The price of evil...

Memories that haunt are passing by.


-Ultimamente eu tenho pensado bastante sobre tudo. Matt acabou de sair totalmente despedaçado de uma relação de anos! Eu o conheço há muitos anos e ele é como se fosse meu irmão, então eu acabo sofrendo junto com ele, entende? E tenho pensado muito no Jimmy também. Sinto muito a falta dele e, eu sei que se ele tivesse aqui, as coisas estariam bem melhor. Acho que é uma coisa que eu nunca vou superar... Agora o empresário do Avenged anunciou uma nova turnê e, porra, eu não to preparado pra isso! Eu tenho sentido minha vida tão... Vazia.

-E por acaso você está falando tudo isso para uma prostituta por que, Synyster Gates?

A loira o fitava.

-Vá embora. –Brian se surpreendeu com o próprio tom e a loira continuava a encará-lo com uma expressão confusa. – Vamos! Além de puta é surda? –Com raiva, a mulher se levantou, pegou suas coisas e saiu batendo a porta com força.

Ok. O que eu vou fazer agora? Seu telefone tocou.

-Ei gordo! Já disse que o que tivemos foi só um caso, uma noite, nada sério. Pode parar de me procurar, por favor? –Do outro lado da linha Zacky ria até demais, provavelmente estava bêbado.

-Ei, vem pra casa do Matt agora.

-Por que eu iria sair do conforto da minha casa pra ir até aí? To com duas garotas aqui tá bom? Ah, calma, não são duas! São três! Como eu não vi...

-Vem logo. Videogames, pizza e muita cerveja.

-Tô indo, meu amor. –Zacky o xingou e desligou. Brian precisava mesmo dessa “reuniãozinha”, estava um pouco afastado dos meninos e agora só tinham mais três semanas antes da nova turnê.

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Já havia duas semanas que eu praticamente estava morando no hospital, odeio hospitais. E aquele em particular não me trazia boas lembranças, foi aqui que eu vi minha avó morrer devido ao câncer. Foi aqui que ela me deixou. No mesmo dia, minha mãe aparecia, depois de anos, como se tivesse apenas chegado um pouco tarde do trabalho. Mas dois meses já haviam se passado e apesar de tudo, não foi tão ruim assim. E agora... Droga. Se eu não tivesse...

De repente vi uma correria de enfermeiras e médicos próximos a mim. Senti um calafrio e uma vontade enorme de vomitar quando vi todos eles entrarem no quarto da minha mãe. Não sabia o que pensar. Queria entrar naquele quarto e saber o que tava acontecendo, mas não conseguia mexer nem um músculo. Queria gritar até meus pulmões explodirem pra mamãe acordar e eu pedir desculpas, mas minha voz não saia. Senti meus olhos arderem. Tudo ao meu redor agora estava embaçado, só ouvia as vozes das enfermeiras, minhas pernas começaram a ceder e de repente me vi bem perto do chão gelado e branco.

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Acordei e vi algumas pessoas ao meu redor. Eu dormi no corredor do hospital?

-Você tá bem querida? -Disse uma voz estranha e doce.

-Sim, to bem. Desculpa, acho que dormi. –Quando vi a expressão das enfermeiras que me cercavam de repente me veio à memória um borrão de imagem, os gritos, a correria... Isso não podia tá acontecendo.

-Sinto muito. –Foi tudo que me disseram. Estava enjoada, senti como se meus olhos estivessem pegando fogo. Precisava sair dali. Sai correndo e inconscientemente acabei chegando a uma lojinha pequena onde se lia “Doces e tortas”.

Bati desesperadamente nos portões, mas sabia que ninguém iria aparecer, já era quase meia noite. Alguns cachorros da vizinhança começaram a latir, algumas pessoas apareceram da janela de suas casas incomodadas com o barulho e pra minha surpresa, da janela de uma casa pequena e bonitinha, reconheci um rosto que me fitava assustado. Simon. Devolvi um olhar suplicante e ele fechou a janela.

Lá fora tava frio e eu fiquei na frente da confeitaria sozinha esperando por Simon, sem saber ao menos se ele tinha voltado a dormir ou estava vindo me ver. Nem percebi quando o garoto alto com uma camisa larga escrito AC/DC e bermudas chegou perto de mim.

