The servant and the prince

Capítulo 1: Às suas ordens


— Bom dia, mestre. - eu disse com um sorriso, me dirigindo à grande janela paralela à cama. Andei até a cômoda e comecei a servir chá. - Hoje é um grande dia pra Vossa Majestade. Tens duas reuniões e um treino de esgrima - O rapaz resmungou e se sentou na cama, bocejando. Parecia estar com muito sono para raciocinar, porém não posso reclamar, confesso que achava ele uma gracinha com essa cara de sono.

— Bom, vou deixar o senhor acordar - continuei,entregando-lhe a xícara de chá - e volto daqui a pouco com os preparativos para seu banho.

Saí, fechando a enorme porta nas minhas costas.

Voltei ao quarto, e o príncipe estava de pé,encarando a bela vista de sua varanda. Com o sol iluminando seus cabelos e seu tórax nu.

—Mestre, trouxe suas roupas lavadas - entrei com a cabeça baixa.

—Muito obrigada, Gakupo - ele andou até mim me confortou com seu sorriso perfeito.

Entreguei as roupas e me virei para sair, fazendo um gesto formal:

—Volto as dez para levá-lo à sua primeira reunião, mestre - e voltei ao corredor.

Quando chegou a hora do almoço, fui encarregado de servir o rei. Obedeci, andando do pátio onde estava descansando até a sala de jantar. Com cortinas extensas de veludo, o salão certamente era impecável,e toda vez que eu o visitava , tinha que tomar cuidado para não sonhar acordado olhando para as gravuras belíssimas no teto. Dirigi-me até a cozinha, a fim de descobrir qual seria o prato do dia. A cozinheira estava tão concentrada em adicionar temperos ao molho, que nem se deu conta que eu havia entrado:

—Meiko-san? - chamei.

A cozinheira levou um susto, quase derrubando a colher que segurava. Virou em minha direção:

—G-Gakupo! Não me assuste desse jeito! - Falou corada pelo susto, com uma sobrancelha arqueada, que me arrancou um riso. Ela tinha fama de ser rabugenta, mas no fundo era uma pessoa muito amável e dedicada.

— Perdão Meiko-san! Não quis te assustar... O que tem para almoço hoje? Vou ajudar a servir a família real. -Não pude conter um leve orgulho, era uma oportunidade de mostrar meu trabalho para o rei, que quase nunca estava no castelo.

— Ah querido, hoje tem lebre com... especiarias do oriente - Ela bufou e voltou a cozinhar.

Olhei em volta e peguei meu avental. O vesti por cima da camisa e fui até meu posto, perpendicular ao assento do príncipe. Afinal, eu era seu servo. Os outros criados entraram com bandejas de queijos e taças de vinho, além do prato principal. Ajudei-os a servir os talheres e copos, e comuniquei à guarda que poderia chamar Vossa Majestade e o príncipe.

Aguardamos alguns minutos, e para nossa surpresa entrou pelo saguão o príncipe acompanhado de uma bela moça de cabelos verdes. A-a princesa? Senti uma dor estranha no peito.

Os dois entraram e se sentaram um de frente para o outro. A mesa deveria medir no mínimo vinte metros, e estava coberta de frutas e aperitivos, que deixariam qualquer um com vontade.

Kaito-sama me pediu para que lhes servissem vinho, e assim o fiz. Aquela dor esquisita não parava de me incomodar, e agi sem pensar:

—Perdão mestre, aconteceu algo com o rei? - perguntei de cabeça baixa.

—Não, Gakupo. Ele só achou melhor continuar organizando a formação militar e não pôde comparecer, portanto, para não desperdiçar esse incrível banquete,chamei lady Miku - e fez um gesto com a mão apontando para a moça, que sorriu. Fiz um gesto com a cabeça e recuei, encostando-me na parede. Conformei-me com aquilo, não poderia questioná-lo mais, mesmo indo contra minha vontade.

Contei os minutos e segundos para aquele almoço passar mais rápido, minha mente estava me torturando. A única explicação que eu via, era algum acordo político que estavam programando fazer, ou apenas um almoço... Meus pensamentos estavam confusos. Kaito-sama e aquela moça se conhecem desde crianças, pela proximidade dos reinos e amizade da família. Formavam um casal bonitinho, e provavelmente uma aliança favorável para dois lados. Não sei por que me incomodou tanto, mas ficar aquele tempo parado ouvindo a risada encantadora da Lady me impedia de desviar os pensamentos.

Finalmente acabou, os príncipes se levantaram e saíram. E, equanto os criados recolhiam a louça, corri para o corredor e fechei-me no meu quarto. Precisava de um tempo sozinho, para me acalmar. Muito estranho, sempre trabalhei para meu mestre, participei da vida dele mais do que muitos ali no castelo, não entendo esse sentimento. Cuidei das flores que plantei na pequena janela do quarto, e dobrei algumas roupas recém lavadas. Ouvi uma batida leve na porta:

— Com licença - Uma garota de cabelos rosa abriu a porta,com cautela - Gakupo-san,está livre?

— Sim, quer dar um passeio Lu-chan? - sorri e me dirigi à porta, para acompanhá-la. Seria bom para me distrair, e eu gostava da companhia dela. Possuía uma personalidade encantadora, apesar dos vários boatos que corriam sobre ela, seu gênio forte não se deixava abalar. Divertia todos com suas brincadeiras, e constantemente entretia o Rei com suas danças e apresentações.

Luka sempre fora minha amiga e me ajudava com tarefas domésticas que eu, apesar de um criado, não sabia fazer muito bem. Ela fez um sinal positivo com a cabeça e seguimos pelo corredor juntos,sem rumo aparente.

— Ouvi que o rei do outro continente faleceu em um duelo. Sua filha assumirá - Luka me contou, balançando a cabeça em desaprovação.

— Mas, ela tem quatorze anos! - protestei.

— Rumores dizem que ela não se passa de uma pirralha mimada - A moça suspirou, se apoiando na mureta da varanda que dava pro pátio central.

Sentimos um frio inesperado, acompanhado de uma escuridão precoce que dava a impressão de que já eram nove da noite. Nossas respirações se transformavam em fumaça, e Luka estava trêmula.

Fui-me ao lado dela e abracei-a, com o propósito de manter nosso calor. Ela se surpreendeu e virou seu rosto avermelhado para mim, e eu apenas encarei o céu limpo, repleto de estrelas. Ficamos alguns minutos em silêncio.

— Hm, Gakupo-san...- Ela olhou para o chão,tentando conter o óbvio nervosismo, e eu soltei o abraço para me virar na direção dela - E-Eu estava pensando em te pergun-

Ela foi cortada por um guarda que entrou pelo corredor, apressado:

— Kamui, Vossa Majestade requisita sua presença em seus aposentos - falou, se curvando para me cumprimentar.

— Sim senhor! - me afastei de luka, dando um beijo na sua testa como um ''boa noite'' e andei com passos firmes até os aposentos reais. Não era a hora de ficar nervoso por causa de Kaito.