e a mente mas não consegue resistir à cosquinhas?- Aryeh perguntou, sarcástico.
–Vamos ao que interessa, irmãozinho. Quem são esses?- a que deveria ser Helmi o interrompeu.
–São os midgardianos que chegaram ontem, quando Erik se foi.- ele se voltou para nós. -Pessoal, estas são Helmi, minha irmã- a morena acenou. -, e Lena, minha prima.
–É um prazer.- as duas disseram juntas.
–Estes são James, Benjamin, Owen, Howard, May e Alyss.- ele nos apresentou.
–Peralá.- Helmi o interrompeu. -A Alyss?
–Claro que é A Alyss, sua gênia.- Lena devolveu. -Sentem-se. Devem estar mortos de fome.
–Não achei que magia fosse algo comum por aqui.- May comenta. -Pelo que nos mostraram, a parada de vocês são espadas e forças da natureza.
–Lena é diferente.- Aryeh disse. -Mas eu lhes avisei. E acho que preferiríamos não falar sobre isso.
–Aryeh, você é péssimo em ganhar a confiança das pessoas.- Helmi disse, balançando a cabeça, enquanto tomava um pouco da bebida em seu copo.
–Terrível.- Lena concordou. 'Nem imaginam quanto', eu acrescentei mentalmente.
–Ué, Lena nunca gostou de falar disso.- o moreno disse, continuando a comer.
–Nem Lena nem nenhum de nós nunca precisou tão desesperadamente de confiança ou informações.- sua irmã retrucou.
–Poderiam só nos falar logo?- Ben pediu, impaciente.
–Se você é quem pede.- Lena começou, mas Ally a interrompeu.
–Não diga.- minha melhor amiga disse, parecendo meio assustada. -Seu pai é... Seu pai é Loki.
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