The mine word: Mortarya.

Capítulo 7: Invasão.


Guho não soltaria a mão de Sijôme por nada. Não importasse o motivo. Não deixaria que ela morresse.

Os mortos apareceram de repente, num piscar de olhos. Invadiram o quarto, derrubando a porta e quase pegaram os dois. Não houve tempo para trocas de roupa ou até mesmo de pensar no que estava acontecendo. Só precisavam correr.

Todos os corredores estavam lotados de cadáveres, vivos e mortos. As criaturas eram deformadas, de pele esverdeada, olhos inchados e vermelhos e exalavam um cheiro forte de podridão.

Não era só o palácio. Pelas janelas, enquanto se moviam, era possível avistar a cidade. Alguns lugares em chamas, pessoas se protegendo em telhados, casas desmoronando. Era o caos.

—Aqui! Entre aqui! —Gritou Guho, abrindo uma porta o mais rápido que pôde.

Os dois entraram e a fecharam em seguida. O lugar era um armazém de ferramentas e armas de guerra. Haviam espadas, escudos, clavas, porretes e muitas armas por toda extensão das paredes.

A porta não aguentaria. Os dois sabiam disso. Cada segundo que esperavam eram mais mortos que se juntavam na porta. Precisavam de um plano. O tempo era curto.

—Por que veio pra esse lugar?! Vamos morrer!

—Não, não vamos. Aqui tem metal e madeira o bastante pra que você crie um Golem.

—É esse o seu plano?! Ficou maluco!

—Não temos tempo, Sijôme! Anda logo!

Do lado de fora, os mortos se aglomeravam. Pouco espaço sobrava no corredor. Uma massa de corpos pútridos, rosnando, bufando, buscando, caçando. Eram demônios.

A porta arrebentou. Não pelo lado de fora, mas por dentro. Um imenso Golem esmagou e despedaçou o máximo de mortos que pôde. Sua aparência era grotesca. Tinha partes de ferro, aço, prata, madeira e outras coisas que haviam dentro da sala. Dentro, num compartimento protegido, Guho e Sijôme se espremiam, controlando a criatura.

A fúria de Sijôme dominou a criatura. Ela destruiu todos os mortos. Talvez uma dúzia deles. Era a força que precisavam.

Avançaram pelo corredor, com Sijôme aos berros. Eram feitos de desespero, alegria. Uma satisfação estranha. Guho não queria pensar nisso agora. Se ela matasse os mortos, estaria tudo bem.

—Precisamos resgatar os outros e sair daqui. Sair da cidade. —Sugeriu Guho.

—Os outros estão mortos! Vamos embora agora! —Conversar e controlar o Golem era uma tarefa difícil.

—Meus irmãos não morreriam tão fácil. Talvez a Lili, mas Allu é forte. Deve estar... Cuidado!

Um bloco transparente bloqueava o corredor. Não houve tempo para parar o Golem. Sijôme despedaçou o bloco. O som era familiar. Era vidro quebrando.

Um braço do Golem, com o ombro de madeira, foi destruído. Sijôme resmungou de dor. A conexão com o Golem era quase perfeita.

—Espera. Abre isso! É um dos quartos da Lili!

Sijôme abriu o peito do Golem, saindo junto com Guho. Vários cadáveres estavam em frente a porta, também bloqueada por um bloco de vidro.

—Craft de fundição de vidro? Mas quem...?

—As empregadas. As duas empregadas da minha irmã são manipuladoras de vidro.

Aquilo foi uma revelação para Sijôme.

Dentro do quarto, através do sujo vidro, estavam duas silhuetas. Elas batiam no vidro. Eram mortos.

—Não... Elas não... —Guho estava sentimental. —Precisamos entrar. Não podemos deixa-las assim.

—Podemos sim. Estão trancadas. Provavelmente se protegerem ali dentro.

—Então como se transformaram? Ou por que fizeram isso? Nenhum dos cadáveres aqui é a Lili. Só há um motivo para elas se trancarem.

—Lili está ali dentro.

—Sim. Vamos abrir!

O vidro quebrou com a facilidade de, bem, vidro. Claro que não era uma janela frágil, mas o Golem ainda tinha um braço.

Sijôme acertou um soco no que um dia foi Afri, a esmagando contra a parede do quarto. A outra empregada saltou sobre o Golem, atacando as partes de madeira. Sijôme agarrou sua cabeça e a esmagou com os punhos do Golem.

Estavam seguros ali, por enquanto. Qualquer mortos faria barulho ao passar pelo primeiro bloco de vidro.

Desceram do Golem, analisando o quarto. Tirando o estrago provocado pelo Golem, o único sangue estava no tapete de entrada. Eram pegadas, garras, pedaços de cérebro e carne. As duas protegeram o quarto da invasão de um grupo de mortos.

—Satisfeito? Arriscamos o Golem por nada. A vaca da sua irmã já morreu.

—Não seja chata, Sijôme. Se não fosse pela Lili, essas duas estariam lutando até agora. Não teriam se arriscado com esses blocos de vidro. Teriam fugido.

—Era a decisão certa. Morrer pela Lili... Que ideia estúpida.

—Ei...! —Uma mão agarrou o tapete. Vinha de debaixo da cama. Se arrastava, revelando ser Lili. —Não fale assim das minhas empregadas, sua putinha!

