Theres No Going Back.

Capítulo 2 - Primeiro dia.


Eu passara a noite inteira arrumando a droga do armário. Havia uns 3 anos que eu não fazia isso, recordo-me que a Ally havia organizado logo que ela veio morar comigo, mas não adiantava eu sempre o bagunçava. Mas, agora eu teria que mantê-lo em ordem.

Acordei às 7 da manhã. Teria que tomar banho e fazer o meu café. Os cigarros e as cervejas eu teria que deixar de lado por algum tempo. Talvez fosse mais difícil que eu imaginara.

– O que Tyler Hawkins está fazendo acordado nessa hora? Em plena terça-feira? – Aidan perguntou, enquanto eu estava no fogão preparando o meu café.

– Vou começar a trabalhar. – Murmurei por fim.

– Onde? Tyler? Não estou te reconhecendo. Está certo que você trabalhava naquela biblioteca, mas nunca pensei que fosse...

– Vou trabalhar com o meu pai. – Interrompi. – Preciso dar um rumo na minha vida. O que a Caroline vai pensar de mim?

– Você nunca se preocupou com isso. – Aidan insistiu.

– Tudo bem! E se eu quisesse mudar? Ally me deixou, não tenho mais nada. – Confessei.

– Está bem. Vou dormir não me amole. – Aidan saiu em seguida.

Terminei de tomar o meu café e vesti o caro terno preto. Eu não era acostumado a usar roupas assim.

O escritório do meu pai ficava algumas quadras dali. E é claro que ele enviaria algum carro para me buscar. Senão, ele não seria Charles Hawkins.

– Bom dia, Sr. Hawkins. – O motorista de quem eu me lembrava levemente saudou. – Seu pai pediu para eu buscá-lo.

– Bom dia, obrigada. – Agradeci e entrei no carro.

Chegamos ao escritório no horário previsto. Alguns minutos antes das 9, não era bom se atrasar logo no primeiro dia. A secretária que sempre me ajudava com o meu pai, me indicou a sala na qual eu ficaria.

– Tyler, ele pediu para você ir à sala dele as 10. Provavelmente para explicar melhor o que você fará. – Ela disse antes de fechar a porta.

A sala era imensa, havia um computador e alguns livros. Provavelmente eu ficaria com o antigo cargo de Michael, supervisionador das vendas.

Enquanto se passava o tempo eu olhava os arquivos do computador. Era tudo relacionado aos carros e a bolsa de valores. Olhei o meu antigo e-mail e lá tinha alguns que eu não havia lido. Até mesmo da Ally, de 3 dias atrás:


‘Olá Tyler. Espero que esteja bem.

Eu estou bem, me desculpa por ter que me deixar. Eu nunca vou esquecer-me de você, sempre que precisar estarei aqui.

Ally. ‘’

Desculpas? Não sei por quê. Eu não a deixei porque ela quis, foi porque eu quis. Apesar dos meus sentimentos, arrumar confusões com um tira não é bom. Ainda mais quando ele te odeia.

Nem me preocupei em responder o seu e-mail. Talvez outra hora, mas agora não. Definitivamente eu a esqueceria.

Era quase 10 horas, então decidi aparecer na sala do meu pai. Provavelmente eu recebia mais insultos e provocações. Mas, eu não me importava. Eu agüentaria de cabeça erguida.

Bati na porta e entrei em seguida.

– Bom dia. – Murmurei após ele me indicar a cadeira a sua frente.

– Bom dia, pensei que iria se atrasar. – Falou me fitando ironicamente.

– Então, qual será a minha função? – Perguntei, ignorando-o.

– A mesma de Michael. Publicidade e acompanhamento das ações. Espero não ter dificuldade alguma. – Murmurou.

– Também não espero. Os horários serão os mesmos dos dele?

– Sim, exceto que terá folga aos sábados. E terá um carro a sua disposição, ou se preferir posso te dar a chave.

– Prefiro a chave, assim não deixo ninguém esperando. Posso ir? – Perguntei.

– Claro. Te vejo no almoço? No mesmo restaurante?

– Posso fazer esse esforço. – Respondi. – Com licença.

Voltei para a minha sala e logo abri os anúncios. Havia algumas ofertas de compra e iniciei então a negociação.

Logo já era 12:00, decidi sair para o restaurante.

