Desde queme conheço por gente, eu sempre fui apaixonada pelo universo. Pelas estrelas, planetas, nebulosas, tudo que envolvesse o além do limite de atmosfera terrestre.

Há três anos, eu comecei a faculdade de astronomia e só tive mais certeza com o tempo que era o curso perfeito para mim.

E lá estava eu, pronta para mais um dia.

Eu anotava rapidamente os rabiscos e as falas de meu professor de Física Quântica, afinal, era uma das matérias mais complexas de toda a grade do curso de astronomia... Ou talvez eu fosse realmente uma nerd.

A aula estava nos seus 10 minutos finais quando meu celular vibrou na mesa.

Atravessei o campus até chegar a uma área com mesas espalhadas pelo gramado. Encontrei Bismuth, Spinel e Amethyst sentadas juntas em uma delas.

—Finalmente, já achei que aquela garota tinha se sequestrado – Spinel exagerou.

Bufei e me sentei ao lado de Bismuth enquanto jogava minha mochila junto das delas no espaço vazio do banco.

—Alguém está mal-humorada hoje. O que aconteceu, não conseguiu resolver uma conta? - a mesma me puxou para mais perto e bagunçou meu cabelo, fazendo as outras duas rirem.

Me debati até que ela me soltasse - Não é nada. É só que... Vocês me irritam as vezes – resmunguei.

—A gente ou a Spinel? - Bis perguntou e eu levantei as sobrancelhas rapidamente, como se considerasse a resposta.

—Ei! - a própria protestou.

—Enfim, o que vocês queriam me dizer? - perguntei.

—Nossa, não vai nem nos perguntar como nós estamos? Digo, é bem a sua cara, nunca liga, nunca manda uma mensagem... - Spinel continuou e apenas a ignorei.

—Uma garota que nunca vimos antes nos perguntou onde podia te encontrar – Amy que até então estava quieta comendo seu sanduíche contou – Dissemos que você estava em aula e que podia esperar com a gente para falar com você, mas ela só agradeceu e foi embora.

—Ela tinha um cabelo azul bem bonito. Quase perguntei que shampoo ela usava – Spinel comentou.

—Você tem ideia de quem ela possa ser? - Bis me perguntou e eu neguei com a cabeça.

Eu não tinha uma vida tão interessante ou tão social para alguém querer me procurar. Talvez ela tivesse se confundido, ou fosse uma brincadeira da parte dela.

Depois disso Spinel começou a contar sobre seu curso de cinema e como estava gostando de aprender sobre a história cinematográfica dos anos 30 e a partir daí eu me perdi nos meus pensamentos.

Por que alguém iria querer falar comigo? Era alguém do meu curso? Mas eu não me lembrava de ninguém de cabelo azul... Talvez alguém tivesse pintado o cabelo recentemente...

De repente eu a vi. De cabelo azul e vestido da mesma cor, com um casaco de couro preto a aquecendo do vento que fazia, provavelmente daqueles que antecipavam as chuvas. Nossos olhos se encontraram e eu gelei.

Tateei o braço de Bismuth até que ela prestasse atenção em mim, mas ela já o estava fazendo.

—O que foi? - ela perguntou e eu desviei meu olhar para olhá-la.

—A garota, ela... - voltei meu olhar para onde ela estava. Ela havia sumido.

—Peri... Aquela é Pearl – ela me contou e só assim eu percebi que era ela que estava na mesa atrás de onde estava a garota.

Ok, eu não estava alucinando. Eu realmente a vi.

—Mas... - comecei, e desisti. Elas iriam acabar brincando comigo e só em deixaria mais confusa.

—Eu vou para o dormitório, nos vemos depois – me levantei e peguei minha mochila.

—Ah, está bem... Até depois – Bismuth se despediu e as outras duas fizeram o mesmo.

Talvez fosse só coisa da minha cabeça, eu devia ter exagerado nos estudos, como sempre.

Eu estava no caminho para os dormitórios e parei em uma máquina de venda automática para comprar uma garrafa de água. Poderia ser problema de hidratação também, eu sempre me esquecia de tomar água. Inseri a nota no lugar indicado e peguei a garrafa que caiu na parte aberta, a abrindo e tomando um longo gole.

É, definitivamente era sede.

Virei a garrafa para tomar mais um gole e a garrafa escapou da minha mão.

Céus, eu estava tão fraca assim?

Me agachei para pegá-la antes que derramasse mais água, e involuntariamente segui com o olhar a direção que a poça de água estava indo.

E eu a vi de novo. Ela estava da mesma forma, estática e me observava atentamente.

Então não era coisa da minha cabeça! Nem antes, nem agora!

—Ei! - chamei, e ela saiu correndo.

Ué, não era ela que estava querendo falar comigo?

Guardei rapidamente a garrafa na minha mochila e a segui.

Devo admitir, ela era rápida, e não faço a mínima ideia de como meu corpo de sedentária aguentou correr por tanto tempo.

Ela saiu do centro universitário e começou a ir em direção à praia. Eu não me importei, precisava saber quem ela era.

Foram longas seis quadras, mas eu aguentei.

Ela parou na metade da faixa de areia e eu na calçada.

—Ei! É você que quer falar comigo, não é? - perguntei com dificuldade, tentando retornar a respirar normalmente – Por que saiu correndo?

Ela nada disse. Continuou com uma expressão serena enquanto me olhava nos olhos.

De repente, ela fez algo inesperado.

Ela deu as costas para mim e começou a correr na direção do mar, mergulhando após dar alguns passos na parte rasa. Corri até a beirada de onde as ondas batiam e esperei ela aparecer na superfície. Dez segundos, não. Um minuto, nada. Comecei a me apavorar.

Joguei minha mochila na areia e mergulhei. O que eu estava fazendo? Tentando salvar uma desconhecida que havia fugido de mim de morrer afogada... Como eu iria contar isso para as outras?

Procurei por qualquer vestígio dela embaixo da água e nada. Subi a superfície para recuperar o fôlego e repeti umas três vezes, e nada.

Fiquei ali, movimentando os braços lentamente abaixo da água enquanto esperava ela aparecer de novo. Não era possível, ninguém conseguiria ficar tanto tempo assim prendendo a respiração. E ela não poderia ser uma sereia nem nada assim, não é? Afinal, sereias não existem.

Voltei à areia e esperei por mais alguns minutos. Sem sucesso, resolvi voltar para a universidade, não deixando de olhar para trás algumas vezes.

Parabéns Peridot, você havia acabado de espantar uma garota linda de falar com você.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.