The price of evil...

They all know, they all know!


GO!

Quase cai da cama ao ouvir o Corey Taylor gritar.

Eu precisava dormir, andava muito estressada e não pretendia descontar isso em todo mundo, mas o faria, quase que sem querer.

Depois de alguns minutos o solo de bateria de Before I Forget invadiu o ambiente novamente.

Olhei em volta. Nada de cordas, facas, e a janela não era tão longe do chão. Vamos descartar a idéia de suicídio e pensar em homicídio.

O que alguém teria de tão importante pra falar comigo agora? No visor do celular havia duas palavras.

Não atenda.

Era assim que eu havia salvado o número do Gates. Mas por que ele estaria me ligando? Tive que reprimir minha curiosidade ao máximo para não atender.

Zacky ainda não havia voltado para a casa e eu imaginei onde ele estaria. Ou com quem.

Não é da sua conta. Lembrei a mim mesma.

Michelle havia dito que nove horas iria me buscar para irmos ao tal bar. Tomei um banho rápido, coloquei um short largo e uma blusa onde havia estampado Vengeance University que não era minha e ficou um pouco grande. Ou melhor, bem grande.

Depois de alguns minutos já pude ouvir as buzinas desesperadas. Desci as escadas, tranquei a casa com a chave que Zacky havia me dado e formos.

É claro que eu não fiquei imune às queixas da loira sobre a forma que eu me vestia.

–Tentei te ligar várias vezes, mas você não atendeu. –Disse sem desviar a atenção do volante.

–Acho que ligou errado, não recebi nenhuma chamada sua.

–Liguei do celular do Brian. –Ah, então ela havia ligado.

Quando chegamos ao local já pude ouvir uns caras oferecendo-se para pagar bebidas a Michelle. O boteco era mal iluminado e cheirava a álcool. Não me importei muito, já havia conhecido lugares bem piores.

Percebi que um cara grande e tatuado ao lado de uma loira magra vinha em minha direção.

–Lisa! Que saudades! –Me abraçou tirando meus pés do chão.

–Foram só alguns dias, Matt e eu não tenho culpa se você me trocou por uma loira falsa. –Ouvi um “ei” em protesto vindo de Val e prossegui piscando para o par de olhos verdes a minha frente. –Uma loira falsa bem gostosa. –Rimos. –O gnomo vem?

–Parece que não. –Era uma pena, por que eu realmente estava sentindo a falta de Johnny.

–E o porpeta?

–O que tem ele?

–Por que não veio com você? Sabe onde ele está?

–No inferno, eu espero. Fazendo companhia para o...

–Olá, Lisa Baker, digo, Foreman. –O cara de cabelos bagunçados me encarava com um sorriso malicioso.

–Poderia dizer que é um prazer revê-lo, mas estaria mentindo. –Sorri sarcástica.

–Não seria sua maior mentira, não é mesmo?

Eu estava prestes a começar uma discussão quando Matt percebeu que nem todos estavam muito felizes hoje à noite.

–Opa, opa. As duas estão de TPM? Parece até que acabaram de se conhecer.

Não queria bancar a infantil, então fiquei calada. Dirigimos-nos a uma mesa redonda, Michelle ao lado de Synyster, que por sua vez estava próximo a Valary que praticamente havia deitado no peito de Matt. E eu no lado oposto da mesa em um canto mais afastado.

Ao contrário das outras vezes em que ficávamos reunidos, não houve muitas piadinhas ou algo do tipo, só algumas bebidas e minuto depois o total esquecimento de que havia outra garota ali. Os dois casais se agarravam descaradamente e a boa notícia é que daqui 9 meses estarei com um lindo bebê em meus braços, por que engravidei só de olhar aquela cena.

No início preferi não beber, mas encarar aquilo tudo sóbria era demais pra mim. Fui até ao balcão e pedi uma sugestão de algo não muito forte. Não prestei atenção no nome da bebida que ele havia me entregado, só virei o líquido todo de uma vez, acabei pedindo outras doses e fiquei por ali mesmo.

Imaginei o que seria clichê naquele momento. Um cara dando em cima de mim, eu fazendo um escândalo de mocinha em apuros e algum dos meninos viria aqui dar uma surra no estranho.

Mas, quem em sã consciência daria em cima de mim? Isso mesmo, ninguém.

–Se continuar bebendo desse jeito, vai acabar dançando de seminua em uma das mesas do bar.

Não conhecia aquela voz, então provavelmente aquilo não teria sido dirigido a mim.

–Desculpa, deve achar estranho eu chegar aqui do nada... Meu nome é Jace.

Eu acho que não movi um músculo sequer, mas assimilava lentamente o que o aquela voz de timbre grosso pronunciava.

–Eu percebi que os seus amigos acabaram te deixando um pouco de lado...

–Desculpa, mas alguém aqui te perguntou alguma coisa? –Não me esforcei nem um pouco para ser agradável.

–Não, ninguém perguntou. –Riu baixinho. – Posso continuar sentado aqui?

