Through The Viridi

Baía de Larimar


Em Viridi a maioria (se não quase toda) da população se concentra nas ninfas em terra firme, porém há certos territórios em que sereias sobem livremente na superfície para seus próprios motivos, principalmente pessoais ou comerciais. Um desses territórios conhecidos é a Baía de Larimar, uma considerável cidade portuária localizada numa península ao sudoeste.

Ela recebe esse nome em homenagem à uma enorme praia perto do final da península, onde nas areias é sempre possível encontrar os cristais azuis de larimar.

Em um bote navegando para a costa dois irmãos sereias traziam na embarcação uma marmita embrulhada num pano e várias garrafas de vidro com água do mar:

—Enki, assim vamos nós atrasar pro horário de almoço do papai!

—Então vamos acelerar um pouco a maré, Mari!

Entendendo o que seu irmão quis dizer ela colocou sua mão direita na água e Enki fez o mesmo com sua esquerda:

—Cuidado com essas garrafas aí atrás!

—Eu sempre sou cuidadoso!

Assim os irmãos começaram a gesticular as mãos pra frente e pra trás na água. Se Alex ou Aimé estivessem perto teriam visto as partículas amarelas no mar e nas mãos dos irmãos. De repente os gestos fizeram com que aos poucos a maré ganhasse força para mover o barco para frente, indo em direção ordenada a baía.

Ancorando o bote na área das docas os irmãos andavam novamente em sua forma terrestre pela Baía de Larimar. Entre lojas e produtos vendidos os dois viram um homem de 40 anos com cabelo castanho escuro e pele morena do lado de fora de uma joalheria de pérolas:

—PAI!

O homem se virou para ver um menino e uma menina sereias e imediatamente as linhas de estresse sumiram quando sorria para seus filhos:

—Mari! Enki!

Os três se abraçaram calorosamente. Sentados num banco a beira-mar Enki deu para seu pai a marmita embrulhada, cuja comida era uma receita de algas marinhas:

—Vamos ver o que avó de vocês preparou pra hoje!

—Pai, tens que se hidratar!.-Sua filha o ofereceu uma garrafa d'água:

—Obrigado, minha filha!

O tritão começou a beber a água do mar e depois a espalhou pelo pescoço e braços (ao contrário dos filhos suas escamas chegavam aos ombros):

—Nada como um bom gole de água salgada. Então, crianças, estão se alimentando direito? Estão tratando bem a avó de vocês?

—Sim, pai!

Então os irmãos começaram a contar suas novidades ao pai. Como o senhor Mizuno passava o dia inteiro na terra vendendo pérolas de ostras para sustentar sua família, seus filhos ficavam sob custódia de sua mãe em baixo ďágua, mas temia o possível o afastamento deles. Um sino local tocou para anunciar o fim da pausa:

—Poxa, nem deu tempo de te contar sobre o Aimé..-Lamentou Enki:

—Quem?

—Ah ninguém pai, só um tritão do rio que achamos outro dia na praia..

—Como assim "ninguém", Mari?! Vocês nunca tem ninguém da idade de vocês pra passar tempo nesse enorme mar e diz que essa potâmide não é ninguém?!

—Isso não é verdade pai, tem a Luna que.. que.. É, tens razão, a gente não tem amigos da nossa idade..-Declarou Enki:

—Tragam ele pra cá. Quero ver os amigos dos meus filhos!

—Só o vimos uma vez...—Mari sussurrou, mas uma ideia veio a cabeça:-..Pois bem, pai, se insistes tanto que tal fazermos um acordo?

—Que acordo?.-Perguntou o pai conhecendo o olhar malandro da filha:

—Traremos esse garoto pra Baía de Larimar nessa tarde e mostraremos o lugar pra ele...

—Interessante..

Enki ouvia o que sua irmã propunha. Quando seu pai é um comerciante você aprende alguns truques sobre barganha:

—Mas.. O que quer em troca?

—Simples paizinho, quero que voltes mais cedo pra casa com a gente!

O senhor Mizuno ficou surpreso, pois significava menos tempo e menos renda na superfície:

—É uma aposta bem alta, mas respeito tua ousadia minha filha. Negócio fechado!

Eles apertaram as mãos amigavelmente. O homem se retirou:

—Bom, hora de voltar ao trabalho. Crianças, não se afastem muito e cuidado com os cretinos que estão aparecendo por aqui..

—____

Os irmãos Mizuno caminhavam pelas ruas de comércio, dependendo de Mari eles já estariam de volta ao mar mas Enki a lembrou da lista de compras deles:

—Será que eles têm tinta vermelha aqui?.-Perguntou o artista numa das lojas:

—Mari, que barganha foi aquela com o pai?

—Não foi por mal, Enki, sabes disso. Só queria que o papai voltasse pra casa com a gente hoje..

—Eu sei, estás indo bem pra alguém que até anteontem não queria voltar pra praia!

—Quem disse que eu quero?

—Hein?

—Só vamos fazer o que eu combinei, trazemos Aimé pra cá, passaremos a tarde e o papai vai voltar pra casa mais cedo com a gente.. Que foi? Que cara é essa?

Perguntou vendo o sorriso atrevido do irmão:

—Admita, também gostou de encontrar ele na praia tanto quanto eu!

A irmã azedou a cara. Com as mãos ela usou sua hidrocinese na água da garrafa para formar uma luva d'água e usar contra o irmão:

—Deixe de ousadia!

—Tá bom, tá bom, vamos seguir teu plano..

—Espera, agora?

—Não, ainda tenho que comprar mais pincéis pra mim. Vamos antes que acabe tudo..-Enki agarrou a mão da irmã e a guiou para outra loja.

—- Enquanto isso...--

—Achou alguma amazonita aí?.-Aimé perguntou para Alex cavando um buraco na areia:

—Não, nada, só areia, pedras, areia.. e uma conchinha..-Respondeu o ruivo pegando a concha na mão.

