These Days

Sim ou não?


Eu estava fora de casa há quase uma semana, era uma sexta-feira e fazia um frio terrível nesse inverno no Rio de Janeiro. Quem mora nesse estado sabe que vinte graus já é o suficiente para por casaco, calça e uns mais exagerados usam luvas.

Não bastasse o frio, chovia a semana inteira e consequência disso não tinha internet há quatro dias. Eu simplesmente esqueci de avisar a Bruna que viajei, lembrei que tinha prometido que iria visita-la essa semana, mas era impossível. Por um lado eu não senti falta da internet, passava os dias assistindo TV a cabo, séries que eu não conhecia, filmes que não tinha assistido e conversava bastante com minha tia.

Ela me ensinou a fazer coxinha, na qual as que venderiam a noite em sua pequena lanchonete, eu realmente achei divertido fazer aquele trabalho. Minha tia contou a hilária história de como conheceu o tio Carlos. O tempo passou depressa até.

Quando começou a escurecer, James apareceu depois de ter sumido a tarde inteira. Estava empolgado e me chamou para ir no quarto. Assim que entrei ele estava com o guarda-roupas aberto e parecia procurar algo.

— O quê foi, primo? - Perguntei enquanto sentava na cama.
— Vai rolar uma socialzinha na casa da Taiani hoje, e ela nos convidou! - Ele me olhou com o maior sorriso do mundo.
— Eu não entendi essa tua felicidade.
— Essas sociais que a Taiani promove, vão poucas pessoas e ela não convida qualquer um.
— Pera, você nunca foi convidado? - Segurei o riso.
— Ér... mas depois de hoje, serei sempre!
— Sei... mas não sei se irei, vai passar "A rede social" filme sobre um tal de Facebook, dizem que é foda.
— A rede social ou o filme?
— O filme, essa rede social ninguém conhece. Ao menos aqui no Brasil. - Como a vida é, né?
— Mas voltando ao assunto, Taiani disse explicitamente para você ir! Parece que a Gisele te quer.
— Quem é Gisele? - levantei (ou tentei) uma sobrancelha.
— Aquela ruivinha, que estava com outras garotas, na praça.
— Ahh, ela é bonita.
— E você é um sortudo! Se der sorte pode arrastar ela para um cômodo vazio e machucar!
— Que merda que tu tá falando, James?
— Meu deus, meu primo é VIRGEM!!
— Eiii! - Olhei para a porta, fiquei constrangido. - Não é nada disso, é o modo que você fala. Nem fiquei com a menina, e se isso acontecesse, não é assim que as coisas funcionam. "arrasta para um cômodo e machuca" Agora entendi por quê você não arruma uma mina.
— Ihhh. Relaxa, okay, okay... Outras garotas irão e bem... preciso dessa chance. Você poderia ir? pois se eu aparecesse sem você, acho que a Taiani não ia gostar.
— Tá, primo. Eu vou.

Por algum motivo eu não estava nada ansioso ou empolgado, mas mesmo assim me arrumei, estava com uma camiseta rosa, uma que usei no último natal. Meu primo primeiro ficou me zoando pela cor da camisa, depois mandou eu trocar umas três vezes, claramente dizendo que estava com vergonha por andar comigo vestindo assim. Eu sinceramente ignorei, eu gostava da camisa.

Quando chegamos na casa da Taiani, era uma casa grande para os padrões que tinha naquele quarteirão, uma casa de três andares, com um portão eletrônico. Várias luzes estavam acesas, nos três andares. Tocava uma música que parecia não estar alta.

James estava nervoso e ansioso, era nítido isso. Ele tocou a campanhia umas seis vezes e não demorou para que Taiani atendesse, ela estava de vestido que batia na altura de seus joelhos, um vestido preto e bem solto, ela abriu um sorriso quando me olhou.

