These Days

Uma tarde e tanto.


Aquela sexta-feira pós festa foi um dia incomum, começando pelo fato de que os dois professores que me dariam seis tempos de aula no total não vieram. Então minha turma não teria aula, assim quase todo mundo foi embora. Léo ficou para esperar a namorada dele até o intervalo. Umas garotas aproveitaram e ficaram na biblioteca para finalizar um trabalho. Eduardo também ficou.

Estávamos sentado no pátio, no mesmo lugar onde conheci a Bruna, um banco perto da escada do meu prédio. Não demorou muito para Bruna aparecer, me deu um oi e fez o mesmo com Eduardo. A verdade é que eu esperava bem mais, com ele é claro, um abraço no mínimo, mas ele não se levantou e ela não falou nada.

O silêncio estava começando a ficar constrangedor até mais um grupo de pessoas se aproximar e começarem a falar de assuntos diversos. Eu fiquei calado, reparei que Bruna também. Naquele momento senti uma sensação estranha, muito estranha por sinal. Era uma espécie de agonia misturada com outra coisa que eu não sabia explicar. Bruna estava tão perto de mim, coisa de um metro no máximo, mas ao mesmo tempo eu sentia que ela estava distante, muito distante.

Ela me olhou e abriu um sorrisinho, eu queria tentar imaginar o que estava passando pela sua cabeça. Eu pensei em dizer algo, puxar assunto, sei lá, fazer algo, mas não fiz. Lembrei que na noite anterior, na festa da Lorena ela simplesmente me ignorou por completo depois que dancei com a Alana, talvez foi só impressão, mas eu tinha certeza que ela não gostou.

O pessoal conversou por um bom tempo, Bruna não subiu para o primeiro tempo de aula, ficou lá em pé ouvindo o pessoal falando, Eduardo parecia entusiasmado com algo. Então ele se virou e falou, me botando no assunto.

— Aí Henrique, mês que vem tem aquela banda que você se amarra, Bon Jovi aqui no Brasil. - Eduardo falou, e todos as outras pessoas me olharam.
— Tô sabendo, é um CD novo aí. - Respondi meio sem graça por ser o foco da atenção.
— O show do Rio terá a Fresno abrindo o show, vamos?
— Fresno? não é aquela banda Emo? - Falei sério.
— Iiiih, é emo mas é muito bom, tá!? - Ele pareceu não gostar mas ignorou.
— Nem vou, eu não gostei do novo CD do Bon Jovi, e nunca parei para escutar Fresno.
— O quê??? Mais tarde vou te mandar no MSN umas músicas deles, se você não gostar de Duas Lágrimas nem fala mais comigo. - E foi naquele dia que eu conheci Fresno, a banda preferida do Eduardo na época.

Quando o sinal do fim do primeiro tempo bateu, 13h30. O portão abriu, era uma espécie de segunda chance para quem se atrasasse, sempre entrava um monte de gente, pois se não entrasse na escola até uma e meia da tarde, não entrava mais, claro, se você não for do Grêmio (rs).

No meio da pequena multidão que chegava, estava Alana, as gêmeas e Lorena, ambas do mesmo lugar, então vieram juntas. Elas se aproximaram de onde eu estava e formou um grupo grande ali. Bruna conversava com as quatro, era um papo sobre a festa, obviamente. Não demorou um minuto para Alana me olhar, sorrir e se aproximar para me abraçar. Eu não precisei nem levantar, pela altura dela.

— Oi Rick! - Ela falava após eu dar um beijo em sua bochecha.
— Oi! Pra senhorita não reclamar, eu nem tenho aula, mas fiquei aqui só por sua causa. - Eu tinha sido sincero, mas sem maldade, tinha prometido que iria a escola por causa da Alana, mesmo sendo minha obrigação. Porém, Bruna escutou e pareceu não gostar, pois por coincidência ou não, se afastou e foi para seu prédio, que era diferente do meu e de todos ali.

