No mesmo momento em que o tiro soou, Lestrade e Irene chegaram. Jennifer empurrou o corpo, já sem vida, de Luke para o lado e levantou-se. Sua mão tremia, ainda segurando o revólver. Ela encarou todos que estavam ali. Sherlock, John, Mycroft, Greg e Irene e então olhou novamente para o corpo de Luke ao seu lado. Os olhos abertos e vidrados, a palidez, o sangue que ainda escorria. A loira não agüentou mais a pressão e deixou o revólver cair, assim como o próprio corpo e as lágrimas que já se acumulavam em seus olhos.

- Jen! - Gritou Holmes, que agora já estava livre dos braços de Watson. Ele correu até o corpo da loira e a abraçou. - Hey, calma... Não foi nada. Foi um acidente...

- Eu o matei, Sherlock. Eu o fiz. Eu iria fazer, de qualquer maneira... Eu acho. - Ela disse ainda chorosa. Ela a ajudou a levantar e a levou em direção a John.

- Vem, vamos deixar John ver se está tudo bem com você, ok? Vai ficar tudo bem, vai ficar tudo muito bem. - Ela nunca havia visto Sherlock Holmes assim. Tão... Tão amoroso, cuidadoso, tão... Normal. Ele a amava, ela sabia disso, mas as demonstrações, ainda mais em público, eram muito raras. Ele sempre foi mais afastado, mais gélido, mais frio. Alguma coisa havia acontecido. E era verdade. Havia. Sherlock Holmes havia conhecido Jennifer Mars, a irritante sabe tudo que acreditava em sentimentos. Que os colocava acima da razão. E isso, mesmo que surpreendente até para o próprio detetive, havia lhe mudado. O tornado mais humano, mais normal.

Jennifer se aproximou de John. O médico começou a apalpar alguns lugares e perguntava se ela sentia alguma coisa. Algumas vezes ela exclamava de dor, quando Watson apertava um lugar que Davis havia lhe agredido com força. Mas fora isso, e claro, seu psicológico, Jennifer estava bem. Estava viva, respirando e junto das pessoas que amava.

- Ela está em choque, Sherlock. - Disse baixinho, John Watson. - Ela acabou de matar uma pessoa.

- Ela vai odiar a ideia de um hospital John, você sabe disso. - Ele falou ao amigo.

- É necessário. Não me perdoaria se ela não fosse. Ela precisa... Se sentir segura. - Holmes riu.

- E em um hospital será a ultima coisa que ela vai sentir!

- Vocês dois podem parar? - Disse Irene, entrando na conversa. Jennifer estava afastada, ainda parada encarando o corpo de Luke. - Holmes, vamos levá-la para um hospital, John está certo. Ela... Ela não parece nada bem. - Não houve mais discussão alguma. Lestrade ligava para Sally, precisavam, afinal, resolver aquilo. Ele se importava com a loira e sabia que Jennifer não seria culpada, não acabaria presa, contudo, um inquérito deveria ser começado. Irene se aproximou de Mycroft e os dois se abraçaram. Jonh se afastou do Holmes mais novo, que estava pasmo com Adler e o irmão, e foi ligar para Mary, perguntar se ela estava bem. Jennifer ficava murmurando para si mesma que tudo ficaria bem, que o que fizera fora o melhor. Luke merecia a morte. Todavia... Nem mesmo sua mente, quanto menos seu coração, parecia acreditar e aceitar as palavras.

- Eu já matei antes... - Falou baixinho para si mesma. Mas o padre mereceu. Ele havia nos estuprado! Sua consciência pareceu responder.

- Luke também mereceu. Ele brincou comigo. Ele brincou com meus sentimentos! - Ela falou brava. E nós gostávamos dele. Nós realmente gostamos dele. Que burra que fomos.

- Eu... Eu não poderia... Sentir pena dele, não depois de tudo, poderia? - Não deveríamos, mas nós sentimos. Você realmente gostaria que tudo fosse um sonho. Porque não consegue acreditar que o mesmo menino que lhe fez sentir-se tão bem, é o que desejava nossa morte e que nos causou tanto mau. A voz consciência pareceu sumir depois disso, ainda mais quando as lágrimas triplicaram em seu rosto.

- Jen? - Sherlock lhe chamou. Ela demorou dois minutos para finalmente olhar para o rosto do namorado... Se é que ele ainda era isso. - Vamos até o carro sim? - Ela concordou, deixando que os braços do moreno a envolvessem e ele a guiasse o caminho. Tudo parecia estar sendo um sonho. Um terrível pesadelo. O casal chegou ao carro, atrás deles, John ia em direção ao lado do motorista.

- Para onde vamos, Sher? - Ela pediu baixinho. Holmes e Watson se encaram. A voz de Jennifer parecia tão infantil. Como se ela não acreditasse no que via, no que sentia. Como se estivesse possuída por uma coisa que não era ela.

- Ao hospital, minha pequena. - Ela torceu o rosto.

- Eu não gosto de hospitais. Nunca gostei. - Ele concordou. John decidiu que era melhor falar com a amiga, antes que Holmes dissesse que não precisavam ir a hospital nenhum.

- Sabemos Jen, mas você precisa ir. Você não está bem. - Então ela ergueu o rosto e, como por mágica, aquela menininha assusta sumiu. Ela secou as lágrimas, se aninhou nos braços de Holmes, olhou para Watson e disse:

- Eu sei John. Só... Leve-me ao hospital e coloque Mary para me ajudar sim? Não sei como faria sem vocês. - E abriu um sorriso, logo depois colocando o rosto no peito do detetive e voltando a deixar lágrimas caírem. A dupla de amigos se encarou, surpresos com a atitude da loira, mas aliviados por ela se sentir “melhor”.