–O bar é público, sente aonde quiser. –Não me dei nem o trabalho de olhar para o lado, bebi mais uma dose e resolvi parar. Voltei-me para a direção em que a mesa dos meninos estava e percebi que a cena não havia mudado muito, mas Synyster beijava Michelle de olhos abertos e me encarava. Quando percebeu que eu vi, desviou o olhar.

–Eles estão se divertindo. –A voz persistente continuava a tentar desviar minha atenção.

Quando finalmente olhei para o lado, vi um rapaz de aparência jovem, uns 24 anos talvez, usando uma jaqueta preta. Seu cabelo era de um castanho claro, meio bagunçado, alguns fios despendiam-se em seu rosto, quase na altura dos olhos, que por sua vez eram de um tom azul lindo, bem diferente, como se tivesse sido misturado à outra cor e resultando nessa tonalidade. Tinha a maçã do rosto rosada e lábios finos. Era realmente lindo.

–Vai falar comigo agora? –Deu um leve sorriso.

–Talvez. –Respondi sem mudar de expressão.

–Bom, já falei isso antes, mas acho que você não prestou muito atenção. Chamo-me Jace Hubberman* e você?

–O que?

–Se chama...

–Por que eu lhe diria?

–Tudo bem. –Fitou o balcão tímido.

–Lisa. Foreman. Lisa Foreman. –Já percebia que estava com dificuldade de formular palavras.

–Então, Lisa, você é da cidade?

–Você não acha que já ta querendo saber demais, não? –Disse enquanto olhava mais uma vez para a mesa no canto oposto do bar. Será que eles perceberam que eu não estava mais sentada naquela maldita cadeira?

–Talvez. Quer dar uma volta? –O olhei como se aquilo fosse absurdo. – uma volta.

–Quem me garante que você não vai tentar me agarrar no meio dessa volta?

–Eu garanto.

–E a palavra de um estranho é muito confiável, não é mesmo?

–Só estou tentando ajudar, você não parece confortável aqui. –Deu de ombros.

E eu realmente não estava.

–Ok, mas eu não vou dormir com você.

–Tudo bem. Eu pago suas cervejas.

Levantamos e Jace colocou algumas notas em cima do balcão. Andamos em silêncio até a porta de saída, quando senti meu braço sendo esmagado por alguma coisa.

–Aonde você vai? Quem é esse aí? –Apontou o queixo para o rapaz de olhos azuis.

–Ah, desculpa papai, volto antes das dez, eu prometo. –Fui mais sarcástica do que pretendia.

–Quem é esse cara? –Ele o fitava com uma expressão ameaçadora.

–Synyster, larga o meu braço. Agora! –Mas ele só continuou a apertar impedindo que eu me movesse.

–Lisa, não faz isso. Você nem sabe quem ele é. –Seu olhar era suplicante.

–Não, eu não sei, mas até agora ele ainda não me deu nenhuma cicatriz de presente ou tentou quebrar o meu braço. Agora me larga.

Synyster parecia derrotado. Quem se importa? Ele não tem esse direito.

Não falei mais nada, segurei Jace pelo pulso e sai daquele lugar.

Na frente do bar havia uns carros estacionados e duas motos. Uma delas era do meu acompanhante.

O clima estava mais frio do que o de costume, meus dentes batiam um no outro.

–Tome. –Tirou a jaqueta ficando apenas com uma regata branca, exibindo músculos fortes e entregou para mim. Agradeci subi na moto e coloquei o capacete.

Estávamos em alta velocidade, então acabei envolvendo meus braços pelo seu abdômen por puro medo. Formos até uma praia. Já era tarde, então não havia ninguém por lá.

Sentamos em umas dunas perto do mar, o silêncio ainda tomava conta do ambiente. Percebi que já havia presenciado uma cena parecida há alguns dias atrás com o cara que há pouco tempo havia tentado esmagar o meu braço.

–Não, eu não sou da cidade, estou aqui há alguns dias. Apenas respondendo sua pergunta anterior.

–E quem era aquele cara?

–Eu sinceramente... Não sei. – Suspirei.

–Os outros na mesa eram seus amigos?

–Sim.

Depois de mais alguns minutos de silêncio, Jace prosseguiu.

–Já encontrou algum lugar pra morar?

–Não, estou na casa de um amigo.

–Um daqueles?

–Não. –Eu tinha essa velha mania, de conversar mais com estranhos que eu nunca mais veria na vida do que com pessoas que conviviam comigo. Mas mesmo assim, não gostava de detalhar tudo.

–Pretende ficar por muito tempo?

–Não sei. Na realidade, nem sei pra onde eu iria se saísse daqui.

Um celular tocou e não era o meu.

–Espera aqui um segundo?

–Claro.

Continuei ouvindo as ondas se quebrarem e, nem sei por que, me aproximei mais de onde Jace falava ao telefone sem ser notada e acabei escutando parte da conversa.

–Ela ta aqui comigo. –Pausa- Pelo visto parece que não está planejando uma fuga, disse que não tinha para onde ir. Ok. Vou continuar tentando descobrir isso, mas preciso de tempo. –Fez-se outra pausa. –Uma semana. É, isso mesmo. Uma semana! A garota é um pouco complicada, eu tenho que desligar, deixa que eu faça o meu trabalho. Tchau.

Eles sabem. Todos eles sabem.