Through The Viridi

Educação Mágica


Uma casa da Província de Metalia era onde os cinco se encontravam agora. Era uma casa de um andar, com as telhas formando um triângulo e com uma pequena varanda na frente.

Jasper e Xochi se sentaram nas extremidades do sofá da sala enquanto os adolescentes se sentaram num largo banco na frente deles:"Como que a gente foi se meter nessa?". Alex se questionou, se lembrando que agora pouco aqueles dois tinham suspeitas do segredo deles:

—Casa legal, professor..-Comentou Lisa inocentemente:

—Obrigado Lisa, mas eu sinceramente não me sinto confortável em ter uma aluna minha na minha casa..

—Por que estamos aqui?.-Perguntou Aimé:

Xochi falou:

—Primeiro acredito que vocês estejam tensos por causa daquele besouro de lama e agora isso. Que tal nos apresentarmos primeiro? Lisa já me conhece, mas nunca vi vocês dois antes..

—Eu me lembro de você. Você fez aquelas sangrias se acalmarem na estufa.

—Sim, meu nome é Xochi, sou diretora da estufa botânica daqui.

—E eu sou Jasper, sou professor de alquimia da amiga de vocês, e vocês por acaso são..?

—Me chamo Aimé, senhor..

Todos se focaram no garoto de olhos escuros, que parecia ter saído de um próprio devaneio:

—Meu nome é Alexandre..

—São nomes bem únicos, pelo menos por aqui..

—Podemos ir direto ao ponto? Afinal quem são vocês e o que querem com a gente?

—Rapaz, como eu disse eu quero saber quem são vocês e como conseguiram ver a magia da natureza..

A mente de Alex começou a desconfiar:"Não acredite nele. Ele é um professor! Você sabe bem como professores só pioram tudo! Como ele ia ajudar? Afinal o que ele pretende fazer? É bem capaz que seja uma armação! Só pode!":

—Eu não sei do que você está falando..

—A gente começou a ver essas partículas depois de olhar sem querer pro sol e olhando pra lua, mas não sabemos porque..-Aimé rebateu, fazendo os garotos se encararem com um olhar de "você endoidou?":

—Entendo perfeitamente, comigo também foi assim. Isso quer dizer que vocês vão precisar aprender a..-

Lisa interrompeu:

—Licença professor, isso tudo parece bem interessante e coisa e tal, mas ninguém aqui vai me explicar por que meus olhos estão ficando pretos?!

Xochi discursou:

—Lisa, esses olhos pretos não são uma coisa simples que acontece com qualquer um. É um sinal claro de que você possui algo intenso em si. É algo conhecido como capacidade máxima..

—Hã??!.-Essa explicação a deixou mais confusa ainda:

—Xochi, pode ficar mais um pouco pra explicar tudo pra eles?

—Claro..

O professor preparou sua explicação, com cuidado para não expor informações que ele preferia manter no sigilo:

—O que vamos dizer aqui é algo que não é ensinado nas escolas, embora seja o básico da vida de qualquer ser daqui..

Os três ficaram calados e curiosos:

—Antes de tudo, vocês precisam aprender uma coisa sobre a magia. Ela está em todo lugar, em cada parte da natureza. É ela que nos dar energia, mas ela não é algo totalmente físico, nem é algo simples de controlar. Se entenderem isso vão entender todo o resto..

—Por que só nós conseguimos ver?.-Interrompeu Alex:

—Uma coisa de cada vez, garoto. Como eu ia dizendo essa magia está em literalmente todos os cantos do mundo, até em nós mesmos, certo?

—Sim..

—Embora eu ainda não saiba totalmente de onde vem essa magia, está claro que ela vem de algo muito superior aos céus e não é visível pra qualquer um..

—Mas o que isso tem a ver com essa tal de "capacidade máxima"?

—É melhor uma demonstração pra ajudar.

—Deixa comigo..-Xochi afirmou, estendendo o braço e a palma da mão na frente de uma semente posta numa mesinha entre eles. Todos observaram as raízes saírem para fora rapidamente, seguido de um caule crescendo até virar um galho em segundos. Aos poucos ela estava criando uma árvore sem limitações:

—Estão vendo como essas partículas mágicas se atraem para Xochi e para o que ela está fazendo crescer?.-Perguntou Jasper, embora apenas Alex e Aimé estivessem vendo:

—Por causa da conexão entre as partículas ao redor e daquelas dentro do nosso cérebro elas se atraem para o indivíduo usando seu poder..