-Oi, o que você... –Não deixei que ele terminasse a frase e o abracei. Não sabia por que, nunca tinha sido muito afetuosa com os outros, mas eu senti que naquele momento iria desmoronar e não me arrependi.

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-Game over, Synyster Gates.

-Cala a boca, sua puta! –Depois de ter perdido uma partida no videogame pro Johnny acho que precisava me enterrar vivo, fui buscar mais cerveja. A casa do Matt era mesmo bagunçada, principalmente agora que a Vall foi embora e quatro marmanjos fedendo a cerveja passavam a maior parte do tempo por lá.

-Ei. –Me assustei com Matt me chamando, não tinha percebido que ele estava ali, debruçado na mesa da cozinha bebendo.

-Ei cara. –Eu sabia que não fazia sentido perguntar se tava tudo bem, era óbvio que não estava. Dizer que eu sentia muito também não iria fazer diferença, então peguei uma cerveja e me sentei a sua frente.

-Eu não sei se eu to preparado pra mais uma turnê, eu... Ainda to muito... Sei lá, ainda tá tudo muito bagunçado, ainda não me acostumei com isso. –Continuou ele sabendo que eu não diria mais nada.

-Eu sei, também não queria, mas com o poderoso chefão falando o tempo todo que vamos decepcionar milhares de fãs e o Avenged Sevenfold...

-Cara, –Matt me interrompeu - eu acho que eu quero sair da banda.

- O que? Cara, eu sei que as coisas andam meio complicadas, mas abandonar o Avenged? Se você sair a banda vai acabar! Acabar, entende? –Percebi que não tinha sido muito solidário com ele e me arrependi por isso. Mas eu era a última pessoa do mundo que conseguia disfarçar a raiva. Ele fitava a mesa e continuava bebendo. –Ei, dá pra escutar? –Ele continuava calado. –Tá, desculpa, eu sei que tá difícil, mas é que... Cara, o Avenged é a única coisa sólida que eu tenho na minha vida, é a única coisa que eu tenho na verdade! Mas é a tua vida, então, pensa aí, decidi se vai colocar tudo a perder por causa de alguém talvez nem lembre mais teu nome. –Sai da cozinha irritado.

Droga, mais isso agora. Sabia que tinha que voltar e pedir desculpa, mas não o faria. Passei pela sala e nada tinha mudado, Johnny continuava jogando sozinho e Zacky atirado no chão, será que ele não entendia que beber muito sem desmaiar e continuar lúcido era uma qualidade minha? Sai batendo com força a porta da frente e fui andando sozinha pela rua deserta imaginando que horas eram e se tava tarde demais pra visitar um velho conhecido, ou melhor, uma conhecida.

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Eu estava agora no quarto do Simon, tentando não fazer muito barulho, provavelmente o Sr. Mack dormia em algum quarto próximo dali. Ele estava em silêncio, provavelmente assustado com as minhas atitudes e eu fitava a rua pela janela.

-Tá tudo bem? –Ele perguntou em voz baixa. Demorei alguns minutos pra responder e mesmo assim só consegui dizer um sim.

Acho que ele entendeu que eu não queria conversar, pegou algumas coisas e foi pra sala, provavelmente dormiria por lá. Senti-me um pouco mal por expulsar ele do próprio quarto. Desabei sobre a cama confortável e lembrei a noite do acidente. O que eu ia fazer agora?

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-Brian, não esperava te ver aqui uma hora dessas. Entra. –Ela me olhava com uma cara de satisfação, como quem queria dizer “ganhei”.

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Simon veio me acordar, mas é claro que não havia sido necessário, tinha passado a noite em claro.

-Dormiu bem? –Ele estava em pé apoiado na porta.

-Sim. – Menti.

-Suponho que não vá me explicar nada, acertei? –Ele tinha um sorriso cabisbaixo no rosto, parece que já tinha percebido que eu não era muito de falar o que acontecia comigo.

-Sim. –Sorri de volta. – Olha, muito obrigada por ter me deixado passar a noite aqui e desculpa por ter feito você dormir na sala.