— Olha só, ele realmente veio! - Falou enquanto me abraçou e mostrou o rosto para eu dar três beijos.
— Pois é, falaram que requisitaram minha presença. - Falei enquanto a olhava cumprimentar meu primo.
— Requisitei mesmo, não seria a mesma coisa sem você! - Ela fez uma pausa enquanto me olhava - Amei a camisa, acho lindo homens de rosa. - Ela falou com um sorriso enquanto se virava e entrava.

Automaticamente olhei para meu primo com uma expressão de: Eu avisei.
Ele fez uma careta e saiu entrando. Fechei a porta e segui pelo corredor escuro até chegar numa sala bem grande, tinha um casal no fundo da sala, sentados no sofá se beijando. Taiani subiu as escadas com James logo atrás.

Fomos direto para o terceiro andar onde era uma cobertura, tinha uma mesa de sinuca, totó/pebolim, Um sofá enorme e vários puff's envolta. Tinha seis pessoas, oito contando com James e eu.

Gisele, a ruiva. Taiani, que já apresentei. Danielle uma menina de pele morena e cabelos cacheados. E Mariana, uma loira oxigenada, magra, acho que não pesava mais que cinquenta quilos, mas era bonita. Essas quatros eram as mulheres ali.
Por parte dos homens, tinha James, meu primo. João, um garoto que trabalhava na lanchonete da minha tia, mas estava de folga hoje. E Bernardo, o que ficou com ciúmes de mim com a Taiani. Aparentemente um amor não correspondido.

No centro tinha uma pequena mesa recheada de bebidas, enérgicos, whisky, vodca e latinhas de cervejas. Eu sinceramente fiquei numa lata de redbull por quase duas horas. Nunca bebi, mas não condenava quem bebe.

Ficamos conversando por bastante, eu mais ouvindo do que falando. João encarando a realidade, nem tentou a Taiani, jogava piadinhas e investida em Danielle que parecia não se empolgar muito. Meu primo James era uma metralhadora, eu vi ele falando num canto com todas as quatros, até a Taiani, aliás, a dona da casa foi a única que parecia se divertir com meu primo, ela ria das piadas sem graça dele.

Demorei mas percebi que Giselle não tirava os olhos de mim, fiquei sem graça, confesso. Pensei na Bruna e me perguntei o que ela estaria fazendo naquela sexta-feira a noite. Meus pensamentos foram interrompidos quando Taiani limpou a mesa mandou todos nós nos aproximarmos. Uma pequena roda fizemos no chão, ela botou uma garrafa de vodca vazia no centro.

— Vamos jogar VERDADE OU CONSEQUÊNCIA! - Falou entusiasmada.
— Aeeeeeeeeeeee, Uhuuuuul. - Todos ali pareciam gritar e ficaram excitados com tal notícia. Parecia o ponto alto da noite.

Percebi que Gisele sentou bem na minha frente, coincidência? acho que não. Taiani ficou no meu lado direito e meu primo no esquerdo. Bernardo sentou bem a frente de Taiani e ele ficava com um sorriso me encarando, parecia que ele se sentia vitorioso com a chance da garrafa o ajudar.

Não demorou nem três rodadas e meu primo fez Danielle e João se beijarem quando desafio ela. Eu então entendi a finalidade da brincadeira. Quando alguém pedia verdade, geralmente a pergunta era algo constrangedor ou algum segredo. Quando pedia consequência, era fazer alguma idiotice ou beijar alguém. Bernardo estava doido para que Taiani pedisse consequência quando a garrafa caísse dele para ela.

A garrafa girou e girou virada para Giselle, ela ficou vermelha mas estava com um sorriso enorme, eu não entendi o por quê, então fiz a pergunta: Verdade ou consequência? Ela automaticamente respondeu a segunda opção, todos me olharam na esperança e na curiosidade de saber o quê seria que eu iria pedir.

