Aquelas correntes realmente eram um incômodo. De onde Ryuzaki tirou essa idéia afinal? Já fazia um bom tempo que estavam assim, acorrentados, e já fazia um tempo também que Raito se sentia incomodado com essa proximidade, mas por motivos diferentes do começo. Não era mais por causa da falta de privacidade e da raiva por continuar sendo suspeito de ser Kira, não, seu incômodo vinha do fato de que não se importava mais com nada disso. Estava... Gostando de ficar próximo ao detetive 24h por dia, e parte dele não queria ser completamente inocentado para que as correntes não fossem retiradas. Ryuzaki era estranho, mas havia algo nele que prendia a atenção de Raito e não o deixava desviar o olhar. Era inteligente o suficiente para saber o que estava acontecendo com ele, por que se sentia daquele jeito, mas aceitar era outra história.

- O que foi, Raito-kun? - L perguntou, deixando se bolo de morango de lado.

- Hã? - Raito disse distraído.

L foi com a cadeira para mais perto de Raito, sem sair de sua posição " normal " - Você tem estado muito estranho ultimamente - colocou a mão na testa dele - Está doente? Está quente.

Raito havia corado muito com o contato e tentou se afastar depressa, mas acabou caindo para trás com a cadeira, e como estavam acorrentados, L caiu em cima dele.

- Ai! Não faça isso Raito-kun! - L reclamou.

- D-Desculpe - gaguejou. Se estava vermelho antes, agora estava em chamas. L começou a se levantar, o que permitiu a Raito ver uma mancha vermelha na manga da camisa branca do outro - Você se cortou!

- Ah, tem razão - L olhou para o braço, sem dar muita importância.

Raito levantou e puxou L pelo braço intacto - Temos que limpar isso.

L se deixou ser levado, olhando curioso para o mais novo. Tinha reparado que Raito andava estranho, mas ele próprio estava experimentando sensações estranhas nos últimos tempos. Tinha algumas teorias acerca disso, e a mais provável era...

- Raito-kun - chamou. Estavam no banheiro e Raito estava pegando um pouco de algodão no armário. Virou quando foi chamado e foi surpreendido pela boca de L na sua; sentiu a língua dele invadir sua boca juntamente com o gosto doce de bolo.

Não conseguiu encontrar sua voz quando L se afastou. L também não disse nada, apenas pegou o algodão e o remédio das mãos de Raito e saiu do banheiro, puxando-o junto.

- Espera um pouco! - Raito conseguiu finalmente falar, parando de repente, quase derrubando L de novo - Você não vai dizer nada?

- Você beija bem - disse simples. Claro que Raito corou violentamente outra vez.

- Ryuzaki! - como ele conseguia agir daquele jeito?!

- Raito-kun, você não ia limpar meu corte? - L soltou a corrente de sua algema por um instante por um instante para tirar a camisa.

- Você não precisa tirar a blusa! Era só arregaçar a manga!

- Mas assim é mais fácil - L disse falou uma criança.

Sentaram no sofá e Raito começou a passar o líquido no corte de L, tentando ao máximo não olhar a cada segundo para o corpo branco e magro do detetive, desejando tocá-lo mais, desejando... " Controle-se! " exclamou a si mesmo.

- Por que fez aquilo? - tinha que perguntar.

L pensou um pouco antes de responder - Não sei, acho que eu só queria experimentar.

- Experimentar?... E então? - perguntou hesitante.

- Eu gostei. E isso comprova minha teoria.

- Teoria? - " por que eu nunca consigo entender o que ele está pensando?! "

- De que eu estou gostando do Raito-kun.

Raito ficou mudo de novo, se surpreendendo outra vez quando L o beijou pela segunda vez nos últimos dez minutos. Dessa vez foi mais intenso e demorado que o primeiro, tanto que os dois só se separaram quando já não tinham mais ar.

- Ryuzaki... - Raito realmente não fazia idéia do que dizer.

- Eu disse que havia gostado, então nada mais natural do que querer repetir - o encarou com seus olhos negros - E Raito-kun gostou também.

- E-Eu?!

- Então por que correspondeu?

- Eu... Tá bom, eu gostei... Mas isso não está certo... Somos ambos homens!

