The price of evil...

You can't win this fight!


Louca. Ela perdeu completamente a razão, vocês deveriam ter visto como ela agiu!

Minhas últimas memórias foram essas palavras, os braços me puxando com força, a chuva e os calafrios. Agora eu já estava na delegacia, ainda algemada e sentada à frente de uma mesa. Não preciso ser muito esperta pra saber que aquela era a sala aonde faziam os interrogatórios.

O fim do jogo é sempre o mesmo e estamos aqui somente para morrer.

-Quase não conseguíamos ter a nossa tão esperada conversa, Clarisse. Estavam alegando que você não podia responder perguntas com clareza, mas como eu sei bem quem você é, posso imaginar que aquilo tudo tenha sido um teatrinho. –Vernet falou ao sentar-se na cadeira do outro lado da mesa em que estávamos ficando frente a frente comigo. Esse era o momento que ele tanto esperava. Jace permanecia em pé e de braços cruzados.

-Vernet, não acho que ela possa responder com clareza... –Jace tentou argumentar.

-Mas eu acho. –Vernet falou quase em um sussurro sem tirar os olhos de mim, eu o encarava de volta com a mesma intensidade, esse era outro defeito meu. Sempre olhava ameaçadoramente, nunca abaixava a cabeça, mesmo que o cara à minha frente pudesse acabar com o resto da minha vida.

-O que faz você pensar que eu falaria a verdade justo agora?

-Você vai ser acusada por homicídio e tentativa de homicídio, então acho que deveria começar a colaborar.

-Eu não sou idiota. Sei que você e a promotoria vão dificultar os acordos e sei também que só vou falar com a presença do meu advogado. –Sua expressão não mudou, ele parecia estar pensando em outro plano. –Pensou que eu fosse bobinha? Então você não me conhece como deveria. Eu sei que vocês querem a verdade, podem me condenar à prisão perpétua, mas se não tiverem a verdade, não vão estar satisfeitos. –Afastei-me da mesa e escorreguei um pouco sobre a cadeira, como se eu estivesse confortável com a situação. –Saia da sala detetive Vernet, eu quero conversar somente com o detetive Jace, caso contrário não falo mais nada.

Com relutância Vernet se retirou, mas eu sabia que escutaria a conversa inteira do lado de fora do vidro de duas faces. O rapaz que havia ficado sentou-se à minha frente.

-Como você está vivo?

-Foi por isso que quis falar comigo? Se sente contrariada? Não é mais a dona da situação? –Riu.

-Apenas responda.

-Não é você que faz as perguntas, Clarisse. –Fez uma pausa. –Mas eu quero que saiba. Bom, você se julga esperta demais, mas nunca termina o que começa. Sua mãe ainda estava viva quando chegou ao hospital, sua fuga ficou pela metade... Você ainda tem muito que aprender, querida. –Piscou. –Eu já tinha a noite planejada na minha cabeça, é claro que não sabia que você escutaria minha conversa com Vernet, mas sou um cara prevenido. Tenho muitos amigos e muitos deles me devem favores. Mandei um cara ficar na nossa cola, caso algo desse errado, suas pancadas teriam me matado devido a perca de sangue, mas eu obtive socorro imediato. –Sorriu. – Satisfeita?

-Você é esperto. –Assenti.

-Você também, mas não o suficiente.

-O que acontece agora?

-Você vai ligar para algum advogado, mas...

-Se eu não puder pagar um, vocês indicaram alguém para o caso. Eu já sei disso.

Lembrei do cartão preso no meu vestido, com dificuldade o peguei. Estava bem molhado, mas ainda conseguia o número.

-Eu tenho para quem ligar.

-Ótimo. –Assentiu.

-Por hoje é só?

-Acho que sim. –Levantou-se, mas não foi em direção à saída, chegou bem perto de mim e sussurrou em meu ouvido.

-Precisamos conversar. Você precisa saber de certas coisas, mas longe do Vernet ou de qualquer policial. Só eu e você. Darei um jeito nisso. –Depois caminhou para fora da sala batendo a porta.

Xx

-O que você falou para ela? Você sabe que não pode murmurar coisas no ouvido dos interrogados, nós temos que ouvir tudo!

-Calma Vernet. Eu preciso ganhar a confiança dela, não falei nada de importante, somente que ela pagaria pelo o que fez... Essas coisas.

-Eu espero. –Disse meio desconfiado.

-Já vou indo, encarreguem-se de cuidar da pequena fugitiva. Até amanhã.

Peguei um táxi e fui para o hotel. Antes mesmo de me jogar na cama, procurei o celular no bolso e disquei um número.

-Alô? –Uma voz rouca atendeu.

-Desculpa te acordar.

