Mary deixou os pensamentos naqueles monstros totalmente lado. Não havia motivos para acreditar em coisas que não existiam, se isso fosse deixá-la louca. Decidida a passar o resto do dia com sua nova amiga, boo se aventurou em mostrar cada canto da pequena cidade a Anastásia, que adorou cada coisinha que viu na pequena cidade.

No final do dia, ambas se reuniram à mesa junto aos pais da jovem e sonhadora Mary. Havia sido um dia bom, Anastásia a fizera esquecer por algumas horas as maluquices que rondavam a jovem esperançosa. No entanto, o dia já havia chegado ao fim e os finos dedos de Boo, acariciavam a maçaneta da porta de seu quarto. O receio de abrir e se deparar com a loucura, estava exposto na face da criança. Mas a decepção de não ver nada e tudo em seu lugar também eram um medo grande para Mary. Ou era loucura ou era verdade e esses dois fatos a assustavam por inteira.

— Querida?! Já se arrumou para dormir? — Bradou sua mãe do andar de baixo. Por um instante, Mary se assustou, mas logo se recompôs quando notou que era apenas sua mãe a lhe chamar.

— Já mãe! — mentiu a jovem se apressando para abrir a porta do quarto. — Boa noite! — Boa noite meu anjo.

O quarto estava vazio, nada fora do lugar a não ser a cama desarrumada que a jovem havia esquecido daquela forma ao se levantar pela manhã. O ar de alívio fluiu dos lábios de Boo, mas a decepção pairou sobre seus ombros.

Satisfeita com o que havia acabado de ver, a jovem se concentrou em finalizar seu dia. Os dedos, que ainda seguravam a maçaneta, deslizaram pelo objeto branco e sólido até o outro lado para empurra-lo e fecha-lo.

— Nossa como você demorou! — Exclamou a criatura verde, quando a porta foi serrada. Mary deixou um grito agudo escapar e logo segurou os lábios com ambas as mãos para que o som não chegasse ao andar de baixo. Haviam duas figuras estranhas no quarto, ambas estavam escondidas atrás da porta e agora olhavam assustados para a garota em sua frente.

— Tudo bem que eu sou feio, mas também não precisa exagerar. — Tornou o verde de um olho só a dizer. — A gente viu você saindo com aquela garota, achei muita falta de educação de sua parte sair assim tendo visitas em casa. Mas o Sulli quis ficar. Eu teria ido embora, mas…

— Mike! — O azul de tamanho absurdo o interrompeu. — Ela não parece muito bem. — Claro que não. Ela foi fazer aquelas coisas de menina, deve estar exausta. — Ironizou a criatura pequenina fazendo Boo, rir ligeiramente. — É engraçado fazer os monstros esperarem?

— E-eu sinto muito.. N-não pensei que fossem reais. — Se explicou a jovem. Os olhos serenos de Sullivan compreenderam a garota, mas a ferinha verde nem um pouco. As bochechas de Mike, tomaram uma tonalidade avermelhadas. Assim como a testa redonda, enquanto a criatura quicava feito bola no mesmo lugar. — Não fossemos reais?! Como não seríamos reais?! — ele bradou irado. Mas a azulada criatura o tirou do chão, focando o rosto do amigo no seu.

— Todos os adultos acham que não existimos se lembra? Ela está ficando maior e esta se tornando um deles. Não se lembra do que aconteceu.

Mike relaxou, naquele momento havia entendido finalmente o que estava acontecendo. Ele mesmo sabia como funcionava o mundo dos humanos, pois havia estudado feito louco na Universidade Monstro antes de ser expulso. Então era óbvio para ele. Boo sabia sim o que havia visto na infância, mas o amadurecimento humano a fazia acreditar que tudo não havia passado de uma imaginação infantil. Mike olhou para seu amigo, lamentando por não ter compreendido segundos antes e por ter que ir embora logo, antes que a criança quase adulta gritasse pelos pais.

— Sulli, é melhor irmos. — sussurrou Mike, tentando impedir a adolescente de ouvir. O que claramente não funcionou.

