Havia se passado duas semanas depois do ocorrido. Ele me seguia em tudo quanto era lugar. Inclusive na minha casa! Fiquei surpresa por ele não ter tido a cara de pau de bater lá, ou pior, invadido novamente. Eu ainda achava que ele invadia minha casa sem eu saber. Mas não levanterei suspeitas sem provas.

Eu andava sempre com medo, e todas as noites rezava bastante para que o meu pai voltasse logo. E que esse desconhecido fosse embora do país.

Mas o pior de tudo era que aquele beijo não saia da minha cabeça. O jeito como ele pegou na minha nuca e me dominou...nossa...

–Droga Alice! Se concentra na porra do dever!

Droga, esse garoto está atrapalhando até quando nãe está perto! Que saco!

Na quinta, da aula, subi até o segundo andar e fui até a sala de dança. Ninguém sabe, mas eu danço. Nem mesmo meu pai sabe disso. E nem precisa, isso não seria fácil de se explicar para ele. Para ele, o que importa é estudar tudo o que ele nunca estudou. A gente precisa conversar e logo.

Entrei na sala e fui para o vestiário. Troquei de roupa e voltei a sala. Liguei a caixa de som, pus meu pen drive lá e comecei a ensaiar.

Uma hora ensaiando direto. Minha dança é uma mistura de jazz com hip hop, considerando que iniciei o curso a dois anos, pela minha habilidade, parece que eu danço a uns cinco anos. "Dançar é um dom, poucos adquirem com o tempo, muitos nascem com ele no sangue.", meu professor sempre diz isso para a turma, e para mim sempre quando mostro ser a melhor de todas. Logo, a turma irá fazer uma apresentação internacional e ai sim vai dar ruim pro meu lado.

Decidi sentar e descansar um pouco. Olhei para onde minha mochila estava e caminhei até ela. Peguei minha garrafinha e bebi minha água. Depois de cinco minutos de descanso resolvi voltar ao trabalho.

Foi quando eu vi uma sombra se mover na porta, não sei bem porque olhei, mas olhei. Ele estava parado na porta me olhando supreso e admirado. A mesma expressão de quando me seguiu até a sala do jornal. Me assustei lógico, mas acabei xingando.

–Puta que pariu garoto!

Ele riu.

–Idiota.

Ele veio até mim e me puxou para seus braços. Eu o empurrei.

–Tá louco?

–Sim, por você.

Ri alto.

–Me deixa em paz.

Passei por ele e fui até a caixa de som. Peguei o pen drive, voltei e peguei a mochila. Fui em direção ao vestiário. Fechei a porta. Huum, melhor trancar. Lá dentro, comecei a caçar algo dentro da mochila que desse como arma caso ele tentasse algo. Achei apenas uma sombrinha. Melhor que nada. Ele conseguiu acabar com o meu ensaio. Idiota.

Tirei minha roupa e entrei embaixo do chuveiro. A água estava bem geladinha, molhando meu corpo suado e cansado. Não sei quanto tempo fiquei ali, sei apenas que ouvi um barulho e comecei a ficar nervosa. Me vesti e juntei minhas coisas o mais rápido possível. Sai do vestiário com a sombrinha na mão. Não é a melhor arma do mundo, mas daria pra dar umas pancadas na cabeça de alguém. Quando sai do vestiário tive uma surpresa. Ele não estava. Menos mal. Sai da sala e caminhei pelo corredor da escola. Estranho. Normalmente era sempre cheio essa hora. A hora que o turno da tarde sai e o turno na noite entra. E porque estava tudo escuro? Eu havia ficado tanto tempo assim no banho? Olhei a hora.

–Ai meu Deus do céu!! Vão fechar a escola daqui a cinco minutos!

Sai correndo igual a uma louca pela escola, esperançosa. Mas tudo foi por água abaixo quando cheguei na porta de entrada e não tinha ninguém ali. Começei a me desperar. Claro estou trancada na escola !!!!!!!!

Pensei em ficar calma, mas eu ainda estava na escola. Lá fora, a chuva começava a aumentar e meu desespero só aumentou. Eu nem escutei quando começou a chover. Logo raios e trovões gritavam no céu como se a qualquer momento fossem atingir alguém, ou provavelmente a mim.

Suando igual a uma condenada peguei uns grampos dentro da bolsa e tentei abrir o cadeado. Não deu certo, então eu apelei. Em uma hora eu tentei: arrombar, quebrar, chutar, gritar, esperniar, ligar e nada deu certo. Quando já estava perdendo as esperanças lembrei das janelas. Corri até o primeiro andar e entrei na primeira sala que vi. Tentei abrir a janela de lá. Destrancada. Nossa isso foi uma sorte e tanta. Quase fiz uma festa. Ooopa não comemore rápido demais. Só comemore quando tiver em casa comendo um saco bem grande de rosquinhas de leite com achocolatado. Joguei a mochila pela janela. Ai muito alto. Calma você vai conseguir. Abri a janela o máximo possível. Sentei na beiradas, as pernas bambas, e senti a chuva me me molhar violentamente, então respirei fundo e pulei.

Assim que meus pés encostaram no chão senti uma dor, suportável mas uma dor. Depois meu corpo encostou no chão, e tudo começou a girar. Meus olhos identificaram uma sombra correr na minha direção, e eu perdi a noção do que era real e do que não era. E antes dos meus olhos se fecharem, a última coisa que me lembro foram braços fortes envolverem meu corpo, e um cheiro familiar de baseado e sabonete comum.