The history of us

Um pouco de veneno.


Sentei no chão cansada demais para me importar onde estava. Como eu poderia voltar para aquele lugar? Onde eu realmente estava? Eu tinha que voltar. Precisava.

Levantei do chão decidida e parei a primeira pessoa que vi.

–Com licença, eu peguei o ônibus errado, pode me dizer onde estou?

–Você está em Liverpool.

–Obrigada.

Liverpool? Que diabos é essa cidade que eu nunca ouvi falar? Onde eles me enfiaram? Olhei em volta tentando me localizar. Eu não podia voar mais pois minhas asas estavam castigadas, eu não tinha dinheiro, nem documentos! Ai meu Deus, nunca estive tão perdida na minha vida. Comecei a caminhar tentando manter a calma. Não tinha nem um raio de uma livraria nessa cidade! Eu estava ferrada. Dei uma de machona e me ferrei. E essa brisa ruim não ajudava em nada.

Uma mendiga me parou na rua para pedir esmola e eu ri de mim mesma com a situação.

–Você pelo menos sabe onde está. Eu estou mais perdida que saco plástico no ar.

Então a mendiga agarrou meu braço e arregalou os olhos. Ela era um pouco mais alta que eu então abaixou o corpo para olhar-me nos olhos. Meus pelos do corpo se arrepiaram de uma vez só e o medo de ela fazer algo comigo me fez encolher os dedos do pé.

–Você não está segura. Não está! Acha que é uma heroína? Que pode mudar o mundo sozinha? Você vai morrer garotinha! Vai morrer!

Soltei-me e corri para longe dela. Ela ainda gritava Vai morrer! quando abri voo e só pousei quando não a ouvia mais.

Então aconteceu.

Um raio brilhou no céu fazendo o chão tremer antes de atingir o mesmo. As pessoas pararam e olharam para o céu. Então começaram a gritar e correr. Não entendi o que as estava fazendo correr antes de ver o chão se abrindo e dragões saírem de debaixo do chão. Um fogo veio em minha direção e eu me protegi abrindo minhas asas e voando para longe. Eu tinha que fazer alguma coisa. Mas o que? Voei em direção ao solo com os braços esticados numa súplica ao poder que eu tinha. Até certo momento nada saiu. Forcei a sair, e no último minuto, minhas mãos brilharam e esse brilho foi em direção aos dragões atingindo-os e os fazendo recuar. Mandei meu corpo liberar mais, pois sabia que ele tinha mais. E assim fiz os dragões voltarem para baixo. Olhei através deles e vi o fogo queimando e almas gritando. E de repente todas elas começaram a sair de uma vez e vieram na minha direção. Arregalei os olhos e gritei soltando mais poder em direção a elas. Umas voltavam e ficavam, e outras persistiam em me atacar. Os dragões tomaram a frente vindo com tudo na minha direção soltando fogo e algo tóxico. E antes que pudesse pensar, vi os raios descerem do céu e atingirem os dragões com uma força imensa. Os anjos. Parei. Será que vou conseguir derrotá-los sozinha? A voz da mendiga soou alta e clara na minha cabeça.

Acha que é uma heroína? Que pode mudar o mundo sozinha?

Sim eu acho.

Senti uma determinação fluir dentro de mim e analisei minhas opções. Os dragões estão mais perto. Preciso criar algo para fazê-los parar de subir. Uma barreira. Isso, uma barreira. Pensei em algum tipo de força que poderia ter e as joguei para minhas mãos. Respirei fundo e concentrei-me apenas naquele inferno.

Jorrei uma energia dourada sobre os dragões fazendo-os recuar de vez. Olhei para frente e lancei toda essa energia por todo o chão que estava aberto. Voei gritando e lançando tudo. A cratera era enorme, engoliu pessoas, prédios, casas, carros e sabe Deus o que mais. Eu já não me aguentava de tanto poder que estava sentindo. Aquilo era maravilhoso. Continuei a lançar sobre as criaturas malignas todo o meu poder até ver somente o chão. Feito de concreto e duro como uma pedra. Parece ser fácil demais não? Pois é, só parece. Tem mais da onde veio. Vez dos anjos agora.

Um par de asas se materializou e eu nem tive tempo de me preparar. Um anjo veio pra cima de mim com a espada erguida e gritando feito louco. Recuei rapidamente e soltei uma resposta engraçadinha para ganhar tempo.

–Lutar com uma pessoa desarmada? Que coisa injusta!

–Você tem o poder do céu e do inferno. Isso é injusto!

Ele gritou e avançou e por hora eu só desviava. Outros anjos desceram com suas espadas erguidas e seus gritos de guerra. Lembrei dos golpes de Julieta e os utilizei como defesa. Julieta. Será que eles conseguiram escapar? Será que estavam todos bem? Isso não importava agora. O que importava era eu conseguir sair viva desse meio de anjos com sede do meu sangue. Atingia-os com tudo, dando um chute aqui, um soco lá. Eu levei uns cortes e uns socos. Já estava machucada o suficiente. Ficou menos complicado quando eu peguei o jeito, mesmo machucada. Mas tudo isso não significou nada quando ouvi uma voz sombria, carregada de ódio falar perto de nós. Os anjos pararam, super alertas com a movimentação.

–Quem foi que fechou os meus portões?

Sangue pingou no chão. Meu sangue é claro. O dono da voz apareceu e eu me senti pequena e assustada. Ele era alto, bem alto. Sua pele era escura, seus olhos era brancos e sua boca era enorme. Ele não estava sorrindo mas parecia. Suas roupas eram negras como a noite e seus passos ressoavam no meu coração. Ele era um demônio, é claro, mas algo em sua aparência e voz me dizia que não era um demônio comum. Os anjos arfaram e ficaram em posição de ataque. Me preparei também, mal fazendo ideia de quem ele era.

–Você, minha cara, é a causadora disso tudo.-Sua voz era cortante e eu me arrepiei toda quando seu dedo apontou para mim.-Creio que não sabia que haveria consequências e julgando seu estado, nem se preparou. Tão poderosa e tão burra.

–Realmente não sabia das consequências.-Me dirigi a ele feliz por minha voz ter saído confiante como eu queria.-Mas sempre estive preparada.-Mentira.–Trouxe um morto de volta a vida, tenho certeza de que tem mais de onde veio.

–É mesmo? Então mostre!

Nesse momento, nesse exato momento, demônios apareceram bem perto de nós. Armados e horripilantes. O demônio dos olhos brancos se aproximou de mim tão rápido que quase não vi. E quando parou à minha frente, uma espada estava em sua mão direita. Ele a entregou para mim. Ela era prateada e pesada, mas não era difícil de manusear. Ele sacou a própria, uma espada negra com o cabo vermelho.

–Você agora tem a sua espada. Então lute!

E eu lutei como nunca tinha lutado antes.