—Eu sabia que os poderes vêm da mente, mas não sabia que se atraíam por causa disso..-Comentou Alex distraidamente:

—Mas Hortência disse que é mais fácil rejuvenescer que amadurecer. Como isso é possível?

—Essa é uma pergunta muito boa, Aimé, o que nos leva ao conceito de capacidade máxima.

Com um estalar de dedos Xochi reverteu a planta numa semente:

—Capacidade máxima é quando alguém nasce com excesso dessa magia natural, isso faz com que seja capaz de realizar feitos além do padrão, mas sem instrução os efeitos colaterais fazem com que a pessoa se descontrole e cause dores de cabeça muito fortes..

A descrição chocou os três, em especial Lisa. A menina indagou:

—Tá dizendo que você é muito poderosa E que eu também tenho esse poder todo em mim?!

—Sim, exatamente o que eu vi agora pouco.

—Eu não acredito nisso, não tem como, eu sou só uma provinciana atrasada com os nervos a flor da pele, é só por causa disso que eu..-

—Lisa, nós vimos que você tem capacidade máxima e querendo ou não você vai precisar de aulas e instrução pra desenvolver isso ou pode acabar se descontrolando e causar uma tragédia em toda Viridi!

Ela se assustou com o alerta da mulher, mas insistiu uma última vez:

—Tem certeza absoluta que eu tenho essa capacidade máxima?

—Além dos olhos pretos consigo dizer com absoluta certeza que você tem só de olhar pra você, e creio que vocês dois também..-Afirmou Jasper para os humanos:

—Quero que olhem bem pra Lisa e Xochi e reparem como as duas têm as partículas totalmente espalhadas em si..

Apesar da desconfiança até Alex teve que notar que as duas ninfas tinham uma grande quantia de partículas amarelas em si dos pés à cabeça. Em comparação Jasper tinha muito pouco delas:

—O sinal mais visível pra vocês saberem se alguém possui capacidade máxima é olhar se as partículas se atraem para todo o corpo, mesmo quando não estão fazendo nada..

—Ahh entendi..

—Mas por que você tem tão pouco delas?

Alex perguntou no seu estado mais puro de curiosidade, sem perceber que deixou o homem com uma cara constrangida:

—É que.. bem eu..

—É que também depende do quanto você usa no dia a dia!.-Defendeu Xochi:

—Isso mesmo, obrigado Xochi..-Ele olhou para a mulher agradecido:

—Preciso falar com Lisa a sós. Tudo bem?

—Eu?!

—À vontade..

Assim Xochi foi para fora da casa junto com Lisa, numa distância da rua onde os três não podiam ouvir:

—Você parece saber bastante dessas partículas..

—Pode se dizer que sim. Estudei bastante pra poder usa-las ao meu favor..

—Como assim?!.-Os dois se exaltaram instantaneamente:

—Você consegue controlar essas partículas? Como?.-Questionou Aimé:

—Isso tem a ver com aquelas luvas pretas? Você não disse que não é algo fácil de controlar? E aliás dá pra se quer controlar isso?.-Alex esqueceu brevemente da sua desconfiança:

—Por que vocês não vêm aprender por conta própria?

—Hein?

—Vejo que vocês têm pouca magia em si, e é por isso que eu trouxe vocês aqui porque as chances de sobreviverem sem aprender como usar essa magia corretamente são baixas..

—Então é isso que você quer? Que a gente aprenda a usar essas partículas?.-Alex ainda estava inconformado com ele:

—Exatamente..

—Você não se importa de não sermos ninfas?.-Perguntou Aimé:

—Eu não sei direito o que são vocês mas isso é o de menos. Vocês precisam aprender tudo sobre essas partículas..

—Nós.. Err.. Vamos pensar sobre isso..-Assumiu Alex, para confusão de Aimé:

—Nós vamos?

—Caso decidam podem me encontrar numa escola aqui perto amanhã de tarde e explicarei tudo o que precisam saber..

Após isso Xochi e Lisa voltaram:

—Meninos, vamos embora? Já tá ficando tarde e dona Xochi disse que é pra eu acordar cedo amanhã.

Jasper concluiu:

—Sugiro que pensem no que eu disse caso queiram aprender sobre essa magia, e também vocês não vão querer lidar com outro inseto de lama à essa hora, né?

