Visão da Pheal:

Assim que recebi a notícia, não pensei duas vezes, me teletransportei para a porta da frente. O choque foi tão grande que precisei de um tempo para digerir.

Gisele estava lá, seminua e coberta de poeira e sujeira, com sangue pingando de sua boca e um olho roxo. Um rapaz Creeper a ajudava a ficar em pé. Seu estado era horrível e ela parecia tão lúcida quanto o Sekka depois de beber com os amigos.

Pompo foi a primeira a tomar uma atitude e tirou a Gisele dos braços do rapaz. Ela parecia realmente preocupada.

Fui até o armário e peguei umas toalhas para limpar o sangue e ajudar a cobrir ela.

—Vamos dar um banho nela. —Disse Pompo, erguendo a Gisele e indo até o corredor. —Tem outra mulher aqui, Pheal?! Acorda!

—C-Claro!

Levamos ela até o banho e tiramos os trapos que ela usava. Entre eles, um casaco, provavelmente do rapaz Creeper. Seu corpo estava coberto por hematomas e arranhões. O que aconteceu?

Limpamos ela de cima à baixo. Desde os cabelos empoeirados aos pés sujos de terra. Depois do banho, desembaraçamos seus cabelos, passamos alguns remédios sobre os hematomas e colocamos um vestido simples que ela trouxe, um verde-limo mesclado com verde-escuro.

Ela não disse uma única palavra até agora. Isso nos preocupava. Gisele estava consciente, disso nós tínhamos certeza, mas seus olhos mal se mexiam e estavam sem brilho.

—O que vamos fazer? Ela não diz o que houve. —Disse Pompo.

—O rapaz deve saber de alguma coisa. —Disse, tentando uma solução. —Fique com ela, Pompo. Eu vou ver o que está havendo. —E, sem esperar uma resposta, eu logo fui até a sala, onde os homens já conversavam com o rapaz.

Visão do Steve:

Pompo e Pheal trataram de levar a Gisele pra tomar um banho. Foi uma visão assustadora. Quem faria isso com ela? Quando eu descobrir...!

—E quem é você, garoto? —Perguntou Sekka, sendo bem direto.

—E-E-Eu... Eu, não, eu... Sou um amigo. Moro numa fazenda próxima a dela.

—Ela não falou de você. —Disse, já suspeitando dele.

—Você é o pai dela?

—Sou. Agora, nos diga o que aconteceu.

—Não sei bem. Eu vim encontrar com a Gisele, mas não sabia onde ela estava ficando. Procurei por algumas pousadas até avistar ela de longe. Uns caras estavam seguindo ela e a levaram até um quarto. Quando cheguei lá, ela estava sendo... Abusada. Eu dei uma surra em um deles é sai com ela de lá.

—Agradeço você, filho, mas a Gisele precisa confirmar essa história.

—É verdade! Por que mais eu a ajudaria? Olha, eu sei que ela tem duas espadas que viram garotas. Como eu saberia disso?

—Ele pode estar dizendo a verdade, Steve. A Gisele não levou as espadas com ela. —Informou Sekka.

—Quem são esses caras? Sabe quem são?

—Não, eu não venho muito aqui. Um deles deve estar com uma queimadura no rosto da explosão que eu fiz. Os outros... Mal os vi.

—Calma, Steve. Já vi muitas pessoas no seu estado e sei que planeja uma idiotice. Vamos chamar os guardas e eles cuidam disso. —Disse Sekka, me puxando a realidade.

—Tudo bem. Estou calmo. Sim, vamos fazer o que disse. —Eu não estava calmo, mas precisava pensar racionalmente. —Qual o seu nome, garoto?

—Drecky.

—Então, Drecky, como sabia onde estávamos?

—A Gisele não apareceu como sempre fez nos últimos dias, então fui até a sua fazenda ver ela. Um velho meio bravo e uma Zumbi disseram que vocês vieram até Exblod.

—Só podem ser o Ponko e a Cidia. —Disse Sekka.

—Eu sei. São meus sogros, esqueceu? Tudo bem, garoto, acredito em você. Por enquanto.

—É um alívio. E, sem querer ofender, mas como você pode ser o pai da Gisele sendo... Assim?

—Algum problema comigo?

—Não, só quero dizer que ela não parece ser uma mestiça.

—Ela não é. É uma longa história, garoto. Seria melhor ouvir por ela.

—Entendo...

O que será que a Gisele viu nesse garoto?

Visão da Pompo:

Deitei Gisele na cama que havia no quarto. Não tinha muita coisa que eu pudesse fazer. Apenas fiquei afagando seu cabelos.

—Desculpa, Gisele. Sei que nunca fui a melhor mãe pra você. As nossas discussões, brigas, mais discussões e mais brigas, apesar de tudo isso, eu amo você como se fosse minha filha. Não, você É minha filha. Entende?

