Thema Nr1

Nightmare


- Me larga! - a voz de Kris rasgou a áurea que me rodeava.

- É isso que você acha legal? Agir como uma vagabunda?! - Peter berrava alterado no quarto de Kris. - Essa merda de chupão no seu pescoço? O que você quer? Que eu a trate como uma vagabunda?! - ele gritava transtornado, mas o tom embriagado era facilmente identificável em sua voz.

- Para, Peter! Não faça isso! - Kris chorava desesperadamente. Meu corpo gelou com uma rapidez que nem senti meus membros tomando vida sem que eu os comandasse.

Sem pensar, levantei-me em direção à janela e pulei com a maior velocidade.

- É isso que você vai ter, sua cadela! - ele gritou e ouvi um estampido. Ele havia batido nela. Aquele imbecil não sabe o que está fazendo! Eu vou matar ele!

- Tom! - ela gritou sufocada pelo choro. Pela janela de vidro pude vê-la jogada na cama com Peter em sua frente afrouxando o cinto e um frio na minha espinha foi quase instantâneo.

- Larga ela, Peter! - gritei e lhe mirei um soco que por sorte o acertou em cheio no nariz. Ele cambaleou para trás e me encarou com fúria nos olhos, tapando com a mão o sangue que escorria de sua narina direita.

- Seu pivete, saia daqui agora! - veio para cima de mim e me empurrou com força contra a parede.

- Não, Tom! - Kris se jogou em minha frente com o rosto vermelho pela bofetada e encharcado de lágrimas, fora sua camiseta que tinha sido rasgada com um puxão. - Deixe ele em paz, Peter! - se largou no chão ao meu lado.

- Kris, pro meu quarto! - gritei e pulei no pescoço de Peter. - Vai! - ela estava estática.

Peter me meu um murro na boca com tanta força que senti meu piercing quase entrar para dentro do meu lábio. Logo depois do baque, caído ao chão e sem conseguir reagir, vi Peter avançar em Kris e agarrá-la pelos cabelos.

- Sua vaca! - ele a jogou contra a cama e virou-se para mim.

- Pare agora, Peter! - Gordon e Bill surgiram no quarto vermelho de Kris. Antes que eu pudesse falar algo, Gordon segurou Peter com uma força descomunal, enquanto Bill levou Kris para meu quarto. Levantei-me com pouca agilidade para ajudar Gordon a segurar o homem descontrolado. Não demorou muito até ele cair inconsciente com uma pancada dada pelo meu padrasto com a maior força que ele tinha. A repulsa em seus olhos era assustadora até pra mim.

- Esse covarde! - berrou e secou o canto da boca. Sem responder, corri até meu quarto.

Levei um susto ao ver minha mãe segurando Kristin apavorada enquanto Bill a acalmava. Estava branca, exceto pela marca vermelha e uns arranhões no rosto.

- Kris! - corri e a abracei quase chorando.

- Ela está bem, Tom! - Bill pegou uma coberta e a enrolou. - Vamos levá-la para delegacia agora.

- Não! - ela gritou desesperada. - Não façam isso! Ele vai se vingar! Ele vai descontar nela! - gritava e chorava agarrada a mim.

- Cala boca, Bill! - gritei e sequei a boca que escorria sangue sem parar. - Leva ela pro banheiro, mãe! Ela precisa de um banho pra se acalmar! - eu tremia, não havia entendido ainda a cena que tinha acontecido.

Kris tomou um banho enquanto Gordon ligou para polícia que levou Peter, ele e eu para delegacia. Bill ficou em casa para acalmar todos. Tudo estava muito confuso. Não conseguia entender como Peter pode fazer algo como aquilo para aquela garota...

Prestamos depoimentos e Peter ficou preso lá mesmo. Ligamos para Samantha que estava a caminho de casa. Voltaria de sua viagem o mais rápido possível.

- Kris? - sussurrei ao entrar em meu quarto, onde fui deixada para descansar.

- Tom, vem aqui... - ela chorava ainda.