Pelo menos eu tenho o Sherlock, não é? Era o que Jennifer pensava, cada vez mais calma.

Já no hospital, depois de alguns exames para confirmar que não havia nenhum machucado realmente preocupante, Jennifer estava deitada em uma cama confortável e tomando um café. Ninguém havia sido autorizado a entrar, ordens de Lestrade, que precisava, por hora, prender Jennifer e Sherlock. Foi quando Greg e Sally entraram em seu quarto que ela parou de encarar o liquido preto em sua xícara, para encarar a dupla de detetives a sua frente.

- Jen, precisamos de seu depoimento... Sei que compreende. - Greg disse. Obviamente, Lestrade sabia que não daria em nada e que Jennifer nem seria acusada. Se fosse, seria por homicídio culposo e, provavelmente, não seria culpada. Já Sally estava quase que feliz ao ver que ela finalmente havia saído da linha. Isso tirava, quase que automaticamente sua vaga de estagiária.

- É claro, Lestrade. - Quem começou perguntando foi Sally.

- Como ficou sabendo da relação entre Moriarty e Antonin? - A negra pediu.

- Por meio de Lionel. Ele foi até o flat, propondo um jogo. Claro que sabia quem ele era, contudo, não haviam provas ainda para condená-lo. Aceitei o jogo, ele tentou me envenenar, acabei descobrindo. Houve uma briga e algumas ameaças. No final ele deixou o nome no ar. Requisitei com Mycroft a ficha de Antonin Klaus e fui ao clube La Luna. Ele me contou a verdadeira história.

- Sobre ela, Sherlock já está nos informando. Aliás, acho que gostará de saber que todo o ataque na fabrica foi gravado. Sabemos que Holmes é inocente de todas as acusações. Claro, ainda precisei prende-lo... - Greg disse, Mars sorriu. - Bem, próxima pergunta: como acabou na mansão abandonada?

- Bem, Holmes revelou que estava vivo no meio da feira de Camend Lock, houve uma pequena briga entre Davis, Lionel e eu. Depois disso, junto de Holmes, fui ao 221B, onde passamos o resto da noite. Na manhã seguinte, decidimos ir ao clube La Luna em busca da senha. Entrei sozinha, já que, se Holmes entrasse comigo, seriamos mortos na hora. Questionei Antonin, contudo, antes mesmo que ele respondesse, alguém, atrás de mim, atirou nele. Quando me virei, Luke estava ali. Ele se apresentou, dizendo-me que era filho de Moriarty e então eu apaguei, acordando na mansão. - Sally não parecia comprar a história. Engraçado, porque ela era, realmente, verdade.

- Se isso tudo for verdade... - Sally começou, Jen ficou irritada e acabou cortado-a.

- E é. - Disse a loira, arqueando uma das sobrancelhas.

- Bem, tanto faz... Como foi que escapou? - A mulher terminou a pergunta.

- Eu não sei... Bem, eu sei, mas não compreendo. Davis, Lionel e Luke vieram até o quarto que eu me encontrava. Lá nós batemos um papo animado. - Jen riu. - E então Luke foi ao encontro de Holmes. Fiquei com Davis e Lionel. A principio, parecia que os três estavam na jogada, mas com o tempo, Lionel se desligou. Davis batia e tentava me atingir com palavras, e eu apenas fiquei em silêncio. Foi quando Turner se cansou da jogada e pediu que Lionel pegasse a gasolina. O ruivo demorou para perceber, mas fez o que foi pedido. Então eles espalharam pelo quarto, principalmente na janela e foram em direção a porta. Se despediram de mim e tacaram fogo no lugar... - Ela pareceu ficar perdida em seus pensamentos, se calou, começou a ver o lugar em chamas, Lionel a salvando. Aquilo nunca faria sentido para Mars.

- Jen? - Greg a tirou dos devaneios. - O que foi que aconteceu então?

- Ah, alguém derrubou alguém. Eu não podia ver com toda a fumaça. Então, do nada, apareceu uma mão que me puxou para fora das chamas mais altas. Era Lionel. Ele havia derrubado Davis e estava me entregando um revólver e as chaves da moto. Ele me pediu desculpas, me deu o endereço e, quando eu propus ajudá-lo, disse que merecia morrer e se uniu a Davis, que estava tentando se levantar... Eu corri e não olhei para trás.

- E foi até onde Sherlock e Luke estavam? - Sally pediu. Jennifer concordou em silêncio.

- Não acredito que preciso contar o que aconteceu na fábrica. Afinal, vocês tem um vídeo... - A dupla concordou. Sally saiu logo em seguida, mas Lestrade decidiu ficar mais alguns minutos.

- Já que sou a única visita que você pode receber, por hora, vou aproveitar alguns minutinhos. - Jennifer riu.

- Olha Greg... - Ela começou. - Faça o que tiver que fazer. Se a lei mandar que eu tenho que ir a julgamento, que assim seja. Não estou brava com a Yard. Eu matei aquele homem. E não é como se fosse meu primeiro tiro fatal. - Ela disse, lembrando-se do padre pedófilo. - Não arrisque seu emprego por mim. Não vale o sacrifício. - Terminou.

- Claro que vale. Eu faria tudo pela minha família Jen. E você já é dela. - Ele sorriu para a loira. - Porém, não há o que arriscar. O vídeo é claro. Ele lhe atacou. Meu chefe está analisando-o agora. O veredicto, tanto seu quando de Holmes, sairá logo. E sim, você tem mais chances de ir a julgamento.

- Oh sim, eu faço direito lembra? Tenho alguma noção do que posso acabar passando. - Greg recebeu uma ligação e sorriu se desculpando.

- Preciso atender. É o chefe. - Ambos sorriram e ele saiu do quarto, deixando Mars a seus pensamentos, mais uma vez.