Provavelmente teria uma reserva, então não me preocupei de correr. Passei pelas pessoas do prédio apenas as cumprimentando com um sorriso. Elas estariam pensando em algo do tipo: ‘Qual será o problema dessa vez? O que ele aprontou?’

Elas basicamente só pensavam dessa maneira ao meu respeito. Meu pai principalmente, ele nunca acreditava em minha capacidade. Desde que Michael se fora. Daquela época para cá, eu só queria saber de beber e fumar. Mas, eu não fazia por mal, eu queria apenas esquecer tudo. Esquecer dos nossos momentos de irmãos juntos.

Cheguei ao restaurante e ele já havia chegado. O garçom perguntara se eu havia feito algum reserva e eu apenas respondi:

– Estou com o Sr. Hawkins.

– Por aqui, então. – Ele indicou o caminho a frente.

– Olha que honra. – Meu pai cumprimentou-me.

– Será que dá, por um momento parar de ser irônico? Ou não confia em mim? – Perguntei.

– Tudo bem. Vou acreditar em você. Mas, porque agora?

– Porque decidi mudar. Simples assim. Pela Caroline. – Menti.

– Já conseguiu vender alguma coisa? – Mudou de assunto.

– Estou negociando ainda. Provavelmente teremos um bom cliente logo.

Continuamos a conversar por um longo tempo sobre a empresa, por fim, saímos quase no fim do horário de almoço. Eu levaria a Caroline para o colégio hoje.

Basicamente eu não estava atrasado, faltavam 20 minutos para ela entrar no colégio. Cheguei a minha antiga casa, e ela esperava-me assistindo TV.

– Olá. – Cumprimente-a, após passar pela a minha mãe, que ficou surpresa com a minha presença.

– Olá, Tyler? Você está trabalhando? – Perguntou.

– Sim, comecei hoje. E adivinha com quem? – Questione-a.

– Com o papai? Tyler. – Murmurou surpresa.

– Parabéns querido. – Minha mãe me parabenizou.

Em seguida, sai juntamente com a Caroline. O caminho até o colégio foi rápido, eu não podia me atrasar, tinha 10 minutos para voltar.

Despedi-me dela e segui de volta para a empresa.

O restante do expediente foi intenso, consegui abrir novas negociações, parecia que o antigo empregado dessa área não era tão competente.

Então o telefone tocou:

– Sim? – Murmurei.

– Tyler, pode ir a um jantar hoje? – Meu pai perguntou.

– Claro, no mesmo restaurante? Devo estar apresentável? É importante?

– Com certeza. Negócios quero apresentá-lo a um importante sócio. As 9, tudo bem?

– Estarei lá.

Será que ele começara a sentir orgulho por mim? Eu não estava acreditando.

Sai do escritório, no horário previsto, eu passaria no colégio da Caroline, ela me esperaria por alguns minutos somente.

Ela entrou no carro e logo perguntou:

– Como foi? Ele está te tratando bem?

– Claro que sim. Almoçamos juntos e vamos jantar com um sócio dele.

– Porque essa mudança agora?

– Cansei da minha antiga vida. Preciso amadurecer.

– Sem cigarros e cervejas?

– Só durante a semana. É complicado. – Ri em seguida.

Chegamos em casa e a minha mãe havia preparado um lanche para nós. Comi rapidamente, porque eu precisava arrumar outro apartamento. Aquele meu e do Aidan precisava ser descartado.

– Porque não fica para o jantar? – Minha mãe perguntou.

– Tenho um de negócios com o meu pai. Se me convidar, posso vir amanhã. – Respondi.

– Tudo bem. Vai levar a Caroline amanha? E buscá-la?

– Claro, que sim.

Despedi-me delas e sai a procura de um apartamento. Não precisava ser imenso, somente com uma aparência menos estragada do que o atual.

Era 20 horas, quando decidi terminar por hoje. Havia alguns, mas muitos caros. Eu nem sabia o quanto eu ganharia. Provavelmente não seria muito.

Aidan não estava em casa, deixara um recado. Outra festa. Ele não tinha um emprego fixo, mas de certa forma ajudava nas dispensas. E era o meu amigo. Havíamos comprado aquele apartamento logo que saímos do colégio, com o propósito de vivermos livres. Já se fazia 8 anos desde então.

Tirei o terno e resolvi tomar um banho logo, eu queria chegar alguns minutos mais cedo, para dar boa impressão.

