The mine word: Mortarya.

Capítulo 1: O convite.


Há muitos e muitos anos, existia um reino antigo e isolado: Mortarya. No centro do deserto da borboleta, construído sobre as afluentes de um oásis, protegido por enormes muralhas de arenito, conhecido como “O reino que nunca cairá”.

Pulando sobre os telhados de arenito das casas em uma tentativa de fuga, Sijôme corria desesperada. O motivo? Ela roubou um livro de encantamentos do ferreiro local, que agora corria atrás dela para recuperar sua propriedade.

Ligeira como era, Sijôme se esquivava das janelas entreabertas, das vigas de madeira, saltava por cima das ruas movimentadas e passava por cantos apertados na tentativa de despistar o ferreiro.

—Me devolva isso, ladrazinha! –Gritava o ferreiro, já exausto da correria.

A garota parou de correr por um instante e devolveu o livro ao homem. –Pode ficar.

—Obrigado, garotinha, isso foi... Espera! Está faltando uma página!

—He he he... Obrigadinha. –Disse ela enrolando a página rasgada do livro e a guardando dentro de sua roupa, voltado a correr logo em seguida.

Depois de muita correria o homem finalmente desistiu, deixando Sijôme livre para voltar para sua casa. Ela continua a correr pelos telhados e adentra pela janela de uma casa abandonada, a fechando logo em seguida. As portas estavam lacradas com tabuas, assim como as janelas do andar inferior, mas, para sorte de Sijôme, esqueceram de bloquear a janela do andar superior.

Aquela casa não pertencia a ela, afinal, ela nunca teve uma casa para chamar de sua. Ainda muito nova foi abandonada em um orfanato, mas, aos seis anos, ela fugiu e começou a atormentar a vida dos cidadãos da vizinhança.

—Oque roubou dessa vez? –Perguntou uma figura misteriosa no canto do cômodo, que, para Sijôme, não era nada misteriosa.

—Oque faz aqui, Guho? Não tem ninguém no palácio pra você encher o saco?

O garoto caminhou até perto dela. Ele vestia roupas azuis bonitas enfeitadas com bordados brancos e algumas poucas peças de ouro, tinha cabelos de cor verde-água bem cuidados e macios, além de um cheiro inquestionável de perfume. –Vir até aqui é bem mais divertido. Oque está tramando dessa vez?

—Não é da sua conta.

—Oque acontece aqui é muito da minha conta. Você está recolhendo peças de ferro pela cidade nas últimas semanas, certo? –Ela permanece em silêncio, confirmando as suspeitas do amigo. –Por que você faz isso? Não poderia me pedir?

—Você não entenderia.

—Eu te conheço há quase dois anos, já sei o suficiente sobre você para poder entender oque pensa.

Guho Mortar é o terceiro e mais novo filho do rei de Mortarya. Ele e Sijôme se conheceram quando ela tentou roubar um colar de ouro que ele usava. Quando os guardas a capturaram, Guho fez um acordo com ela: “Você pedirá desculpas e, em troca, poderá pedir oque quiser da feira e eu pagarei para você”. A garota, faminta como estava, aceitou o acordo e pediu que o garoto comprasse uma melancia para ela. Desde então eles se encontram para conversar e até brincar em algumas ocasiões.

—Não vá se achando só por ser mais velho. Você não apareceu aqui durante duas semanas, eu fiquei preocupada.

—Desculpe, eu não pude sair do palácio durante o meu treinamento de craft.

—Oque você aprendeu?!

—Por que o interesse repentino em mim? –Ele olhou para ela com um olhar pervertido. –Será que eu deveria te contar?

—Se você contar eu faço qualquer coisa.

—Qualquer coisa?

—Exceto coisas pervertidas...! –Disse ela com o rosto vermelho e olhando para o lado.

—Então eu te ensino com uma condição.

—Qual?!

—Que você venha ao palácio e passe o dia comigo lá.

—... Oque? –A expressão no rosto de Sijôme era indecifrável de tão surpresa que estava. Ir ao palácio? Uma reles plebeia como ela? Como isso poderia ser real? –Ficou doido?!

—Oque? Assim você me ofende. Eu, um rapaz muito bondoso e gentil, estou fazendo esse humilde convite para uma amiga querida e ela me trata dessa maneira, ó vida cruel. –Dramatizou Guho.

—Nem fodendo que eu vou cair nessa! Deve ser alguma armadilha.

Ele se aproxima e a imprensa contra a parede. –Eu alguma vez não cumpri com a minha palavra? –Perguntou ele de forma séria e direta.

—E-Eu-Eu... Bem... Tudo bem, eu vou.

—Ótimo. Vamos?

—Agora?!

—E quando seria? Precisamos aproveitar ao máximo a luz do dia.

