Tinha algo na minha cabeça e eu não sabia o que era. Eu pensava em tudo e ao mesmo tempo nada vinha em minha mente, é estranho essa sensação. Eu estava agoniado e se tinha alguma imagem que pudesse aparecer em minha cabeça era aquele abraço entre Eduardo e Bruna. Tinha algo acontecendo? o quê?

Eu fiquei na internet por horas desde o momento que cheguei da escola. Eduardo e Bruna não estavam no MSN, ele com o status ausente, mas ela offline. Foi a primeira vez que eu percebi o quão ciumento eu era. Imaginar meu melhor amigo e a garota que amo juntos era quase que uma facada em meu coração.

Não demorou muito para Eduardo aparecer online e coincidentemente ou não, Bruna também ficou online. Eu não queria chamar nenhum dos dois. Bruna eu conversaria pessoalmente na segunda, onde eu iria me declarar, não tinha por quê esconder isso, afinal, era nítido eu acho, para Alana que me conhecia há poucas semanas, Bruna era cega?

Quase dez da noite e Eduardo me chamou, sua janelinha do MSN subiu, eu fiquei pensando no que deveria conversar com ele, se deveria perguntar sobre aquele abraço. Conversamos por mais de uma hora até que eu enfim perguntei.

— Dudu?
— Fala meu irmãozinho.
— Me responde uma parada? na sinceridade.
— Claro, o quê é?
— Sei lá, é que eu estranhei aquele abraço da Bruna em você, aconteceu algo e eu não sei?
—Foi porque conversamos ontem.
— Onde?
— Aqui no MSN, pois pessoalmente eu nunca consigo ficar sozinha com ela.
— Hmm, mas qual o motivo da conversa?
— Ah lek, eu sinto falta dela, de como éramos há anos atrás. Foi basicamente disso, esse ano desde o início ela e eu nunca fizemos nada, nem saímos, mal paramos para conversar.
— Saquei, só não entendi o abraço, parecia que vocês tinham algo. KKKK - Claramente minha risada foi para tentar disfarçar o quão tenso eu estava.
— kkkkkkkkkkk não, apesar que né, Bruna é gata, mas não, foi só um abraço de como éramos antes e voltaremos a ser, eu espero.

Depois disso mudamos de assunto, aquele "a Bruna é gata" me deixou ainda pensativo e fiquei me questionando se existia uma amizade sincera entre homem e mulher, pois para mim ficou claro que se a Bruna desse um pouco de mole para o Eduardo, ele não pensaria duas vezes.

No dia seguinte, o dia estava amanheceu com uma chuva terrível. Nem liguei o computador pois com medo de acabar luz e queimar, eu não tinha um estabilizador e também eu não estava nenhum pouco afim de ficar na internet.

Depois do almoço minha mãe estava de folga do hospital, me convidou para ver uns filmes com ela, tinha um tempo que não fazíamos isso. Deitei com ela na cama e passamos a tarde inteira vendo filme, vimos três, minha mãe dormiu no último, mas eu assisti.

O último foi "Diário de uma paixão" e foi a primeira vez que eu chorei assistindo um desses filmes de romance, eu simplesmente me emocionei com toda aquela história de amor. Vi o quão dependente do amor eu era.

Após o filme, fui tomar banho e eram nesses momentos que mais eu ficava reflexivo, passava tantas coisas na minha cabeça. Me imaginei em um mundo diferente, no mundo onde eu namorava outra garota e Bruna era só minha amiga.

Se eu realmente iria me declarar para Bruna, antes de tudo isso eu precisava esclarecer uma história que até então não teve um ponto final de verdade, eu precisava conversar com uma pessoa, eu precisava ver se realmente era Bruna era a garota dos meus sonhos. Eu precisava falar com a Bianca.

Acho que já havia se passado uns três meses deste a última vez que falei com a Bianca. Lembro que fiquei de férias e então viajei para casa da minha tia, quando voltei eu não a procurei, no MSN eu nunca mais a vi online, obviamente me bloqueou, o Orkut não é uma boa rede social para stalkear alguém como o facebook e twitter são.

Após o banho, me troquei e fui para a rua, a chuva já tinha ido, só ventava bem gelado, eu estava sem casaco e como tinha acabado de tomar um banho quente, eu já estava morrendo de frio na rua, que estava bem deserta. Eu fui andando e logo entrei na rua da Bianca, bateu uma leve saudade de tudo que passamos.

Eu lembrei das férias de carnaval, do beijo que eu roubei, lembrei de como Bianca me tratava e antes de chegar na casa dela eu me sentia mal por ter feito o que fiz com ela. Mesmo tendo um pouco da minha consciência tranquila por ter sido honesto e sincero com ela, eu me sentia culpado por cada lágrima que ela derramou e não sabia como seria a reação dela ao me ver em sua porta.

Eu apertei a campainha e afastei um pouco para olhar por cima do mundo, tinha a luz da sala acesa. Apertei de novo e logo a porta abriu, estava escuro e não vi quem estava vindo. Quando o portão se abriu, era tia Lúcia. A mãe de Bianca me olhou e ela não sorriu e nem foi simpática como sempre foi comigo. Eu estava prestes a descobrir o motivo.