- Amanhã você tem que ir à delegacia para fazer uns exames... - falei desanimado. Minha boca já tinha sido tratada. Nada grave.

- Eu estou bem. - ela agarrou-se em mim e chorou. - Não foi a primeira vez. - falou com dificuldade.

- Como assim?! - pulei indignado.

- Peter já tentou me atacar outra vez, quando estava bêbado, mas minha mãe não se separou. Eu achei que poderia esquecer, mas ele voltou a fazer. Não vou ficar aqui. - falou com dificuldade.

- Calma, eu estou aqui! - comecei a entrar em desespero. - Kris, eu estou com você, ao seu lado! Não vou deixar que ele faça algo contra você nunca mais! - senti o que estava por vir.

- Vou morar com meu pai. - Kris cuspiu a dolorosa decisão.

- Kris, sua mãe vai se separar, eu sei disso! - o desespero tomou a minha fala.

- Não vai, Tom! - gritou. - Ela nunca o faz! Não vou ficar aqui esperando que algo pior aconteça!

- E como a gente fica? - segurei suas mãos com carinho e acariciei seu rosto levemente.

- Acho que acabou. Antes que seja pior. - Kris baixou os olhos e deixou fugir uma lágrima.

- Eu não quero isso. - sussurrei.

- Eu também, mas é assim que vai ser. - Levantou-se em direção ao banheiro e enxugou uma lágrima com a manga do moletom.

Não consigo encontrar nada tão terrível para descrever o que senti quando Kris terminou comigo. Tudo tinha perdido a graça. O motivo de eu estar ali era que eu a amava e queria protegê-la, mas nada mais importa. Ela vai embora.

Não demorou muito para tudo acontecer. Os exames, os choros de mãe e filha, a ligação para o pai de Kristin e as malas na porta de sua casa.

- Tom, não me culpe. Eu te amo, mas não posso ficar. - com dificuldade, Kris segurava lágrimas que teimavam em escapulir.

- Não te culpo, pequena. - sorri tristemente. - Eu te amo, realmente quero que fique.

- Não posso, já disse! - agora em soluços, Kris largou-se em meus braços.

- Só quero que saiba que sempre poderá contar comigo, tudo bem? Mesmo longe, pode me ligar ou sei lá. Não é porque não estamos mais juntos que eu não sou mais seu amigo. - respirei fundo arranjando mais forças. - Além do mais, sua mãe mora ao meu lado. Sempre virá visitá-la, então podemos nos ver, não é?

- Na verdade não. Minha mãe está vendendo a casa e vai se mudar. Peter está preso, mas não sabemos como será depois. - meu estômago deu voltas.

- Bom, a gente dá um jeito, né? - sorri e beijei sua bochecha com carinho.

- Sim, visitarei meus amigos. - a palavra amigos soou agressiva aos meus ouvidos.

- Boa viagem. - abracei-a pela ultima vez contendo o choro.

- Tchau Kris. - Bill abraçou-a rapidamente com a maquiagem borrada. Já tinha chorado por horas.

- Tchau Bill... Você é um amigão, sabia? Vou sentir sua falta. - seu sorriso amigável continha uma dor inexplicável.

- Nunca vamos esquecer você, tá? - choramingou fungando.

- Nem eu de vocês. - foram suas últimas palavras antes de embarcar no táxi co Samantha.

Minha Thema Nr. 1 foi embora. O chão desabava diante dos meus pés e minha garganta gritava pelo choro contido. Antes mesmo que alguém visse, já tinha me lançado um olhar da janela de vidro. Aquele olhar que ela me lançava quando ainda tinha medo de mim.

O que podia ser ruim, podia ainda virar um pesadelo. A vida sem a garota que me completava era nula. A gente se falava as vezes, mas nada foi como antes. Ela disse com todas as letras que não queria mais ficar alimentando esperanças, por isso nos distanciamos muito. Paramos de nos declarar, mas mesmo assim o sentimento que sentia por ela vivia pulsante em mim. Seria difícil esquecê-la, mas não impossível.