Assim os humanos saíram da casa junto com Lisa, embora Alex ainda tivesse receio da suposta ajuda de Jasper ele deu um rápido olhar suspeito pra ele antes de sair.

Só sobraram os dois adultos na residência:

—Então você vai ensinar à aqueles dois, não é?

—Como adivinhou?

—Eu conheço você, Jasper. Seu desejo de ajudar através do conhecimento não mudou nada..

Ela olhava para o homem com carinho e êxtase, fazendo com que ele não resistisse ao encanto da bela mulher de cabelo branco e pele bronzeada. Infelizmente seu brilho sumiu quando ela se lembrou de algo:

—Desculpe, acho que já tá tarde e sei que você prefere ficar sozinho agora. Boa noite Jasper..

—Xochi espera..

Mas a mulher já tinha ido embora, deixando o professor com um olhar aflito:"Desculpa Xochi, mas você merece coisa melhor..". Seus olhos no entanto mostravam tristeza com tal pensamento.

—____

No meio da noite Lisa comentava com os humanos se apoiando no parapeito da janela:

—Dá pra acreditar nessa história? Capacidade máxima, o que raios é isso?

—Ué, foi o que ela falou, é quand..-

—Não Alex, é que eu nunca ouvi falar disso e do nada dona Xochi vem e me explica que eu tenho um poder enorme e destrutivo?!

—Isso explica os seus terremotos..

—Agora ela quer me ensinar amanhã bem cedo a controlar esse meu potencial antes que eu faça algo grave..

—Posso ir?

—Não mesmo, dona Xochi disse que ia ser um treinamento secreto e eu concordei, além disso não é melhor vocês irem atrás do professor Jasper amanhã?

—Nós ainda vamos pensar nisso..-Disse inquieto, para suspeita de Aimé:

—Eu acho que ele pode ajudar, ele é bem sábio, apesar deu não entender bem a aula dele..-Ela deu um bocejo:-..Enfim, boa noite, tenho que acordar cedo amanhã..

E assim ela se afastou da casa no campo:

—Aimé, acho bom a gente não ir atrás dele..

—O que? Por que?

—É que..

—Não era você que queria aprender sobre essas partículas? Você até anotou isso no seu livro!

—E eu quero, quero muito, mas é que..

—Então vamos! Eu também não quero ter aula nas férias mas..-

—Você não tá entendendo, me diz, você não acha no mínimo suspeito um professor oferecer essa ajuda assim a dois garotos que ele nem conhece?!

Sua voz transmitia tanta suspeita que até Aimé teve que reconsiderar. Eles ficaram quietos durante o banho e a refeição até o moreno retrucar:

—Mas a gente não tem escolha..

—Não é verdade..

—Alex, nós nem sabemos como chegamos aqui e Jasper disse que..-

—Posso descobrir do meu próprio jeito. Além disso não confio naquele cara..

—Por que?.-Ele estava curioso, mas Alex ficou sem reação:

—Bom, é que.. Errr... Não importa! A questão é que ele pode está mentindo mesmo que aparente saber das coisas que já vimos. Além disso caso não saiba muitos que se dizem educadores na verdade usam isso como desculpa pra humilhar os outros e..-

Ele se deu conta que Aimé parou de ouvi-lo quando o viu adormecido na mesa. Não sabendo como reagir ele deu leves batidas no braço dele:

—Ei, acorda!

—Hein..? O que..?

—Como consegue dormir tão rápido?

—Eu que te pergunto como você ainda não tá com sono..

—Enfim, ainda acho bom não confiar nele.

—Dá pra deixar essa conversa pra amanhã? Ainda temos tempo pra pensar nisso..

Alex não concordou, mesmo querendo resolver esse assunto o mais rápido possível Aimé parecia teimoso (e com preguiça) o suficiente pra não mudar de ideia. Isso o irritou pois não pretendia confiar naquele homem e se deixar ser rebaixado por ele.

Depois de um tempo o sono finalmente atingiu Alex, embora não de forma tranquila:

—____

"Ele contemplava o céu azul visto pela janela da sala de aula até que uma voz gritou:

—ALEXANDRE!.-A voz alta fez o garoto se assustar:

—Sim professor..?

—Já que está aí sem fazer nada porque não resolve esse exercício no quadro?

—Hum.. Tá bem..

