These Days

Reflexões.


Eu caminhava neste terrível sol que fazia naquela tarde, nem parecia que estávamos no inverno. A volta as aulas era um dia incomum, era triste e feliz ao mesmo tempo. Você ficava triste por voltar a rotina, por ter que estudar, passar seis horas na escola, mas era bom rever os amigos, estar com eles era divertido.

Esse segundo semestre prometia, aquele mês de agosto já tinha acontecido coisas que durante o ano inteiro não rolou. Eu passava pela pracinha e sorria ao lembra que dois dias atrás eu estava ali com Lorena, Eduardo e Bruna. Continuei meu caminho até a escola.

Eu estava feliz por não ter mais tarefas com o Grêmio, eu ainda teria suas regalias mas não precisava fazer nada, meu projeto para o campeonato de futsal tinha sido entregue e aceito. Aliás, esse campeonato daria no que falar durante os próximos meses.

Na escola eu cheguei um pouco atrasado, as turmas já tinham ido para suas salas, o pátio estava com um certo movimento, mas sua grande maioria já estava em suas salas. Eu caminhei até meu prédio e subi aquelas escadas, para minha surpresa eu esbarrei com ela, a baixinha marrenta.

– Ei! - Ela botou a mão na parede e me olhou
– Me desculpe! Eu estava subindo com pressa.
– Não foi nada - Ela sorriu - Henrique?
– Oi? Ah, Alana?? - Eu abri um sorriso sem graça
– Tudo bom? - Ela se aproximou para eu cumprimentá-la com dois beijos em sua bochecha.
– Sim e você? - Falei após beija-la.
– Tudo tranquilo, tá atrasadinho hein - Ela sorrindo e ajeitava sua franja loira de lado do rosto.
– Pois é, perdi a hora - Sorri sem graça.
– Isso por quê estuda de tarde haha - Ela ria - Bom, vou na cantina comprar coca, te vejo depois.
– Até. - Subi

Quem podia imaginar que meu primeiro contato com ela seria por um esbarrão na escada? o destino é engraçado né? se eu tivesse saído de casa um minuto antes, ou tivesse andado mais rápido, eu jamais teria tido essa conversa. Pode parecer nada, mas pelo fato deste esbarrão muita coisa vai acontecer.

A sala de aula continuava a mesma coisa, as brincadeiras idiotas, as zoações, o pessoal contando sobre suas férias. Eu estava sentado com Eduardo, como de costume e falávamos sobre jogos, internet em geral, até o Leonardo, vulgo, Filézão. Sentar ao nosso lado.

– Moleques, eu tenho uma missão foda hoje - Ele falava meio baixo.
– Você é cheio dessas missões - Eu ri.
– É sério, mas a Thaíssa, não pode saber.
– Já falei que esse papo de trair namorada não é legal. - Eu dizia e olhava para o Eduardo, esperando um apoio.
– Se for gostosa, tem que pegar mesmo. - Eduardo falava num tom de brincadeira.
– Cara, é uma morena lá da 1001. Delícia total. - Ele falava empolgado.
– Tu sabe que tua namorada estuda à duas salas da gente né? e passa TODO intervalo com você. Vai ter que ser mito para não saber - Eu falava enquanto fechava meu fichário.
– Já tá tudo armado, Thaíssa sai depois do intervalo, falei para não me esperar pois ficarei aqui até as seis da tarde, aí já marquei com a da 1001. Tá tudo certo.
– Quero que tu me mostre essa mina aí - Eduardo falava.

O papo ia continuar mas o professor mandou o Leonardo voltar para o seu lugar. Aquela aula continuou e era chata, química sempre foi uma aula chata. Uma curiosidade que só tinha percebido naquele momento é que da minha sala de aula dava para ver o condomínio onde eu morava. Ele ficava no alto de uma ladeira e minha sala ficava numa posição onde dava para ver perfeitamente, era engraçado.

O intervalo, acho que era o que valia ir a escola, quase quarenta minutos que valiam o dia inteiro. Eu desci com Eduardo e logo no pátio eu a vi, Bruna estava de costas perto da sala do corredor da secretaria. Ao seu lado estava Lorena, as gêmeas, Thayane, uma loira de olhos azuis, e Alana.

– Vamos na Bruna? - Falei para o Eduardo, na verdade eu não tinha coragem de chegar do nada no meio delas assim.
– Pô, tô com muita fome, vou comprar algo para comer, quer?
– Ah, não, valeu. - Respondi enquanto via Eduardo indo para a cantina.

Eu fiquei olhando de longe, parado, olhei para Alana e sorri, ela estava rindo, provavelmente falando alguma coisa engraçada para as garotas. Depois olhei para Bruna, estava com um copo de refrigerante na mão, com seu cabelo preso, ela só escutava a história engraçada da baixinha marrenta.

Então por algum motivo ou só coincidência, Bruna se virou e fixou seus olhos em mim e abriu um longo sorriso. Eu demorei a sair do "transe" que era ficar olhando para ela. Ela deu um oi com a mão. Era agora ou nunca, né? Caminhei em sua direção e abracei forte.

Toda as garotas ficaram em silêncio olhando, eu percebi e isso me deixou nervoso, eu beijei sua bochecha e então olhei para todas elas que me encaravam. Eu conhecia as Gêmeas, tinha falado poucas vezes com elas, sempre bem simpáticas, Lorena era de casa já, falava regulamente com ela, Thayane era quem eu nunca tinha falado e era mais bonita ainda de perto, seus olhos azuis eram bem penetrantes. Por último Alana, ela era a única que estava rindo e ela se aproximou e quase me tirou dos braços da Bruna, ela me abraçou e eu fiquei surpreso e estranho a atitude.

