Fazia alguns minutos que Jennifer já havia acordado, contudo, ninguém havia aparecido ainda. Ela estava em um quarto antigo, com uma penteadeira de madeira, dois criados mudos, uma cama com dossel de princesa e uma poltrona de veludo vermelha. Parecia fazer parte de uma decoração antiga, da época vitoriana, só que não havia sido preservada. A madeira dos objetos estava velha, tal como o chão, que rangia aos pés da loira e, o tapete empoeirado, que fazia par com o veludo da poltrona e das cortinas pesadas da única e gigante janela, que estava fechada e escurecia todo o cômodo, tinha marcas de onde as traças devoraram o que, um dia, foi um tecido nobre.

Jennifer havia sido jogada dentro do quarto, quando ainda estava desacordada e, quando começou a compreender o local que se encontrava, também pode compreender que estava fora de Londres, alguma região rural afastada, já que não havia sons de tráfego algum. Havia uma única porta, tal como havia uma única janela emperrada, deixando claro para Mars que sua oportunidade de fuga era a porta e nada mais.

Quando Jen deduziu que já havia se passado dez minutos desde que acordará, ela escutou passos no corredor. O barulho era tão alto quanto o que ela fazia quando se mexia dentro do quarto. A loira conseguiu distinguir três tipos de passos diferentes. Um deles, forte e decisivo, Mars deduziu ser do chefe. Luke... Ela não conseguia se perdoar por ser tão idiota. Tirando Sherlock, que não era tão melhor, fingindo a própria morte e tudo mais, todos os relacionamentos que Mars teve acabaram com alguém querendo feri-la emocionalmente, ou literalmente vê-la morta. Agora tudo que Irene, John, Mad diziam fazia sentido. Ele havia drogado-a naquela noite, ela que teve sorte de se perder do garoto e azar de topar com Davis. Ela fora tão, ridiculamente, idiota! Por Merlin! O segundo par de passos que ela podia distinguir era decisivo, mas não tão forte quanto o de Luke, o que dizia para a jovem que ele queria estar ali, que desejava ver o sofrimento da loira, que desejava vê-la morta e, tão logo, sabia que pertencia a Davis. O estuprador que fugira da cadeia vinha tendo várias oportunidades de capturá-la, contudo, sorte ou habilidade a salvaram da maioria de seus ataques. E ainda havia o último par. Fraco e indecisos. Cada passo parecia ser dado após repensar a ideia de largar o lugar e correr como covarde. Lionel. Claro, era compreensível, aos olhos de Jen, o medo, a indecisão do ruivo. Enquanto Luke e Davis tinham assuntos inacabados com Jennifer, Lionel era apenas um serial killer que caíra de pára-quedas nessa guerra e escolhera um lado para sobreviver. Jennifer Mars escutou uma chave ser introduzida na porta e girar. A próxima coisa que se deu conta era que estava cobrindo os olhos porque a luz, que vinha do corredor, machucava-os.

- Não era essa visão que desejava tanto ver, Davis? - Jen escutou a voz de Luke e, logo depois, a porta se fechar. Seus olhos pararam de arder e ela pode olhar o trio que se pusera na frente da loira. - Uma Jennifer acuada, com medo, indefesa? - Ela escutou Davis soltar um risinho de satisfação.

- Que eu saiba, Berrigan, eu ainda estou viva. E, enquanto eu estiver viva, vocês estarão em risco. - Mars respondeu, se colocando de pé. - Olha quem eu vejo: o filho do demônio junto com meu arqui inimigo e um serial killer disfuncional. Qual deles vai cair primeiro? Façam suas apostas. - Então ela chegou perto de Luke, dizendo baixinho para que apenas o moreno escutasse:

- Eu aposto no ruivo, e você, querido? - Luke empurrou Mars que voltou ao chão, sem conseguir se equilibrar.

- Você está louca. Encurralada e sem plano. - Foi quando Jennifer voltou ao normal, perdendo a voz doce que estava usando segundos atrás e trocando-a por uma voz decisiva e apenas... Irônica.

- E é por isso que vocês estão morrendo de medo. - Davis riu, se aproximando da jovem loira. Ambos se encaram por alguns segundos antes de Davis acertar um soco no lado direito de Mars.

- Você não sabe quantas vezes imaginei em como colocaria um fim nessa sua vida desprezível, Mars.

- Contudo, acredito que tenha sido bem criativo em seus sonhos, Turner. - Disse Jennifer. Ela se colou de pé mais uma vez, sabendo exatamente o que estava por vir.

- Vocês vão me matar. É apenas uma questão de como e quando agora. Poderiam fazer o favor de me explicar o porque. - Ela viu Davis abrir a boca para começar a recitar seus inúmeros insultos que ela já previa. - Sim Davis, eu destrui sua carreira, coloquei você na prisão, captei a mensagem, você me odeia. Eu estou mais interessada nos motivos do prodígio Moriarty aqui. - Disse, dando um tapinha no ombro do moreno.

- Vingança. - Jen pareceu surpresa. - Pura e simples. - Ele disse, ainda calmo. - Sherlock causou a morte de Jim e eu vou causar o maior sofrimento que alguém pode sentir: perder alguém que ama. - Ele sabia. Céus, ele também sabia... - Claro que não levará mais de alguns segundos para ele sentir isso, Mars, apenas o tempo da bala percorrer a distância e acertá-lo no coração. - Por um segundo, Jennifer ainda achava que ele sairia vivo dessa. Ela, as chances eram mínimas, mas Sherlock... Ela achava que ele poderia continuar vivo. Estava enganada. Moriarty Júnior faria o que Jim fez: colocaria a vida de Jen em risco. Seria morrer por ela ou saber que ela morreu por causa dele. Sabia qual seria a escolha de Holmes. E ele deveria saber que Luke não cumpriria com a parte dele da barganha. Acabaria com os dois mortos. E ninguém para impedir que Berrigan recomeçasse o império Moriarty novamente.

- Você sabe que ele deduziu isso quando você ofereceu o encontro, não sabe?

- Ele sabe que vai morrer. Que você vai... Não tanto. Ele tem o endereço dessa casa. Será que Lestrade é rápido o bastante para chegar aqui antes que o fogo consuma toda a casa? Isso não é habilidade, é sorte. E você não é exatamente a pessoa mais sortuda do mundo, é Jen? - Luke estava bem próximo de Jennifer, e tentou roubar-lhe um beijo. Jen virou a cara, fazendo-o acertar a bochecha.

- Eu tenho nojo de você, Berrigan. - Ele riu.

- Bem, não era isso que parecia antes. E toda aquela história de nunca se julgar um livro pela capa? Não deveria me julgar pelo meu sobrenome, querida, e sim pelo o que sou.

- Em primeiro: nunca acreditei nesse ditado e, em segundo, eu estou julgando-o pelos seus atos. Atos de um covarde imundo que precisa de chantagem para conseguir o que quer. Seu pai teria vergonha do que se transformou. Pedindo ajuda, tãaaaaaao previsível. Tão entediante. - Mars percebeu que sua frase havia saído como planejado, todavia, Luke não revidou ou disse alguma coisa, não para ela, pelo menos. Disse algumas palavras apenas para Lionel e Davis e então foi em direção à porta. Antes de fechá-la atrás de si, abriu um sorriso, virou e disse para a loira:

- Foi um prazer conhecê-la Jennifer. Aproveite o inferno por mim. - E então, se foi.