O garoto se levantou até o quadro e viu a coluna de números da tabuada do 9. Ele se sentiu confiante escrevendo os números de cabeça até o professor apontar:

—Onde que você tirou que 9 vezes 5 é igual à 54?!.-Gritou com a voz enfurecida que o caracterizava:

—E não é?.-Perguntou ingenuamente, fazendo seus colegas rirem dele:

—Não sabe ao menos a tabuada do 5 ou do 6? Ou também não prestou atenção como sempre?

Após perceber seu erro o garoto tentou argumentar:

—Desculpa, é que os números se parecem tanto e eles ficam tão juntos. Eu me confundi...-As risadas aumentaram, para vergonha de Alex. Sem que percebesse o professor agarrou seu braço firmemente:

—Você não saber algo tão simples já com essa idade me envergonha!

—P-Posso tentar de novo?

O professor chegou próximo ao ouvido de Alex e sussurrou:

—Para mim está claro que você já provou sua burrice! Agora sente-se, idiota!

Ele apertou ainda mais o braço do garoto, fazendo seus olhos lacrimejarem. Então, o empurrou em direção à sua carteira. Ainda com o braço vermelho e doído o menino de 8 anos se sentou, constrangido com as risadas ao seu redor:

—Até eu saberia fazer essa tabuada de cabeça..

—E ainda escreve os números tudo torto! Ele devia voltar pro maternal..

Ele fechou os olhos para evitar as lágrimas. Quando abriu estava de frente pra uma mulher de cabelo castanho avelã e rosto sério:

—Mãe?!

—Alexandre! Que notas são essas?! Seu professor disse que tentou ser calmo e paciente com você mas você continua com essas notas decepcionantes!

—Mas mãe é que..-

—Sem "mas"..-Ela suspirou:-..Por que você não consegue valorizar a educação que seus professores te dão? Por que você não consegue aprender normalmente?

Ele estava prestes a protestar, reclamar ou qualquer coisa quando percebeu que tudo parecia se dissolver, exceto as risadas e a gritaria..."

—____

Subitamente o ruivo acordou, passando a mão no braço para ve-lo sem dor ou vermelhidão. Aliviado, ele notou os raios de sol prestes a nascer pela janela. Respirando o ar puro ele refletiu consigo mesmo sobre o que fazer:

"Não posso arriscar passar por tudo isso de novo. Não preciso de alguém jogando na minha cara tudo o que eu não sei enquanto grita comigo. Jasper não deve ser diferente de qualquer professor que eu já tive, sempre reclamando que eu não aprendo nada, que eu nunca vou ser alguém...".

Seu rosto fez uma expressão de mágoa, mas logo se recompôs para uma feição estóica. Uma partícula amarela pousou perto da janela, onde sua mochila estava ao lado dele.

Ele pegou seu livro e o abriu:

—Eu posso aprender sozinho, sem ajuda de ninguém. Se Jasper conseguiu aprender então talvez eu possa! Não importa quanto tempo leve!.-Ele olhou determinado para a paisagem.

Apesar da sua determinação, no entanto, algo no fundo o incomodava.

—____

—Tem certeza mesmo que não vai?

—Tenho Aimé. Já disse que não confio num cara que supostamente tem a solução pros nossos problemas entregando tudo de bandeja.

—Mas você nem conhece ele..

—E prefiro não arriscar..

Aimé percebeu que não adiantava tentar convencer o colega pois já estava na hora de se encontrar com o alquimista. No momento ele procurava alguma folha em branco na sua mochila e um lápis útil:

—Sabe, eu nem gosto tanto assim de ir pra escola mas pra entender essas partículas eu abro uma exceção..

Isso chamou a atenção de Alex:

—Talvez você esteja certo sobre Jasper, mas eu só acredito vendo com os meus próprios olhos.

—E mesmo assim você vai lá confiar nele?

Ele encolheu os ombros. Pouco tempo depois o moreno estava pronto pra sair:

—Tem certeza mesmo que..-?

—Tenho. Vou ficar aqui e aprender sozinho.

O menino de óculos então se afastou da casa, ao mesmo tempo que ficou desapontado por ter que ir sem o outro.

—____

Enquanto isso na escola da Província de Metalia o alquimista se questionava:

—Não sei se foi uma boa ideia. Por um lado não posso deixar dois garotos com pouca magia igual a mim por aí sem terem como se defender.. Mas é muito arriscado me expor assim de novo como da última vez..-Ele olhou para suas luvas pretas e para um pedaço de papel velho:

—Vou ajuda-los com que puder, mas se eu for pego por isso de novo vou precisar fugir o mais longe possível..."Mesmo que nunca mais veja Xochi de novo..".