— Hmmm, não sei o que te pedir. - Falei olhando para baixo, pensando.
— Ahh, eu tenho várias ideias. - Disse meu primo, claramente meio bêbado, ou totalmente.
— Pode pedir qualquer coisa. - Gisele falou me olhando.
— Uiiii - Todos fizeram e riram.
— Hmmm, quero que você beije meu primo!
— OPA! - James na hora se levantou.
— Ah... - Gisele parecia não acreditar. Todos ficaram rindo.
— Tem que beijar, Giz - Taiani falava enquanto ria.

E assim fiz meu primo sair do 0 a 0 naquela noite. Agora eu fiquei pensando se Gisele me odiava, pois ela me olhava de um jeito diferente. Novas rodadas aconteceram e caiu do Bernardo para Taiani e ela pediu consequência.

— Yeeeah! - Ele ficou eufórico.
— Prevejo alguém beijando. - Mariana falava rindo.
— É sem graça mandar beijar a pessoa, mas se ele pedir isso, fazer o quê.
— Vou facilitar então. - Bernardo sorria enquanto falava - Quero que você beije a pessoa mais bonita daqui.
— Pessoa? - Taiani falou enquanto botava seu copo na mesa.
— Isso, pois se não quiser me beijar, ao menos ia adorar ver você beijando alguma garota hehe. - Bernardo se preparava para levantar.
— Tá bom então.

Taiani ajeitou seus cabelos, mas não se levantou, ela virou para sua direita, eu já estava a olhando, pois achei que ela beijaria Bernardo, mas quando percebi, ela estava à cinco centímetros do meu rosto, eu cheguei a inclinar para trás meu rosto por puro reflexo, mas seus lábios tocaram os meus. Senti sua língua adentrando na minha boca, eu simplesmente correspondi.

Naquele momento eu não pensei em nada, parecia que Taiani e eu entramos numa bolha, num mondo só nosso. Eu botei a mão em sua nuca e beijei de volta, um beijo leve. Não sei quanto tempo nos beijamos mas acho que foi por um longo tempo. Pois quando paramos o beijo e eu abri meus olhos, ela estava com aquele sorriso em seus lábios. Olhei envolta e meu primo estava jogando Pebolim com João, Mariana e Danielle. Gisele estava no sofá de braços cruzados e cara fechada. E nem sinal do Bernardo.

— Nossa! - Reparei que estava sem fôlego também.
— Desculpe... - Ela abaixou a cabeça por um instante e depois me olhou, ainda sorrindo.
— Não, é que eu realmente esperava.
— Confesso que eu sabia que iria ficar com você, mas fiquei surpresa por te sido nessa situação.
— Sabia que iriamos ficar? - falei enquanto procurava meu copo com redbull.
— Ér... quando te conheci eu me senti atraída por você. Não sei se é por quê te achei bonito ou pelo fato de você não ser daqui, ou por sempre completamente diferente desses garotos.
— Ou tudo isso, tirando o fato de eu ser bonito, isso é efeito do álcool! - Ri enquanto bebia o último gole do meu energético.
— Hahaha bobo, eu não estou bêbada! levemente alterada, só.
— Eu achei que sua amiga estava afim de mim, ao menos foi o que meu primo me disse.
— A Giz? É, ela me disse que queria ficar com você.
— Oxi, e agora? ela ficará bolada contigo. - Falei enquanto olhava para Giselle cochilando no sofá.
— Vai nada, Giz cansou de roubar meus namoradinhos.
— Namoradinhos? sou teu namoradinho? - A olhei nos olhos.
— Modo de dizer... mas, enquanto você ficar aqui, não me importo de ficar com você.

Eu fui embora da casa da Taiani só pela manhã. Passamos a noite juntos, conversamos bastante, rimos e até assistimos um filme em seu quarto.
Para quem nem queria viajar nas férias, acho que valeu a pena. Demorou a cair a ficha que ela era a garota mais bonita que já fiquei até hoje. Como meus amigos dizem, uma nota 10 é um prêmio para a vida.