Havia uma explicação do porquê eles resolveram voltar para a praia da província. Tudo começou naquela manhã:

"Aimé tinha acordado apenas recentemente. Então foi para a sala:

—Bom dia, Alex!.-Exclamou apoiado atrás do sofá:

—Hum, bom dia Aimé..

—Cadê a Lisa?

—Ela saiu agora pouco, disse que ia ficar na província hoje pra família dela não suspeitar da gente..

—Ah, entendi..-Porém um pensamento sombrio passou pela cabeça do menino:-Acha que ela.. ainda pode tá com raiva de mim.. por causa de ontem?.-Disse num tom de receio:

—Por que?.-Isso genuinamente o confundiu:-Ela mesma disse que não tava com raiva de você por causa daquilo. Qual o problema?

—Só tô dizendo que deve ter.. algum jeito de compensar mais..

Alex ainda não estava entendendo:

—Já sei! Posso ir atrás de um cristal de amazonita pra ela! Não tenho limites de onde ir em Viridi!.-Disse de um jeito bem disposto a andar por aí:

—Você vai sozinho?

—Se quiser vir comigo..

—Bom, eu tenho algumas dicas que podem te ajudar..

—____

—Tá, vamos rever o que Lisa me disse: Amazonitas são cristais mágicos verdes que toda ninfa é obrigada a ter num bracelete para evitar descontrole por quê eles diminuem a magia delas. Mas ao mesmo tempo são tóxicos se uma ninfa ficar exposta neles por muito tempo..-Explicou Alex:

—E são fáceis de achar?

—Lisa me disse que existem várias minas de amazonita em Viridi, mas como ela nunca viu uma ela não sabe ir até lá..

—Então não podemos ir numa dessas minas?

—Não, o jeito seria continuar procurando aleatoriamente por aí..

—Poxa...-Aimé se decepcionou com a informação, algo que Alex percebeu:"Ele realmente queria essa jóia. Não posso culpa-lo eu também queria ver uma de perto". Porém Aimé logo recuperou o ânimo:

—Tudo bem, não quer dizer que não vamos achar. Se continuarmos talvez a gent..-O garoto se interrompeu:-..Já sei!

—O que foi?

—Se não podemos ir num lugar que nunca fomos, podemos falar com alguém que talvez saiba!

—Quem..?

—Mari e Enki! Não custa nada perguntar. Vamos, talvez eles estejam aqui!

Agarrando Alex pelo pulso os dois correram pela areia:

—Pra que essa pressa toda? É com a viagem de Lisa pra Nova Granada que devemos nos preocupar!

—É que, eu quero resolver isso logo, sabe? Quero ver minha família de novo, tudo aconteceu tão rápido que eu nem soube que podia ser a última vez...

A saudade dele era tão grande que fez Alex se arrepender instantaneamente de ter perguntado. Ele mal tinha parado pra pensar no fato de que Aimé podia sentir falta de algo do mundo humano:

—..Mas tudo bem, não é nada, você também sente falta da sua família? Ou amigos?

Os dois começaram a andar na areia:

—Eu sinto falta do meu irmão..

—Também sinto saudade da minha irmãzinha, e o que mais?

—Sinto falta do meu irmão..

Alex olhou pro mar, sua mente tentava não pensar no que Aimé perguntou. Sua mente voltou sobre os cristais de amazonita, as ninfas, sereias e sobre..:

—Aimé, você notou que tem uma coisa que não faz sentido?

—O que?

—Ninfas controlam a terra, certo?

—Sim..

—E quando você estava com Mari e Enki, que são sereias..

—Mari criava bolhas do mar e eles também tinham cristais azuis nos pulsos..

—Lembra quando Lisa falou que aqui existia faunos, mas eles não controlam nada como ninfas e sereias?

—Bom, agora que você falou isso é estranho, mas o que quer dizer?

—Acho que tem alguma coisa faltando nisso, acho que Lisa não sabia do que tava falando sobre eles..

—Ela disse que não sabia de tudo sobre Viridi e que você era a primeira pessoa de olho castanho que ela viu, não dá pra saber como eles realmente são..

Mas quanto mais pensavam nisso mais estranho ficava, afinal por que faunos não tinham nenhum poder? Se Lisa nunca tinha visto um, como ela sabia que eram mesmo criaturas meio homem meio bode? Talvez algo esteja errado sobre isso:

—OLHA! Acho que são eles ali!

—Onde?

Aimé apontou para Alex, vendo mais a frente um par de irmãos de roupas azuis:

—Eu vou falar com eles, você vem?.-Perguntou colocando a jaqueta nos braços:

—Ah não, eu vou ficar aqui te esperando..

Enquanto Aimé corria ao encontro dos irmãos os próprios o avistaram:

—Aimé! Meu velho amigo, meu nobre, meu consagrado, camarada, companheiro!

Antes que Aimé pudesse responder Enki já o tinha pego firmemente num abraço, deixando o humano sem reação:

—Errr.. Oi Enki..

—Enki, já chega!

Ouvindo a irmã Enki soltou o garoto (até agora não haviam percebido a falta de brânquias dele):

—Estávamos procurando por ti..

—Sério? Eu também, eu queria saber se..-

—Vai, Mari, conta primeiro!

—Porque eu?

—O plano é teu. Se vira!

—Droga, é verdade..-Assim eles terminaram a briga fraterna:

—Espera, quem é aquele cara ali na frente?

—Ah, aquele é Alex, ele está comigo..

—Tens como traze-lo pra cá? Não dá pra saber se é uma ninfa ou uma sereia..-

—____

Mesmo estando mais distante Alex podia sentir aqueles três o encarando por algum motivo, e ele não gostou nem um pouco:"O que eles estão fazendo? Aimé disse algo de mim pra eles?".