— Vocês não podem.. — Ela falou entristecida. Seu coração ainda palpitava com o susto que havia tomado, mas a alegria se mesclava ao medo e lhe dava a adrenalina de anos antes. Aquela sensação boa de ser criança. — Não podem sumir novamente.

— Olha, coisa... — Mike começou, cruzando seus dedos longos e finos na frente do corpo/rosto achatado. — Você está esquecendo de nós e devemos deixar que isso aconteça. Eu não esperava que você estivesse tão grande, afinal faz apenas alguns anos que não nos vemos. Mas como cresceu, temos que deixá-la ser adulta.

— Não faz alguns anos. Fazem treze anos que vocês me mandaram de volta e sumiram. — A indignação da criança era clara e Mike se assustou com a quantidade de tempo que havia passado. Para ele não parecia ter sido tanto tempo, mas era óbvio que para um humano era tempo mais que suficiente para se tornar adulto.

— Você nem sabia falar direito. — A voz do azul de tamanho absurdo interrompeu a bronca de Boo para com Mike. — E agora está dando sermão no verdão aqui.

Sullivan deixou que a gargalhada dominasse seu ser, o tapa estalou nas costas de Mike quando a mão do grandão lhe tocou com força e uma expressão dolorida surgiu em face do mesmo. Boo tentou pedir que o azul ficasse quieto, mas o som ao lado de fora do quarto cerrado fizera isso primeiro.

— Mary?! Tem alguém ai? — A voz era da mãe e o desespero tomou conta da criança novamente. O que aqueles monstros poderiam fazer com seus pais? Seu divertimento era assustar criancinhas, mas adultos não eram fáceis de se amedrontar. Talvez o único modo de se colocar um adulto para correr, fosse bancando os monstros sanguinários e Mary não queria que seus pais fossem vítimas de algo.

No entanto, aquelas criaturas pareciam tão assustadas quanto a jovem e a agilidade que ambos correram cada um para um lado, era até cômica.

— N-não mãe. — As mãos da adolescente se prenderam na cabeceira da cama enquanto ela tentava formular uma mentira para que sua mãe não invadisse o quarto e se desse com duas estranhas criaturas.

— Eu ouvi um grito e risadas. Não eram suas! — Err.. — Os olhos da criança correram pelo quarto parando no aparelho de televisão desligado em frente a sua cama. — Era a TV, mãe!

Boo se jogou na direção do controle jogado em cima do tapete fofinho e o mais rápido possível, a criança ligou a caixa. — Ah sim. Não deixe tão alta querida, pode fazer mal.

— Eu vou dormir logo. Já vou desligar. Não houve respostas ao lado de fora, apenas passos se afastando e o alívio voltando ao peito da garota e das criaturas escondidas pelo quarto.

— Como vocês fazem isso? — Perguntou Mary, rondando o local.

Mike rolou feito uma bola para fora da cama. Havia se jogado ali embaixo segundos atrás achando que a mulher entraria no quarto, enquanto Sullivan se desprendia do gancho onde antes estava a mochila da jovem. A forma como ele se encolhera na parede para se esconder, o havia igualado à uma bolsa.

— É o que aprendíamos. Precisávamos nos esconder para dar medo às crianças e também para que não fôssemos vistos pelos pais. — Explicou a grande criatura.

— Isso é cruel… — Sussurrou Mary, ao se recordar de uma criatura esguia de pele escamosa e aparência grotesca. A coisa que todas as noites adentrava seu quarto pela porta do armário com cores diversas que sempre lhe fazia gritar ao mostrar os dentes pontudos, prontos para dilacera-la. — Assustar..

— Não fazemos mais isso Boo. — Sullivan tratou de acalmá-la ao se lembrar que Randon era o assustador da criança e que ele realmente era uma criatura para se temer.

— É.. Galera.. — Mike já estava em pé de frente para o armário, doido para partir, mas com um ar de desespero no rosto. — Temos um probleminha.

A verde criatura abriu e fechou algumas vezes a porta do armário e em todas as tentativas o outro lado não apareceu apenas roupas e sapatos. Sem qualquer vestígio da fábrica ou de Monstrópoles.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.