—Oi? Tem alguém aqui?.-Ele ouviu a voz de um garoto se aproximando:

—Aimé, não é? Fez bem em vir. O que eu vou te contar é algo muito útil para sobreviver sem poderes, mas você não pode, em hipótese algum..-Ele notou o menino olhando pra trás:

—Posso esperar um pouco?

—Seu amigo não vem?

—Eu tinha tanta certeza que ele vinha. Ele parecia tão disposto quanto eu pra saber dessas partículas..

—Entendo, mas não posso esperar muito, tenho muito que preparar só pra essa aula. Você pode esperar naquela sala ali enquanto pego umas coisas na estufa.

"Seu desejo de ajudar através do conhecimento não mudou nada..". A frase ecoou na cabeça dele enquanto ia para a estufa. Aimé, por outro lado, ansiava pela chegada do ruivo enquanto esperava.

—____

Alex tentou se concentrar em aprender do zero, mas rapidamente pensamentos invadiram:"Então você vai mesmo deixar o coitado do Aimé sofrer no seu lugar com aquele professor?". Ele se respondeu:

—Não, Aimé resolveu se arriscar com um cara que provavelmente vai gritar com ele no primeiro erro... Espera, isso é muito cruel!

"Parando pra pensar essa não é a primeira vez que vimos Jasper.. A primeira vez foi quando tivemos que entrar na escola de Lisa e ele estava lá.. O que ele teria feito se tivesse nos pego?!".

Considerando que a relação entre ninfas e sereias não era das melhores em Viridi ele concluiu:"Droga! Por que eu não pensei nisso antes?! Não posso deixar Aimé sozinho com ele. Ontem mesmo ele quase foi raptado por aquele doente!".

Se antes ele já tinha motivos para ficar paranóico, agora ele tinha absoluta certeza que devia ir atrás dele. Carregando apenas sua mochila com seu livro ele saiu as pressas e correu para o círculo de pedras.

—____

—Jasper, por que quer ajudar a gente sendo que não somos ninfas?.-Aimé perguntou enquanto o professor escrevia no quadro (e ele pensou que só o outro fazia esse tipo de pergunta):

—Já disse que não me importo com o que você é, apenas com o fato de que não pode fazer magia natural. Normalmente não permitem a presença de tritões aqui, mas como a escola está vazia não preciso fingir que vou te expulsar..

Ambos ouviram passos rápidos se aproximando. Alex repentinamente abriu a porta:

—Alex!.-Aimé exclamou feliz:

—Vejo que mudou de ideia..

—Aimé, não vou deixar você passar por isso. Vamos emb..-

—Senta aqui!.-Ele puxou o garoto para uma cadeira próxima à dele.

Jasper terminou de escrever no quadro:

—Agora que vocês dois estão aqui podemos começar. Primeiramente vamos rever o básico de ontem à noite: Observem a luz da janela e para esta planta..

A contragosto Alex obedeceu, observando mais uma vez as partículas luminosas junto com Aimé:

—Como eu disse ontem a noite essas partículas estão em cada parte da natureza, incluindo seres vivos e fatores abióticos..

—Fatores abióticos?.-Perguntou Aimé:

—Sim, são os elementos divinos da natureza como água, solo, ar e até a luz..

—Isso também inclui os cristais de amazonita?.-Perguntou Alex, não conseguindo disfarçar a curiosidade:

—Não, os cristais de retardo funcionam ao contrário das partículas de energia. Vejam..

Ele aproximou seu bracelete com a pedra verde no centro. As partículas outrora presas na folha começaram a se afastar lentamente dela, a deixando levemente murcha:

—Esses cristais são as únicas coisas conhecidas na natureza que repelem as partículas, por isso são usados para regular as que estão presas aos nossos corpos..

Os humanos ficaram fascinados. Jasper resumiu:

—Digamos que as partículas são o que dá potência à tudo para a vida, sem elas conosco de alguma forma estaríamos mortos..