Nenhuma reação. Algo estava trancando ela. Ela não chorou esse tempo todo, não gritou, não esperniou nem demonstrou raiva ou ódio.

A porta do quarto se abriu. Eram as meninas, Atie e Adreu. As duas correram até a cama e se ajoelharam do lado da cama.

—Pedimos perdão, mestre. —Disse Atie.

—Mestre, nós falhamos com nosso dever. —Disse Adreu.

—Por favor, nos puna como desejar.

—Nos puna.

Gisele continuou sem reação. Ela olhava na direção das meninas, mas não dizia nada.

—Meninas, ela está... —Tentei dizer.

—Quieta. —Pediu Adreu.

—Silêncio. —Pediu Atie.

—A mestre não quer ser incomodada.

—Ela está triste.

—Podemos sentir.

—Sim, sentimos isso.

As duas colocaram a mão no peito da Gisele. Pareciam se concentrar no que faziam.

—Um coração pesado, Atie.

—Bem pesado, Adreu.

—Vamos dar um jeito.

—Sim, vamos dar.

—Por favor, saia daqui.

—Só irá nos atrapalhar.

Aquilo me parecia um absurdo, mas não havia mesmo nada que eu pudesse fazer. Apenas me aproximei do rosto da Gisele e beijei sua bochecha. —Desculpa. —Saí do quarto.

Visão da Pheal:

—Entendo. Isso é bem ruim. Gisele pode examinar o corpo de uma pessoa, inclusive o dela. Deve estar com medo de engravidar de algum desses desgraçados. —Teoriso, levando em conta o que o Drecky nos disse.

—Isso não pode acontecer. Vocês viram algo no banho? —Perguntou Steve.

—Não sabíamos que algo assim tinha acontecido, mas eu notei que a vagina dela estava meio estranha. Algo pode ter entrado nela. —Disse, tentando me lembrar da cena.

—Eu vou...! —Steve respira pesado e bate com o punho na parede. —É melhor que eles rezem pra que eu não os encontre.

—Steve, não vai fazer nenhuma loucura. —Disse Sekka. —Estamos nessa juntos. Não é só você que gosta da Gisele.

—Eu sei disso. Mas eu não aguento.

—Então aguente. —Disse Pompo, saindo do corredor. —Eu é que sou a paviu curto da família.

—Como ela está? —Perguntou Steve.

—Estranha. As meninas disseram que o coração dela está pesado ou algo do tipo. Estão ajudando ela.

—Será que... Eu posso vê-la? —Pediu Drecky.

—Não. Ela quer ficar sozinha. A propósito, quem é você?

—Ele é o Drecky, um amigo da Gisele. Drecky, essa é minha esposa Pompo, mãe da Gisele.

—É um prazer conhecê-la.

—Eu preferia que a situação fosse outra. Isso é péssimo!

—O que podemos fazer é tentar ajudar. Vou preparar o almoço. Alguém quer me ajudar? —Perguntou Sekka, levantando do sofá.

—Eu ajudo. —Steve se ofereceu. E lá foram eles.

Visão do Steve:

Chegamos na cozinha. Uma cozinha deveras melhor que a nossa, preciso admitir. Talvez assar uma pizza não fosse tão difícil aqui.

—Eu precisava sair de lá. Não aguento isso. —Desabafou Sekka. —Conheço um cara que pode nos ajudar. Ele consegue... Digamos, que ele mexe uns pauzinhos. Conseguimos os caras, levamos pra floresta e cortamos uns dedos, talvez até a língua, quem sabe.

—Espera, Sekka! O-O que está dizendo? Não disse pra eu manter a calma?

—Sim, você não pode sair assim atrás deles, Steve. Precisa de um plano de segurança.

—E por que você confia nesse cara?

—Lembra de quando eu encontrei vocês no Reino Aranha?

—Claro. Um baita susto.

—Então, ele deu a informação. Foi cara, mas dinheiro não é problema. —Sekka colocou um avental e me jogou outro.

—Parece ser um bom informante. E aonde vamos pra encontrá-lo?

Ele abre a despensa e pega um pequeno barril de carnes salgadas. —Vamos ao bordel Piti-Taco.

—Espera aí, eu tenho mulher, esqueceu?

—Eu também, caso não tenha reparado. Não vamos lá como clientes do bordel. Pagamos uma taxa ao segurança e dizemos a senha. Ele nos levará ao cara.

—Se a Pompo descobrir eu viro uma pilha de cinzas.

—É um risco. Você não quer vingança? —Ele tira a peça de carne do barril.

—Quero. Sem dúvidas.

Ele parte a peça em duas com o golpe de um cutelo. —Então é o que vamos ter.