Suas dúvidas sumiram quando Aimé voltou para perto e o puxou para segui-lo:

—Anda, eles querem te conhecer!

"Talvez não, ele é diferente", sua cabeça se acalmou até se encontrar frente a frente com os irmãos Mizuno:

—Então gente, como eu ia dizendo esse é Alex e nós..-

Os dois perceberam como os irmãos ficaram boquiabertos:

—Santa maresia, não sabia que tu conhecias uma harpia, Aimé..-Mari comentou calmamente:

—Espera, o que você disse?

—"Não sabia que tu conhecias uma harpia"?

—Mas Mari, se ele é uma harpia cadê as asas marrons dele?

—É só olhar os olhos castanhos Enki, e não se sai por aí perguntando uma coisa dessas! Vai saber o que ele passou pra perder as asas!

Enquanto a sereia repreendia o irmão pela gafe social os humanos se entreolharam com a revelação repentina sobre a suposição de Alex:

—Ela disse "harpia"? As criaturas aladas da mitologia?

—É isso o que os faunos realmente são?

—Caramba Alex, isso foi genial. Você bem que tinha razão..

O ruivo não sabia se estava mais chocado com o fato de ter recebido uma informação completamente diferente da de antes ou que uma dúvida sua podia estar certa:

—Por favor me perdoe! É que as vezes eu só abro a boca pra falar besteira!.-Enki se desculpou da forma mais sincera e dramática que pode:-Err.. Tudo bem..

Aimé voltou sua atenção para Mari:

—Mari, precisamos da ajuda de vocês com uma coisa..

—Digamos que também precisamos de ti pra uma coisa também..

—É que, a gente quer saber se vocês conhecem alguma mina de amazonita por perto pra nós mostrar..

—Amazonita? Tu pareces bem familiarizado com as ninfas...-A sereia voltou com a sua desconfiança de antes:

—No máximo temos a praia das larimar na Baía de Larimar!.-Disse Enki:

—Larimar?

—Tá vendo essa jóia aqui, Alex? Todo mundo tem uma quando faz 6 anos, a maioria são da praia que fica ao lado da cidade Baía de Larimar, mas elas também têm em outros lugares..-Essa informação os chamou atenção:-..Na verdade isso é só uma tradição pra evitar que algum idiota resolva causar um tsunami... Mas isso todo mundo sabe, não tem nem necessidade deu tá contando isso!

Assim Enki resumiu ingenuamente o modus operanti da sua espécie, sem perceber o quão semelhante era ao das ninfas e como em poucas palavras havia ajudado muito a Alex e Aimé:

—Sobre isso Aimé, eu e meu irmão queríamos saber se..-Ela parou no meio da frase quando Enki a lembrou do seu trato:-..Tu gostarias de passar o dia lá, podemos te mostrar o lugar e a Baía de Larimar é o maior centro pra se comprar qualquer coisa..

—Tudo bem, eu aceito!

"Que rápido, pelo menos ele aceitou.."

—Mas sobre essa Baía, sabe se tem alguma amazonita lá?

—Talvez tenha, porque?

—Alex e eu precisamos de uma..

Apesar do rosto desconfiado a garota aceitou:

—Certo, vamos ver o que podemos fazer...

—____

Os irmãos estavam dispostos a nadar até a Baía de Larimar, mas felizmente a presença de Alex os obrigou a leva-los usando um círculo de pedras.

Os humanos logo se viram no meio de uma cidade totalmente diferente da Província de Metalia, onde o azul era a cor predominante entre a população, as lojas e barracas de comércio eram mais visíveis que casas domésticas e a maioria do povo eram sereias. E claro, uma vista para o oceano:

—Bem vindos a Baía de Larimar!.-Gritou Enki para os garotos:

—Uma cidade só de sereias? Isso é tão...

—Legal!.-Aimé completou Alex:

—A maioria daqui são sereias, mas não é raro encontrar alguma harpia ou ninfa de passagem..-Mari acrescentou com algum desgosto na palavra "ninfa":

—E sabem por que chamam esse lugar de "Baía de Larimar"?

Enki os levou para a beirada da cidade, com apenas uma grade de proteção, e apontou para a esquerda do oceano:

—Tão vendo aquela praia ali? Lá bem, bem longe..-Os meninos puderam ver uma costa ligada ao continente e a cidade, com a coisa mais visível uma praia azul:-Aquela baía enorme ali é aonde as pedras de larimar saem, claro, é proibido ir pra lá sem autorização..

Mari sorriu vendo seu irmão servindo de guia turístico, talvez seu plano desse certo:

—Enki, vamos procurar o papai e mostrar Aimé pra ele!

—Já estou indo.. Fiquem aqui admirando a vista que já voltamos!

—Aposto que deve ter alguma mina de amazonita naquele lugar.

—Também acho..

—Olha só esse lugar, Alex, já dá pra ver que aqui é totalmente diferente da província. Olha que mar! Fica mais bonito com essas partículas mágicas!

—Uhum...

—Ei, você tá me ouvindo?

Quando Aimé virou pro lado ele viu Alex sentado no chão escrevendo no seu livro:

—Eu tô, é que eu ainda não consigo entender como que faunos na verdade são harpias, Mari acha que eu sou uma harpia que perdeu as asas. Como que Lisa pôde ter se confundido assim? É uma diferença enorme!

—Vai ver ensinaram errado pra ela...-Aimé sugeriu honestamente:-Agora escuta, temos que chegar naquela praia e achar aquele cristal pra Lisa e aí ela não vai mais se preocupar com os terremotos dela!

—Você realmente quer isso pra ela, né?

—Sim!

—Tá, mas vamos precisar de um plano já que Enki falou que aquele lugar é proibido e também parece bem longe..