L o observou um pouco antes de falar - Então vamos apenas esquecer.

- O quê? - perguntou confuso.

- Obviamente Raito-kun se sente incomodado com isso, então vamos esquecer - L disse, mas não o olhando mais. Levantou do sofá - Vamos, Raito-kun. Eu não terminei meu bolo.

Raito o seguiu em silêncio. Esquecer? Não queria esquecer. Queria continuar, queria mais do que um beijo..." Mas no que eu estou pensando,de novo?! " Não, Ryuzaki tinha razão, bastava esquecer...

Mas esquecer se mostrou impossível. Nos dias que se passaram, a mente de Raito saiu completamente de controle; ele se pegava olhando para Ryuzaki a praticamente todo instante e imaginando as mais diversas situações... L não estava muito diferente; não estava conseguindo mais se concentrar na investigação e estava comendo mais doces do que o usual. Não entendia muito dessas coisas, mas Raito parecia incomodado, então ele tinha que fazer algo para ajudá-lo, certo? A suspeita dele ser Kira continuava lá, mas L não achava mais que Raito era Kira, ou melhor, ele não queria que Raito fosse Kira, porque se fosse, só havia dois finais possíveis: ou ele, L, morria quando Raito descobrisse seu nome, ou ele provava que Raito era Kira e o mandava à execução. Não havia nenhum final em que existia " os dois ".

Até os outros membros da investigação e Watari perceberam que havia algo de errado com aqueles dois, mas resolveram não mencionar nada.

E foi nesse clima que o Natal chegou.

- Ryuzaki, você não vai reconsiderar? - perguntou Yagami Soichiro, mas em vão.

- Eu adoraria deixar Raito-kun passar o Natal com a família, mas isso iria contra o propósito das correntes - L respondeu olhando para seu sorvete.

- Está tudo bem, pai. Eu não me importo - Raito disse.

- Mas... - seu pai ainda tentou, mas sabia que era inútil - Está bem então. Feliz Natal, filho. Feliz Natal, Ryuzaki, Watari - e saiu junto com os outros.

- Sinto muito, Raito-kun - L disse, finalmente olhando para cima.

- Eu já disse que não me importo - e era verdade. Não queria ir para casa, queria ficar lá, com Ryuzaki, não só no Natal, mas em todas as épocas do ano. Não conseguia mais abafar isso - Então, é véspera de Natal. O que quer fazer?

Raito podia jurar que viu um olhar malicioso nos olhos de Ryuzaki por um instante apenas, logo antes dele falar - Nada demais, eu nunca comemorei o Natal antes.

- Nunca? - perguntou surpreso.

L pareceu não achar grande coisa - Nunca vi motivo para comemorar.

Raito levantou de súbito, fazendo o detetive derrubar o que restava de seu sorvete - Isso não pode ficar assim! Nós vamos comemorar o Natal!

- Hã?

E L foi arrastado por Raito pelo resto do dia, decorando o lugar às pressas, arranjando comidas e doces e claro, os presentes. O lugar ficou com apenas uma árvore e algumas fitas e os presentes acabaram sendo coisas simples e genéricas, já que era muito em cima da hora para procurarem por presentes melhores.

- Por que tudo isso, Raito-kun? - L perguntou, olhando da mesa preparada para a ceia para a decoração feita às pressas e para os presentes embrulhados.

- Você disse que nunca viu motivo para comemorar o Natal, mas por mais antiquado que possa parecer, essa data é para se passar com as pessoas que você gosta, e tudo isso - indicou ao redor - é tradição, e você precisa seguí-la ao menos uma vez. E também - se aproximou de L lentamente e o beijou, matando a vontade que ambos guardavam desde aquele aquele dia; Raito sorriu quando finalmente se afastou - eu não quero esquecer.

Pela primeira vez L não sabia o que dizer. Como sua boca aparentemente não serviria para falar tão cedo, resolveu usá-la para outra função, beijando Raito novamente. A ceia e os presentes ficaram no esquecimento; L só tinha pensamentos para Raito e Raito só tinha pensamentos para L, e nada mais importava. Esse era o primeiro Natal de L, e na sua opinião, ele o passou da melhor maneira possível.

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