Enquanto Aimé anotava em tópicos os pontos que achou importante Alex escrevia freneticamente cada palavra de Jasper:

—Há dois jeitos de classificar as partículas: Existe as partículas internas, que estão dentro dos nossos cérebros, exatamente no local das nossas testas..-Ele apontou para um desenho de um cérebro no quadro, com pontinhos desenhados na parte do lobo frontal:

—..No caso de alguém nascer com capacidade máxima, como Lisa e Xochi, esses pontos ficam tão aglomerados quanto as partículas externas, ou seja, essas que conseguimos ver agora mesmo..

—Por isso elas se atraem pra Lisa esse tempo todo? Até quando ela não quer usar seus poderes?

—Isso mesmo, Alexandre.

Alex estava feliz por entender como as partículas funcionavam. Durante a explicação ele ficou surpreso com o quão calmo Jasper parecia, sem gritos ou humilhação:

—Agora é hora de aprenderem o que realmente vai ajudar vocês a controlarem a magia externa...-Ele ficou sério enquanto amarrava seus cabelos pretos num rabo de cavalo. Mandou os meninos se aproximarem da mesa de laboratório:

—Primeiro vocês tem que prometer que não vão contar pra ninguém, absolutamente ninguém, o que eu vou mostrar.

—Por que?.-Alex deixou escapar sem querer, temendo parecer idiota, mas Jasper respondeu:

—Existem muitos que não querem que seres sem magia tenham um método de controla-la e preferem que continuem na ignorância e sejam esquecidos por todos..

—Que tipo de gente?.-Perguntou Aimé, apreensivo:

—Muita gente Aimé, desde simples invejosos até dos mais poderosos..-Seu olhar se perdeu em memórias amargas enquanto os meninos se encararam com compreensão de que precisavam saber:

—Nós prometemos. Não vamos contar à ninguém!.-Afirmou Alexandre, decidido.

Convencido, Jasper sorriu. Em sua mesa havia vários objetos como tubos de ensaio, uma jarra d'água, pedaços de terra e folhas e até mesmo uma peneira. Eles observaram confusos enquanto Jasper misturava os ingredientes, embora ele desse uma explicação os cérebros deles compartilharam a ideia de que não conseguiam prestar atenção com tantos detalhes envolvendo química.

Observaram o alquimista terminar sua fórmula depois de aquece-la à luz solar:

—Há muitos anos criei uma mistura que pode materializar as partículas por um tempo e cujo líquido reage com os objetos da natureza semelhante ao poder mental de um ser..-Disse mexendo a mistura líquida laranja com uma fina barra metálica:

—M-Mas isso é.. Incrível! É maravilhoso!.-No momento os olhos de Aimé já estavam brilhando igual aos de Alex:

—Então foi assim que você fez pra criar aquela pedra grande ontem?! Foi assim que você fez aquela parede de terra?!

—Sim, usei ela nas minhas luvas para manipular o que eu tocasse na terra.

—Uau!

Ver aqueles rostos fascinados e olhos brilhando de curiosidade fez Jasper sentir algo familiar, como a primeira vez em que ele descobriu como fazer a fórmula corretamente:

—Pode mostrar como ficam as partículas?

—..Hum.. Oh, claro..

Ele pôs um pouco do líquido laranja no tubo de ensaio vazio. Despejou então na peneira enquanto o líquido caía para a jarra. O que sobrou foram partículas douradas maiores, como ouro em forma de pepita:

—Uau! É tão bonito.. Então a gente pode tocar?.-Alex aproximou sua mão, mas Jasper rapidamente afastou:

—Não, por mais impressionante que seja, não podem tocar sem luvas enquanto estão em forma física. É tão quente que chega a doer tanto quanto tocar numa amazonita sem proteção..-Ele os ofereceu dois pares de luvas.

Com cuidado os humanos pegaram de leve uma das partículas com um dedo. Eles viram a matéria brilhar intensamente até ela oscilar:

—O que tá acontecendo?

—Coloquem os dedos perto da jarra.

Obedeceram e então a partícula física voltou ao seu estado original ao cair no líquido:

—Então com essa fórmula podemos controlar a terra que nem Lisa?.-Perguntou o ruivo com expectativa:

—Mais ou menos, vocês vão poder manipular os elementos, mas não será como normalmente se faz e será menos ordenado.

—Como assim?

Em resposta ele pôs o dedo da luva na parte de cima da planta, fazendo uma flor nascer instantaneamente:

—É melhor outros exemplos práticos pra entenderem. Venham comigo..

Ele foi em direção a porta enquanto os humanos seguiram.

—____

Aimé perguntou à Alex fora da escola:

—Agora você acredita que ele é um cara de confiança?