—Mas nada pode nós impedir!.-Afirmou Aimé com determinação:

—Sim, contanto que a gente tenha um plano e se concentre nada vai nos..-

—EI! Aimé, Alex, venham logo!.-Gritou Mari:

—Vamos gente, tem tanta coisa pra mostrar! Tem as lojas de pérolas, o aquário de adoção de animais, a praia de esportes, o farol...

Os humanos se encararam:

—Mas um passeio rápido não faz mal, né?

—É, só pra conhecer melhor o lugar e vamos depois de.. 10 minutos..

O foco deles aparentemente mudou bem rápido:

—..Também tem o restaurante de algas... Será que eles gostam de algas, Mari?

—____

Os quatro caminhavam entre as ruas da cidade portuária, a maioria dos edifícios eram de cor branca ou azul em contraste com o verde das ninfas, porém uma semelhança notável era a mesma diversidade do povo sereia que havia nas ninfas.

A diferença mais óbvia era o poder das sereias: hidrocinese. Alex e Aimé viam a naturalidade com que elas usavam, desde formar bolas ďágua ou fazer a água levitar como Mari fazia pra se hidratar:

—Primeira vez aqui?

—Com certeza!.-Admitiu Alex para Enki:

—Vocês moram aqui?

Isso arrancou uma risada sincera de Mari:

—Com certeza não Aimé, só porque essa cidade é território das sereias não quer dizer que vivemos aqui, não ia aguentar ficar longe do mar..

Após a caminhada os irmãos chegaram novamente a loja de pérolas do pai:

—Finalmente..

—Anda Aimé! Antes de ir a algum canto tu tens que conhecer o nosso velho!

Enki já estava arrastando o garoto pelo pulso. Após um cliente sair os três entraram:

—Pai, tem um minuto?

—Mas é claro, o que querem crianças?

—Temos alguém pra te mostrar..

Aimé se viu encarando um homem parecido com Enki, mas com a pele morena como a de Mari. A coisa mais notável eram suas brânquias e escamas padrão, e claro magia espalhada no seu corpo inteiro:

—Oh, então tu és o amigo dos meus filhos? Prazer, me chame de senhor Mizuno, dono dessa loja de pérolas. Se estiver interessado em comprar uma pos-..

—Pai!

—O que? Não posso humildemente oferecer um desconto pro amigo de vocês?.-Perguntou em tom de falsa inocência:

—Paizão, vamos levar Aimé e o amigo dele pra dar uma volta pela cidade então digamos que vamos precisar de um.. empréstimo...-Enki declarou com uma inocência mais fingida ainda. O sorriso no entanto convenceu o pai:

—Tá, mas não abuse viu, moleque! Usem com sabedoria...-Com relutância ele entregou um saco de bolinhas de prata ao filho:

—ÊÊ! Vamos Aimé, vamos começar pelo aquário de adoção! Tchau pai. Te amo!

—Prazer em conhece-lo senhor Mizuno!.-Aimé acenou enquanto Enki o arrastava pra fora:

—Mari, espera!

—O que pai?

—Tô tão orgulhoso! Um amigo da idade de vocês!

—E sabes o que quer dizer?

—Sim, vou pra casa mais cedo com vocês. Tô tão orgulhoso de ti, deixando de lado seu medo de ninfas e fazendo amizade com uma potâmide!

Mari fez uma expressão conflituosa:

—Tchau pai a gente se vê mais tarde!

—Cuidado com os marginais!

A menina já havia saído. O senhor Mizuno refletiu consigo mesmo:

—É assim mesmo Adrian, a gente cria os filhos pro mundo.. Como crescem tão rápido!

—____

O primeiro destino dos irmãos foi a um prédio onde no lugar de piso havia uma enorme piscina com passarelas brancas que se ligavam a um círculo no meio e uma clarabóia no lugar de teto:

—Que lugar é esse?.-Perguntou Alex completamente maravilhado com a estrutura:

—Aqui é o aquário de adoção de animais. Normalmente se um animal ferido chega a baía ele é tratado aqui e é adotado por alguma sereia..-Explicou Mari:

—Legal! É tipo um aquário interativo!.-Comentou Aimé enquanto colocava a mão na água.

Um detalhe que os irmãos Mizuno não podiam ver, mas os humanos sim eram as partículas amarelas que caíam das luzes da clarabóia e outras na água. Um peixinho cor de rosa se aproximou da passarela de Alex:

—Então animais também tem essas partículas?.-Sussurrou colocando a mão na água perto do peixinho.

As passarelas começaram a tremer, quase fazendo os humanos caírem. Uma figura emergiu da água:

—Procuram algum peixe pra levar pro mar?.-Um tritão mais velho se sentou nas passarelas:

—Ah não, só estamos de passagem... ENKI! Não brinque de malabarismo com os peixes!

Mari se indignou ao ver Enki fazer malabarismo com bolas ďágua com os animais dentro:

—Só estou tentando animar a vida deles!

—____

Após terminarem a visita ao aquário de adoção os irmãos os guiavam a próxima parada. Os humanos se impressionaram com a arquitetura que lembrava às cidades portuguesas. Mari percebeu isso:

—Enki, tu não achas esses dois meio.. estranhos?.-Sussurrou:

—Tu acha qualquer um que vem da superfície estranho, Mari!

—Mas é diferente..

—Diferente como?

—Eles não parecem familiarizados com nada daqui..

—Mas Aimé é uma potâmide do rio. Nunca viu alguém do mar, coitado!

—É, mas quanto a esse Alex ele não parece com as outras harpias que vem pra cá..

—Realmente...

Enki se virou andando de costas:

—Então, vocês dois são amigos? Como se conheceram na terra?

—Digamos que a gente se encontrou no mesmo canto no rio..-Simplificou Aimé.

Mari não parecia convencida.

—Entendi. Enfim se tiverem alguma dúvida pode perguntar pra mim, coisas importantes como lojas de tintas, pincéis..