Escolhi um terno cinza e dei graças a Deus por ter 10 opções, meu pai havia sido generoso a mandá-los, juntamente com os sapatos italianos.

Terminei de me arrumar por volta das 20:45. Sai em seguida, deixando um recado de aviso ao Aidan, caso ele chegasse. Algo improvável.

Meu pai já havia chegado, olhei no relógio e eu não estava atrasado. Faltavam ainda 5 minutos, ele degustava um vinho, e eu o acompanhei. Perguntou se eu me havia saído bem, e como andavam as coisas.

– Eu acho que o seu antigo publicitário, não era tão eficiente. – Respondi honestamente.

– Descobri pouco antes de lhe fazer a proposta. Dispensei-o, pois descobri que ele era amigo da concorrência.

– Espero poder recompensar o tempo e o dinheiro perdido.

– Também espero. A Jenine já conversou sobre o seu salário?

– Não, e é algo que eu queria saber. Quero comprar um apartamento.

– Tenho um disponível no Manhattan, se quiser.

– Quanto? – Perguntei.

– Será um presente.

Eu não podia aceitar, mas precisaria. Talvez, para ganhar mais confiança.

– Tudo bem, eu aceito.

Ele disse que o meu salário seria de 18.000 dólares, além de 5% das vendas feitas.

Nem de longe era tão ruim. Eu recebia apenas 2.000 dólares no antigo emprego.

Os outros convidados chegaram, meu pai me apresentou, como o seu filho e novo publicitário. Percebi que recebi olhares surpresos, mas não me importei.

Depois do jantar, rolaram as conversas habituais, e depois que todos se foram, o meu pai disse:

– Peça a Jenine a chave do apartamento, e se precisar de algo só me ligar. Obrigado por ter vindo, eles ficaram surpresos. Até amanhã.

– Obrigada, pai. – Murmurei. E ele me olhou brevemente. Parecia emocionado? Talvez sim.

Eram praticamente 23 horas. Dirigi para casa, eu queria ir a um bar qualquer. Mas, eu não podia, teria que trabalhar no outro dia.

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O restante da semana foi basicamente o primeiro dia. Almoço com o meu pai e negociações extensivas. Ele parecia confiar mais em mim depois que eu aceitara o apartamento. Mudei na quinta-feira, o Aidan quase me bateu, mas disse que seria melhor para nós. No sábado decidi comprar mais algumas roupas e sapatos, porque definitivamente eu teria que ser mais social do que o habitual. Acabei almoçando em um restaurante próximo ao apartamento, que era apenas duas ruas abaixo da empresa. Eu estava a fim de ir a algum lugar hoje, apenas para distrair.

E foi o que eu acabei fazendo. Fui a uma boate próxima e encontrei algumas caras que eu já havia encontrado em outras festas.

– E ai Tyler? Como vai? Trabalhando? – Perguntou Daniel, antigo conhecido de colégio também.

– Sim, por incrível que pareça, com o meu pai. – Respondi, pegando uma dose qualquer.

– Quem diria em? – James disse.

– Exatamente. – Respondi.

Logo em seguida, me deixaram sozinhos.

Havia algumas dançarinas, e uma me chamou a atenção.

Ela era a mais linda de todas. Nossos olhares se cruzaram e eu a continuei a observei por um longo período.

Depois de um tempo, ela veio até a mim.

– E ai, garotão? Está a fim? – Perguntou.

Provavelmente ela se referia a um programa.

– Aceita um drink? – Perguntei educadamente, querendo conhecê-la melhor.

– Aceito. Ei, garçom, uma tequila por favor. – Pediu.

Ficamos nos fitando por um longo tempo, até ela perguntar outra vez:

– E então? O quarto é 300 dólares. Posso fazer qualquer coisa que você quiser, desde que não ultrapasse os limites.

– Quais são os limites? – Perguntei.

– Não pode me bater, se esse é o seu fetiche, adeus.

– Não sou nem um sadomasoquista.

– Menos mal. Então, vamos lá? – Perguntou.

Uma parte de mim não queria, e a outra sim. O que fazer? Ela parecia ser ingênua, apesar da profissão. Nunca que tinha mais de 18 anos.

– Afinal, quantos anos você tem? – Perguntei.

– 22. – Respondeu automaticamente.

– Sei, e eu tenho 40. – Brinquei.