—Lili! —Guho a socorreu. —Pela Lua, o que houve aqui?

—Foi tudo tão rápido. Estávamos conversando quando eles pareceram. Elas me disseram para ficar escondida embaixo da cama e... Tudo que ouvi foi um grito dá Afri. Ela disse que foi mordida ou coisa assim. Depois foi a irmã dela. Quando vi, as duas estavam mortas. Viraram aquelas coisas.

—Mordida...? Então, se formos mordidos, viraremos essas coisas. Que boa notícia. —Ironizou Sijôme. —Não tem espaço pra ela no Golem. Ela vai ter que andar.

—Por que você não anda? —Lili dava uma de arrogante.

—Você tem alguma habilidade com Golens, sua vaca? Não? Então fecha a boa e vem logo.

Sijôme subiu no Golem, esperando pelo Guho.

—É a verdade, irmã. Sem a Sijôme, vamos morrer.

—Para onde estão indo?

—Vamos procurar o Allu e depois sair da cidade.

—Ele disse que ia dar uma olhada na biblioteca. Talvez ainda esteja lá.

—A biblioteca é do outro lado do palácio. Vai ser difícil chegar lá.

—Vão querer a minha opinião? Sou eu quem estou controlando essa coisa. —Insistiu Sijôme, sem paciência. —Vamos meter o pé daqui. Pulamos pela janela, quebramos a parede, qualquer coisa, mas vamos sair agora!

—Sua put... —Guho interrompeu Lili.

—Calma aí, vocês duas! Estamos em uma situação ruim aqui. Vamos ser amigo, por enquanto. Quando sairmos vocês podem se xingar a vontade!

—Por mim tudo bem. —Disse Sijôme.

—Por mim também.

—Agora que concordamos, precisamos de um plano.

—Por que você não começa consertando o braço quebrado do Golem?

Enquanto isso, Allu abria caminho pelos mortos. Precisava correr. Precisava proteger os irmãos. Eram sua última esperança.

Quando foi na enfermaria alertar o pai da invasão, o encontrou devorando o corpo de sua mãe. A beleza de Giova já não era reconhecível.

Allu não teve coragem de matar o pai. Voltou por onde veio e bloqueou a porta. Era o máximo que poderia fazer. Ele passou o resto da noite se desculpando com o pai. Ele havia sido fraco.

Se escondeu em um quarto que encontrou. Devia ser o quarto de alguma empregada. Talvez aquela que o homem devorava algum tempo atrás. O comandante foi complicado de matar. Só parou de se mexer quando um dos punhais lhe atravessou o crânio.

Com tempo, Allu pensou numa estratégia. Ele estava na parte de trás do castelo. Seus irmãos estavam na parte mais perto do portão. Provavelmente a maioria dos mortos estavam daquele lado. Era arriscado. Poderia simplesmente fugir. Tinha força para isso. Mas seu dever para com os irmãos era mais forte que seu medo. Ele morreria por eles.

—Se eu fosse eles, o que faria? —Pensou Allu. —Lili está com as empregadas e Guho está com a Sijôme. Nenhum deles está em total desvantagem como os funcionários do palácio. Sijôme pode criar Golens e Lili tem as manipuladoras de vidro. O que fariam assim que estivessem seguros? —A resposta foi imediata. —Os idiotas vão vir atrás de mim. —Chegava a ser cômico para Allu que seus irmãos fossem tentar resgata-lo. Talvez a única que não tentaria isso seria Sijôme. Seria a mais racional.

Allu revirou o quarto. Procurou qualquer coisa útil. Encontrou um punhal debaixo do travesseiro, um saco de dinheiro atrás de algumas roupas no armário e uma carta que ainda não havia sido terminada. Seja lá quem vivesse ali, planejava alguma coisa. Não havia tempo para pensar nessas coisas.

Saiu do quarto, abatendo sete mortos até chegar às escadas secundárias. Poderia usar o elevador de serviço se fosse pequeno como Guho.

Diferente do andar superior, assim como suspeitava, haviam muitos mortos. Devia ter perdido o juízo se planejava enfrentar todos sozinho.

Matou três, quebrou a perna de mais alguns, fugiu de um grupo e conseguiu chegar mais longe do que esperava. Não havia tempo para pensar. O grupo continuava atrás dele. Eram persistentes como demônios.

O corredor que ele escolheu não tinha saída. Não tinha mais como correr. Era o fim. Somente um milagre o salvaria.

Não muito longe dali, O Golem já estava consertado. Guho fez uma pequena modificação para que Lili pudesse se seguram nas costas dele. Não era tão seguro quanto dentro do Golem, mas era melhor do que ficar no mesmo terreno dos mortos.

—Preparada? —Perguntou Guho.

—Sim. —Respondeu Lili.

—Vamos lá!!! —Sijôme investiu contra a parede do quarto. Era a forma mais rápida de chegar às escadas. Começou a das socos até que a parede cedeu. Do outro lado, um grupo de talvez duas dúzias avançava contra alguma coisa.

Lili gritou, agarrando com força as alças de madeira do Golem. Sijôme abriu um sorriso macabro. Somente Guho poderia vê-lo. Ela despedaçou o grupo, arrebentando, destroçando, esmagando e limpando tudo. Quando o frenesi acabou, os três notaram o que o grupo caçava: Allu.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.