—Talvez, tudo o que ele disse fazia sentido.. E aquela fórmula que ele fez foi impressionante..

Jasper os chamou:

—Agora verão na prática como essa mistura vai ajudar vocês..

Eles o viram passar a mão na terra com as luvas, formando uma linha entre eles. Uma parede de terra se formou onde seus dedos haviam tocado, assim como na outra noite:

—Incrível! Como suas luvas fazem isso?

—Eu as projetei para a mistura sair dos meus dedos, assim dão a impressão de que controlo normalmente..-Ele respondeu sem se preocupar em ser discreto consigo mesmo:

—O que mais ela faz?!.-Perguntaram ao mesmo tempo:

Para demonstrar o alquimista os levou para a estufa da escola. Quando Aimé perguntou o que acontecia com o líquido em plantas Jasper mostrou que a fórmula iria acelerar o desenvolvimento delas ou fazer certas partes crescerem anormalmente.

Quando Alex perguntou como se usava a mistura em terra o professor pegou um punhado de um caixote e fechou seu punho, no lugar de terra havia uma rocha formada na mão:

—Isso funciona em todos os elementos?

—Sim, funciona tanto para as dominações de terra e flora quanto para água e ar.

—Funciona com animais também?.-Perguntou Aimé ao lado:

—Exceto isso.

—Mas então como sua fórmula funciona na água e no ar? Podemos ver?!.-Questionou o ruivo.

Antes que os dois pudessem fazer mais perguntas Jasper os interrompeu:

—Meninos escutem, agora que vocês viram do que minha mistura é capaz vocês não podem contar pra ninguém, independente de aceitarem ou não de aprenderem comigo. Nessa sociedade não ter magia suficiente em si pra controlar um elemento é considerado anormal. Por isso pensem bem antes de responder: Vocês querem aprender a usar a magia externa? Vocês querem aprender do básico até poderem usa-la?

O tom de voz do professor era sério e preocupado, ele dizia tudo isso por experiência própria e seu senso de dever dizia que não podia deixar aqueles dois passar pelo o mesmo que ele.

Alexandre pensou cuidadosamente. Como visto, nem ele nem Aimé correram algum risco, ao contrário do que pensou.

Seu lado curioso falou mais alto:

—Sim.. Sim, eu quero aprender a usar essas partículas. Eu quero saber como você faz isso!

Aimé exclamou:

—Eu também! Eu também quero fazer tudo isso com a sua fórmula!

Ambos esperaram a reação de Jasper:

—Muito bem, de agora em diante vocês dois vão aprender o básico da alquimia até fórmulas e misturas mais complexas. Aprenderão em segredo e poderão viver usando a magia externa, mas lembrem se: não contem pra ninguém sobre isso..-Disse se referindo as luvas.

Apesar de não entenderem por completo tal alerta ambos concordaram. A partir do dia seguinte os humanos deveriam aparecer na mesma hora para serem ensinados, com a única condição de Alex de não durar mais que uma hora.

—____

Os humanos caminharam para fora da escola:

—Tomara que não demore muito pra a gente usar aquela fórmula.

—Espero que valha a pena confiar nele..

—Aliás o que te fez mudar de ideia?.-Perguntou Aimé:

—Eu só... Queria ver se ia valer a pena. É, foi isso..-Disfarçou Alex:

—Será que ele pode ajudar a gente?

—Com o que?

—Sabe, com o fato de não sermos desse mundo.

—Melhor não arriscar, pra mim já basta saber que podemos controlar as partículas, e também duvido que ele tenha alguma ideia do que somos e de onde viemos..-O ruivo declarou, não podia negar que estava impressionado com Jasper, mas não podia arriscar tal segredo.

"Ele não é como os outros professores que eu já tive. Como isso é possível?!".

—___

Ao mesmo tempo em que os humanos se afastavam Jasper pensou enquanto organizava seus materiais:

"Espero que valha a pena fazer a coisa certa depois de tanto tempo. Eles parecem dois jovens curiosos e promissores.. Mas afinal o que são eles? Eles não mostram nenhum sinal de serem um tritão ou harpia além da cor dos olhos...".

Sua mente o fez rever uma memória específica:

"Lembro de ver algo parecido assim numa teoria sobre... Não! Não Jasper! Tudo isso é passado, tudo isso ficou pra trás. Tudo isso ficou lá em Nova Granada..".