— Alana, vamos subir? - Lorena falava meio que se afastando juntos das gêmeas.
— Já vou, pode ir vocês. - Ela respondia enquanto as três que eram da mesma sala, subiam.
— Não vai estudar? - Perguntei à ela.
— Vou, mas você não vai me levar até a sala?
— Hmm, tá. - Respondi me levantando, deixando a mochila no banco.
— Pera, leva sua mochila. - Ela falava.
— Por quê? - Olhei para ela.
— Já que não tem aula, assiste aula na minha sala. Por favor!? - Ela fazia uma voz meiga.
— Iiih, Eu tenho a opção de ficar aqui, ou na sala do grêmio com ar condicionado, ou ficar na quadra assistindo umas minas fazendo Educação física, e a senhorita quer que eu fique na sua turma? - Falei em tom de ironia, sorrindo.
— Isso mesmo! - Ela pegava na minha mão e me puxava.
— Droga... eu tenho que aprender a dizer não para as pessoas.
— Para as pessoas pode dizer não à vontade, para mim, nunca!
— Iiiih, é muito marrenta e mimada, né! - Falei rindo.

Subimos as escadas e eu não tinha reparado, mas ainda estávamos de mãos dadas, eu só reparei quando Tia Elisete, a moça coordenadora que começou a "implicar" com nós dois, achando que tínhamos algo, foi engraçado pois Alana não desmentiu e nem eu. Apesar de ser proibido namorar na escola, Tia Elisete não se importava de termos andado de mãos dadas.

— Henrique, sua turma não foi dispensada? o que "tá" fazendo no corredor? - Ela perguntava com uma pasta na mão olhando para confirmar sobre minha turma.
— Sim, senhora, estou levando ela para a sala. - Respondi enquanto continuávamos andando.
— Okay, rápido hein!
— Pode deixar.

Alana ria e a levei até sua sala na qual estava de porta fechada, ela abriu, e a maioria olhou, ela era bem cara de pau, não se importou e entrou na sala me puxando. A professora estava de costas escrevendo no quadro. A sala era divida em três filas de duplas, ela me levou até a fileira do meio, quase no fundo da sala e sentamos em dupla. Botei a mochila na mesa e fiquei em silêncio.

A verdade é que fiquei de 13h30 até quase 16h00 na sala dela, conversamos bastante, sempre baixo para não atrapalhar. Passaram três professores lá e nenhum percebeu que eu não fazia parte daquela turma. Eu só fiquei incomodado por causa que uns garotos não estavam gostando da minha presença ali. Alana era a garota mais bonita (na minha opinião) daquela turma, e eu ali conversando com ela, de uma forma intima até, acho que não pegou bem, pois recebi uns olhares meio ameaçadores, mas não me importei.

Alana, assim como eu, não almoçava no refeitório da escola, fomos até a cantina no qual compramos salgados com refrigerante para almoçarmos. Sentamos sozinhos perto da árvore, a professora dela tinha dispensado a turma antes da hora do intervalo, por isso o pátio ainda estava meio vazio, ótimo para conseguir lugares.

— Sabe, Henrique... - Ela voltava a mastigar sua coxinha.
— Hm... - eu terminava de engolir - Fala.
— Ando bem carente.
— O quê? como assim? - Fiquei surpreso e sem graça com confissão.
— Eu namorei quase quatro anos né, desde meus doze, eu não sei como é ser sozinha, estou há um mês e é estranho não ter um alguém.
— Ah, isso você se acostuma, passei minha vida inteira solteiro. - Respondi dando a última mordida no meu lanche.
— Eu descobri o quanto sou carente pelo fato que eu quero namorar de novo.
— Vai voltar pro seu ex?
— Não, com ele não tem volta, mas eu queria namorar, ter alguém de novo sabe?
— Para, cara. - Por algum motivo eu comecei a ri dela.
— Não é suas amigas que namoram né, aí é fácil! - Ela parecia meio irritada mas ria depois. - As gêmeas, Thayane e Lorena, todas elas namoram, chega fim de semana elas somem
— Isso é carência de amiga, não de namorado.
— É... talvez.
— Vou te fazer umas visitas nesse fim de semana, assim terá o que fazer.
— Mesmo? - Ela abria um sorriso.
— Sério, a gente sai pra lanchar, amanhã. - Respondi com um sorriso.
— Ótimo!