—Qualquer coisa..? Então você sabe das partículas amarelas e brilhantes que estão por todo lado? Incluindo em vocês?

Os irmãos fizeram uma cara confusa para ele. Enki riu:

—Ha Ha! Esse teu amigo harpia é estranho, Aimé!

—____

A próxima parada dos irmãos foi à uma praia localizada dentro da península, onde haviam barcos, botes e jangadas perto da água. Várias sereias se preparavam para se lançar ao mar com eles:

—Aqui é a praia de esportes?

—É, sempre tem alguma embarcação aqui pra aprender à navegar no mar. Isso também inclui os nossos..-

Duas meninas de uniforme branco de marinheiro interromperam Mari enquanto corriam para o mar:

—Anda Diana, se não vamos nos atrasar pra aula!

—Pra que a pressa? A escola não vai a lugar nenhum!

—Vai sim se a gente não nadar rápido!

As duas sereias então começaram a correr sobre a água até chegar num navio que passava. Usando sua hidrocinese criaram colunas ďágua para entrar no navio:

—NAVIO ESCOLA?! É assim que são as aulas de vocês?.-Aimé ficou admirado:

—Ué, sim, é onde a gente aprende a controlar a água e falar com os peixes.-Disse Enki:

—Tá aí uma escola que eu iria...—Sussurrou Alex:

—Falando em água..

No momento em que as outras sereias já haviam zarpado Mari pôs suas mãos na água. Juntando elas ela formou outra bolha ďágua e a levitou um pouco acima de si, em seguida estalou os dedos para a bolha explodir e formar uma pequena chuva ao seu redor.

—___

Durante à volta da praia Enki abordou Alex:

—Tá achando que é fácil estudar num navio escola?

—E o que vocês aprendem?

—Não sei o que harpias aprendem mas a gente aprende de tudo só pra aprender a controlar a água: Oceanografia, cartografia, navegação, engenharia naval, biologia aquática, canoagem e o pior... Como dar nó de marinheiro..!.-Disse com uma ênfase sombria na última parte.

Porém Alex não se intimidou. Pegou rapidamente seu livro e lápis:

—Dá pra repetir do começo?.-Ele obviamente estava interessado nas matérias escolares de uma sereia.

Aimé, vendo Enki confuso com a reação de Alex, se virou para ver Mari apreensiva em sair da praia:

—Ei Mari, você vem?

—Já vou Aimé! Preciso garantir que não vou me ressecar.

—Só pra você saber o dia tá sendo ótimo, ainda bem que vocês me chamaram. Não ia aguentar passar o dia trancado sem fazer nada.

Mari se aproximou dele e respirou fundo:

—Olha Aimé, vou ser sincera contigo. O único motivo porque te chamamos aqui é que queríamos que nosso pai visse que temos amigos na superfície pra que ele voltasse pra casa mais cedo conosco..

—O que?

—É, desculpa parecer oportunista mas é que eu simplesmente não consigo confiar em ninguém da superfície de Viridi, incluindo tu.

—Mas por que?

—Tenho vários motivos..

Finalizou a menina sereia e saiu da praia.

—____

Enquanto os quatro saíam da praia da península uma situação desagradável acontecia bem próximo no caminho deles:

—Pra que a insistência? Uma sereia que nem você devia agradecer que um cara como eu tá te dando atenção!

Afirmou um homem de olhos verdes para uma sereia mais velha de cabelo castanho:

—Sai fora, já disse que não tô interessada!

A sereia tentou sair de perto dele, claramente não interessada no homem que tentava importuna-la. Porém ele agarrou o seu braço:

—Escuta aqui sua metida do mar: Não se atreva a dizer não pra mim! Porque nenhuma sereia em terra desrespeita uma ninfa que nem eu!

—LIAM!

—Nem adianta chamar ajuda peixinha. Ou você se entrega ou..-!

O homem desprezível foi interrompido por uma dor sentida nos dois calcanhares. Em seguida nas pernas. Nas costas e por fim na nuca. O homem caiu para revelar o herói: um animal semelhante a um caranguejo com casco de tartaruga.

A sereia pegou seu mini herói com cuidado:

—Isso é o que você merece por mexer com uma sereia e seu animal de estimação.. Bom trabalho, Liam!

A criatura agradecida voltou para atrás da cabeça da sereia, usando as garras para se preender no cabelo como se fosse um acessório.

A sereia partiu para longe enquanto os quatro admiraram à distância o feito contra o homem:

—Esse é um dos motivos porque não se podes confiar em ninguém da superfície, Aimé.

Por outro lado o canalha continuava atordoado pelo ataque do animal:"Eu odeio sereias! Bando de infelizes!". Pensou com ódio.

—___

Enki guiou o grupo até o tal falado restaurante de algas. Mari se sentou numa das mesas circular e branca que ficavam na parte de fora:

—Gostas sopa de algas Aimé? Eu acho uma delícia!

—Na verdade não..

—Como não? Tu és um tritão, claro que já comeu algas. Vamos ver o que temos aqui...-Enki (novamente) agarrou o braço de Aimé até o balcão para fazer os pedidos.

Uma mulher de cabelo loiro ondulado e roupa branca comprida os atendeu:

—Bem vindo ao restaurante da Trite, o que vai querer jovem tritão?

—Vamos ver, eu vou querer quatro sopas de algas, uma porção de carne marinha...

—___

Enquanto isso Mari observava o humano perto do seu irmão e para Alex, a quem ela via como uma harpia sem asas:"Eu sinto que tem alguma coisa estranha nesses dois, eu só não sei o que é. Por um lado Aimé deve ser assim ingênuo por ser uma potâmide, mas e se for só fingimento? O importante é não mostrar simpatia".

Alex, ao mesmo tempo, olhava discretamente para os braços de Mari:"As partículas dela estão aglomeradas nas escamas, mas não tem quase nenhuma perto do pulso do bracelete..."