— Bianca tá aí, dona Lúcia? - Eu não a chamei de tia como sempre.
— Bianca? não, ela se mudou. - Ela tinha um tom de secura na voz.
— Se mudou? como assim? pra onde? - Eu gelei.
— Ela foi passar as férias na casa do pai em Espírito Santo e resolveu voltar a morar lá, disse que não se adaptou ao rio.
— Ah... okay, desculpa e boa noite dona Lúcia. - Me afastei, ela nem respondeu, só deu um passe para dentro do portão e o fechou.

Eu caminhei alguns metros até encostar no muro, eu não conseguia nem chorar. a ficha caiu na hora, eu percebi que nunca mais eu iria ver Bianca novamente e tudo acabou daquele jeito, provavelmente ele teria rancor e raiva de mim para sempre.

Uma chuva terrível começou a cair e eu fui caminhando devagar para casa, percebi o quão solitário minha vida poderia se tornar com a resposta negativa da Bruna. Eu não conseguia mais ser otimista, eu só pensando no momento que eu me declarasse, ela ficando sem resposta e ao longo dos dias, ela iria se afastar mais e mais de mim.

Será que eu estava preparado para viver em um mundo onde Bruna não faça parte? acho que não, eu tinha certeza que não. Mas eu precisava e iria dizer, eu tinha que tirar aquilo de mim, eu iria falar tudo que eu sentia.

«»

Foi complicado domingo, eu tentei me ocupar o máximo possível para enfim chegar segunda-feira. E já na escola eu estava até tranquilo, não estava mais ansioso e nem nada. Eu estava no banco de sempre, Eduardo chegou me cumprimentou mas foi logo para a cantina.

Alana então chegou, andava sempre apressada com suas pernas curtas, a baixinha marrenta sorriu quando me viu no banco sozinho. Parou no meu lado e me abraçou forte. Sentou-se ao meu lado.

— E aí, como você tá? - Ela sorria enquanto botava a sua mochila rosa na mesa.
— Tô de boa, e tu? - perguntei enquanto olhava na direção do portão, esperando Bruna.
— Tô tranquilona... você tá esperando seu amorzinho?
— Amorzinho? - Quis ri, mas eu gostaria mesmo de chama-la assim.
— É, bom, ela não vem hoje. - Alana parecia esconder algo.
— Não? como tu sabe?
— Falei com ela mais cedo no MSN, ela falou que vai fazer algo aí.
— O que?
— Não sei, pergunte à ela depois.

Tudo parecia um sinal para eu não falar nada, era impossível não me preocupar. Olhei para trás e vi Eduardo rindo na cantina enquanto comia um salgado. Não falei nada para Alana, apenas me levantei e caminhei até ele.

— Dudu!? - Cheguei perguntando. Eduardo estava com outros dois garotos ao seu lado.
— Fala lek. - Ele sorriu enquanto terminava de comer o último pedaço.
— Tu falou com a Bruna hoje?
— Nem falei, saí de casa apressado, nem almocei.
Beleza, valeu. - Me virei e voltei até o banco.

— Ele sabe de algo? - Alana perguntou assim que me sentei.
— Não.
— Nem te contei né?
— O quê? - minha cabeça estava em outro lugar.
— Fiquei solteira!
— Quê? - Acho que foi a primeira vez naquele dia que olhei nos olhos verdes da Alana.
— É, depois de quase quatro anos, terminamos.
— Quatro anos? começou a namorar com ele criança?? - Alana riu com minha pergunta.
— Hahahaha não, Rick, eu comecei a namorar com ele eu tinha doze.
— Ele tem quantos anos?
— Hoje? dezenove.
— Que papa anjo!!! - Falei rindo e ela riu também.
— Para, normal pô, você nunca ficou com ninguém mais nova que você?
— Acho que nunca fiquei com ninguém com uma diferença de idade tão grande.
— Super normal!
— Sei, sei, mas enfim, você está bem? terminaram por qual motivo?
— Depois de tanto tempo de namoro, esfriou e se desgastou sabe? Me senti sufocada, nunca curti nada e fiz nada pois namorava e ele também, então terminamos de boa.
— Sem brigas?
— Isso, ele foi lá em casa ontem, pegou as coisas dele que tinha lá.
— Vocês dormiam juntos? - Perguntei meio assustado.
— Sim, mas nunca fizemos nada, idiota! - Ela falou sério e depois riu.
— Sei lá né.
— Ele só dormia lá, no andar de baixo hahaha, é por quê ele mora longe, e só ficamos juntos nos fins de semana.
— Entendi.

O sinal já tinha tocado há alguns minutos, então me levantei com a Alana e subimos juntos, ela novamente me fez levar em sua sala. Depois fui para minha aula. Tentei me concentrar na aula e não pensar na Bruna e no que ela estava fazendo, mas eu ainda estava agoniado, mas uma agonia diferente da que eu estava no fim de semana. Muitas coisas estavam para acontecer, muita coisa iria mudar.