-Sem problemas. É bem vinda aqui.

-Agora eu preciso ir. Desculpa. –Passei por ele e dei um beijo em sua bochecha e segui até a porta da frente. Tinha passado a noite toda pensando em como seria a partir de agora e não tinha chegado a nenhuma conclusão. Minha casa não era muito perto, mas resolvi ir andando.

Acho que tinha se passado mais ou menos meia hora quando cheguei em casa, não tinha mais a mínima noção de tempo e queria muito saber que dia era hoje. Tudo estava do jeito que eu havia deixado, os móveis antigos da vovó e as coisas da mamãe jogadas. Senti um aperto no coração. Fui até o meu quarto, estava tudo normal. Minha cama pequena no canto, um pôster enorme escrito em letra grande SYSTEM OF A DOWN, outro do Avenged Sevenfold no canto perto da estante de livros e minha bateria quase no centro do quarto. Acho que ter aprendido a tocar bateria era meu maior orgulho até hoje. Me olhei no espelho de corpo inteiro que ficava próximo a cama. Eu poderia ser confundida com zumbi. As olheiras pareciam hematomas, o cabelo totalmente bagunçado e eu precisava retocar as mechas azuladas imediatamente. Estava vestindo meu moletom velho, shorts, meias cumpridas e tênis o que estava me deixando parecida com uma criança passeando no parque em dias frios. Precisava de um banho.

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Acordei e Michele já tinha levantado. Acho que ela não estava muito surpresa por eu a ter procurado. Levantei e fui tomar um banho. Depois fui pra cozinha e lá estava ela, com a minha camisa, que parecia mais um vestido nela.

-Até que enfim acordou. Quer comer alguma coisa? –Ela sorria pra mim. Já fazia um tempo que eu não a via, uns 6, 7 meses.

-Claro. – Tomei café depois Michele pediu que eu passasse o dia com ela, não vi problema nisso. Não tinha nada melhor pra fazer mesmo.

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Quando sai do banho, vesti outro moletom e resolvi tocar bateria, me acalmava. E eu precisava praticar o solo de Welcome to the Family, do Avenged Sevenfold. Tinha escutado algumas garotas conversando sobre a nova turnê deles e parecia que eles estariam aqui. Alguma notícia boa. Ouvi alguém bater na porta. Mas quem viria me visitar? Pelo olho mágico vi uns caras de terno e gravata. Abri um pouco a porta.

-Senhorita Wooden Brown? –Assenti – Sou o detetive Vernet - ergueu o distintivo em minha direção – Podemos conversar?

Senti minhas pernas cederem, mas continuei de pé. É claro que a polícia iria se envolver.

-Claro. –Abri a porta e deixe o detetive e mais alguns outros entrarem.

-Sinto muito pela sua perda senhorita Wooden Brown. –Assenti, é claro que ele não sentia muito, todos mentiam ao dizer isso, quem se importava afinal? Só estavam com pena de mim. –Mas temos alguns assuntos pra tratar. Na noite do acidente, quando a ambulância chegou, a senhorita e a sua mãe estavam fora do carro, então nós gostaríamos de saber se você se lembra quem estava dirigindo.

E agora? Eu iria mentir ou dizer a verdade e ser presa?

-Minha mãe, detetive. –Acho que minha resposta não os convenceu.

-Ao chegar ao hospital, me disseram que tinha indícios de embriaguês, então é possível que a senhorita não tenha tanta certeza quanto a sua resposta, certo? –Eu não sabia o que responder então ele prosseguiu. – De qualquer forma, agora você será encaminhada para o Juizado de Menores.

-O que? Juizado de menores? Eu vou fazer dezoito anos daqui um mês! Sei muito bem me virar sozinha. Não vou ao Juizado. – Senti meu sangue subir ao rosto, não conseguia disfarçar minha raiva.

-Então suponho que a senhorita prefira passar os próximos anos na cadeia? –Sentia sarcasmo e diversão na sua voz. Pensei em sair correndo, mas é claro que eles me alcançariam. Ótimo, melhor impossível. O detetive puxou meu braço e me levou até o carro.