—___

Imediatamente Aimé perguntou ao tritão:

—Enki, por que a sua irmã é tão...?

—Desconfiada? Paranóica? Avessa ao solo? Anti terra firme? Inimiga da superfície?

—Sim?

—Simples, oceânides que nem nós não são muito bem vindas em terra firme e a Mari desconfia de tudo e de todos aqui em cima...-Explicou naturalmente enquanto segurava uma bandeja de comidas:-..Ela não tá errada em pensar assim, só que é irritante alguém que vive te lembrando isso. E pra piorar esse alguém é a minha irmã! Tem como ser mais irritante?

—____

Alex e Aimé acabaram descobrindo uma coisa sobre sopa de algas: Era de textura esponjosa e estranhamente boa com o tempero certo.

Enquanto os quatro comiam o entardecer já havia chegado na cidade litorânea. A mesma sereia que havia lutado contra o assédio de uma ninfa passou pelo balcão do restaurante:

—Ah Trite, vejo que as coisas por aqui estão dando certo..

—Delfina! Sim, meu restaurante aqui está melhor do que o outro lugar!

—Ainda não acredito que você teve a ideia de montar um restaurante numa praia de ninfas. Deserta ainda mais!

—Não tão deserta, pelo menos apareceu uma ninfa lá uma vez, mas me pareceu uma boa ideia na hora.

"O que tem de boa cozinheira tem de tonta.."

—Quer um conselho? Não vá para uma tal Província de Metalia, resolvi tocar música por lá e me arrependi.

—___

Enquanto as sereias mais velhas conversavam Enki exclamou na mesa:

—Essa comida me deu uma sede. Mari me dá uma garrafa de hidratação..

—Errr...

—Mari! Não me digas que acabou com todas as garrafas de hidratação!

—Sabes que eu me resseco mais rápido que tu!

—Não acredito! Agora vamos ter que voltar pra praia antes deu me ressecar!

Os dois se levantaram e começaram a andar:

—Tá bom, vamos logo antes que..-

Mari tentou puxar o irmão por trás até perceber que ele retornou a sua forma de sereia no chão:

—É assim que vai ser?!

—Ninguém mandou deixar seu precioso irmão morrer desidratado. Agora encare as consequências!.-O garoto cruzou os braços e fez beicinho:

—Se levanta Enki!

—Aproveita pra esticar essas pernas!

Os meninos tentaram controlar o riso enquanto Mari tentava arrastar seu irmão pelo chão até a praia.

—____

Infelizmente a alegria era ameaçada pela presença do cretino ninfa de antes. Ainda estava cheio de fúria pelo incidente na praia:-Quem aquela metida e o povo dela pensa que é?! Essas sereias contaminam nossa terra com essas escamas e se acham os donos do lugar!

No momento ele passou pelo mesmo local onde os humanos e as duas mulheres haviam sobrado. Ele reconheceu um animal com pinças olhando com ódio para ele atrás da cabeça de uma delas.

"Bicho idiota! Que raiva dessa gente! Que vontade de socar um desses infelizes até virar um..!"

—Ei Alex, vamos dá uma voltinha antes que Mari e Enki voltem?

—Hum, certo!

Foi então que ele viu. Dois adolescentes de 14 anos. Um deles de roupas e olhos azuis, era tudo o que ele precisava. Ele observou os dois meninos à andar pela cidade. Sua raiva preconceituosa era tanta que sentia vontade de descontar todo seu ódio no primeiro que visse. Infelizmente Aimé foi seu alvo.

"Tirei a sorte grande!", pensou o homem. Afinal era perfeito, um tritão jovem e de aparência mansa. O alvo perfeito para seu preconceito. Começou a seguir discretamente os dois pela cidade.

—____

Não demorou muito para que os meninos parassem no primeiro ponto que os chamassem atenção: Um mural da cidade pintado para indicar a localização dos cidadãos (o que era bastante útil para a grande quantidade de pessoas que andavam por ali):

—Vamos olhar de perto, pode ser útil pra caso a gente se perca..

—Você parece que gosta bastante de mapas, hein?.-Alex começou a disfarçar enquanto se aproximavam do mural:

—Não é bem gosto, é só que é bem útil pra caso você se perder..

—Bom, se eu me perdesse ou precisasse marcar meu caminho pra alguém me achar eu faria uma trilha ou algo assim..

—Também serve..

Enquanto analisava uma parte do mural Aimé se desesperou:

—AI NÃO! Não acredito! Droga! Não acredito!

—O que foi?

—Tínhamos que achar um cristal de amazonita pra Lisa! Foi por isso que viemos pra cá!

—É mesmo! Eu tinha esquecido!

—Ainda tá claro, se corremos podemos fazer um círculo de pedras até a praia das larimar!

Então Aimé se virou e começou a correr pra longe:

—Aimé espera!.-Alex começou a correr também. Essa foi a deixa que o homem precisava para agir:"Que tritão idiota de ir numa praia cheia de pedras de larimar! Não importa, se ele quer chegar até lá vou dá uma ajudinha..".

Com um sorriso sinistro ele andou até Aimé:

—Ei você aí, quer ajuda pra chegar na praia de larimar?

—Oi? Sim eu...-!

Ao reconhecer o rosto do homem Aimé tentou correr pra longe. Infelizmente tudo aconteceu tão rápido que a única coisa que sabia era que o homem havia segurado seus ombros firmemente até uma avenida menos movimentada para impedir o garoto de fugir. Enquanto tentava sair do fluxo de sereias Alex gritava:

—Aimé? Aimé!!

—Alex...!

Mas o homem cobriu sua boca na hora:

—Presta atenção, eu já tô com pouca paciência pra gente da sua laia e se você não quiser apanhar mais que o necessário é melhor ficar quieto, ouviu?