-Não tem problema. Ela está aí?

-Não. Quer dizer, ela está na cidade, nós a encontramos antes que fugisse.

-Mas ela está bem?

-Depende do que considera como bem.

Comentei sobre o surto de Clarisse e desliguei.

Fui até o banheiro e a água quente nunca pareceu tão relaxante, coloquei roupas de frio e me joguei na cama, mas não iria dormir agora, precisava falar com mais alguns amigos que me deviam alguns favores.

Xx

Não se preocuparam em me oferecer roupas secas, apenas jogaram uma toalha grande por cima do meu corpo e conduziram-me até a cela dizendo que eu poderia ligar para meu advogado no outro dia.

Um lugar muito mal iluminado, com um beliche antigo e velho, colchões nada confortáveis e muitos mosquitos.

-Desculpa, mas isso não é um hotel cinco estrelas. A diversão acabou pra você, Clary.

-Só quem me chamava assim era minha avó, então prefiro atender pelo meu sobrenome, Vernet.

-Você não tem preferências por aqui. –Falou seco.

-O que você sabe sobre a Lisa?

-O-o que? –Ele vacilou ao responder. Bingo!

-Não me esqueci do que disse quando me deu aquele tapa. –Esperei alguma resposta sem nenhum sucesso. –Vamos, fale!

-Sua mãe era uma vadia, sempre foi.

-Disso eu já sabia.

-E é só isso que vai continuar sabendo. Aproveite bem a cela. –Largou meu braço, retirou as algemas e sumiu pelo corredor estreito.

Suspirei. As coisas não seriam nada fáceis a partir de agora.

Como era de se esperar, a insônia acabou sendo mais forte que eu. Fiz o possível e o impossível para manter lembranças longe de minha mente, mas foi inevitável. Dessa vez não pensei em Lisa, mas sim em órbitas esverdeadas e naquelas palavras. Acho que eu te amo. Em suas mãos percorrendo meu corpo e arrancando minhas roupas, seu beijo que se aprofundava cada vez mais e em como foi engraçado quando nós caímos do sofá e resolvemos subir para o quarto. Peças de roupas foram jogadas no meio da casa e a cada degrau era impossível não parar para beijá-lo. Uma das melhores lembranças que eu possuía acabou sendo interrompida por outra.

Eu terminei com a Michelle, por que precisava te ter, ou pelo menos tentar... Enquanto você dormia com o meu melhor amigo.

Sentei no chão frio, afundei minha cabeça no travesseiro mal cheiroso que havia ali e deixei que as lágrimas que foram impedidas de invadir meu rosto tantas vezes finalmente saíssem.

Dor.

Meu corpo inteiro doía, era o reflexo de como eu estava por dentro, minha cabeça fervia e meus músculos haviam travado. Qualquer movimento aumentava aquela dor. E assim a noite inteira foi passando. Poderia arriscar dizer que foi a noite mais longa da minha vida, ou pelo menos, o início delas.

Xx

Não sei há quanto tempo estava ali, parei de contar depois da segunda semana. E nesse meio tempo não obtive nenhum sinal de Jace, o que era estranho, já que ele tinha algo de importante para falar comigo, no início foi algo que me intrigou bastante, mas agora pouca coisa me importa.

O advogado indicado por Larry era um homem gentil, atencioso, com seus lá quarenta e cinco anos e disposto a me ajudar de todas as formas possíveis. Pedi para que ele não mencionasse de forma alguma o meu nome com o empresário dos meninos e mesmo sem entender concordou. Gregory Chase havia sido minha única visita em todos esses dias, não que eu esperasse algum amigo por ali, ou que um deles me procurasse, no fundo eu não queria que eles viessem atrás de mim, ou... Tentava pensar o mínimo possível nesse assunto, mas eu sentia falta, muita falta de todos eles.

Eu seria julgada, mas pelo visto não pelo Grande Júri, a promotoria ainda dificultava os acordos, mas eu sabia que tinha um dedo de Vernet nessa forma de adiar meu julgamento, talvez ele ainda estivesse planejando algo para mim. Mas quem se importa, não é mesmo?

Estava esperando Sr. Chase, ele nunca se atrasava, mas para tudo havia uma primeira vez.

Tamborilava os dedos na mesa e apoiava minha bochecha com a mão, a sala em que eu me encontrava não era tão diferente da sala de interrogatório, na verdade, eram quase a mesma coisa, com exceção do vidro de duas faces.

-Espero não ter feito você esperar muito. –Ouvi uma risada. -Eu sabia que nos veríamos outra vez. –A porta bateu bruscamente e aquela voz tirou completamente minha atenção.

Mudei de expressão, deixando minha face completamente vazia, sem demonstrar emoção nenhuma.