– Olha, não quero ficar perdendo o meu tempo. Preciso ganhar o meu dinheiro. Se quiser siga-me.

Pensei brevemente. Não custava nada. Talvez eu não transasse com ela. Eu não estava muito a fim de sair transando com qualquer uma, apesar das farras eu não era esse tipo de cara. O Aidan nem se importava, ele brincava que queria apenas ficar a sua ‘bandeira’.

Entramos em um quarto sub-escuro e logo ela me empurrou para sentar-me em uma poltrona.

– Vai querer o que? Boquete? Sexo é mais caro, 1000 dólares.

– Não vou querer nada. Queria apenas conversar com você.

– Ah, qual é? Estou perdendo o meu tempo. Até que para um playboy você parece ser educado demais. Só falta ser gay.

– Não sou não. – Ri. – Tudo bem, eu te pago. Para conversar. Uns 500 dólares está bem? – Perguntei.

– Pode ser. E então? Você é bem estranho cara. Pensei que queria me para fuder. –

– Como você mesma disse, sou educado demais. Mas, não gay. Só não sou de sair fudendo com todas que aparecem na minha frente. – Respondi sincero.

O papo foi indo, até eu perceber que era tarde demais. Por fim, acabei dando a ela 1000 dólares, o preço de uma fudida. Quem se importa? Ela precisava, e se eu precisasse, provavelmente meu pai me daria mais.

– Volte mais. – Ela disse e depositou um beijo na minha bochecha.

– Quem sabe? – Perguntei. – Qual o seu nome?

– Mallory, e o seu? – Perguntou de volta.

– Tyler. – Respondi e sai.

Aquele beijo havia despertado algo em mim, só não sabia o que.

Sai da boate atordoado, provavelmente ela teria outros clientes, e esse pensamento me amendotrou, eu percebi que ela tinha algumas cicatrizes. Decidi esperar que ela saísse, para oferecer alguma carona.

E ela não demorou a sair. Havia trocado as roupas curtas, por calça jeans e uma camiseta qualquer. A maquiagem pesada ainda estava presente, provavelmente para ocultar a sua verdadeira personalidade.

– Mallory? – Gritei. – Aceita uma carona?

Ela aceitaria? Provavelmente não.

Entretanto, fui surpreendido. Ela entrou no meu carro e logo perguntou:

– Vai querer agora?

– Só estou querendo ser gentil, são quase 4 da manhã. – Respondi.

– Podemos ir ao seu apartamento? Não estou querendo ir para o meu. Não vou te roubar. – Disse, e o seu olhar dizia que estava sendo sincera.

– O que tem de errado com o seu? – Perguntei e dei partida no carro.

– Tudo, quero me distrair um pouco.

– Tudo bem, mas acho que não serei esse tipo de distração para você.

– Já entendi, quero apenas conversar. – Continuou.

O caminho até o meu apartamento foi calmo, conversamos coisas como gostos de filmes, musical. Ela não tinha mesmo a idade que afirmara a ter.

– Tenho 17 anos. – Murmurou.

– Eu tenho 23, trabalho na empresa Hawkins. – Respondi.

– Tão novo e bem empregado.

– Tudo depende de quem você conhece.

Enfim chegamos ao meu apartamento.

– Aceita alguma coisa? – Perguntei.

– Uma água, estou com sede.

– Vamos para a cozinha então, vou fazer algo para comermos. – Comentei.

Acabei fazendo sanduíches naturais, então ela me perguntou:

– Você mora nesse apartamento sozinho?

– Sim, mudei quinta-feira. Antes morava com um amigo em outro, mais distancia e menor que esse.

– Importa-se se eu dormir aqui? Posso dormir no sofá. Eu não me importo. – Murmurou.

– Mas, eu me importo. Se você não se importar, pode dormir na minha cama. Não vamos fazer nada, algo como amigos.

– Tem certeza? – Perguntou.

– Claro que sim. Se quiser também tomar banho...

Continuamos a conversar, até decidirmos estar ‘cedo’ demais para ficarmos acordados. Ela tomou banho e acabou dormindo na minha cama.

Ela era tímida, talvez confiasse em mim. Eu não me importava, havia algo em seu olhar que dizia o quanto ela sofria. E era eu quem deveria ajudá-la.

E eu faria qualquer coisa para ver o seu sorriso. Sorriso sincero, apenas.