Assustado e sem escolha Aimé se calou: "Por que? Por que eu e por que esse cara? O que ele vai fazer? Por que ele não arruma um buraco pra se apodrecer?".

Outra ideia sinistra passou pela cabeça do vadio:"Vamos ver quanto tempo uma sereia aguenta andar nesse sol até a praia de larimar."

—____

—Aimé? Aimé?!

Alex continuou procurando aos arredores do lugar, mas sem sinal dele. Não havia como ele ter feito um círculo de pedras tão rápido, nem ter ido tão longe na multidão. O ruivo estava tão focado em acha-lo que não percebeu os irmãos voltando:

—Agora sim estou hidratado!

—Ô Alex, porque saíram sem a gente? Aqui é fácil pra novatos se perderem!

Foi então que Mari percebeu:

—Cadê o Aimé?

Enquanto os irmãos se perguntavam Alex não gostou nem um pouco da sensação latente de preocupação pelo sumiço do moreno.

—____

A situação de Aimé não estava nada boa. O infeliz obrigava o garoto a acompanha-lo sem chamar atenção sob ameaça:"Esse cara é um psicopata! Não posso sair de perto dele se não vou apanhar e se eu correr ele pode usar a geocinese dele contra mim!".

O menino olhava os arredores da cidade enquanto pensava no que fazer. Se ele ao menos pudesse pedir socorro ou chamar atenção de Alex:"Já sei! Tomara que isso funcione!".

Ele discretamente tirou seu sapato do pé e o largou no chão, felizmente o homem não percebeu.

—____

Mari e Enki tentavam acompanhar a velocidade de Alex correndo pela cidade:

—Ei amigo vá mais devagar se não é tu que vais se perder!

—Enki tá certo! Pelo menos espera a gente!

Alex finalmente parou:

—Tá, eu vou procurar por onde já fomos e vocês..-

—Eu vou chamar nosso pai e as autoridades pra ajudar!.-Enki se afastou deixando os dois para procurar.

—____

Aimé já havia deixado seu outro sapato como pista (embora tivesse se arrependido pela longa caminhada que estava fazendo). O sujeito ainda o escoltava para seu sadismo.

"As sereias deviam ser que nem esse garoto, quietinhas e fracas. Mal posso esperar pra bater nele!". Mal sabia ele que Aimé procurava outra coisa pra marcar caminho:"E agora? Não tenho mais nada pra me ajudar... A menos que..".

Ele simulou um tropeço nos próprios pés, fazendo seus óculos caírem e deixando o homem com uma cara irritada:

—Opa! Desculpa é a minha primeira vez sendo sequestrado. Tô nervoso!.-Riu nervosamente:

—Seus truques de sereia não me enganam! Se levanta agora, pirralho!

Ele agarrou o seu braço e continuou a andar:"Tomara que isso funcione.. Alex por favor anda logo..".

—___

Mari guiava Alex de volta à praia até que o ruivo viu algo no chão. Um calçado jogado. Seria talvez uma pista? Ele viu a direção que o sapato apontava e seguiu:

—Aonde vais?.-Agora Mari estava começando a se preocupar, afinal foi ideia dela trazer Aimé pra Baía de Larimar.

—___

Alex seguiu depois de pegar o sapato, tentando procurar por outro sinal de Aimé. Mas por que ele estava tão preocupado? Não tinha porque ele está com tanto medo de algo acontecer com ele, certo?

Ele olhou distraidamente para uma partícula amarela no sapato, a viu flutuar para uma direção e então a seguiu enquanto continuava.

—____

Enki viu Delfina com seu animal falando com dois guardas da segurança da Baía:

—..E depois o Liam deu uma lição naquele cara!

—Ei me ajudam a achar alguém?

—Agora não garoto, estamos no meio de uma denúncia!.-Disse a policial de uniforme azul escuro:

—Mas Aimé pode tá perdido, ele é meio baixinho, tem olhos azuis e óculos e...-

—Tem algum detalhe mais específico?.-Perguntou o outro policial:

—Ser fofo é um detalhe específico?

—O que foi Liam? Tem mais alguma coisa pra dizer?

Os quatro viram o animal que se agitou com a descrição:

—Ok amiguinho nos diga o que viu..-Disse a policial ao caranguejo, algo comum quando você sabe se comunicar com os animais de Viridi.

—____

Finalmente o homem teve misericórdia de parar de andar perto do fim da cidade. Aimé se ajoelhou tentando se recuperar. Ele viu o homem tirar um punhado de pedras de um saquinho:

—Você é bem resistente pra uma sereia, uma hora dessas você já devia ter se ressecado!

—Você é maluco...-Sussurrou Aimé:

—Já que queria tanto ir pra praia das larimar deixa que eu te ajudo..

Ele começou a fazer um círculo de pedras ao redor dos dois.

—___

Por sorte seguir aquela partícula levou Alex à encontrar o outro sapato de Aimé e mais a frente seus óculos. Com isso ele começou a se perguntar:"Isso tá estranho, por que ele deixaria até os óculos largados por aí? Será que ele tá bem? Será que aconteceu alguma coisa séria?".

Percebendo o quão longe tinha chegado na cidade ele considerou voltar até ouvir algo estranho na frente:

—Mas eu nem sou uma sereia! Tem que acreditar em mim!

—Essa conversa fiada nem adianta moleque!

—Não pode ser... Será que..

O ruivo correu até a margem da cidade onde viu a situação:

—Aimé!

—Alex!

Porém a alegria deles durou pouco:

—Uma harpia?! Mas que miséria! Você não viu nada, cérebro de pena!

Assim ele terminou o círculo de pedras e os dois sumiram. Alex pegou seu mapa e começou a analisar:"Pensa, pra onde eles podem ter ido?".

Então sua mente clareou:"Mas é claro, como não pensei nisso antes? Só pode ser lá!".