– Oi? - Falei sem graça
– E aí! - Ela ria e me soltava.
– O famoso Henrique, enfim entre nós. - Thayane falava sorrindo.
– Famoso? - Eu não sabia que estavam querendo falar com isso.
– É, Bruna fala de você, Lorena fala de você, e até a Alana fala de você - Thayane respondia.
– O que há de errado comigo? - Falei rindo e todas riram, menos Bruna que parecia sem graça

O assunto mudou e elas voltaram a conversar entre si, não se importaram com minha presença. até gostei, me senti aliviado. Olhei para a Bruna e então segurei sua mão e a puxei um pouco mais para o canto, sorri quando a olhei bem de perto, ela fez o mesmo.

– Você tá bem? - Perguntei sem perceber que ainda segurava sua mão.
– Estou e você?
– Tudo de boa. Vai sair que horas?
– Agora, assim que o intervalo acabar e você?
– Caraca, tua turma nunca tem aula. Eu só saio as seis horas.
– Haha se ferrou! - Ela ria e aquelas covinhas apareciam.
– Se quiser eu vou embora, eu hein.
– DUVIDO! - Ela falava sério e depois ria novamente.
– Tá duvidando por achar que não mato aula? ou por quê quer minha companhia para te levar para casa? - Sorri e Bruna ficou sem reação por um instante.
– Nenhum dos dois, Idi! Sei ir embora sozinha.
– Eu sei que sabe, mas pensei que gostava da minha companhia. - Falei sorrindo, fazer drama é comigo mesmo.
– Claro que gosto, quiser ir comigo, ótimo, se não, entendo que tenha aula.
– Agora você me pegou, não sei o que é melhor, ou mais vantajoso, ir embora contigo ou assistir aula de Matemática.
– A aula né, cabeção! - Ela dava um tapa na minha testa.
– Certo, certo. Então vá direitinha para casa, viu?
– Iih, que isso? - Ela ficava rindo.
– Ué, sei lá né, não tem eu para te proteger.
– Você seria o primeiro a correr se algo acontecesse. - Ela gargalhava.
– Droga! - Eu ri pois era verdade.

O sinal tocava depois de mais alguns minutos de conversa, as gêmeas se despediram da Thayane que ia embora, Lorena era da sala das gêmeas e então foram andando na direção das escadas, ainda tinham aula. Alana ficou parada parecia esperar Bruna, ou a mim.

– Vamos? - Alana falava.
– Oi? - Eu respondi sem entender.
– Vamos subir? Tô te esperando - Ela sorria.
– Vai lá, sua nova amiga tá te esperando. - Bruna dava um tapinha no meu braço e se virava e ia embora.

O que foi isso? uma demonstração de ciúme? algo que fiz de errado? Alana e Bruna não eram amigas? Eu como um sábio sobre entender as mulheres, fiquei obviamente perdido né.

– Ei, Henrique? - Era Alana me chamando, eu estava parado olhando Bruna ir embora. - Vamos! - Ela continuava falando.
– Claro... vamos. - Eu falei e então olhei para Alana.

Alana era do mesmo prédio do que eu, mas da 1004, a minha turma era 1010, do outro lado do corredor. Subimos as escadas e eu já ia me despedir quando ela segurou minha mão.

– Seja um cavalheiro e me leva na minha sala, né! - Era quase uma ordem. Mas eu a levei. Tentei ser delicado e soltei minha mão da dela e caminhamos até sua sala.
– Pronto, entregue. - Falei e sorri.
– Obrigado, senhor. - Ela sorria
– Até, boa aula! - Dei um beijo em sua bochecha.
– Pra você também!

Sendo assim voltei para a minha sala para ter aquelas adoráveis duas aulas com o Marcelo, de matemática. Eu já falei isso uma vez, o professor é ótimo, acho que é o meu preferido de todos que eu tenho, mas eu odeio matemática. Eu passei aquelas quase duas horas de aula só pensando no que aconteceu mais cedo.

Preferi não dizer nada para o Eduardo, aliás, esse que sempre me salva nessa aula. Ele era o melhor aluno nessa matéria e Marcelo sempre dispensava quem fazia os exercícios, Eduardo acabou e ainda faltava meia hora para o fim da aula. Ele me deu as respostas e eu simplesmente copiei e entreguei para o Marcelo e fui dispensado.

No pátio Eduardo me esperava com seu caderno, devolvi e resolvi pagar um lanche para ele na cantina como forma de agradecimento, sem contar que eu não tinha comido pois passei o intervalo com a Bruna e as garotas.

Depois de um lanche rápido, fomos embora, Eduardo pelo seu tradicional caminho e eu pelo meu. Eu não tirava da cabeça aquele momento que Bruna ia embora, eu não entendia as atitudes da Alana, eu não sabia o que estava acontecendo.

Caminhando e chegando na pracinha, eu abri um sorriso, eu sentia que aquele lugar era especial. Eu sentei em um banco debaixo da arvore e fiquei sentindo aquele vento bater em meu rosto, aquele barulho das folhas batendo no chão. Eu olhei para a ponte onde sempre via a Bruna indo embora e bateu uma saudade, bateu uma vontade de ir na casa dela.

Mas com sem saber o que estava se passando, achei melhor não fazer nada idiota. Fiquei uns dez minutos sentado e tentando refletir, até me levantar e ir embora. Aquela praça sem dúvidas seria um lugar especial e inesquecível em minha vida. Pois foi o lugar onde me encontrei pela primeira vez com a Giully, minha melhor amiga. E também o lugar onde Bruna e eu nos beijaríamos pela primeira vez.