Passamos o intervalo inteiro conversando, até depois dele, quando reparamos, o pátio estava vazio, o céu bem nublado. Eram quase cinco da tarde. Eu nem reparei no Eduardo, Bruna e nas outras pessoas. O papo estava legal, Alana me contou mais sobre seu relacionamento, e eu contei toda a história da Bianca e das férias do meio do ano. Se eu apanhei? sim. Alana não era do tipo de garota carinhosa, ela me deu um soco, sim, um soco no braço quando contei o que aconteceu com a Bianca. Ainda me chamou de idiota e outros palavrões e ofensas. Eu só ri, pois sei que mereci.

— Vamos embora? Pois tua turma já subiu e tu ficou aqui.
— Pois é, eu não estava afim de estudar mesmo. - Ela levantou e pegou sua mochila.

Saímos da escola lado à lado, no lado de fora estava Eduardo conversando com uma garota, muito bonita por sinal. Eu abri um sorriso para ele que correspondeu. Provavelmente era mais uma "vitima" do Dudu. Caminhei com a Alana até a rua, no qual eu ia para a esquerda e seguia caminho até a praça, ou ela atravessava a rua e ia para o ponto de ônibus.

— Vou a pé hoje. - Ela falava e começava a andar.
— Ué, por qual motivo? - Apressei o passo para acompanha-la.
— Ponto tá bem cheio, e fiquei sentada tarde inteira. Tô com a bunda doendo.
— Só por isso? - Respondi rindo.
— É cabeção qual outro motivo?
— Talvez para ter o prazer da minha companhia por mais dez minutos.
— Se fosse isso eu mandava você esperar no ponto comigo. - Ela respondeu rindo.
— Primeiro, você não manda em nada.
— Então se eu PEDISSE para você ficar no ponto comigo, esperando meu ônibus, não esperaria? - Ela parou e me olhou.
— Bom... hmm, talvez. - Falei sério, mas me segurando para não rir.
— Tá bom, eu volto para o ponto. - Ela ameaçou voltar, segurei em seu braço
— Pára! vem, vamos logo.

Continuamos andando e Alana ficou rindo da minha cara. Caminhamos mais alguns minutos e ela ficou tentando me explicar como chegar na casa dela, era bem depois da casa da Bruna, tinha mais uma ponte para atravessar, curta, mas necessária. Até chegarmos na famosa pracinha. Não vou mentir, bateu uma saudade de levar a Bruna embora.

Eram cinco e meia da tarde e o tempo estava super nublado e escuro. A semana seguinte iríamos ter um feriado de sete de setembro numa terça-feira. Ia ter aula na segunda, mas quem iria? a maioria viaja ou simplesmente não vão para escola. Por isso muita gente estava eufórica com o fato de ficar quatro dias em casa depois do mês de agosto ter demorado tanto tempo para passar.

— Sabe que não vou te levar em casa né? - Parei e a olhei.
— Tá bom, aqui já é meio caminho andado, e sei que se tu me levar, vai ser muita contra mão para você voltar.
— Agradeço por entender. - Sorri.
— Então amanhã a gente se encontra aqui as cinco? - Ela sorria de volta.
— Claro, pois se não me ver amanhã, só iremos nos ver na quarta-feira.
— Pois é. Então se cuida. - Ela me abraçou.

Se tinha algo que eu gostava da Alana era essa "atitude". Ela sempre me abraçava, ela sempre tomava essa atitude. E foi um abraço bem gostoso por sinal, estava começando a ficar frio, mas ela estava quente e a gente se apertou, senti seu corpo grudar no meu. Ela tinha um cheiro bom, seu cabelo cheirava algo bem agradável.

Fui beijar sua bochecha quando ela se virou e nossos lábios se encontraram, rolou um selinho de alguns segundos até nos afastarmos, eu fiquei gelado, ela sorria querendo rir da minha cara. Ela agiu como se nada tivesse acontecido, fiz o mesmo.

— Até amanhã. - Falei vendo ela se afastar.
— Tchau. - Ela sorria e ia embora, pela ponte, andando naquela rua que eu sempre via outra pessoa ir embora.