—___

—Vamos Mari! É por aqui que Aimé foi.

—Como sabe disso?

—Um caranguejo me disse!

—Ei você aí, você estava acompanhado daquele garoto? Oi?

Alex passou pelos quatro até chegar perto da beirada da cidade. Ele olhou para o mapa e para a praia distante. Não havia outro lugar.

—___

Aimé se viu numa praia diferente onde a areia era um azul profundo com várias pedras de larimar enterradas em todos os lugares. As únicas ondas estavam mais distante das areias.

Apesar das pedras brilhantes não havia sinal das partículas amarelas na areia e nem nas águas.

O sequestrador olhou para Aimé, que não tinha se mexido:

—Já se sente mais fraco? Porque aqui você não tem defesa nenhuma!

Aimé não conseguia ver, mas teorizou que aquela praia era muito distante pra chamar ajuda. Apesar da situação ele teve coragem o suficiente pra retrucar:

—Já disse que não sou uma sereia e não me sinto mais fraco nessa praia.

O sujeito fez uma cara confusa, incapaz de entender:

—Tô nem aí pro que você diz, se você tem olhos azuis você é um tritão! E essa sua gentinha me irrita só de olhar a cara!

Aimé tentou se levantar mas o homem previu isso. Suas mãos se afundaram no chão igual areia movediça, o impedindo de sair:

—Finalmente posso bater em alguém em paz!

Mas então uma pedra atingiu seu rosto:

—Se afasta dele, covarde!

Aimé se virou para onde ouviu a voz de Alex (felizmente ele tinha conseguido usar um círculo de pedras), mas o sujeito riu da sua cara:

—Tá de brincadeira com a minha cara, harpia?! Quem você acha que é pra vir bater de frente comigo? Ainda mais uma com as asas cortadas que nem você!

Ignorando o que ele disse ele correu até Aimé:

—Você tá bem?

—Obrigado, obrigado por vir!

—IDIOTAS!

Os dois viram ervas daninhas crescerem acima deles prontas para pega-los. Alex rapidamente liberou as mãos do outro e começaram a correr. E então o homem os seguiu criando mais ervas daninhas pra perto deles:

—O que a gente faz agora?!

—Aimé, corre! Só corre!.-Exclamou o ruivo o deixando correr mais pra frente, enquanto apanhava pedras pra jogar contra o cara.

Assim ele atirou as pedras:

—Você errou tud.. AÍ!.-A última pedra acertou perto do seu olho, dando chance de fugir.

Ele não era do tipo que ficaria feliz em machucar alguém, mas dessa vez foi mais que satisfatório.

—___

Finalmente eles avistaram as águas da praia, com um bote bem perto deles:

—Esse é o...?

—Sim!

Os dois começaram a remar no mar até estarem mais perto dos irmãos:

—Ha Ha! Eles conseguiram Mari!

—Que alívio, Aimé está bem..-Os irmãos nadaram para levar o bote as docas.

—___

O cretino que havia chegado perto das ondas foi cercado por um par de guardas andando sobre a água:

—Ora ora, olha o que temos aqui: Denúncia de assédio a uma cidadã, tentativa de sequestro e entrada não autorizada a praia de larimar...-Disse a guarda debochada:

—Tudo no mesmo canto!

—Quer fazer as honras Kai?

—Sim Serena..

Os dois deram as mãos e Kai ergueu o outro braço, formando um enorme braço ďágua atrás pronto para esmagar o homem:"Ai que lixo".

—___

—Aimé certeza que estás bem? Um banho de mar aqui vai te ajudar a se recuperar!

—Tudo bem Mari eu tô bem!.-Afirmou enquanto os irmãos transportavam os meninos no bote:

—Aimé não queria que isso acontecesse contigo, eu e Enki só queríamos passar mais tempo com o nosso pai. Mas eu vou entender se não quiseres voltar mais...

—Não Mari! Eu quero voltar pra Baía de Larimar!

—Sério?

—Sim, podem me chamar sempre que quiser!

Mari sorriu genuinamente com a sinceridade do garoto.

—___

Ao chegarem nas docas o senhor Mizuno correu até os seus filhos:

—MARI! ENKI! Eu soube o que aconteceu, como deixaram o amigo de vocês perdido por aí?! Olha pro coitado que..-

—Eu tô bem senhor Mizuno, graças a Alex aqui eu tô bem!

—Eu?

—É, foi você que sabia onde eu tava.

—Não se preocupa pai, na próxima vez nada disso vai acontecer.

Enki secretamente se iluminou com as palavras "próxima vez" da irmã:

—Tens sorte que eu nunca dou pra trás num acordo, vamos pra casa agora!

Os irmãos se alegraram imensamente:

—Obrigado, obrigado pai!

—Tchau meninos, a gente se vê outro dia!

Então a família se despediu no mar em suas formas aquáticas:

—Alex obrigado de novo por me salvar!

—Mas eu só sabia porque você deixou rastros, foi genial!

Começaram a andar pela cidade até achar um círculo de pedras:

—Valeu a pena deixar os meus óculos no chão..-Felizmente ele recuperou tudo no bote:

—Isso foi incrível, pena que não podemos mais voltar pra aquele lugar.

—Poxa..-Se não fosse por aquele sujeito o dia teria sido ótimo para todos:

—Mas você tá bem, é o que importa...

Enquanto caminhavam Alex olhava discretamente aos arredores se não havia alguém suspeito ou se possível ver de perto alguma harpia de asas marrons (ele ainda tinha que conversar com Lisa sobre isso).

—___

De volta a casa de campo os meninos se perguntavam:

—Será que Lisa já voltou?

—Não sei ela não disse quando...-

Os dois foram surpreendidos com a visão de várias pedras pontudas de vários tamanhos ao redor da casa:

—É, acho que ela voltou mais cedo...