Sijôme relutou um pouco, mas seguiu o amigo. Enquanto caminhavam pela cidade, ele, todo descontraído e despreocupado, e ela, toda nervosa e com medo de ser surpreendida por alguém.

Depois de uma caminhada considerável, eles chegam aos portões do castelo. Os guardas questionam Guho sobre oque aquela plebeia fazia com ele, mas não puderam impedir sua passagem quando ele disse que ela era sua convidada.

A vista era completamente diferente de tudo oque Sijôme já havia visto, era tudo muito verde e colorido, cores que você não esperava encontrar no meio de um deserto. As fontes jorrando água, as estátuas decorando o local, as bandeiras e escudos enfeitando as paredes, tudo isso a maravilhava.

A garota certamente chamava atenção com suas roupas masculinas esfarrapadas, uma camisa, um colete e um short, que são roupas não muito apropriadas para uma dama, com seus cabelos de cor verde-água completamente sujos de poeira, areia e suor, além da aparência imunda e do cheiro forte de quem não tomava banho há meses.

Guho a acompanhou até uma grande porta e entregou umas toalhas a ela. –Oque é isso? –Perguntou a garota sem entender a situação.

—Você vai entrar aqui e tomar um banho enquanto eu peço para as empregadas prepararem um vestido para você.

Sijôme parecia confusa, mas, para não desrespeitar a vontade do amigo, entrou na sala e fechou a porta. A garota se encantou com o tamanho do lugar, com os vários cosméticos e perfumes que ali havia e com a abundante água quente que enchia a banheira, que deveria ser maior que sua própria casa. Ela, sem muito jeito, tirou as roupas, revelando seu imaturo corpo de oito anos, e adentrou a banheira, sentindo todo cansaço e stress do dia a dia indo embora junto com a água.

—Depois de tudo que fiz é isso que eu ganho? Só pode ser uma piada. –Pensava ela. Talvez tudo aquilo fosse enganação. Talvez, em algum momento, vários homens entrariam ali e a estuprariam, como muitos já tentaram antes sem sucesso, e depois a jogariam no calabouço pelos seus crimes. –No que estou pensando...? –Disse ela batendo de leve em suas bochechas.

Depois de se lavar, ou de tirar a maios parte da sujeira do corpo, a garota saiu da banheira e voltou até onde havia deixando as toalhas. Enquanto se secava a porta abriu de repente. –Eu só consegui esse vestido antigo da minha irmã, mas eu acho que...

Ambos se entreolharam naquela situação e, antes que Guho pudesse dizer qualquer coisa, Sijôme arremessou uma das toalhas em seu rosto, obstruindo sua visão, o chutou para fora do banho e fechou a porta novamente. –Idiota! Bata na porta primeiro!

—D-Desculpa... E-Eu vou deixar o vestido aqui em frente à porta.

A garota estava vermelha como um tomate, dominada pela vergonha de ser vista pelo amigo. Ela se enrolou na toalha que restou e abriu a porta para pegar o vestido, olhando em volta para se certificar de que ninguém estava olhando.

Guho a esperava na esquina no final do corredor, ainda com a imagem da amiga sem roupa em sua mente. Nunca pensou em Sijôme de forma amorosa, apenas a provocava, pois sabia que a garota não gostava disso. Mas, mesmo assim, não conseguia esconder o fascínio que teve ao ver sua imagem despida, muito embora ele fosse dois anos mais velho que ela. O garoto nunca teve preconceito com os pobres, diferente dos irmãos, sempre gostou de andar pelas favelas e de conhecer as pessoas da cidade. Muitos diziam que ele era o “rei legitimo” ou “o rei que nós queremos”.

Quando a amiga o encontrou foi quando seus olhos saltaram de vez. O vestido havia ficado simplesmente perfeito nela, embora estivesse um pouco folgado nos seios, já que a irmã dele era bem dotada desde cedo nesse aspecto, mas, tirando isso, ela estava divina de tão linda. Ele era de uma cor azul bem forte, decorado com babados e detalhes brancos, com a barra da saia chegando até um pouco abaixo do joelho e com luvas azuis claro que cobriam toda a extensão de seus braços, ficando presas as suas mãos por um pequeno anel em seus dedos médios.

Guho se ajoelhou na frente dela e beijou sua mão. –Minha senhorita.

—Oque você pensa que está fazendo?! –Gritou ela puxando sua mão para longe.

—Não pude resistir. –Ao olhar para baixo ele percebe que a amiga está descalça. –Por que não colocou seus sapatos?

—E-Eles... Eles ficariam feios nesse vestido... –Disse ela em um tom tímido.

—Eu vou arranjar umas sapatilhas para você. Está com fome?

—Claro.

—Então vamos almoçar.

Ambos seguiram para a cozinha do castelo, mal sabendo eles que aqueles seriam seus últimos dois dias de paz e felicidade.